Capítulo 15 – Por que é sempre num castelo?

(Quem perguntar onde fica Livstance Yuth depois desse título merece levar um sorvetão na testa, sinceramente…)

- Vamos, estamos indo para a Dinamarca!

Os outros se levantaram assustados e ficaram olhando para Cinthia como se ela tivesse ficado louca.

- Não fiquem parados me olhando! Arrumem as malas que já estamos de saída.

- Desde quando? – Aline perguntou, ainda atordoada com a idéia repentina.

- Desde agora.

- Desde quando você tomou essa decisão, eu quis dizer.

- Desde que nós ficamos uma hora esperando a Tonks aparecer e perdemos um bocado de tempo. Eu já escrevi uma carta explicando para ela onde nós estamos indo, que é o que deveríamos ter feito a uma hora atrás.

- Eu sabia que você não ia agüentar ficar sentada por muito tempo – Jorge disse, dando um beijinho na testa ela.

- Bem, não se pode dizer que eu não tentei.

Os quatro subiram para os quartos e arrumaram as malas com feitiços para não perderem mais tempo. Em cinco minutos eles já estavam na recepção do hotel pagando as diárias, e Cinthia pediu para o carregador entregar a carta a Tonks caso ela aparecesse outra vez na lareira, dando uma boa gorjeta a ele para que não abrisse o envelope.

Os quatro foram até os fundos do hotel e desenrolaram o tapete mágico, prendendo as malas nele. Cinthia executou o feitiço desilusório e eles levantaram vôo, torcendo para não serem visto. Assim que atingiram um altura segura, Cinthia parou o tapete e puxou o mapa de zoom do bolso.

- Dinamarca, região norte! – ela ordenou, e aquela área apareceu ampliada no pergaminho. – Mostre onde fica Livstance Yuth.

O pergaminho começou a dar um zoom maior no litoral até atingir uma parte coberta por árvores coníferas. Havia uma área sem árvores perto de uma pequena baía, e logo apareceu uma figura em ruínas com uma seta indicando o nome: Livstance Yuth.

- Isso não é um pouquinho clichê demais? – Jorge perguntou, olhando por cima do ombro dela.

- Bem, vampiros tem essa mania de viver na Idade Média. Como o lugar pertence àquele Durjon, não me admira ser mesmo um castelo antigo.

- Que importância tem isso? Vamos logo que a Dinamarca não é tão perto quanto parece.

O tapete pareceu ter ouvido Aline, e começou a rumar na direção nordeste, rumo à Dinamarca.


Cerca de uma hora depois, o fogo na lareira do hotel ficou esverdeada e uma cabeça com cabelos encaracolados e negros apareceu. O garoto que carregava as malas apareceu e perguntou o que a moça queria.

- Você pode chamar a Cinthia Christino outra vez? Diga que a Tonks precisa falar com ela de novo, e é mais urgente que das outras vezes.

- Mas ela não está mais no hotel – o rapaz informou, e Tonks revirou os olhos impacientemente.

- Então eu posso deixar um recado para quando ela voltar?

- Você não me entendeu. Ela não está mais hospedada aqui.

- O quê!

- É, fez as malas e pagou a diária.

- E por acaso ela disse para onde estava indo depois que saísse daqui? – Tonks já estava começando a ficar desesperada. Não tinha recebido nenhuma coruja, o que era muito estranho.

- Ela não disse pra onde ia depois que saísse daqui, mas os outros três que estavam com ela foram junto.

- Isso não me ajuda em nada.

- Ah, e ela deixou uma carta para você. Ninfadora Tonks, certo?

Tonks fez uma careta ao ouvir o seu primeiro nome, mas em seguida olhou zangada para o rapaz.

- Você podia ter me dito isso desde o começo! Me dá logo a carta.

O rapaz colocou o envelope lacrado na boca de Tonks e a cabeça dela desapareceu da lareira, voltando para o próprio hotel em que estava hospedada. Ela se levantou e espanou as cinzas que se acumularam nos ombros. Abriu a carta apressada, ignorando um dos seus colegas aurores que a chamava.


Tonks

Desculpa não mandar isso por coruja, mas não tivemos tempo de ir até o correio. Ficamos esperando você aparecer por quase uma hora, mas tivemos que sair mais cedo daqui.

Conseguimos descobrir o nome verdadeiro do Quebra-Nozes e usamos como senha para conseguir a informação que precisávamos. Você acredita que o nome dele é Muriel Fergusson? Com um nome desses, até eu preferia se conhecida pelo apelido!

Os Comensais levaram os aurores para um lugar chamado Livstance Yuth, no norte da Dinamarca, e a senha para os vampiros te deixarem entrar é "Drácula não morreu". Estamos indo para lá agora, e é provável que você nos encontre por lá. Se vocês demorarem muito, nós mesmos vamos resgatar o Douglas e os outros. Eu sei que pode ser perigoso, por isso não demore, por favor!

Ah, e tente não falar com o Quebra-Nozes. Quando fizemos isso, ele quase não soltou a informação porque os Comensais já haviam ido falar com ele. A Aline deu a desculpa de que ele foi capturado pelos aurores assim que saiu dali, mas se mais alguém der essa desculpa ele pode ficar desconfiado.

Mais uma vez, não demore muito para chegar lá. Vamos ficar observando do lado de fora o quanto pudermos, mas vamos entrar se for preciso.

Cinthia

- Mais essa agora! Eu não entendo como ela pode ser tão suicida.

- Ei, Tonks! – um dos seus colegas da SCE5 apareceu na porta da sala da lareira com um ar impaciente. - Vamos logo, agora que já conseguimos o nome do tal de Quebra-Nozes temos que ir lá e descobrir aonde eles esconderam os outros aurores.

- Só um minutinho, Barney. Eu já vou.

Seu colega deixou Tonks sozinha novamente e ela olhou para a carta pensativa. Logo ela teve a idéia de modificar a carta para parecer que foi escrita por outra pessoa, assim não denunciaria Cinthia e os outros. Ela fez um feitiço complicado que fez com que as palavras mudassem de posição e forma e também com que uma assinatura falsa aparecesse. Depois de ver se não tinha erros, ela saiu da sala da lareira e foi mostrar a carta aos seus colegas de trabalho.

- Ei! Olhem só o que saiu da lareira agora pouco! – Tonks disse levando a carta para uma sala com sofás em que seus colegas de trabalho estavam. – Era o que estava faltando para encontrarmos os outros aurores!

- Deixe-me ver isso – disse Herold Smith, chefe da SCE5. Tonks entregou a carta a seu chefe e, à medida que lia, o rosto dele ia ficando cada vez mais surpreso.


Aurores Ingleses

O nome verdadeiro do Quebra-Nozes é Muriel Fergusson, mas vocês não vão precisar usá-lo como senha. Eu mesmo(a) lhes digo que o local onde os três aurores capturados estão se chama Livstance Yuth, e fica no norte da Dinamarca. Para poder entrar, basta usar a senha "Drácula não morreu", ou serão barrados pelos vampiros.

Se quiserem checar a informação, vão em frente, mas como já falei com o Quebra-Nozes é provável que ele fique desconfiado e não passe a informação a vocês.

Ass: Anônimo(a)

Tonks ficou esperando que aquela carta não parecesse muito forçada, mas foi o melhor que ela conseguiu inventar em seis segundos. Seu chefe olhou para ela ainda espantado e balançou o bilhete tentando formar as palavras.

- De onde isso veio?

- Da lareira. A única coisa que eu vi foi uma mão jogando essa carta, e depois ela desapareceu.

- Bem, vamos ter que checar mesmo essas informações. Aqui diz que o nome do Quebra-Nozes é Muriel Fergusson – ele disse meio rindo –, mas de acordo com as nossas investigações era Jimmy Ferret.

- Então é bom vermos logo qual dos dois está certo, não podemos perder tempo – Tonks disse, se lembrando de que, quanto mais demoravam, menos tempo ela tinha para impedir que Cinthia, Aline, Fred e Jorge entrassem em Livstance Yuth por conta própria.

- Você tem razão. Tonks, você, Barney, Marlow, Wionna e Daniel vão à livraria para ver qual dos nomes está certo. Eu, Ernie e Bert vamos entrar em contato com os aurores da Dinamarca e ver o que conseguimos descobrir sobre Livstance Yuth. Nos encontramos aqui no máximo em uma hora e meia.

Cada um dos aurores foi fazer o seu trabalho, pensando que finalmente aquela busca toda ia acabar.

Mas, quando Tonks foi à escolhida para entrar na livraria e falar com o Quebra-Nozes por ser uma metamorfomaga, ela não usou o nome que haviam encontrado como senha, e sim o nome que Cinthia dissera na carta. Seus colegas disseram que era melhor confiar nas investigações deles do que numa carta anônima, mas Tonks não os ouviu. Enquanto saía da livraria (depois de ser ameaçada pelo Quebra-Nozes ao demorar para dar a desculpa de estar indo perguntar pela quarta vez a droga da informação), Tonks pensou em como as investigações deles tinham falhas. Se não fosse por Cinthia, Fred, Jorge e Aline, eles nunca teriam chegado tão rápido ao final dessa investigação.

Depois que ela confirmou aos colegas que as informações da carta estavam certas, eles voltaram para o hotel, onde Smith já estava esperando por eles.

- Bem, podemos ter perdido tempo indo até a livraria, mas é melhor prevenir que remediar. Nós falamos com os aurores da Dinamarca e parece que eles também estavam atrás do Quebra-Nozes por causa dos vampiros. Eles também acabaram de descobrir o nome verdadeiro dele, e depois que apresentamos o nosso caso, eles concordaram em nos ajudar. Agora só falta fazer uma chave de portal para a central de operações deles.

Tonks desanimou ao ouvir aquilo. Precisariam falar com o Escritório das Chaves de Portal para conseguir uma permissão para fazerem uma Chave. Aquilo ainda ia levar uma boa meia hora, senão mais.


Em pouco mais de duas horas, Cinthia, Aline, Fred e Jorge chegaram a Livstance Yuth, aterrissando no meio das árvores um pouco longe para não serem percebidos. O lugar parecia muito antigo, quase uma ruína, mas devia estar apenas enfeitiçado para parecer assim. As pedras escuras que o formavam lhe emprestavam uma aparência sombria e fria, nada parecido com o ar acolhedor de Hogwarts, apesar de ter quase o mesmo tamanho.

Eles se aproximaram do lugar por entre as árvores, se escondendo atrás de arbustos quando ouviam algum som diferente na mata. Por causa do fuso horário, já era o final da tarde na Dinamarca, o que era bom, assim seria mais difícil de serem percebidos. Quando chegaram perto da orla da floresta, Cinthia indicou um amontoado de arbustos para que ficassem escondidos por todos os lados, caso eles estivessem patrulhando a área da floresta em busca de invasores.

- Não podemos chegar mais perto? – Aline perguntou. – Nesse escuro eu mal consigo distinguir a porta da parede.

- Não, e fale mais baixo – Cinthia disse quase num sussurro. – Lembre-se que podem ter vampiros por aí, e eles têm uma boa percepção do que acontece à volta deles e de seus territórios.

- E o que nós viemos fazer aqui se não podemos entrar? – Fred perguntou, tentando se sentar numa posição confortável em cima das raízes do arbustos.

- Nós só vamos entrar se a Tonks demorar muito para chegar. Enquanto isso temos que observar a rotina deles, ver quais partes do castelo são mais usadas, por quais não passa ninguém e essas coisas.

- E como é que a gente vai fazer isso dessa distância? – Jorge perguntou, tentando enxergar algum pontinho que pudesse se parecer com uma pessoa perto do castelo, mas tentou em vão.

- Podemos acompanhar pelas janelas acesas e também por um truquezinho do mapa de zoom. – Cinthia tirou o mapa do bolso e o colocou no chão no meio deles quatro. Depois de murmurar "Lumus focus" para que a luz da varinha se parecesse mais com o facho de uma lanterna, e não de uma vela, ela deu mais uma ordem ao mapa: - Visão aérea e infravermelho.

As pessoas que estavam dentro do castelo apareceram pelo mapa como pontinhos coloridos em tons de laranja, mas também havia alguns pontos amarelo-esverdeados, que indicavam corpos pouco mais frios que os humanos.

- Eu bem que desconfiava… os vampiros não saíram do castelo. Foi bom não termos chegado mais perto que isso. Mostrar a área em volta do castelo num raio de quinhentos metros – ela ordenou ao mapa, e alguns pontinhos amarelos apareceram na área sem árvores em volta do castelo, se movimentando muito rápido. – Vejam só, eles estão vigiando a área em volta também. É uma sorte que eles não tenham entrado na floresta.

- Mas como nós vamos fazer para saber qual desses pontinhos laranjas é o Douglas? – Aline perguntou. Ela estava impressionada com as utilidades do mapa de zoom, mas estava preocupada demais para fazer qualquer comentário. – Você não pode mandar o mapa destacar os aurores ou indicar com uma setinha e coisas parecidas?

- Não, o mapa só serve para achar lugares, e o infravermelho só funciona na visão aérea. Não tem como ser mais específico que isso. Mas pode ter um jeito de descobrir em que parte do castelo eles estão. Vocês trouxeram aquelas Orelhas Extensíveis?

- Trouxemos, mas nunca tentamos estendê-las tão longe – Jorge disse.

- Bom, é hora de fazer um teste então.

Jorge tirou do bolso quatro barbantinhos cor de carne e deu para cada um. Cinthia sugeriu que cada um revistasse dois andares do castelo, que tinha oito e mais algumas torrinhas, e fez o feitiço desilusório nas Orelhas Extensíveis, ordenando que elas fossem até o castelo.

Demorou um pouco para que as quatro pontas dos barbantes chegassem até o castelo, e eles puderam ouvir as vozes dos sentinelas no portão principal. Havia muita interferência no som, e eles não conseguiram entender nada do que os sentinelas diziam. Cinthia disse para recolherem as Orelhas e ficou um tempo pensando no que fazer para descobrir em que parte daquele castelo os aurores estavam.

- Bem, eu podia… ir até lá como coruja – Aline disse, lembrando das aulas de animagia que fizeram clandestinamente no quinto ano de Hogwarts.

- Não, isso está fora de questão – Cinthia disse com a voz firme. – É muito arriscado ir sozinha, e mesmo que nós quatro entrássemos lá como animagos, seria muito difícil de sair sem sermos percebidos.

- Mas eu não preciso entrar, posso só ficar do lado olhando pelas janelas.

- É muito arriscado. Você viu quantos vampiros estão rodeando o castelo? Pelo menos uns vinte. Nós não conseguiríamos te ajudar nem na forma humana, nem na animal.

- Mas eles não estão vigiando o lugar contra animais, e sim contra pessoas. Pelo menos deixe eu tentar chegar perto. Se funcionar, melhor para a gente.

- Ela tá certa – Jorge disse. – Isso pode funcionar.

- Eu prometo que não entro no castelo. Eu vou só ver o caminho mais seguro para entrar e, se der, tento achar o Douglas e os outros.

- Tá bom. Mas tente se parecer com um coruja. Se um desses morceguinhos que ficam voando por aí esbarrar em você, pie alto e volte pra cá o mais rápido possível.

- Eu vou tomar cuidado. Não demoro mais que quinze minutos.

Aline se transformou em uma coruja branca muito elegante. Seus olhos amarelos pararam em cada um dos rostos à sua volta, avaliando as expressões preocupadas de cada um. Em seguida ela levantou vôo, mantendo uma altura baixa até chegar ao castelo para parecer que estava caçando. Nenhum dos morcegos chegou perto dela, e isso foi o suficiente para que ela se acalmasse.

O castelo era muito largo, por isso Aline teve que dar algumas voltas para poder olhar dentro de cada janela. A sua visão noturna de coruja ajudava muito quando um dos cômodos não estava iluminado por velas, mas não havia nada muito importante nesses. Quando atingiu as torrinhas, Aline parou de voar para não chamar a atenção dos vampiros e pousou no beiral de uma das janelas escuras. Aquela torrinha ficava do lado voltado para a praia, e ela conseguia ver todas as outras torres de onde estava, e quase todas estavam sem iluminação.

Em uma das torrinhas a luz se acendeu, passando pelas frestas entre as cortinas e chamando a atenção de Aline. Ela voou silenciosa e discretamente até a janela, pousando no canto do beiral. Apesar do vidro estar fechado, ela conseguiu ouvir as vozes dos dois homens que entraram lá, mas não pôde ver quem eram por causa das cortinas pesadas, que também estavam fechadas.

- Por que é que precisamos levar as vassouras para a outra torre se essa aqui é a mais alta do castelo? – um deles perguntou, e a voz do outro soou horrendamente familiar a Aline.

- Porque as passagens ficam mais perto da outra, seu estúpido. Se precisarmos mudar de lugar outra vez, fica mais perto para levarmos os aurores até aquela torre.

- Eu não entendo porque temos que ficar esperando o Lorde das Trevas vir interrogar esses três pessoalmente. Nós podemos fazer isso, e ele está demorando demais. Logo os aurores vão nos alcançar se as coisas continuarem como estão.

- Ordens são ordens. Se o Lord quer interrogá-los pessoalmente sobre a Ordem, então temos que mantê-los vivos até ele chegar. E ele tem outros planos que são mais urgentes que isso, portanto temos que manter os aurores longe de qualquer jeito.

- Até fazendo acordos com os vampiros. Isso foi muito baixo, até para você.

- Como eu fui deixado no comando dessa missão, eu sugiro que você não questione as minhas ordens. Agora leve essas vassouras daqui antes que aquele imprestável do Durjon as veja empilhadas no caixão dele. Rápido!

Aline não esperou mais nem um segundo para sair dali e voltar para onde estavam os outros. Ela já havia visto qual das alas era a menos guardada, mas não viu nem sinal de Douglas. Eles provavelmente estavam sendo mantidos nas masmorras, apesar de não ter visto nenhuma escada que levasse para o subsolo.

Chegando perto das árvores da floresta, Aline voou mais baixo, logo encontrando os arbustos onde os três estavam escondidos. Ela entrou como coruja, mas assim que atingiu o chão voltou à forma humana, percebendo só então que seu coração estava disparado por causa da conversa que ouvira. Ou melhor, por causa de um dos Comensais da Morte.

- Calma, respira – Jorge disse, percebendo o quanto Aline estava ofegante. – Isso. Agora conta devagar o que foi que você descobriu.

- O… o… aquele maldito… o traidor do Pieri está lá dentro!

- O quê! – disseram os três ao mesmo tempo, e Aline cerrou os punhos com muita raiva.

- Era ele que estava no comando desse rapto o tempo todo! Aquele maldito!

- Não é nenhuma surpresa que ele seja um Comensal da Morte – Fred disse, soando um tanto ácido. – Desde o começo nós suspeitávamos que ele ia acabar se tornando um deles. Era só uma questão de tempo até descobrirmos.

- Nós não temos tempo para ficar divagando sobre o quanto o odiamos. Agora temos que pensar em como tirar o Douglas de lá – Cinthia lembrou, embora também fosse difícil para ela deixar a raiva que tinha de Pieri de lado. – Aline, o que foi que você viu lá dentro?

- Nada que nos ajude muito. Eles estão espalhados por todos os andares pelo que eu consegui ver, mas nem sinal dos aurores. O que eu mais ouvi foi o Pieri conversando com um dos outros. Eles capturaram os aurores para que Voldemort possa interrogá-los pessoalmente sobre a Ordem da Fênix.

Os três olharam espantados para Aline, e ela não entendeu direito o porquê.

- O que foi?

- Você conseguiu dizer o nome dele! – Fred disse.

- Você nunca tinha feito isso antes – Jorge acrescentou.

- Bem, considerando que eu estou puta de raiva com ele agora, eu acho que ter medo só de um nome é a coisa mais besta que existe.

- Até que faz sentido. Mas agora eu estou preocupada com o que você disse dele querer interrogá-los sobre a Ordem – Cinthia disse.

- Mas nós já sabíamos que esse era o motivo mais provável – Jorge disse.

- Mas não tínhamos certeza. E agora que temos, me ocorreu uma coisa: como é que ele sabe quem são os membros da Ordem?

Os outros se entreolharam com as sobrancelhas erguidas. Aquilo sim era motivo para preocupação, e nenhum deles conseguiu pensar numa resposta. Mas o tempo que tiveram para avaliar a situação foi bem curto, pois algumas vozes apareceram ao longe, e depois uma delas falou mais alto, calando as outras. Aline, Fred e Jorge olharam para Cinthia perguntando com os olhos o que eles deveriam fazer para não serem pegos, mas ela estava sorrindo.

- São os aurores – ela disse quase sem emitir som. – A voz mais alta era do Smith, o chefe da Tonks. Ele gosta de gritar quando da ordens lá no escritório.

- Será que avisamos a Tonks que estamos aqui? – Aline disse também quase sem fazer som, mas Fred e Jorge balançaram a cabeça negativamente.

- Assim os outros também vão saber que estamos aqui, e é isso o que viemos tentando evitar o tempo todo – Jorge disse.

- É, mas seria melhor que eles soubessem que estamos aqui agora do que nos descobrirem depois – Cinthia avaliou. - Vai ser muito pior se continuarmos escondidos, eles podem achar que estamos do lado dos Comensais.

- Mas eles podem também não nos encontrar – Fred disse.

- Você acha que eles não vão revistar a área com o infravermelho como nós fizemos?

- É mesmo, eu não tinha pensado nisso.

Cinthia abriu a boca para fazer outro comentário, mas antes que ela pudesse falar eles ouviram algumas vozes reclamando aparecerem de repente e mais perto deles. Elas logo fizeram silêncio, mas os passos não pararam.

- Devem ser os aurores dinamarqueses – Cinthia disse, só mexendo os lábios dessa vez. – Nós temos que sair daqui de um jeito ou de outro.

Eles ouviram os passos dos dois grupos se encontrando, mas ainda estavam muito longe para entenderem o que falavam. Cinthia olhou para os outros para indicar que precisavam falar com eles antes que fossem pegos como suspeitos, e os três concordaram com acenos de cabeça. Eles se levantaram e saíram do aglomerado de arbustos, deixando as bagagens que haviam levado com eles ali mesmo.

Os aurores logo pararam de conversar ao ouvirem movimentos na vegetação, e Tonks e mais dois aurores ingleses se ofereceram para ver o que era. Quando os quatro foram avistados, os dois aurores apontaram as varinhas para eles.

- Parados! Não se mecham!

- Calma, nós não viemos aqui pra armar confusão – Cinthia disse, deixando as mãos bem visíveis para que o auror não lançasse nenhum feitiço contra eles. Fred, Jorge e Aline fizeram o mesmo.

- Guardem as varinhas, rapazes. Eles são dos nossos – Tonks disse, e os dois obedeceram, mas ainda olhavam esquisito para Cinthia, Aline, Fred e Jorge.

- Quem são eles? Eu não fiquei sabendo que iam mandar uma equipe de apoio – Ernie Elmoss disse.

- Nós não somos aurores – Aline disse, e em seguida os outros aurores apareceram para ver o que estava acontecendo. Herold Smith se aproximou empunhando a varinha, mas não a apontava para eles.

- O que está acontecendo aqui? Quem são vocês?

- Eles têm nos ajudado na investigação – Tonks disse, lançando um rápido olhar para Cinthia para que ela a deixasse explicar, evitando mais confusões. – Muitas das pistas que eu disse que tinha conseguido por "intuição" eram, na verdade, pistas que eles coletaram. E até aquela carta que eu disse que apareceu na lareira era deles.

- Isso é um absurdo! Você espera que eu acredite que civis fizeram metade da investigação? Ora, por favor!

- Smith, me escute – Tonks sabia que Cinthia não gostara de ser chamada de civil, por isso falou antes que ela fizesse isso. – Eles ajudaram mesmo nas investigações.

- E por que eles fariam isso? O que é que eles têm a ver com o caso?

- Um dos aurores que foram capturados era nosso amigo – Fred disse.

- E meu marido – Aline acrescentou.

Smith continuou olhando um tanto incrédulo para eles.

- Então… você é a esposa do Berttapeli. – Aline concordou com a cabeça, mas o auror ainda não parecia ter se convencido. – Eu posso até aceitar a idéia de que vocês tenham tentado ir atrás dele para ajudá-lo, mas essa história de que vocês conseguiram um bom número de pistas antes da gente eu não engulo.

- Acontece que eu trabalho na DI – Cinthia disse calmamente, vendo com satisfação o leve olhar de espanto que passou pelo rosto do auror. – Logo, eu tenho alguma experiência em investigações.

- Você trabalha na Sala Fechada? Oh, você deve ser a investigadora que foi forçada a tirar uma licença – ele disse com um leve tom de mofa que deixou Cinthia levemente irritada.

- Sim, sou eu. Olhe, nós não temos muito tempo para ficar perdendo com explicações de como viemos parar aqui. Vamos deixar isso para depois e resgatar de uma vez os aurores.

Smith olhou para os quatro penetras como se avaliasse a situação. Ele jogou de leve a cabeça para o lado e finalmente respondeu, lentamente:

- Tudo bem. Eu suponho que esteja em dívida com vocês por algumas das dicas que nos passou. Mas vocês vão ter que ficar aqui enquanto entramos no castelo.

- Nós também temos o direito de entrar no castelo – Cinthia disse antes que Smith desse as costas para eles. – Nós fizemos muito mais que dar algumas dicas a vocês. Vamos entrar no castelo com vocês, pouco importando se somos aurores ou não.

Um auror dinamarquês meio gorducho se aproximou de Smith com um sorrisinho cínico, e o auror inglês crispou os bigodes ao vê-lo.

- Bem, aprece que você tem um problema com o pessoal do seu país, Smith – ele falou com um forte sotaque dinamarquês. – Parece que nós vamos ter que resolver esse caso enquanto vocês ficam aqui discutindo. Vamos! – ele ordenou ao seu pessoal, e todos os nove aurores dinamarqueses se dirigiram para fora da floresta.

- Eu não faria isso se fosse vocês – Jorge disse antes que eles se afastassem muito, e o bruxo que parecia ser o chefe dos aurores dinamarqueses parou imediatamente.

- E por que não? – ele perguntou como se aquilo estivesse custando toda a sua paciência.

- Por causa dos vampiros que estão rondando os arredores do castelo – Cinthia disse. – Usamos o infravermelho para vasculhar a área e vimos que tem pelo menos uns vinte vampiros voando em volta do castelo na área aberta.

O auror falou alguma coisa em dinamarquês para a equipe dele e a única bruxa do grupo puxou um mapa do bolso, confirmando que o que Cinthia havia dito era verdade. Smith olhou para os quatro penetras e soltou um sorrisinho, se voltando em seguida para o auror dinamarquês.

- Sabe de uma coisa, Leland? Acho que o meu problema acaba de ser resolvido – ele se virou para os quatro como se tivesse ganhado uma aposta e disse: - Vocês podem entrar com a gente se quiserem, mas não vão poder atrapalhar. Parece que vamos entrar todos juntos – ele disse, se virando para o dinamarquês.

Leland fechou a cara ao ouvir aquilo, mas em seguida se voltou para Cinthia, Aline, Fred e Jorge.

- Tem mais alguma dica que os penetras queiram dar?

- Bem, na verdade tem. – Aline disse, e Leland não pareceu muito feliz. - A entrada mais segura para entrar no castelo fica do lado que está voltado para a praia Tem um corredor no térreo que parece abandonado, sem iluminação nem Comensais da Morte.

- Bem, vamos indo então – Leland disse, meio a contragosto. – Não temos a noite toda.

- Temos que passar pelos vampiros de vigia, lembra – Smith disse, mas dessa vez foi Leland que sorriu.

- Nós somos especializados em vampiros. Deixem eles com a gente.

O grupo de aurores dinamarqueses vestiu capas de invisibilidade e se espalhou pela borda da floresta. Em pouco tempo eles já estavam espalhados em linha de frente para o castelo, escondidos pelas árvores, e, assim que um deles deu um leve sinal luminoso com a varinha, todos lançaram feitiços silenciosos para o céu que logo foram acompanhados por alguns sons abafados caindo na grama. Eles voltaram para onde os aurores ingleses estavam afastando as capas da invisibilidade do rosto, e Leland exibia um sorriso orgulhoso.

- Abatemos todos eles com um feitiço de essência de alho. Não passavam de Escravos.

- Tão esperto – Smith disse, mas com um tom óbvio de sarcasmo. – Vamos logo, não temos a noite toda.

Todos os aurores colocaram suas capas de invisibilidade, mas a capa dos gêmeos só era suficiente para cobrir dois deles. Cinthia precisou executar o feitiço desilusório nela e em Aline, e alguns dos aurores, tanto dinamarqueses quanto ingleses cochicharam entre si sobre como o feitiço fora bem executado. Enquanto iam até os fundos até a parte de trás do castelo, Tonks se aproximou de Cinthia e Aline, quase dando um susto nelas.

- Ei, vocês levaram sorte – ela cochichou, tomando cuidado para não se afastar muito das pegadas que seus colegas faziam na grama.

- Que susto, Tonks! Você podia pelo menos avisar que estava chegando perto – Aline disse, mas a aurora não se importou.

- O que eu estou tentando dizer é que vocês realmente tiveram sorte. Se o Smith e aquele chefe todo bam-bam-bam do grupo dinamarquês não tivessem discutido pra ver quem ia resolver o caso primeiro, o Smith não teria deixado vocês irem junto com a gente.

- E eu achando que ele tinha finalmente percebido que a nossa ajuda era importante – a voz de Fred disse de algum ponto atrás de Cinthia e Aline.

- Bom, isso também – Tonks emendou. – Mas como é que vocês descobriram qual era a entrada mais segura?

- Agora não, Tonks! Já tivemos que dar explicações por todo o caminho até aqui. Dá um desconto pra gente dessa vez – Cinthia disse. Ninguém mais além deles quatro e Douglas sabiam que eles eram animagos ilegais. E que continuasse assim!

Chegando aos fundos do castelo, eles forçaram uma das janelas e entraram no corredor que Aline havia indicado. Depois de verem que não havia ninguém em volta, todos tiraram as capas de invisibilidade (e Cinthia desfez o feitiço desilusório dela e de Aline. Não preciso nem dizer, certo?) e alguns dos aurores acenderam suas varinhas. Todos faziam silêncio enquanto esperavam que Smith e Leland dessem as ordens.

- Nós estamos num grupo muito grande para andar pelo castelo sem chamar a atenção dos vampiros e desses Comensais – Leland disse, passando os olhos pelo grupo para contá-los. – Acho que devíamos nos dividir em grupos, assim também cobrimos mais área de uma só vez.

- Concordo – Smith disse. Era incrível que agora, quando precisavam trabalhar sério, os dois aurores pareciam ter esquecido que estavam competindo para ver quem resolvia o caso primeiro. – Vamos misturar os grupos, assim podemos lidar com os vampiros e os Comensais ao mesmo tempo. Bert, Tonks e Barney, vocês vão em um grupo, Ernie, Marlow e Wionna formam outro e Daniel ficam comigo.

- Deixe-me ver… Berghen, Labonholm e Lund, vocês vão com o Smith, Värnamo, Samso e Flenmin vão com esses três – Leland apontou para o grupo de Tonks displicentemente – e eu, Aland e Nyköping iremos com os outros.

Os aurores se dividiram nos grupos como se o assunto estivesse encerrado, mas Cinthia não ia deixar que eles os deixassem para trás uma vez que já estavam dentro do castelo.

- Espera só um pouquinho. Vocês estão nos deixando de fora? Porque, se estão, nós vamos achar os aurores com ou sem a sua ajuda. Além disso, nós podemos ajudar. Formamos um grupo a mais e cobrimos ainda mais terreno desse jeito.

Smith olhou para ela, e em seguida para Tonks como se aquilo fosse culpa dela. Ele sabia que se não concordasse teria que discutir outra vez com Cinthia e os outros, e não estava com cabeça para isso no momento.

- OK, OK. Ernie, você vai com eles. Leland, deixe um dos seus acompanhá-los, não quero arriscar que sejam pegos por vampiros.

- Se é assim… Flenmin, você acompanha os penetras.

- Certo, Leland – a única mulher do grupo dinamarquês disse, mas não pareceu muito feliz com a escolha do chefe.

- Então vamos logo que já perdemos muito tempo discutindo – Leland disse. – Meu grupo pode ir pelas masmorras.

- E o meu pode procurar do térreo até o quarto andar – Smith disse. – Bert, vocês podem procurar do quinto andar pra cima.

- E nós? – Jorge lembrou, e Leland olhou bem para todos do grupo, inclusive para a aurora dinamarquesa.

- Vocês podem procurar pelas torres – ele disse com um sorrisinho cínico. É claro que esse é o último lugar que eles escolheriam para esconder os aurores, por isso deixaram as torres para o grupo dos penetras. – Será que vocês saberiam também para qual lado do corredor ficam as escadas?

- Tem escadas dos dois lados – Aline disse, se lembrando de que o objetivo ali era encontrar Douglas e os outros aurores o mais rápido possível, e não ver qual grupo o encontrava primeiro. – As da direita descem e sobem, mas as da esquerda estão menos vigiadas e só sobem.

Leland ficou levemente irritado por Aline saber aquilo, mas com um aceno de cabeça ele ordenou que o seu grupo o seguisse pelo lado direito do corredor, enquanto que os outros iam pela esquerda. Eles tentavam não fazer barulho, mas doze pessoas andando fazia um barulho considerável.

Depois de algumas curvas, eles finalmente chegaram a uma escada em espiral. Aquele piso ficava debaixo da terra na parte da frente do castelo, por isso o térreo era no andar de cima. Smith liderava o grupo e foi o primeiro a parar ao ver uma porta espessa de madeira no final da escada, fazendo um sinal para que o resto do grupo parasse e ficasse em silêncio. Ele tentou escutar pela porta, mas estava muito silencioso do outro lado, e quando ele tentou olhar pela fechadura descobriu que a porta estava trancada pelo lado de fora. Ele apontou a varinha para a fechadura de bronze e executou um feitiço simples:

- Alorromora!

Smith não abriu a porta de imediato. Ele se virou para os outros e disse bem baixinho quase que num sussurro:

- É bom todos ficarem preparados, podem ter Comensais da Morte do outro lado da porta. – Alguns dos aurores tiraram as varinhas dos bolsos, assim como Cinthia, Aline, Fred e Jorge, mas a maioria deles já estava armada. – Nós vamos primeiro para ver se não tem perigo.

Ele abriu apenas uma fresta na porta, espiando por ela. A luz que entrava era mínima, mas logo se alargou quando Smith abriu a porta e passou por ela, sendo seguido por Daniel Warhole, Esbjer Berghen, Mon Labonholm e Laeso Lund, e o lugar ficou escuro novamente quando eles fecharam a porta. Depois de alguns longos segundos silenciosos ela foi aberta novamente, e Smith chamou todos para fora.

- Esse corredor dá para a cozinha em uma ponta e para um salão na outra. Vamos ter que passar por alguns sentinelas para chegar às escadas, mas não teremos muitos problemas.

- Isso significa que deve ter, no máximo, uns dois carinhas guardando as escadas. Com um pouco de sorte, podem ser três – Tonks cochichou para Cinthia e os outros, que não puderam deixar de achar graça da seriedade exagerada com que o chefe dela falava. Alguns aurores dinamarqueses ouviram o comentário e lançaram olhares reprovadores para eles, achando que aquele não era a hora de fazer brincadeiras.

Eles andaram pelo corredor até a porta que dava para o salão principal em silêncio, mas a porta começou a se abrir. Quando uma figura encapuzada passou por ela, Smith e Hindas Värnamo, um dos aurores dinamarqueses, lançaram feitiços estuporantes ao mesmo tempo, nem dando tempo para o Comensal ver o que o havia acertado.

Mas o som que o corpo do Comensal fez ao cair no chão foi logo seguido de vozes vindas do salão (Não, são vozes vindas do além! Huahuahua!), e os aurores passaram pela porta lançando feitiços estuporantes antes que pudessem avisar os outros de que havia intrusos no castelo. Um dos Comensais ainda teve tempo de lançar um feitiço que quase acertou um dos aurores dinamarqueses, mas ele conseguiu desviar e estuporar seu atacante.

- Boa mira, Bö! – disse a aurora dinamarquesa, depois de se certificarem de que não havia nenhum outro comensal no salão. Bö Samso respondeu alguma coisa em dinamarquês, e os dois riram baixinho, mas pela entonação eles estavam falando dos Comensais da Morte. Smith ignorou aquilo, falando rápido:

- Vamos logo nos espalhar pelos andares antes que mais Comensais cheguem. Eu duvido que esse barulho não tenha atraído nenhum deles.

O grupo de Smith entrou por um corredor ao lado das escadas, enquanto que os outros dois iam rapidamente para os andares de cima. Eles encontraram mais dois Comensais da Morte no primeiro andar, mas Tonks e Fred os nocautearam por estarem mais na frente. Fred notou que a aurora dinamarquesa que os acompanhava não parava de olhá-lo de esguelha depois disso, provavelmente porque ele nem deveria estar ali em primeiro lugar, quanto mais derrubando os Comensais da Morte.

Eles continuaram subindo, mas não encontraram nenhum Comensal até chegarem ao quinto andar, onde os dois grupos se separaram.

Mas as escadas acabavam no sexto andar, não tendo mais para onde subir.

- Como nós vamos chegar até as torres agora? – Ernie perguntou para Cinthia e os outros três, mas Aline não sabia para que lado ficava o resto das escadas.

- Vamos ter que procurar pelas escadas no resto do andar – Cinthia disse, tomando a dianteira e indo pelo corredor da direita, que era melhor iluminado. – Não devem estar muito longe, eu acho.

Mas, corredor após corredor, tapeçaria após tapeçaria, quadro após pintura (Acharam que eu ia escrever 'quadro', né não?), mais perdidos eles se sentiam, e o resto da escada não aparecia.

- Eu achei que vocês conhecessem a planta desse castelo – Ernie Elmoss reclamou pela quarta vez ao se depararem com outro corredor sem saída.

- Nós só pudemos observar o castelo pelo lado de fora – Cinthia respondeu impaciente. – Talvez vocês devessem ter pensado nisso antes.

- Agora é um pouco tarde para pensar nisso.

- Concordo plenamente – ela respondeu, ácida.

Enquanto eles se distraíam com essa pequena discussão inofensiva, nenhum dos seis percebeu que uma névoa acinzentada se aproximava deles, até que ela se materializou atrás de Fred, sufocando-o com uma chave de braço. Fred se debateu tentando se soltar, e os outros se viraram para ele e o vampiro, que exibia um sorrisinho de triunfo no rosto.

- Intrusos, hein! Não façam nenhum movimento brusco, ou o amiguinho de vocês vai ganhar um pescoço quebrado.

Maya Flenmin fez um leve sinal com a cabeça para que os outros a deixassem cuidar do assunto, já que ela entendia mais de vampiros.

- Solte-o, nós não precisamos lutar – ela disse, apontando a varinha discretamente para ele ao lado do corpo, mas o vampiro apenas riu, sem perceber que ela se preparava para lançar um feitiço.

- E o que eu ganharia com isso? Você acha que eu sou estúpido para cair nessas conversinhas de paz e amor de vocês?

- Não, apenas idiota. Hitus Mortilium!

Um feitiço esbranquiçado saiu da sua varinha e atravessou Fred, mas acertou o vampiro atrás dele, fazendo-o cair no chão com um barulho abafado a uns cinco metros de distância. Mal o vampiro se levantou, logo se transformou em névoa, vindo na direção deles. Maya deu alguns passos para frente e proferiu mais um feitiço:

- Bublin contendus!

Um facho de luz esverdeado saiu da varinha dela e envolveu o vampiro-névoa, paralisando-o e em seguida puxando-o para perto dela. Assim que a luz desapareceu, uma enorme bolha esverdeada parecia estar presa na ponta de sua varinha, contendo uma fumacinha que não parava de rodar, e de vez em quando dava algumas pontadas na superfície da bolha.

- Isso vai mantê-lo preso por um bom tempo – ela disse, fazendo um movimento com a varinha para desprender a bolha, que quicou algumas vezes e parou encostada na parede. Ela se virou para Fred parecendo um pouco preocupada. – Você está bem? Esse feitiço pode dar um pouco de falta de ar.

- Não, eu tô legal – Fred disse, mas continuava com os braços cobrindo a barriga. O feitiço que o atravessara era extremamente gelado, e ele ainda sentia os efeitos colaterais. "Por que é que sempre que enfrentamos algum vampiro" ele pensou consigo mesmo, "é o meu estômago que acaba levando?"

Maya continuou olhando para ele com ar preocupado, e Fred, de repente, percebeu alguma coisa estranhamente familiar naquele olhar.

- É melhor procurarmos as escadas antes que outro vampiro nos ache – Ernie disse, fazendo Fred e Maya desviaram a atenção para ele e agradecendo mentalmente pela intromissão.

Eles andaram por mais alguns corredores, mas logo um som agourento reboou por todo o castelo como um alarme.

- Droga! Aposto como foi o grupo da Tonks que deixou um deles soar o alarme! – Ernie disse.

- Isso porque você não conhece o Trövi – a aurora dinamarquesa disse, olhando em volta procurando por algum Comensal da Morte ou vampiro. – Mais desastrado que ele não existe.

- Nós temos que chegar até uma torre que está na ala leste do castelo – Aline lembrou da conversa que ouviu entre Pieri e um outro Comensal. – É pra lá que eles vão levar os aurores agora que já sabem que estamos aqui.

- Mas nós já procuramos em todos os cantos desse andar – Cinthia disse. – Não tem nenhuma escada que leve para o sétimo andar, quanto mais para as torres.

- Talvez as escadas estejam escondidas – Jorge disse. – Como se fossem alguma passagem secreta ou algo assim.

- Você realmente acha que eles iam esconder as escadas? Elas devem estar em algum canto que não olhamos – Ernie disse, cético.

Jorge se aproximou de uma tapeçaria e a afastou, revelando um buraco em forma de arco grande o suficiente para uma pessoa passar. Não havia nenhuma escada, mas mesmo assim era uma passagem secreta.

- Você estava dizendo…?

- Como você sabia que havia uma passagem aí? – Ernie perguntou pasmado, arregalando os olhos.

- Não pergunte, só siga a gente – Fred disse, passando pelo buraco seguido de Jorge e os outros. Em Hogwarts, eles haviam achado algumas passagens que não apareciam no Mapa do Maroto e já estavam acostumados a perceber os pequenos sinais que denunciavam-nas. Ernie foi o último a entrar na passagem, ainda não acreditando nos gêmeos.

Eles andavam rapidamente pela passagem escura, apenas com a luz das varinhas para iluminar o caminho. Havia várias curvas fechadas como se estivessem contornando os aposentos, e logo eles pararam atrás de outra tapeçaria. Jorge empurrou-a com cuidado, vendo se não havia ninguém do outro lado. Ele saiu e segurou a tapeçaria para os outros passarem, correndo os olhos pelo corredor a procura de outra passagem.

A luz que vinha da janela no fim do corredor era o suficiente para que eles não precisassem da luz das varinhas. Apenas Fred e Jorge continuavam com as varinhas acesas, procurando algum detalhe nas paredes que denunciasse alguma passagem secreta.

- Ainda não acredito que você achou uma passagem secreta assim tão fácil – Ernie disse. – Aposto como vocês conhecem mais desse castelo do que querem contar.

- Olha, nós somos especialistas em passagens secretas – Fred disse com um ar mais confiante que o normal. – Nós sabemos o que estamos fazendo.

- Mas não tem nada nesse corredor – Jorge disse, indo até o fim dele e voltando, olhando para as paredes. – Vamos procurar no próximo…

No mesmo instante em que Jorge terminava a frase, uma das tochas da parede se acendeu de repente, chamando a atenção de todos. As outras tochas foram se acendendo até o fim do corredor, e logo apareceram três Comensais da Morte na curva mais adiante.

Assim que eles viram Cinthia, Aline, Fred, Jorge e os dois aurores, começaram a lançar feitiços na direção deles. Os seis revidaram e recuaram para o fundo do corredor, conseguindo estuporar dois dos Comensais. Um deles entrou por uma das portas, mas não sem antes ser acertado de raspão por um leve feitiço. Aline e Ernie foram atingidos por feitiços de corte, mas o de Ernie parecia estar infeccionado, pois começava a formar alguns furúnculos bem feios e nojentos.

- Limpiro! – Aline disse, apontando a varinha para o ferimento no braço de Ernie. Logo os furúnculos haviam desaparecido, e ela usou outro feitiço para cicatrizar o corte em sua perna.

- Puxa, obrigado! – Ernie disse, admirado com a eficiência do feitiço. Ele estava começando a simpatizar com o grupo penetra, vendo que a ajuda deles era bastante útil no final das contas.

- Temos que achar logo uma passagem que leve para o andar de cima – disse a aurora dinamarquesa indo até a curva no corredor. – Agora que eles sabem que já estamos num dos andares mais alto temos menos tempo ainda para encontrá-os.

- Acho que sei onde a passagem pode estar – Fred disse, entrando na mesma sala que o Comensal havia usado para fugir deles.

O Comensal da Morte não estava mais lá, e a sala parecia estranhamente normal. Na verdade, ela parecia até normal demais, como se ninguém tivesse passado por ali recentemente. As estantes estavam nos lugares certos, os móveis também, as cortinas mal se moviam; tudo parecia parado e milimetricamente arrumado. Fred e Jorge ficaram olhando em volta por um tempo, decididamente confusos.

- Aquele Comensal não pode ter desaparatado, esse lugar está protegido – Ernie disse, parando ao lado dos gêmeos. – Não me digam que vocês não acharam a passagem.

- Na verdade, tem três delas nessa sala – Fred disse.

- Quatro – corrigiu Jorge. – Tem uma debaixo do tapete também.

- Ah, é mesmo, eu não tinha reparado.

- Ótimo! – a aurora dinamarquesa exclamou. – Agora nunca vamos saber qual ele usou. Não temos tempo para entrar em cada uma dessas passagens.

- Talvez nós não precisemos entrar nas quatro – Cinthia disse com um ar pensativo. – Quais são as outras passagens?

- Bom, tem a do tapete – Jorge foi apontando enquanto falava -, uma atrás da estante, uma no teto que abre se puxar o lustre e uma outra nos fundos do balcão.

- OK. Continuem todos perto da porta. Lumus!

Cinthia examinou cuidadosa e rapidamente cada uma das passagens, mas sem abri-las. Todos ficaram um pouco impacientes porque ela não falava nada enquanto circulava pela sala, acompanhando-a em cada mínimo movimento.

- Ah, ele foi por essa aqui! – ela disse, apontando para a passagem do tapete.

- Mas essa daí vai pra baixo, e não para cima – Aline disse, e os outros concordaram com as cabeças.

- Mas essa é a única que foi utilizada recentemente. Tá vendo a franjinha nas bordas do tapete? Desse lado elas estão todas desarrumadas, enquanto que todo o resto da sala está impecavelmente arrumado e intocado. Ele só pode ter usado essa passagem.

- Bah! Vamos de uma vez que só estamos perdendo tempo com esse blá-blá-blá todo!

Ernie levantou o tapete e viu que, de fato, havia algumas pedras soltas no piso. Ele as afastou e começou a descer pela escadinha feita de madeira que havia no buraco, sendo seguido pelos outros. O túnel vertical só tinha a altura de um andar, como se acabasse no piso de baixo, mas se estendia para a esquerda em uma passagem muito mais estreita, podendo passar apenas um de cada vez e ainda com certa dificuldade.

A passagem continuou por um longo período, e não podiam andar muito rápido, pois podiam acabar batendo a cabeça em alguma pedra saliente na parede. Só depois de percorrerem o que parecia ter sido de uma ponta a outra do castelo, eles chegaram ao final da passagem. Havia outra escada, mas dessa vez ela subia tanto que Ernie não conseguia ver o final. Ele olhou para Cinthia parecendo bastante incrédulo, mas subiu a escada sem falar nada.

De repente, o alarme de intrusos parou de soar, deixando-os mais preocupados; será que os Comensais já haviam deixado o castelo? Eles se apressaram em subir o que pareciam ser uns cinco andares, até chegarem à tampa de um alçapão retangular, que era na verdade o primeiro degrau de uma escada em espiral. Só podia ser aquela a torrinha que estavam procurando!

Eles subiram o restante das escadas rapidamente, só se preocupando em não fazer barulho quando chegaram perto da porta no alto dos degraus. Ernie, que ia à frente, olhou para os outros e hesitou, achando que era muito perigoso para eles enfrentarem os Comensais sozinhos.

- Eu sei o que você vai dizer – Cinthia disse baixinho, interpretando o olhar dele corretamente. – Mas nós vamos entrar lá e tentar atrasar os Comensais até os outros aurores chegarem aqui. Não podemos arriscar perdê-los agora depois de ter passado por tantos países atrás deles.

- Certo – ele disse lentamente. – Preparem-se para lançar alguns feitiços assim que eu abrir a porta – os outros ficaram com as varinhas em guarda, mas estavam todos bastante tensos. – Alorromora!

Logo em seguida, Ernie escancarou a porta e lançou um feitiço estuporante na primeira figura encapuzada que viu, e os outros fizeram o mesmo. Mas havia quase trinta Comensais ali no alto da torre, e todos sacaram as varinhas enquanto Aline, Cinthia, Fred, Jorge, Ernie e Maya tentavam se esconder onde pudessem. Havia muitas caixas e entulhos naquela enorme sala circular, mas à medida que os Comensais iam destruindo esses escudos eles iam ficando sem muita proteção.

Apesar do número de Comensais da Morte ser muito maior que o deles, alguns estavam mais ocupados em escapar dali com os três aurores que haviam sido capturados. Assim que Jorge errou um feitiço e quebrou um dos caixotes perto da janela, eles puderam ver Douglas, Quim Shackelbolt e Ian Inckletiff. Aquilo foi uma motivação enorme para os seis, especialmente para Aline, que logo em seguida estuporou um dos Comensais que estava perto de Douglas.

Mas a batalha ainda estava desigual. Eles precisavam de reforços. Maya tirou um espelhinho quadrado do bolso para tentar se comunicar com o resto da sua equipe.

- Leland! Bö! Laeso! Os Comensais estão numa torre na ala leste. Estamos sendo atacados. Precisamos de reforços ime... Aaahh!

Um dos Comensais aproveitou que ela estava distraída e a acertou com um feitiço que a atirou contra a parede, como se ela tivesse sido atingida por um rinoceronte. O espelhinho voou na direção de Fred, que viu o que havia acontecido e mirou no atacante dela, gritando:

- Seu desgraçado! Estupefaça!

O feitiço atingiu em cheio o Comensal da Morte, que caiu desacordado no chão.

Eles continuaram lutando como podiam, mas os feitiços passavam cada vez mais perto deles por causa da falta de caixas para se protegerem. Quando uma das pilhas de armaduras velhas perto deles explodiu, todos os seis foram atingidos com os estilhaços, colocando-os em desvantagem.

Ou assim pensaram os Comensais da Morte.

O barulho da explosão havia abafado a chegada do grupo de Herold Smith, bem a tempo de dar reforços para o grupo dos penetras. Mas os Comensais não desistiram só por causa da chegada deles, e continuaram atacando com ainda mais força. Um pequeno grupo deles tentava se proteger e amarrar os três aurores desacordados à vassouras, mas o grupo de resgate não dava descanso para eles.

Laeso Lund, um dos aurores dinamarqueses, conjurou algumas caixas de chumbo para protegê-los, mas essas também não duravam muito tempo.

- Nós temos que afastá-los dos três aurores – Smith disse entre um feitiço e outro. – Não podemos deixar que eles saiam.

- Eu sei disso – Cinthia disse, e em seguida parou de atacar, se agachando atrás de uma das caixas de chumbo. – Eu tive uma idéia! Accio vassouras!

As vassouras em que os Comensais da Morte tentavam amarrar os três aurores voaram das mãos deles para o colo de Cinthia, assim como as que estavam encostadas nas paredes. O ataque de feitiços diminuiu nessa hora, pelo espanto de muitos dos Comensais da Morte, mas eles ainda tentaram impedir que as vassouras fossem embora lançando feitiços nelas.

- Assim eles não têm como fugir – Cinthia disse para Smith no momento em que as vassouras pousaram no seu colo, encolhendo-as uma por uma. Mas em seguida o ataque dos Comensais voltou ainda mais forte. Ela os havia irritado.

- Nós não vamos conseguir segurá-los por muito mais tempo – disse Esbjer Berghen, do grupo de Herold. – Têm uns três deles para cada um de nós. Os outros grupos já deveriam estar aqui.

- E estamos aqui! – eles ouviram a voz de Leland vir de algum lugar perto da porta, que se escancarou outra vez, mas ninguém entrou. Seguido a isso, vários feitiços começaram a ser lançados de vários pontos da sala sem ter quem os lançasse, e logo os outros aurores perceberam o que estava acontecendo. Eles estavam usando as capas de invisibilidade, e pelo número de feitiços lançados, os dois grupos que faltavam haviam chegado juntos.

Os Comensais da Morte ficaram perdidos sem poderem ver no quê estavam atirando, e ficou mais fácil para o grupo de resgate nocauteá-los.

Uma das figuras encapuzadas saiu do ataque e foi até a janela mais próxima, desviando e impedindo os feitiços que eram lançados na sua direção.

- Durjon! – ele gritou, e em seguida colocou dois dedos nos lábios, soltando um assobio alto e agudo. – Venha logo, droga!

Fred, Jorge, Cinthia e Aline se entreolharam, reconhecendo aquela voz. Mas logo eles se abaixaram para se protegerem de uns três feitiços lançados na direção deles.

- Aline... - Jorge disse, cautelosamente.

- Eu ouvi. É ele. – ela disse lentamente, com um tom bem claro de raiva e ódio. Antes que eles pudessem falar alguma coisa, ela se levantou e lançou vários feitiços em Pieri. Cinthia, Fred e Jorge se levantaram e a ajudaram, mas o Comensal percebeu que estava sendo atacado por eles e se escondeu perto dos três aurores capturados.

- Parem! – Cinthia disse. – Não podemos arriscar acertar os aurores.

- Aquele covarde…! – Aline disse, mas logo eles tiveram que se abaixar outra vez. – Desgraçado!

- Nós vamos pegá-lo, não se preocupe – Cinthia disse. Ela olhou em volta, para os aurores que estavam lutando com eles, e percebeu que dois deles já haviam sido abatidos, mas, em compensação, eles já haviam nocauteado o dobro de Comensais da Morte. – Aline, acho que é melhor você reanimar os dois aurores nossos que estão caídos, e depois ajude quem estiver ferido. Assim ganhamos mais vantagem sobre eles.

- Tá legal. Eu não sou muito boa em batalhas mesmo.

Eles continuaram lutando, e, agora que Aline estava se encarregando dos feridos, eles conseguiram nocautear muito mais Comensais que antes. Mas, quando achavam que estavam ganhando, Durjon e outros onze vampiros entraram pelas janelas como morcegos. Ele foi falar com Pieri que, apesar de estar se protegendo perto dos aurores capturados, continuavam atacando o grupo de resgate.

- Está precisando de ajuda? – Durjon perguntou calmamente, enquanto os outros vampiros continuavam a voar na forma de morcegos atrás dele.

- Você nos ajudaria? – Pieri perguntou, parando de atacar.

- A nossa ajuda teria um preço, já que essa luta não é nossa.

- Mas eles invadiram o seu castelo! Eu achei que você se importaria mais com isso.

- Por que eu lutaria quando posso deixar que vocês os cansem para nós? Além do mais, eles não estão atrás de nós, e sim de vocês. Mas, se você estivesse disposto a fazer outro acordo, ficaríamos contentes em acabar com eles para vocês.

- Há! Outro acordo! Não teria como vocês simplesmente nos tirarem daqui? Estamos sem transporte.

- Ah, o final dos covardes! Fugindo da batalha.

- Então, vai nos ajudar a sair daqui ou… - Giovanni se abaixou para desviar de um feitiço no meio da frase, mas Durjon continuou impassível.

- Eu até cobraria um preço para tirá-los daqui, mas acho que a vergonha da derrota já vai ser suficiente para vocês. Podemos levá-los até um lugar seguro, mas só podemos carregar um de cada vez.

- Já é mais que o suficiente.

Pieri se voltou para os outros Comensais da Morte enquanto Durjon falava com os morceguinhos à sua volta com estalidos, e não palavras.

- Debandar! – Pieri gritou para os dezessete Comensais restantes. – Vamos embora! Debandar!

Ele se aproximou de Durjon, mas um dos Comensais se aproximou dele parecendo preocupado e assustado.

- O que vamos fazer com os três aurores? Como vamos levá-los?

Pieri olhou para o rosto de Douglas com raiva e frustração, falando em seguida: - Deixe-os aí. Não vamos nem conseguir sair todos daqui, quanto mais carregar peso morto com a gente.

- Mas o que o Lord vai pensar? Vamos ser punidos por isso!

- Eu pouco me importo com o que ele pensa, desde que continuemos vivos. Se quiser tentar sair daqui com eles, Avery, pode continuar lutando e dando cobertura para os outros que são mais espertos que você.

Pieri não esperou uma resposta dele, apenas se aproximou de Durjon, que o transformou em névoa junto com ele e saiu pela janela.

O Comensal da Morte pareceu bastante relutante em tomar alguma decisão. Se ele seguisse as ordens do Lord, teria que ficar ali e, certamente, seria capturado pelos aurores. Por outro lado, se fugisse como Pieri iria fazer, o castigo de Voldemort seria infinitas vezes pior, e poderia até ser morto.

Ele acabou ficando e dando cobertura com alguns dos outros Comensais da Morte. Aqueles que fugiram com Pieri eram carregados em forma de névoa pelos vampiros, escapando dos feitiços dos aurores do resgate. O grupo dinamarquês ainda conseguiu impedir que três dos vampiros escapasse, mas nove deles conseguiram voar para longe carregando nove Comensais com eles.

Depois desse ato covarde, foi fácil abater o restante dos Comensais, e logo todos foram nocauteados e amarrados. Os aurores que foram atingidos fizeram fila para que Aline concertasse pernas quebradas e fechasse cortes. Alguns ela não podia curar ou acordar só com feitiços, por isso precisariam ir até o hospital bruxo mais próximo.

Smith, Leland, Cinthia, Fred, Bert Elmoss, Aland Halmstad e Mon Labonholm não haviam sido atingidos, e se aproximaram dos três aurores capturados, agora resgatados, que haviam sido deixados encostados na parede. Além do fato de estarem desacordados, eles não pareciam ter ferimentos mais graves do que arranhões. Herold usou o enervate antes em Quim Shacklebolt. Ele deu uma inspirada forte e se sentou, piscando várias vezes e tentando focalizar os que estavam a sua volta.

- Vocês conseguiram – ele disse simplesmente, sorrindo ao parar o olhar em Herold e Bert.

Aline havia acabado de curar um dos lados do corpo de Tonks que havia ficado paralisado, e a aurora veio andando na direção deles.

- E aí, grande Q.! Tá tudo legal?

- É, acho sim – ele disse, se olhando pra ver se estava tudo bem mesmo.

Enquanto Tonks o ajudava a se levantar, Leland reanimou Ian Inckletiff, que, estranhamente, não abriu os olhos. Depois de alguns segundos ele soltou um ronco, e todos ficaram preocupados.

- Ele estava dormindo quando os Comensais nos estuporaram – Quim disse meio rindo. - Deixem ele dormir, afinal, ele fez o nosso último turno de vigia.

Os outros riram também, mas logo Smith usou o feitiço para reanimar em Douglas. Assim que abriu os olhos, ele se sentou e olhou alerta para todos em volta, Ele precisou piscar algumas vezes para focalizar os outros, mas só se acalmou ao ouvir a voz de Quim.

- Calma lá, soldado. Acabou. Eles conseguiram achar a gente dessa vez.

- E não pense que foi fácil não – Fred disse com o tom brincalhão de sempre – o seu grupo de viagens realmente gosta de passear.

Douglas ficou muito contente e aliviado em ver Fred e Cinthia ali, mas só depois de alguns segundos caiu a ficha.

- Peraí! O que vocês estão fazendo aqui?

Aline estava prestes a curar o braço de Jorge quando ouviu a voz de Douglas. Ela se virou, vendo que ele estava acordado, e ficou sem palavras. Ela largou o braço quebrado de Jorge (sendo que ninguém reparou no grito de dor que ele deu) e saiu correndo na direção de Douglas, se atirando nele e o abraçando o mais forte que podia.

- Você está bem! Graças a Deus! Você não sabe o sufoco que eu passei sem saber onde você estava! Eles não te machucaram, né? – ela afrouxou o abraço só um pouquinho para ver se ele estava bem mesmo, mas o apertou mais ainda em seguida. – Que bom que você está bem! Eu sabia que aquela missão ia dar problema. Eu te avisei, você não quis me ouvir. Da próxima vez eu te prendo em casa! Só assim eu vou ter certeza de que você vai ficar bem mesmo.

- Ei, Aline, calma. Eu estou bem. Agora que você está aqui, eu estou bem. – Douglas disse baixinho para acalmá-la, mas também a abraçava com força.

Nos dias em que havia ficado preso, ele havia chegado a pensar que nunca mais veria Aline, que eles podiam matá-lo e ela ficaria sozinha. Ele nunca havia sentindo tanto a falta dela como nesses doze dias de confinamento e ansiedade. Ele a abraçava para matar a saudade que sentia, para esquecer desses dias, e também para que ela se acalmasse.

- Eu quase morri de saudades, sabia? – Aline disse com os olhos marejando de lágrimas, passando as pontas dos dedos pelo rosto dele.

- Eu sei, eu também. Mas eu disse que ia voltar são e salvo, não disse?

Eles se beijaram e se abraçaram por um tempo, esquecendo que Douglas ainda não havia se levantado. Eles não se importavam que os outros estivessem olhando, só queriam matar a saudades desses dias horríveis de tensão e angústia.

Jorge se aproximou de Cinthia e Fred segurando o braço quebrado, mas não conseguiu disfarçar as lágrimas nos olhos.

- É tão bom ver eles juntos de novo, não é não? – Cinthia disse, achando que Jorge havia se emocionado com a cena também.

- Ela. Largou. O. Meu. Braço. Tá. Doendo. Pacas! – ele disse, mordendo o lábio para não dar outro grito de dor.

- Ih, eu não tinha visto! Eu não sei consertar, mas acho que isso deve fazer a dor passar – ela apontou a própria varinha para o braço quebrado de Jorge. - Férula!

Ela conjurou uma tipóia para deixar o braço dele imóvel, ganhando um carinhoso beijinho na testa por isso.

- Obrigado. Você é um amor.

- Parou de doer?

- Não. E está até um pouco apertado – Jorge fez uma leve careta, mas sorriu em seguida. - Mas o que vale é a intenção.

Fred deu uma risadinha leve dos dois e se afastou para não ser contagiado por essa onda de mela-cuequice. Ele olhou em volta e se sentiu meio perdido. Os aurores conversavam entre si, amarrando os Comensais da Morte desacordados, Aline não deixava Douglas sair de suas vistas nem por um segundo, e seu irmão e Cinthia continuavam se revezando para falar coisas bobas e meigas que o fariam vomitar se ele ficasse ouvindo por muito tempo. Só ele parecia não ter com quem falar.

Ele estava tão distraído que acabou tropeçando em uma coisa meio mole num canto da sala. Ele olhou para baixo e viu que era o auror que não havia acordado nem com o feitiço enervate. Fred se sentou do lado dele, encostando as costas na parede, e ficou olhando os outros se movimentando pela sala.

- É amigo, só sobramos eu e você.

O outro roncou em resposta, e Fred riu de si mesmo por estar falando com alguém que não podia nem ao menos ouvi-lo, quanto mais respondê-lo. Por um longo instante, sua atenção foi atraída para um ponto em especial da sala, um ponto do qual ele simplesmente não conseguia desviar o olhar. Esse ponto havia acordado há pouco tempo, e atendia pelo nome Maya Flenmin.


(N/A: Ahá! "Por que será que ele não conseguia parar de olhar pra ela? Dãh, eu sou o Goyle, eu ainda não entendi." HÁHÁHÁ! Essa eu desenterrei mesmo! Tá, mas o que vocês acham do Fred nesse finalzinhho? Hum, pra mim tem coisa nessa história. O quê? Vocês não acham? Ih, meu Deus, como vocês são lerdos... E a reação da Aline, não podia ser diferente disso, né não? Hehe, e o Jorge e a Cinthia então! Nossa, melosos, grudentos e meiguinhos. Ecows!

Bom, tudo isso é pra despistar do que vai acontecer no próximo capítulo. Não, eu não vou contar, vocês vão ter que ler o capítulo 16 mesmo. Não adianta insistir! Eu sou má mesmo, BWAHUAHUAHAUHAUAHUAHAUAU!)