Capítulo 16 – Acertando contas
Dois dos aurores só acordaram depois que os medibruxos do principal hospital bruxo de Copenhague (capital da Dinamarca) trataram deles. Ian foi acordado antes deles partirem de Livstance Yuth, é claro, mas não foi tarefa fácil. Muitos precisaram tratar os seus ferimentos lá também, já que Aline não havia levado as suas poções.
Cinthia, Fred e Jorge ficaram na salinha de espera do hospital, já que Douglas estava passando por um check-up completo em uma das salas, assim como Quim e Ian, e Aline teimava em ficar o tempo todo do lado dele. Os aurores que não haviam se machucado seriamente também estavam lá, esperando os companheiros receberem alta. O braço de Jorge já estava curado, mas ele ainda precisava ficar com a tipóia até que o osso se fortalecesse.
Herold Smith se aproximou dos quatro na salinha de espera, mas a expressão em seu rosto era de preocupação. Tonks vinha com ele, e ela passou um dedo no pescoço para dizer que eles estavam encrencados. Herold demorou um pouco para falar, também não gostando do que teria que fazer:
- Tonks me contou tudo que vocês fizeram para ajudar na missão, todas as pistas que vocês conseguiram e os riscos que vocês correram. Mas vocês não podiam ter feito isso. Quanto a vocês dois – ele disse para os gêmeos – e a Sra. Berttapeli, eu não posso fazer nada além de dar apenas um aviso para que não resolvam bancar os detetives outra vez. Deus sabe como vocês tiveram sorte de não ter acontecido nada grave! Mas quanto a você, Cinthia – ele se virou para ela, fazendo uma pequena pausa antes de continuar –, eu vou ter que informar o seu superior, pois cabe a ele decidir se você merece só um aviso.
Cinthia soltou um longo suspiro, mas só balançou a cabeça indicando que havia entendido. Smith se sentou perto da mesinha e escreveu um relatório rápido para enviar à sede dos aurores, e também anexou outro bilhete para mandar ao chefe de Cinthia, Rupert Farfield. Ele foi até a lareira e pediu uma conexão transcontinental, esperando um pouco para ser conectado com as lareiras da Inglaterra. Tonks se sentou ao lado de Cinthia no sofazinho para tentar animá-la.
- Ei, não fique chateada. Depois de toda a ajuda que você nos deu aposto como o pior que o Farfield pode fazer vai ser te dar um aviso.
- Se você apostasse nisso, com certeza acabaria perdendo. Você não conhece o Farfield. Ele tem uma cisma comigo que eu nunca vi igual! Ele tem aquela mania de puro-sangue, e ainda por cima não gosta de estrangeiros que se destacam mais que os ingleses. E deve ter mais algum motivo que eu também não sei. Você acha que ele vai só me dar um aviso? Eu acho que ele vai é me despedir!
- Imagina! As pessoas podem acabar te surpreendendo.
- Você tem razão, ele pode mandar me prender...
Cinthia olhou para Tonks e não pôde deixar de rir. Enquanto ela se lamentava, a aurora havia transformado o rosto no de Cinthia, e estava fazendo uma careta muito torta.
- Isso é pra você ver como não é bom te ver desanimada – Tonks fez uma cara triste, e Cinthia deu um sorrisinho amarelo.
- É, acho que estou exagerando um pouco sim. Mas se ele me der uma bronca daquelas, vocês já sabem que é normal.
Tonks sorriu e transfigurou seu rosto para a forma de sempre. Nessa hora, Smith conseguiu entregar o relatório para uma secretária no setor dos aurores da Inglaterra. Cinthia acabou desanimando quando as chamas verdes da lareira se apagaram. Farfield sempre abria os bilhetes de escritório assim que chegavam.
- Eu dou exatos noventa e três... não, noventa e oito segundos para essas chamas ficarem verdes de novo e a cabeça do Farfield aparecer nelas.
- Estou contando – Jorge disse brincando, mas ficou de olho no relógio.
E, exatamente noventa e oito segundos depois, a cabeça de Farfield apareceu no meio das chamas verdes da lareira da salinha de espera do hospital bruxo dinamarquês. E ele não parecia muito feliz.
- Eu não queria acreditar, mas agora que estou te vendo aí, eu não tenho outra opção senão acreditar. Você está realmente aí!
Cinthia se levantou, soltando um suspiro resignado e um tanto entediado, se abaixando ao lado da lareira para ficar no mesmo nível que ele.
- Olá, Farfield. E sim, da última vez que eu chequei, eu estava onde estou. Como andam as coisas no escritório? – Cinthia disse aquilo com um leve tom ácido por ter resolvido um caso fora do escritório, mas Farfield pareceu não notar.
- Não me venha com fala mansa! Você desobedeceu a uma ordem minha. Eu te proibi de acompanhar esse caso, mas mesmo assim você veio até aqui.
- Eu não desobedeci as suas ordens. Você me deixou de licença, eu estava agindo por conta própria, como uma civil.
Cinthia odiava usar esse termo para si mesma, mas era o melhor argumento que ela tinha para usar.
- Mas você estava de licença justamente para não acompanhar o caso! Você pode estar como civil aí, mas aposto como utilizou instrumentos do escritório que, por sinal, não deveriam ter saído da sua sala.
- Eu não faço idéia do...
- O mapa de zoom, por exemplo. Durante uma licença, isso pode ser considerado roubo.
- Não exatamente. Se você tivesse me mandado embora, isso seria considerado roubo. Durante a licença, se você não pediu o material de escritório de volta e eu esqueci de devolver, isso não é roubo, já que eu vou voltar para o escritório no fim da licença.
As bochechas de Farfield adotaram uma tonalidade avermelhada de raiva. Ele fez uma pequena pausa para se acalmar, mas ainda parecia zangado.
- Eu acho que vou tomar um chazinho lá na lanchonete do hospital – Fred disse para Jorge e Tonks, não querendo ver Cinthia levar bronca do chefe.
Ele se levantou e ouviu Farfield despejando mais algumas frases de "não podia" e "sem permissão", mas enquanto ia até a porta não pôde deixar de pensar no alívio que sentia. Douglas estava são e salvo, assim como os outros dois aurores, e eles poderiam finalmente voltar para casa e relaxar.
Mas um esbarrão em alguém logo na porta fez ele acordar de seus pensamentos, mesmo assim, por um momento, Fred pensou que continuava sonhando. Era a aurora dinamarquesa de cabelinho escuro e curto que tentava passar pela porta ao mesmo tempo que ele, só que no sentido contrário. Ela pareceu um tanto constrangida de ter esbarrado nele e foi rápida em pedir desculpas.
- Eu estou um pouco distraída. Me desculpe.
- Que é isso, eu também não te vi. Foi mal pelo esbarrão.
- Parece que somos dois avoados.
O sotaque dela era bem acentuado, Fred reparou, o que dava ao inglês dela um toque charmoso, apesar de ser meio pausado. Nenhum dos dois conseguiu falar depois disso e se seguiu um silêncio um tanto embaraçoso.
- Então, o amigo de vocês... – ela disse, ao mesmo tempo em que Fred também tentava quebrar o silêncio:
- Você lutou muito bem lá...
Os dois sorriram da situação boba em que se encontravam, e Fred fez sinal para que ela continuasse falando.
- O amigo de vocês está bem? Não aconteceu nada de grave com ele, eu espero?
- Não, ele está bem. Mas está em estado de observação por enquanto, da mulher.
- Eu acho que a encontrei no corredor quando tava saindo. Ela estava conversando com um dos enfermeiros por causa do travesseiro meio murcho que ele levou. Aposto como o coitado ainda vai ouvir os gritos dela à noite – ela disse num tom de brincadeira.
- É a Aline, com certeza – Fred disse, meio rindo. E antes que aquele silêncio esmagador voltasse outra vez, ele continuou falando rapidamente: - Ah, antes que eu me esqueça, queria te dar os parabéns. Você lutou realmente bem lá no castelo.
Fred ouviu a si mesmo falando, e aquilo soou muito atropelado. E ele que não queria demonstrar nervosismo perto de uma mulher tão linda...
- Não, eu não lutei bem – ela disse, soando modesta e verdadeira ao mesmo tempo, mas ela desviou o olhar para qualquer canto que não fosse o rosto de Fred. – Eu estava muito distraída.
- E mesmo assim você conseguiu salvar o meu pescoço de um daqueles defuntos dentuços.
- Bem, eu já estou acostumada a lidar com vam...
- Hem, hem!
Um dos funcionários daquele hospital estava parado na porta com cara de poucos amigos, esperando os dois saírem da frente. Sem esperar nem meio segundo, ele adicionou:
- Será que os dois pombinhos podem me dar licença?
- Ah, claro – Fred disse, dando um passo para o lado, e Maya fez o mesmo. – Com um pedido tão delicado desses...
- Humpf! – o funcionário respondeu ainda mais educadamente, se afastando deles. Fred balançou a cabeça e se virou novamente para Maya, que parecia ter ficado ligeiramente rosada. Quando ela percebeu que Fred olhava para ela, a moça se apreçou em voltar ao normal.
- Você acredita nesse cara? Eu espero nunca precisar ser curada por ele – ela disse, falando mais rápido do que era necessário.
- É.
"Droga, outra vez essa merda de silêncio não! Fred pensou, começando a ficar desesperado por um assunto. "Eu tenho que continuar falando com ela! Eu preciso!"
- Er, bem... - ele disse, ao mesmo tempo em que a aurora abria a boca para falar que precisava falar com os colegas de trabalho. Mas ela fechou a boca, esperando ele continuar. – Eu estava indo para a lanchonete do hospital, quando... nós esbarramos... e seria legal se você me acompanhasse. Isto é, se você quiser. Porque eu sei que você deve ter coisas mais importantes para fazer agora do que ficar jogando conversa fora, então... você quer?
- Claro! Eu adoraria! Eh... eu estou precisando de um tempo pra relaxar mesmo.
Fred apenas sorriu, e os dois se dirigiram para as escadas, já que o refeitório do hospital ficava no último andar.
Eles tiveram alguns segundos de silêncio, mas dessa vez não era um silêncio embaraçoso ou constrangedor. Era como se eles quisessem apenas sentir que o outro estava do lado. Mas assim que começaram a subir o primeiro lance se escadas, Maya decidiu quebrar aquele silêncio, já que não podia mais segurar algumas perguntas e acontecimentos que pairavam na sua mente.
- Sabe, foi muito gentil você ter nocauteado o Comensal da Morte que me atingiu lá no castelo – ela disse com o seu sotaque adorável, fazendo Fred engasgar.
- Er... você estava acordada...?
- Eu não desmaiei logo que ele me acertou. Eu tentei continuar acordada, mas a pancada na parede foi muito forte. E... acho que todos os aurores da minha equipe também estão te devendo agradecimentos – ela disse sorrindo, um pouco misteriosa demais para Fred.
- Como assim? Pelo quê?
- Por ter nos ajudado a conseguir o nome do Quebra-nozes naquela livraria. – A aurora se virou para olhar a reação de Fred, que estava decididamente apalermado. – Obrigada! Você nos poupou um monte de trabalho se disfarçando de entregador retardado.
Fred pôde jurar que ela estava tentando não rir dele ao se lembrar do disfarce que ele usara. Mas ele estava era indignado, afinal, achava ter fingido bem que era retardado. Pensando outra vez, aquilo não era uma coisa para se ter orgulho, mas mesmo assim ele não conseguia imaginar como eles haviam descoberto.
- Como foi que vocês descobriram? Eu achei que tinha representado tão bem... - ele disse, fingindo estar magoado.
Aquilo fez a aurora dar uma risadinha, e Fred reparou pela primeira vez como o sorriso dela era bonito; branquinho, singelo, não lembrava em nada o sorriso ofuscante e largo de Gilderoy Lockhart.
- Bem, eu acho que os meus colegas não sabem que era você. Eu só te reconheci pelos seus berros. Você não conseguiu deixar a voz fraca quando gritou com o Quebra-nozes.
- Ah, é verdade... Também, com uma voz como a minha fica difícil falar agudo - Fred disse, forçando a voz para ficar mais grossa.
Maya deixou escapar uma risada mais solta dessa vez, e Fred gostou do som. Mas assim que os lances de escada acabaram e eles entraram na lanchonete, o assunto mudou rapidamente para o que eles iam tomar, e Maya pediu os chás dos dois em dinamarquês.
Enquanto se sentava e esperavam pelos chás, Fred tentava descobrir como ela o havia ouvido berrar na livraria. Maya se concentrou no potinho de castanhas que havia pegado no balcão, e foi só quando ela levantou os olhos para ele e ofereceu as castanhas que Fred entendeu como ela o reconhecera. Era impossível confundir aqueles olhos meio verdes, meio castanhos.
- Quer um pouco de castanhas?
- Você é a bruxa que estava usando um véu lá na livraria, não era?
A aurora parou com a mão no ar, segurando o potinho, e demorou um pouco para processar aquela resposta tão estranha para a sua pergunta. Ela pousou lentamente o potinho na mesa, mas estava sorrindo.
- Uau, nunca haviam me desmascarado antes. Você foi o primeiro.
- Ah, duvido! Como é que alguém pode não reconhecer esses olhos?
- Engraçado você falar isso. Quando você estava saindo da livraria e vi os seus olhos eu pensei "ele não tem o olhar de um retardado", mas depois eu tive que anotar o nome do Quebra-nozes e acabei esquecendo desse detalhe. Acho que isso também me ajudou a te reconhecer... além dos berros...
Fred reparou que a aurora estava ficando sem jeito pelo tom rosado que as suas bochechas adotavam, mas nenhum dos dois conseguiu quebrar o contato visual. Para o alívio de ambos, a garçonete quarentona e meio rechonchuda colocou as xícaras de chá na mesa deles, quebrando a sensação de constrangimento.
Depois eles acabaram mudando o rumo da conversa para amenidades. Fred ouviu ela contar sobre alguns dos casos mais bizarros dela nos seus três anos como aurora. Ela contou que morava com a irmã, que havia pagado a escola e o treinamento até ela começar a trabalhar. Também ouviu ela falando das amigas malucas que mantinha desde a época de escola e nas coisas que elas três aprontavam. Fred também falou um pouco de si mesmo, revelando que não fora um aluno exemplar nem a 5.000km de distância. Ele falou da loja que ele e Jorge tinham em Hogsmeade, e que ele morava no andar de cima.
Era incrível a facilidade com que os assuntos estavam fluindo agora, e Fred desejou que aquela conversa durasse para sempre. Pelo menos de uma coisa ele tinha certeza: nunca ia ter outro papo tão gostoso com este, e nem uma companhia tão boa e interessante.
- Nossa, eu queria que existisse algum vilarejo inteiramente bruxo aqui na Dinamarca – ela disse, bastante admirada com essa informação. – Os trouxas são gente boa, mas deve ser ótimo não ter que ficar se escondendo deles.
- E é. Mas mesmo quando eu morava com os meus pais a gente não precisava proteger a casa com feitiços anti-trouxa. O lugar era bem retirado, apesar de ficar perto da capital.
- Mesmo assim, eu ia adorar conhecer esse vilarejo. Deve ter um clima bem menos tenso que as cidades daqui.
- Ei, Fred! - Fred se virou um tanto surpreso e desapontado para a porta da lanchonete, de onde seu irmão o havia chamado. Ele ainda estava usando a tipóia no braço que havia quebrado. – Nós já estamos indo embora. Douglas já recebeu alta e o chefe da Cinthia finalmente parou de dar bronca, achando melhor terminar o assunto quando ela levasse a bunda dela de volta para a Inglaterra. Foi uma discussão bem feia... er, eu não estou interrompendo nada, não é? – ele acrescentou com um sorrisinho ao ver Maya, e Fred mais que depressa se levantou.
- Não, não. Pode deixar, eu já estou indo.
Jorge desapareceu pela porta rapidinho com aquele sorriso irritante, e Maya também se levantou.
- Também é melhor eu ir para a sala de espera, ver como os outros aurores da minha equipe estão – ela disse com a voz neutra, e Fred concordou com a cabeça.
Mas durante o caminho para a sala os dois continuaram conversando o quanto podiam, e até desaceleraram o passo de propósito. Quando chegaram na sala de espera com a lareira, Tonks, Quim, Ian e os outros aurores ingleses estavam se despedindo de Cinthia, Jorge, Aline e Douglas, já que Fred e os outros três já haviam trazido a sua bagagem para o hospital bruxo. O fogo da lareira já havia voltado à sua coloração normal.
- Ei, olhe! Estamos prestes a ver um acontecimento que só se repete na mesma freqüência dos eclipses – Maya disse quando o seu chefe ia até os amigos de Fred para se despedir. Os dois se aproximaram para ouvir o que ele ia dizer.
- Eu tenho que admitir que vocês foram de grande ajuda no caso dos vampiros e dos Comensais – ele disse, como se fosse extremamente difícil de articular aquelas palavras. – Certamente teríamos demorado mais tempo para encontrá-los se vocês não tivessem ajudado.
- É, o grupo do Durjon vinha nos causando problemas há muito tempo. Agora que ele está mais fraco vai ficar mais fácil de pegar os outros – Maya resolveu acrescentar aquilo, já que Leland parecia pouco disposto para dar o devido mérito ao grupo dos penetras.
- Bom, não era essa a nossa intenção, mas fico feliz que tenhamos sido de alguma ajuda – Cinthia disse, num tom igualmente formal ao de Leland, deixando escapar um leve sorriso satisfeito.
- Acho que eu também estou devendo agradecimentos e desculpas a vocês quatro – Smith disse, se aproximando do grupo que estava se despedindo. – Vocês ajudaram um bocado no caso.
- Já não era sem tempo de recebermos algum reconhecimento – Jorge disse sem parecer rude.
- Mas no final todos trabalhamos juntos – Cinthia disse, dando uma leve cotovelada no lado de Jorge. – Se só um dos grupos estivesse cuidando do caso, aí sim iria demorar meses para achá-los.
- Eu acho que quem deve agradecer alguma coisa aqui sou eu – disse Douglas de bom humor. – Afinal, vocês salvaram a minha vida, e de Quim e Ian também.
- Mas não pense que isso vai se repetir – Aline disse, apontando para ele com um ar autoritário. – Eu não vou mais deixar você sair do escritório por um bom tempo.
- E como você espera que eu seja um auror?
- E você ainda pensa em ir trabalhar depois disso? Eu vou é te levar para casa, lá você não corre perigo nenhum.
Aline começou a arrastar Douglas para a lareira, mas ele não fazia nenhum esforço para resistir, rindo-se dela. Ela pegou um punhado de Pó de Flu que havia em cima da lareira e jogou nas chamas, esperando que Douglas fosse na frente.
- Eu me casei com uma lunática! – Douglas disse com um tom divertido, mas entrou na lareira mesmo assim.
- E eu me casei com um suicida – Aline disse também brincando, indo buscar as suas malas aos pés do sofá. – E não pense que eu vou te deixar sair de casa tão cedo. Você precisa de repouso e descanso...
Mas Douglas a puxou pelo braço, fazendo ela entrar na lareira com ele.
- Ah, eu não vou voltar sozinho. Já fiquei muito tempo longe de você – ele disse, abraçando-a para que os dois coubessem dentro da lareira e para que as chamas verdes não derrubassem nenhum dos dois no caminho para a Inglaterra.
- Correção: eu me casei com um demente. Você faz idéia do quanto desconfortável vai ser viajar de dois com Pó de Flu? E esse não é transcontinental, o que vai fazer a viagem ser muito mais longa.
- Edifício Marine, apartamento 35; Inglaterra, Londres – Douglas disse, ignorando os protestos de Aline, e no instante seguinte as chamas já haviam transportado os dois para longe dali.
- Eu espero não estar perdendo um dos meus melhores aurores – Quim disse levemente preocupado.
- Não se preocupe. Daqui a alguns dias a Aline devolve ele – Jorge disse.
- E nós temos que ir também – Cinthia falou, pegando também a bagagem de Aline. Mas Jorge pegou todas as malas das mãos dela, não deixando que ela carregasse nem uma pena sequer por causa do bebê.
- Você não devia fazer esforço.
- Eu não estou aleijada. E não me diga que viajar por Pó de Flu é perigoso também, porque eu não sei outro jeito de voltar para casa.
- Perigoso não é, mas é extremamente desconfortável, ainda mais para você. É melhor eu ir antes, caso você precise de ajuda quando chegar lá.
Cinthia olhou para o tanto de malas que Jorge estava carregando (as dele, as suas e as de Aline) e percebeu que não era uma má idéia deixar ele ser superprotetor com ela e o bebê.
- Sabe de uma coisa, dessa vez eu não vou protestar – ela disse sorrindo, e jogou um punhado de Pó de Flu na lareira para Jorge.
Ainda um pouco afastados dos outros, Maya perguntou baixinho a Fred por que o seu irmão estava agindo assim, e Fred explicou que os dois estavam noivos, e que Cinthia estava grávida. Maya ficou um pouco surpresa, mas não teve tempo de dizer nada, pois logo precisaram de Fred para ajudá-los.
- Ai, eu sabia que todas essas malas não iam caber aí dentro... deixe eu carregar pelo menos as minhas.
- De jeito nenhum – Jorge disse, tentando espremer mais uma mala dentro da lareira, sendo que nem havia espaço para ele mesmo. – Eu dou um jeito.
- É, tô vendo. Fred! – Cinthia chamou. – Você pode dar uma mãozinha?
- Posso dar até duas se precisar – ele respondeu, e em seguida se virou para Maya. – Bom, foi legal conhecer você.
- É, também gostei da nossa conversa – a aurora disse no tom mais neutro que podia, mas não disfarçava bem a ansiedade de ver Fred indo embora. Fred nunca pensou que algum dia veria alguém ficar assim por ver ele partindo, ou que sentiria o mesmo em deixar alguém.
- Olha, se algum dia você for visitar Hogsmeade, passe lá na loja. É a que tem o maior e mais chamativo letreiro luminoso da região.
- Pelo jeito não vai ser difícil de achar – ela disse sorrindo, e Fred só sorriu de volta, indo ajudar o seu irmão abobalhado com as malas.
Enquanto eles decidiam quem ia primeiro, Fred sentiu a aurora olhando fixamente para ele, mas não teve coragem de olhar para trás. Se o fizesse, ele sabia que não ia querer voltar para casa para passar mais algum tempo com ela, mas precisava ajudar Jorge a cuidar da loja. No estado apalermado em que o irmão estava pela perspectiva de ser pai, era capaz de se esquecer que a loja existia. E não é como se ele e Maya morassem apenas em bairros distantes, havia sim um mar enorme entre a Inglaterra e a Dinamarca. Eles já tinham trabalho fixo, e ele não podia simplesmente passar uma temporada lá para tentar se aproximar mais dela.
Depois de muita insistência por parte de Cinthia, eles decidiram que Fred levaria as malas de Aline até o apartamento dela e de Douglas, indo em seguida para a loja, e que os dois iriam direto para a pensão em que estavam morando.
Antes de Fred repetir o endereço de Douglas, fazendo um esforço incrível para não olhar para Maya, Jorge deu uma rápida olhada na direção da aurora e sorriu para o irmão, entendendo o que se passava. Fred só respondeu com um olhar de "esqueça, é impossível" e desapareceu no meio das chamas esverdeadas.
N/A: Puxa, esse capítulo ficou bem curto comparando com os outros. É que ele e o próximo eram um só, mas o assunto mudava drasticamente no meio e eu resolvi separá-los. No próximo capítulo eles já voltam quase totalmente ao dia-a-dia de sempre, mas até na vida normal acontecem problemas. Não percam! (Uhu, adoro deixar as pessoas curiosas!)
