II - O Primeiro Olhar
Harry, Rony e Hermione seguiram Bichento até o corredor da tapeçaria de Joana – a Decapitada, uma tapeçaria que mostrava como essa bruxa decapitara a si mesma, na tentativa de acertar o marido, próximo às masmorras.
– Pra onde ele está indo? – Rony quem perguntou – Daqui a pouco estaremos perto da sala do Snape!
Bichento corria, até que parou em frente a uma estátua de um trasgo ciclope e se escondeu num vão. Harry se abaixou para tentar alcançar o gato, mas ficou imóvel.
– Estão ouvindo? – ele perguntou. Rony e Hermione apuraram os ouvidos. Era um miado fino e muito baixo, não parecia de Bichento.
– Será que tem outro gato preso aí e Bichento quer a nossa ajuda? – Hermione perguntou, preocupada.
– Temos que afastar essa estátua, mas... – Rony começou, porém foi interrompido por Harry.
– Achei algo parecido com um botão aqui – Harry tateou, até que ouviram um "CLICK" e a estátua se moveu para o lado.
Logo eles viram por que Bichento os levara até aquele local. Atrás da estátua havia uma almofada surrada e suja e, em cima dela, uma gata siamesa deitada, parecendo muito franca, com quatro gatinhos, três aparentemente adormecidos e um tentando sugar inutilmente leite da mãe. Tinha o pêlo cinza com algumas listras amarelas, o rosto achatado como o de Bichento. Este mantinha um olhar triste.
– Bem que eu falei que ele tinha arranjado uma namorada – Rony foi o primeiro a falar – Mas esses filhotes estão dormindo?
– Estão mortos – Harry examinou um a um – Mas não faz muito tempo, deve ter sido nessa madrugada...
– Não entendo... Eles parecem até saudáveis, Harry – Hermione fez cara de quem ia chorar.
– Não me admira, nesse lugar frio... Mas parece até que foi o leite que fez mal a eles... – ela se abaixou para examinar a gata – Ela deve ter tido um parto complicado.
O filhote que tentava mamar começou a miar alto. Antes que pudessem tomar qualquer atitude, ouviram passos apressados atrás deles e Pansy Parkinson com Emilia Bulstrode apareceram.
– Sophie! – exclamou ela, dando um passo à frente para se aproximar, mas parando de repente, com certo nojo. Encarou Hermione – O que fez com a minha gata, Granger?
– Eu não fiz nada! Ela só teve filhotes, não está vendo? – Hermione apontou para os gatinhos. Pansy fez nova careta de nojo e viu Bichento.
– Esse gato imundo...
– Bichento é muito bem tratado! – Hermione protestou – Eu só lamento que ele tenha gostado justamente de uma gata que pertença a você!
– Mione, veja! – Rony apontou para a gata.
Sophie tentou se apoiar nas pernas dianteiras e num miado agourento, caiu imóvel na almofada. Bichento se aproximou, com um miado de lamento pela gata. Pansy parecia abalada, porém não mais que Hermione.
– Ela... Ela está morta...
– Sinto muito... – Hermione sussurrou, sincera – Pobre Sophie... E o filhote...
– Mas é só uma gata – ouviram uma voz arrastada atrás deles. Draco chegava naquele momento e se aproximou para examinar a cena – Foi você mesma quem disse que colocou uma poção na comida dela, há duas semanas, não foi?
– Eu não queria os filhotes, mas queria ela viva – Pansy falou – Mas não deveria fazer um efeito tão retardado, quero dizer, se era pra ela morrer...
– Sua imbecil! Matou a própria gata e ainda vem culpar Bichento? – Mione estava indignada – Como pôde dar qualquer poção para uma gata nas condições em que estava? Por isso ela teve complicações e os filhotes morreram intoxicados!
– A minha gata era de raça, não tinha que ficar se misturando com qualquer um! – Pansy falou com cara de nojo, ao mesmo tempo em que parecia horrorizada.
– Por que não compra outra? – Draco perguntou, como se estivesse falando de um vestido novo.
– Essa raça é uma fortuna! Meu pai não vai querer me dar outro gato de uma hora pra outra.
– Não acredito que você está mais preocupada com o valor material da Sophie! – Hermione se revoltou – Pense no filhote que ela deixou!
– Essa bolinha de pêlos mestiça não tem valor algum! – Pansy exclamou, embicando o pé para dar um chute no filhote.
O que aconteceu em seguida foi muito rápido. Bichento se colocou na frente de Pansy, pronto para dar uma mordida, o que resultou em Hermione tirando sua varinha para afastar a garota com um Expelliarmus e Draco tirando a sua para afastar o gato com outro.
– O que significa isso? – era a Profª MacGonagal que chegava com o Profº Snape.
– Ela me atacou, professora! – Pansy exclamou, fingindo ter se machucado – Primeiro matou a minha gata e tentou fazer isso comigo também. – Draco revirou os olhos, exasperado.
– Não exagere, senhorita Parkinson – Snape se aproximou e olhou para o corpo inerte da gata – A sua gata e esses filhotes pelo visto tiveram uma causa de morte muito diferente do que um simples feitiço e a senhorita Granger tem juízo suficiente para não aplicar uma Maldição Imperdoável aqui dentro.
– Professor, ela ia chutar o único filhote que sobreviveu e Draco ainda acertou meu gato! Veja... – ela apontou para onde Bichento estava, mas nem ele, nem o filhote se encontravam ali.
– História fascinante, senhorita Granger, mas não vai escapar da detenção por causa de um gato.
– Nem o senhor Malfoy – completou MacGonagal – Por mais que eu não queira penalizar uma aluna exemplar como a Srta Granger, devo concordar que ela cometeu uma falta grave, junto com o Sr Malfoy, já que ambos estavam com a varinha em riste, prontos para atacar um ao outro. – e se virando para o restante dos alunos – Quanto aos demais, saiam. Vamos providenciar a retirada de sua gata, senhorita Parkinson. Se quiser providenciar algum ato fúnebre, me procure.
Pansy se afastou, dando um sorriso cínico para Hermione. Harry e Rony saíram a contragosto e Draco ia fazer o mesmo quando foi chamado.
– Um momento, sr Malfoy. – era a professora novamente – Quero falar com os dois sobre a detenção de vocês. Podemos usar sua sala, Severo?
– Claro – o professor os conduziu até a sala; Draco e Hermione sequer se olharam – Cuide deles, Minerva. Eu vou providenciar a retirada daqueles animais.
Quando Snape fechou a porta, MacGonagal voltou a falar.
– Agora, quanto à detenção dessa noite...
– Dessa noite? – Draco exclamou, exasperado – Mas, professora, hoje é Dia das Bruxas!
A professora o encarou com as sobrancelhas muito juntas, sinal de que estava irritada por ter sido interrompida.
– Lamento, Sr Malfoy, mas receio que perdendo a festa vocês dois aprendam a lição e ainda mais: que dêem exemplo aos outros alunos, já que são monitores.
Draco lançou um olhar azedo para Hermione, que retribuiu da mesma forma. A professora continuou:
– Bem... Como os danos não foram muito graves, acho que é suficiente que sejam retirados apenas 30 pontos de cada casa. Pouco depois do café, Madame Pince disse que precisava de ajuda na biblioteca para organizar um novo acervo. Vocês começam às 18 horas. Agora, podem ir.
Ao saírem, Draco puxa o braço de Hermione.
– Espero que esteja feliz, Granger, acaba de estragar o meu dia.
– O meu também não foi o melhor, se você quer saber – ela tentou desvencilhar-se dele, mas não conseguiu – E você só se meteu onde não era da sua conta... Quer fazer o favor de me largar?
Uma nova tentativa de se desvencilhar e Draco a puxou para si, encarando-a nos olhos. O gesto fez com que o cabelo de Hermione roçasse de leve em seu rosto e ele pôde sentir um aroma doce que exalava. Apesar disso, ele ainda estava furioso e manteve o contato visual.
– Você ainda me paga por essa detenção, Granger...
Hermione não respondeu. Sustentou o olhar e não sabia por que, mas aqueles olhos acinzentados lhe chamaram a atenção e uma mistura de medo e curiosidade se apossou dela. Talvez quisesse descobrir um modo para que não refletissem tanto ódio e medo, porque parecia que Draco era capaz de hipnotizar alguém, como uma serpente.
Um empurrão fez com que Draco a soltasse.
– Não se atreva a tocar em Hermione de novo! – era Rony. Estava ofegante como se tivesse corrido.
Draco quase tinha caído no chão e se preparava para pegar sua varinha, mas Harry foi mais rápido. Ele se viu, então, acuado.
– Parem, vocês dois! – Hermione veio em socorro.
Rony a olhou intrigado, mas Harry não tirou os olhos de Draco.
– Mione, ele ia te agredir!
– Mas se vocês dois agredirem ele também, ambos vão pegar uma detenção e perderemos mais pontos! – ela disse, exasperada – Harry, abaixe essa varinha, MacGonagal pode aparecer a qualquer momento!
Harry abaixou a varinha, ambos se encarando com desprezo.
– Agradeça a Hermione por você não parar na Ala Hospitalar, Malfoy – disse ele e começou a caminhar com os amigos em direção ao Salão Principal.
– Claro, agradeço por ela mandar em dois marmanjos que não sabem pensar sozinhos como vocês... E depois reclamam do Crabble e Goyle.
Rony se virou para avançar, mas Mione o deteve pelo braço, praticamente arrastando-o a contra gosto para longe de Draco.
Draco continuou ali parado por mais algum tempo. Prestava atenção em uma certa fragrância doce que sentiu e continuava a sentir. Quando se deu conta no que estava pensando, sacudiu a cabeça, aborrecido.
– Argh! Aquele perfume barato dela... Acho que vou tomar um banho, fiquei impregnado...
N.A.: Queria agradecer à review da Wicked-Aleena, espero que goste da fic, é uma short e não posso dizer que seja lá muito romântica, gosto de escrever aos poucos como tudo acontece, geralmente dando a entender o que pode acontecer entre os personagens. ; ) Beijos!
