III – Sutil Detenção:
Às 18h, Hermione se despediu dos amigos no Salão Comunal.
– Se quiser, podemos vigiar o Malfoy com a capa do Harry, caso ele tente te azarar ou coisa assim – Rony sugeriu, Harry concordando.
– Não sejam bobos, ele não vai tentar nada numa detenção. – Hermione respondeu, encaminhando-se para o buraco do retrato – Além disso, preferia que vocês procurassem pelo Bichento, acho que ele escondeu o filhote por aqui, ele deve estar faminto... E saiu sem dizer mais nada.
Draco já estava na biblioteca quando ela chegou. Ignoraram um ao outro enquanto Madame Pince dava as ordens. Ela disse que tinha que assinar alguns papéis em seu escritório e deixou Draco e Hermione sozinhos para organizar os livros.
Ela estava decidida a ignorar a presença de Draco para não ter aborrecimentos, em compensação, ele planejava um modo de aborrecê-la, para que Hermione aprendesse a não se meter mais com ele.
Um carrinho para cada um, ela se afastou um pouco. Draco a observava de longe, Hermione mantinha um semblante triste e ele não queria acreditar que era ainda por causa de um gato idiota e seu filhote.
Sem pensar muito, continuou a observar seus gestos. A cada livro que pegava, ela o abria com cuidado, como se estivesse pegando uma flor delicada. Seus olhos, ele percebeu, brilhavam de ansiedade e interesse ao folhear cada livro e um sorriso se formava em seus lábios, ao mesmo tempo em que fechava o livro, com um suspiro resignado de que não poderia se distrair a ponto de ler todos eles naquele momento. E sem saber por que, ele sorriu.
Mione percebeu o olhar de Draco quando pegou o livro seguinte. Encarou-o, curiosa e desconfiada; ele sustentou o olhar, o que a fez corar de leve e se aborrecer também.
– Se pretende ficar parado sem fazer nada, esperando que eu faça o trabalho todo, pode esquecer! Não sei quanto a você, mas quero terminar essa detenção logo...
– Pois não parece, Granger. – ele se aproximou devagar – Porque você é que está fazendo tudo com muita lentidão, folheando todos os livros que encontra. Isso só atrasa todo o serviço.
– Cuide do seu serviço que eu cuido do meu. – ela se afastou com seu carrinho, indo para a outra seção.
Draco permaneceu no mesmo corredor enquanto Hermione se posicionou em uma ala atrás dele. Sentiu-se uma idiota por Draco ter reparado em sua fraqueza e tentou se concentrar em seus afazeres. Por sorte, não havia muito que fazer ali, e seu carrinho já estava quase vazio, ao contrário do de Draco, que estava abarrotado de livros.
Antes de procurar mais livros para organizar, ela aproveitou que estava livre para observar Draco. Ele estava todo atrapalhado, sem saber onde colocar os livros; fitava os livros e depois a estante, totalmente carrancudo. De vez em quando tirava uma franja teimosa da frente dos olhos. Hermione riu baixinho.
Definitivamente, Mione tinha que admitir que Draco Malfoy era bonito. Pena que tinha seus defeitos, um pouco mais do que os outros garotos que conhecera até aquele momento, e muitas vezes cogitou que se ele não tivesse uma educação tão retrógrada quanto à pureza da raça, talvez pudessem se entender, pelo menos tornarem-se menos hostis uns com os outros. Por outro lado, se isso acontecesse, ele não seria Draco Malfoy.
Hermione sacudiu a cabeça, como se saísse de um transe e se deu conta do que ele fazia: os livros estavam todos fora de ordem, alguns até de ponta cabeça. Ficou indignada com a falta de atenção dele e voltou:
– Olha a bagunça que está fazendo! – ela exclamou, fazendo com que ele se assustasse a ponto de um livro que ele tentava colocar numa prateleira mais alta cair em sua cabeça – Como pode ser tão desleixado?
– Ouch! O que deu em você, Granger? – ele perguntou, massageando a cabeça.
– Ah... Sinto muito... –ela corou, envergonha – Mas preste atenção no que está fazendo! Os livros estão todos fora de ordem!
– Estão na seção em que deveriam estar, não estão? – Draco perguntou, ainda aborrecido, dando de ombros.
– Muito engraçadinho... Estamos aqui para ajudar Madame Pince. Se fizermos o serviço errado, teremos que refazer.
– Falou como uma verdadeira monitora – Draco comentou, com desdém – Faça você mesma, então.
– Não vou fazer nada sozinha, se é essa a sua intenção. – Hermione falou, com firmeza – E só pra deixar de ser preguiçoso, vamos reorganizar esses que você colocou.
Draco deu um gemido de aborrecimento. Acabava de se arrepender de qualquer elogio ou boa qualidade que tivesse feito ou encontrado naquela sangue-ruim sabe-tudo.
– Vamos começar organizando os livros por tombo, autor e assunto – ela começou no seu modo prático de sempre.
Sem reclamar, pois ele também queria sair daquela detenção, porém muito carrancudo, Draco recomeçou a tarefa. Ficaram aproximadamente uma hora organizando a relação que tinha no carrinho, entre eventuais reclamações por parte de Draco e protestos de Hermione sobre responsabilidade. Estavam quase terminando e, quando ele pensou que estaria livre...
– Pronto, agora temos que colocá-los nas estantes. – Hermione falou naturalmente.
– O que? – Draco perguntou, perplexo. – Quer dizer que depois de tudo ainda temos que...
– Temos sim – ela interrompeu de forma autoritária e o encarando nos olhos – Não é certo deixar um serviço pela metade!
Draco manteve o olhar e, a julgar pela pouca distância em que se encontravam, não pôde negar que havia algo entre os dois, algo que ele não sabia o que era. Ou estavam desafiando um ao outro, ou era provocação. Pela primeira vez, ele se deu conta de como Hermione tinha um rosto gracioso e, embora os cabelos fossem rebeldes demais, mantinham aquele aroma que ele admirara pela manhã.
Por outro lado, Hermione considerava aquele olhar atrevido como mera provocação e tinha quase certeza de que ele faria alguma piadinha de mau gosto sobre seu cargo de monitoria e por ser de família trouxa. De qualquer forma, não conseguia desviar os olhos dele, por isso desconfiou de que havia algo errado não apenas com sua atitude, como na dele também. Esperou por um insulto que não veio, o que aumentou ainda mais suas suspeitas sobre aquele "clima" entre os dois.
N.A: OLá! Obrigada pelas reviews. Bom, esse capítulo é o que eu gostei mais de escrever, apesar de não ter bem um final pra ele, o próximo é o último, mas quem sabe eu não faça uma continuação? Beijos.
