IV - Gestos são Melhores que Palavras

Ambos mantinham o olhar e Draco era menos paciente do que Hermione. Resolveu tomar uma atitude, talvez ajudasse a definir o que exatamente estava acontecendo com ele.

Ele deu um passo à frente, o que a incentivou a desviar o olhar e recuar. Draco percebeu sua perturbação e recuou também, passando a mão pelos cabelos.

– Tudo bem, Granger, vamos terminar logo com isso. Faça o que quiser.

Hermione arregalou os olhos.

– Você... Está concordando comigo?

– Só porque quero sair daqui logo e não olhar mais para a sua cara. – ele respondeu, mal humorado.

Hermione sorriu, incrédula e divertida. Não se importou com o insulto e Draco fingiu não se importar com o sorriso dela.

– Vamos precisar de uma escada, já arrumei os livros dessas prateleiras baixas – ela examinou a estante e os tombos dos livros.

Accio escada – Draco apontou a varinha e logo apareceu uma pequena escada, porém um pouco bamba que Madame Pince usava.

– Muito bom – ela sorriu, sincera. Foi a vez de Draco ficar perturbado, o que não passou desapercebido de Mione, por causa do rubor em seu rosto pálido.

– Eu sei que sou bom, Granger – ele respondeu, pra disfarçar; Hermione revirou os olhos – Mas você sobe, certo? Não quero desorganizar de novo... – concluiu em tom ofendido.

– Tudo bem, você me passa os livros, então – ela subiu nos primeiros degraus.

Dessa forma, Draco passou a ajudar Mione e não parecia mais aborrecido, muito pelo contrário. Ambos pareciam satisfeitos de finalmente conviverem sem ter que se ofender ou brigar por futilidades e Draco aproveitava os momentos de distração dela para apreciar suas pernas, não vendo lugar mais interessante para olhar ali naquela biblioteca, tomando todo o cuidado para que ela não percebesse.
Foi quando Hermione tentou alcançar uma prateleira mais alta que sentiu se desequilibrar. Segurou-se na escada e o chamou.

– Malfoy, pode segurar a escada, por favor? Quero ver se consigo alcançar aquela prateleira. – e antes que ele chegasse perto – Só não olhe pra cima!

– Certo, Granger... Como se eu quisesse olhar... – porém, foi o mesmo que dizer para ele olhar, principalmente pelo fato de estar muito mais próximo dela.

Vendo o esforço de Hermione, Draco se preocupou, mesmo sem querer.

– Hã... Granger, acho melhor você descer, a não ser que queira rachar a cabeça. Eu sou mais alto, posso subir e colocar na prateleira.

– Bobagem! Estou quase conseguindo...

Mal havia falado quando se desequilibrou, indo para trás, sem conseguir se segurar. Draco soltou a escada e conseguiu ampará-la, mas por causa do impacto, também perdeu o equilíbrio e os dois foram parar no chão; Draco muito mais dolorido do que Mione.

Sentiu mais pelo impacto do que pelo peso, pois não demorou muito para perceber o quanto Hermione era leve. Segurou-a pela cintura, constatando um quadril não tão fino, mas bem delineado.Os cabelos volumosos cobriram sua face, com a fragrância doce que ela emanava invadindo suas narinas.

Foram apenas poucos segundos, mas conseguiu perceber tudo isso em uma garota que ele sempre odiou e nem se lembrava mais por quê. Hermione se desvencilhou logo, ficando de pé. Parecia furiosa.

– Você soltou a escada, não foi? – ela perguntou, ofegante. – Pelo visto não perde uma oportunidade para querer machucar os outros!

– Só soltei a escada para pegar você. Caso não tenha percebido, você praticamente caiu em cima de mim! – Draco também se pôs de pé, um tanto ofendido. Era a primeira vez que ajudava alguém e ela sequer agradeceu.

– Não venha com suas mentiras! – Mione estava rubra, não se sabia se era de vergonha ou de raiva – E eu que pensei...

– Pensou o que? – já de pé, ele se aproximou dela rapidamente. Tinha um olhar penetrante e perigoso.

– Pensei... Que poderíamos parar de brigar por qualquer coisa, pelo menos por hoje... – Mione respondeu, sem desviar o olhar.

– Foi você quem começou, Granger – ele manteve o olhar, agora menos severo. Ela ia revidar, mas ele foi mais rápido – E você vai descobrir que é possível não brigarmos...

Ele começou a se aproximar ainda mais da garota, que permaneceu imóvel. Hermione queria sair dali, mas não conseguia, no fundo ela esperava por essa atitude vinda dele, já que dificilmente teria coragem para tanto. Draco já estava bem próximo de seu rosto...

– Vocês aí! – a voz de Madame Pince fez com que se afastassem rapidamente – Terminaram?

– Hm... Falta um livro – Hermione ergueu o exemplar que segurava.

Com um gesto da varinha, Madame Pince recolocou o livro no lugar certo e se dirigiu aos dois.

– Muito bem, agora sumam. – disse simplesmente. Diante do olhar confuso dos dois, ela prosseguiu – Isso mesmo, falei com a profª MacGonagal e ela deu permissão para que fossem à festa do Dia das Bruxas antes que termine.

Ao saírem da biblioteca, a única atitude que poderiam tomar era de caminhar em silêncio para o Salão Principal. Naquele momento, Draco não conseguia pensar em nem um insulto, nada para falar. Pouco antes de chegar, Hermione quebrou o gelo.

– Desculpe.

– O que? – Draco ficou surpreso. Ela suspirou.

– Sinto muito, Malfoy, fui muito grossa com você e nem agradeci por ter me amparado quando caí.

– Ah, bem... – ele corou e, para não perder o costume, acrescentou – Pelo menos você reconheceu que estava errada, Granger.

Infelizmente para Mione, Draco não se tornara menos rude nesse pouco tempo de convivência. Suspirou resignada de que merecia ouvir isso. Ele a olhou pelo canto do olho.

– Hã... Também me desculpe, eu sei que a detenção não foi culpa sua. Quero dizer, a Parkinson exagerou com toda aquela história dos gatos...

– Pobre Bichento... – Hermione falou mais para si do que para Draco, com a fisionomia triste – O que será que ele fez com o filhote...

Naquele momento, Draco olhou para uma tapeçaria próxima a uma armadura, parecia que algo se mexia ali. Teve uma suspeita, mas decidiu não falar nada.

– Hm... Acho que não vou pro Salão agora – disse ele – Nos vemos por aí, Granger. E saiu sem dizer mais nada. Mione ficou observando desconfiada. "Pelo menos ele se despediu civilizadamente", pensou, como consolo. E continuou seu caminho.

Draco se escondeu e esperou que Hermione chegasse ao salão. Voltou para a tapeçaria e, procurando por entre as frestas das colunas, encontrou o filhote de Bichento que, quando o viu, começou a miar incessantemente.

– Eu sabia... – ele pegou o gato, vitorioso – Agora, vejamos... Não posso entregá-lo pessoalmente à sua dona, isso seria... Constrangedor para minha imagem... Vamos ver o que posso fazer.

Chegando ao Salão Principal, Hermione ainda encontrou Harry e Rony, embora a grande maioria de alunos já tivesse se retirado.

– Que bom que se livrou do Malfoy – disse Rony – Espero que ele não tenha te enchido.

– Ficar com o Malfoy nunca detenção deve ser horrível – observou Harry, que tinha Bichento em seu colo, com uma cara triste e mal humorada – Eu lembro no primeiro ano, foi uma chatice.

Hermione não respondeu de imediato.

– Bem... Não foi tão ruim assim – e diante do olhar incrédulo dos amigos, ela corou ao completar – Quero dizer, não tão ruim quanto pensei que seria. Afinal, conseguimos conviver sem nos azarar, isso é um progresso em se tratando do Malfoy.

Draco chegou ao salão minutos depois. Vendo que o salão estava quase vazio, teve esperança de que o que ia fazer não despertasse suspeitas. Ficou observando o movimento da mesa da Grifinória e não passou desapercebido de Hermione, que o olhava de vez em quando.

Uma coruja surgiu no Salão Principal, chamando a atenção dos presentes. Trazia uma pequena bolsa e tinha certa dificuldade em transportá-la, talvez porque a bolsa se mexesse demais. A coruja foi até a mesa da Grifinória e parou defronte a Hermione, depositando a bolsa cuidadosamente na mesa, saindo logo em seguida. Ansiosa, ela abriu a bolsa e o filhote estava lá, miando de alívio por terem-no tirado daquela bolsa apertada e de súplica por comida e carinho.

– Como ele veio parar aí? – Rony perguntou, tirando o gato da mesa.

– Tem um bilhete aí. Quem mandou, Mione? – Harry perguntou, tão curioso quanto os demais.

Hermione abriu o pedaço de pergaminho e leu a seguinte mensagem:

"Encontrei o filhote do seu gato. Achei que ficaria em melhores mãos com você, que deve ser tão atenciosa para com seu gato quanto é cuidadosa com os livros".
P.S.: O brilho dos olhos dele não se comparam aos seus".

Fechou o pergaminho, envergonhada. Conseguiu apenas murmurar:

– Não tem assinatura... – mas ela já tinha uma boa suspeita de quem o encontrara.

– Pelo visto é alguém que gosta de você, Mione – Harry observou, lendo o conteúdo do bilhete. Rony fez uma cara rabugenta.

Harry se ocupou de entregar o filhote à Bichento, que não subiu na mesa porque Gina o segurou com força. Rony dava mais uma olhada no bilhete.

Hermione tentou resistir, mas não conseguiu. Sorriu timidamente e relanceou os olhos para a mesa da Sonserina, onde Draco observava tudo. Ele retribuiu o sorriso e ela pôde admirar, pela primeira vez, um sorriso puro e franco de Draco Malfoy, demonstrando simpatia ou mesmo algo além de amizade.

Fim.

N.A.: Quero agradecer os comentários de vocês! Espero que não tenha decepcionado, afinal, eu disse que era um começo bem sutil. Claro que nada impede que eu continue, já pensei nisso e quem sabe...rs Beijos!