Sten Akre Tes Filias
By Nix e Mari Marin
Capítulo III: O Desafio
O céu estava claro e os clamores esforçados dos aprendizes em treinamento eram levados sem pressa pelo vento, da areia até às bancadas do Coliseu. Para Kanon, tudo estava bem no mundo, desde a altura cómoda dos degraus da escada que estava a descer ao olhar furioso de um Shura nos limites da paciência que o esperava no final dos ditos degraus, ao lado da entrada para a arena.
A ira do espanhol aumentava a cada segundo que passava. O sol não estava na disposição de ser clemente de maneira nenhuma, mas isso estava longe de ser a fonte da sua irritação. O confronto que tivera com Aioria deixara-o no mínimo perturbado e o fato de o antigo general de Poseídon se estar a dirigir para ele da forma mais demorada e descontraída possível, com o seu típico sorriso sarcasticamente provocador, era razão mais que suficiente para deixá-lo naquele estado.
— Qual é a tua, Kanon? – Disparou ele acusativamente assim que o dragão dos mares assentou pé no mesmo patamar que ele. O outro fez cara de inocente e abriu o sorriso, deixando entrever a brancura de um dente.
— Desculpa...? Não sei de que é que estás a falar, Shura... passa-se alguma coisa? – Inquiriu pausadamente com cara de inocente curiosidade, só contribuindo com grande satisfação e eficácia para o agravamento do outro. Por um instante, parecia que Shura se preparava para dar um passo em frente, mas deteve-se na altura certa.
— Não te faças passar por mais estúpido do que já és! Diz-me, que ganhas tu voltando Aioria contra mim ! – Bradou sem poupar os seus pulmões.
Várias atenções abandonaram o treino na arena e voltaram-se imediatamente para eles. Os cavaleiros de ouro já chamavam a atenção de todos simplesmente por ali estar, se brigavam então, era um prato cheio para os curiosos. O espanhol de sangue vivo pouco se importava com o espectáculo que dava e tinha todos os sentidos a ferver e fixos em Kanon. Assim que se deixou de ouvir a sua voz reflectida na pedra, continuou.
— Ou será que o que pretendes é voltar os cavaleiros uns contra os outros!
— Cala-te! Não tens o direito de fazer essas acusações!
— E quem te deu o direito de remexeres no passado dos outros! Kanon fez questão de parar para rir, como se achasse a pergunta tão ridícula como quem a fazia.
— Porquê? Tencionavas manter Aioria na ignorância por muito mais tempo ainda, é? Só lhe fiz um favor em abrir-lhe os olhos e mostrar-lhe a verdade! – Falou com desdém, retomando o seu esgar habitual no fim. Os ouvidos de Shura começavam a ter dificuldade em ouvir, já cheios do ruído da fúria e para mais misturado com as provocações do outro.
— E quem julgas tu que és! Não passas de um reles traidor desprezível, sem honra suficiente para ser sequer considerado um homem!
A essa altura, os treinos dos aprendizes já haviam cessado e naqueles segundos pareceu que a única coisa que se podia ouvir era o eco das palavras de Shura; todos os olhos estavam postos no par que discutia.
Os olhos de Kanon faiscaram agressivamente, mas não o suficiente para fazer rebentar a luta que já era bem evidente que chegaria mais segundo menos segundo. Dir-se-ia que o insulto de Shura tinha atingido um nervo dos principais.
— Fala à vontade... não ficas em nada atrás de mim, Shura! Que dizer de um homem que mata seu melhor amigo da forma como tu mataste! És um covarde e Aioria tem toda a razão em querer vingar o irmão! – exclamou venenosamente, na esperança de piorar ainda mais as coisas para o Capricórnio, e com sucesso.
Shura foi incapaz de se conter desta vez e, antes que mais alguém pudesse reagir, já o seu cosmo ardia e ele se lançava contra Kanon. O segundo Cavaleiro de Gémeos podia ter fama de calculista mas a sua única salvação desta vez foi Excalibur ter permanecido embainhada. Acabou por ser projetado para trás, mas na dúvida ficou se não se desviara por pretender ganhar o papel de vítima se por não ter conservado a cabeça mais fria que a do temperamental Capricórnio.
Os que estavam na arena, estranhos a toda a questão, só ficaram a olhar em espanto para o que decorria em frente dos seus olhos, e alguns dos aprendizes ficaram realmente assustados. Brigas entre cavaleiros não eram caso para menos, e entre cavaleiros de ouro então...
Os restantes Cavaleiros Dourados e Shina, porém, que tinham estacado a meio caminho da descida quando as vozes se tinham erguido, desataram a correr apressadamente para parar com aquela loucura antes que algo mais grave acontecesse e alguém se ferisse.
A fúria de Shura libertara-se em grande parte na energia que gastara para o ataque e agora ele limitava-se a contemplar Kanon no meio dos destroços da pedra que outrora fora uma bancada. Recuperava o fôlego e fechou os olhos, procurando acalmar-se, ciente de que ultrapassara o limite desta vez.
No entanto, Kanon não se ia deixar ficar e levantou-se sem demora em contra- ataque. Shura só se deu conta tarde demais e quando o grego se atirou contra o Capricórnio, acabaram por se desequilibrar os dois, indo contra a baixa murada que separava aquele lugar da arena e rolando borda fora para a areia. Os aprendizes, que por ali observavam tudo, desviaram-se e saíram dali mesmo a tempo, pois logo a seguir aos dois conflituosos outros cinco saltaram a murada.
Shina, Milo e Camus apressaram-se a ir segurar Shura que já se preparava para se pôr em pé para fazer o outro arrepender-se do que fizera. Shaka e Mu agarraram o grego e afastaram-no do outro, pois Kanon também não fazia tenções de ficar parado a observar as investidas de Shura.
— Shura, acalma-te se fazes favor – era Shina quem falava, mas o Capricórnio mal ouvia as palavras por cima do ruído dentro da própria cabeça, quanto mais reconhecer a voz.
— Isso, Shura, acalma-te! Faz o que ela diz! Já que estás tão acostumado a cumprir ordens... – espicaçou Kanon, lutando contra os dois que o restringiam. Milo e Camus tiveram que fazer um esforço extra para contrariar o arranque de Shura, enquanto Mu admoestou seriamente o grego por continuar a deitar achas na fogueira. Mas Shina não se calou.
— Não o ouças, desde quando é que importa o que ele diz? Não lhe dê ouvidos – repetia ela tentando enfiar aquilo à força na mente do sanguíneo espanhol. Shura olhava-a com olhos de quem queria seguir o conselho mas não podia. Milo juntou-se a ela.
— Shura, acalma-te homem, não te deixes provocar! – Shina deixou-o entregue a Milo e Camus e foi-se colocar à frente dele, olhando-o seriamente nos olhos. Bastou isso para fazer com que Shura engolisse temporariamente o orgulho, ainda que com algum esforço.
Kanon via que estava a perder mas a sua vontade de provocar Shura dissipou- se depois de ser encarado pelo azul do olhar penetrante de um Shaka de olhos abertos. Achou por bem parar pelo momento mas, quando o soltaram, o seu orgulho ferido não o deixou ir embora sem dizer a última palavra.
— Estou à tua espera quando quiseres, Capricórnio! – O seu olhar voltou a cruzar-se com o de Shaka, antes de se voltar de costas e de se pôr finalmente a caminho dali para fora, abrindo passagem por entre os aprendizes de olhos e boca aberta que viam tudo em pasmo. Tão-pouco despregou Shura o olhar das costas do grego. Vontade de encerrar definitivamente o assunto entre eles era coisa que não lhe faltava.
— Não o devias ter procurado. Queres arranjar novos conflitos, o Aioria não te basta? – Disse Shaka, tomando a iniciativa e aproximando-se do espanhol. Shura deixou Kanon seguir o seu caminho e voltou-se para o indiano normalmente silencioso que quando falava exigia não ser ignorado.
— Que querias que eu fizesse, Shaka? Que o deixasse em paz depois do que ele fez? – O Virgem resignou-se ao seu silêncio observador e, não dando resposta, Shura continuou. – O Milo é que tinha razão quando desconfiou dele! Nunca devíamos tê-lo aceite entre nós! Um homem que pôde manipular um deus é capaz de tudo!
— Calma, não é bem assim... Não te esqueças que o Kanon também deu sua vida por Athena. – Ponderou Mu, já achando que aquela intriga estava indo longe demais. – Diz-me Shura... Aioria já esteve contigo então?
— Sim! Está com a cabeça virada por culpa deste hijo de una puta! – Fez um gesto com o punho que ajudou a deixar bem cristalina a sua opinião em relação a Kanon.
— Aioria está fora da razão... disse que iria vingar o irmão matando Shura – completou Shina.
Um arranque na respiração do espanhol chamou-lhe a atenção, e ela viu-o a apalpar algo perto do olho. Habituada a lidar com aprendizes feridos, não hesitou em afastar-lhe a mão e constatou que sangrava pelo supercílio direito. Shura ficou a olhar para ela com um ar estranho.
— Estás sangrando Shura... isso tem que ser tratado... vamos à minha casa que fica mais perto que a tua...
Noutro ponto do Santuário de Athena, Aioria subia pensativo a escadaria em direcção ao Templo de Leão. Via os degraus a passar, uns atrás dos outros, mas nenhuma resposta às suas perguntas tomava forma nas fissuras do calcário gasto. Parou para fitar o céu, mas também não viu nada além de escassas nuvens no azul celeste e o sol forte que o fez franzir o cenho para proteger a retina.
Sentia-se só, e começava a arrepender-se seriamente de não ter ficado com Marin na falésia. Sentia raiva ao seu orgulho, que o fizera agir daquela maneira. Tinha raiva ao próprio dia que tinha o descaramento de ser tão alegre, e ao mesmo tempo perguntava-se porque é que Marin tinha que ter defendido Shura... teria tudo sido tão mais simples se ela tivesse ficado do mesmo lado que ele. Mas não, tinha que o ter deixado entregue à sua fúria e mais confuso que nunca.
Sim, estava definitivamente sozinho mais uma vez. Tão sozinho como esperara nunca mais estar desde que se entendera com Marin e os dois se tinham junto. Ira, tristeza, solidão, confusão... sentia-se que nem uma das colunas de pedra que lhe ladeavam o caminho: imponentes mas quebradas. E que longo caminho esse era...
Continuou até sua casa, mais guiado pelas pernas do que guiando-as a elas.
Sua morada estava sendo arrumada por uma velha serva do santuário. Aiolia conhecia-a desde o dia em que fora nomeado cavaleiro e chamado a subir até à Casa de Leão para receber a sua armadura. Jovem e ansioso, esperava encontrar ali o excelentíssimo Sacerdote, mas antes da sua chegada, a primeira pessoa a recebê-lo fora aquela serva, de traços velhos e pacientes já então. Desde esse dia que Aioria lhe reservava um cantinho especial no peito, tratando-a como se fosse uma avó que não tivera.
A senhora o viu entrar e desde logo estranhou seu comportamento. Estava acostumada a receber sempre um tratamento muito amável do jovem cavaleiro, que sempre vinha-lhe com gracejos e beijava-lhe carinhosamente. Desta vez, nenhuma palavra, parecia nem mesmo ter dado conta de sua presença. Entrou em seu quarto sem se preocupar em fechar a porta jogou-se na cama pesado, passando a fitar o teto como se nada visse em sua frente.
Por um lado, Aioria sentia um ódio cego que lhe tomava toda a razão, por outro, fatigado como se tivesse acabado de lutar contra um deus. O cavaleiro de Leão era conhecido por seu temperamento irascível, mas não era impossível persuadi-lo através de argumentos convincentes, ao contrário, não era teimoso a ponto da estupidez, sabia resignar-se e até mesmo voltar atrás quando necessário. Mas desta vez sua ira atingira limites extremos. Fora enganado por todos, inclusive por ela, pela sua Águia, a quem mais confiava no mundo. Mas não era isso que o estava destruindo por dentro.
O que o estava dilacerando a ponto de ter vontade de gritar de desespero eram as várias cenas que insistiam em formar-se na mente sobre a morte do irmão. O tecto branco dera lugar a um pano onde passava em frente aos seus próprios olhos o que imaginara que acontecera naquele dia...Adivinhava a expressão de Shura ao enfrentar Aioros. Quanta frieza fora necessária para atacar aquele que sempre o tratara praticamente como um irmão... Era insuportável, aquilo o estava matando.
Do fundo de sua memória emergiam lembranças da época em que era apenas um menino. Lembranças de Aioros... e Shura. Aioria fora testemunha da amizade deles, estavam sempre juntos, desde os treinos às saídas à noite... Shura parecia ter uma grande admiração por Aioros, que era um pouco mais velho que ele, e Aioros sentia orgulho a cada progresso do outro. Aioria lembrava nitidamente da enorme felicidade que seu irmão sentiu quando Shura juntou- se aos cavaleiros de ouro conquistando a armadura sagrada de Capricórnio.
— Shura, seu traidor cretino! Vou matá-lo! – Bradou o Leão com fúria. A velha senhora ficou realmente preocupada, primeiro com o silêncio do leonino e depois pelo abrupto grito. Decidiu ir ao quarto ver o porquê daquele estado, quando o som de passos algo hesitantes lhe chamou a atenção. Outro cavaleiro de longos cabelos azuis, que ela também conhecia muito bem, acabava de entrar. Não foi preciso ele perguntar nada, pois só pelo seu ar ela percebeu quem ele procurava. Indicou-lhe a porta aberta do quarto.
— Vou matá-lo... Vou matá-lo! – Veio a determinada afirmação do quarto antes que lá pudesse chegar. Aiolia emergiu para a sala e deu de caras com os outros dois, de pé, mirando-o muito sérios. Deteve-se. Reconheceu por fim a presença da senhora e fez-lhe sinal, com um pequeno sorriso apologético que lhe custou a formar, que se retirasse. Depois, voltou-se sério para o outro.
— Que queres tu, Escorpião?
— Calma, Aioria! Só vim conversar... – Disse Milo com um tom de voz e gesto apaziguadores, sério como raras vezes se podia encontrá-lo.
— Não é preciso dizeres mais! Sei bem o que queres! Quem te mandou? Marin? – Não ficando à espera de uma resposta, Aioria rodou nos calcanhares e encaminhou-se para a porta.
— Ninguém me mandou... – preferiu a pequena mentira a afirmar que estava ali em nome do restante dos cavaleiros de ouro. Achou que esse pedaço de informação em particular não ia cair bem ao Leão. – Fiquei sabendo do que aconteceu e vim falar contigo...
— Como ficaste sabendo? – Perguntou olhando rispidamente para trás.
— Kanon e Shura se pegaram no...
— Ah! Esquece! Não quero saber! – A simples menção do nome do espanhol fez a ira do Leão reacender-se e subir a extremos. – Por esta altura já devem estar todos sabendo! "timo então! É bom para anunciar que pretendo matar aquele covarde!
Pôs-se a andar novamente para fora de seu templo. Milo ficou a olhar com olhos muito abertos, não querendo acreditar no ponto onde aquilo tudo chegara. Aioria podia ser exagerado no que dizia muitas vezes, mas com esta disposição em cima, ficou a pensar duas vezes se não estaria a falar mesmo a sério. Sacudiu a cabeça para limpar os pensamentos que se formavam e foi a correr atrás do outro.
— Espera, Aioria! – Milo o alcançou. – Tu não estás a pensar em lutar mesmo com Shura, pois não?
Aioria não lhe respondeu e continuou escadas abaixo. Descia aos três degraus de cada vez e Milo quase corria só para o poder acompanhar.
— Aioria, tu não podes estar a falar a sério! O Shura... – O Leão não parou nem disse nada, mas deixou bem claro que não queria ouvir falar naquele nome no momento. – Aioria, ouve-me! Tu sabes bem o que acontece quando dois cavaleiros de ouro se enfrentam! – A despeito de não receber nada senão indiferença da parte do outro e para seu grande crédito, Milo insistia. – Escuta, Aioria, não é certo o que estás a fazer...
Aioria estacou subitamente, o que fez com que Milo se calasse esperando a sua reacção. Já estavam entre a casa de Touro e Áries e o Cavaleiro de Leão olhou bem nos olhos o Cavaleiro de Escorpião.
— Não é certo?... – perguntou incrédulo. – Milo, e então o que ele fez? Isso já é certo? Suponho que certíssimo pelas tuas medidas... – O Escorpião estava com dificuldades em manter os olhos no outro e um ar de estar a agir contra a própria opinião fora da cara.
— Mas...
— Mas? – Aioria interrompeu-o. – Diz-me só uma coisa... O que tu farias com o assassino do teu irmão?
Milo tentou dizer algo, mas não conseguia mentir a esse respeito por natureza, era sincero com seus sentimentos, como Aioria. Baixou os olhos, admitindo a derrota e a falta de argumentos para poder cumprir a missão que os outros lhe tinham confiado. Aioria não esperou nem mais um segundo e continuou a descer as escadas, resoluto, deixando-o ficar para trás.
Em uma pequena casa em volta do santuário, Shura aguardava no sofá da sala que Shina retornasse para cuidar do seu corte. Era uma casa muito pequena, não devia ter mais do que cinqüenta metros quadrados distribuídos em dois vãos minúsculos. A sala era separada da cozinha apenas por um balcão, e à esquerda uma porta que dava para o banheiro. Não lembrava nem de longe o luxo das casas zodiacais, moradia dos privilegiados cavaleiros de ouro, apesar de estar bastante bem cuidada e organizada. Tinha aquele toque que só uma mulher sabia dar e Shura sentia-se incrivelmente confortável naquela casa, sendo cuidado por aquela mulher, como há muito tempo não se sentia.
Shina voltou da cozinha trazendo um pequeno kit de primeiros socorros, que sempre tinha à mão para cuidar dos seus discípulos e de si mesma, quando se machucavam. Sentou-se ao seu lado e Shura olhou algo desconfiado para o tamanho da mala, não achava que o seu pequeno arranhão exigia tanto cuidado, mas deixou a cavaleira fazer as coisas à sua maneira por uma vez enquanto ele dispersava os restos do seu ódio por Kanon.
Shina banhou um pedaço de algodão em álcool e pressionou contra o supercílio de Shura para desinfetar e estancar o sangue. O cavaleiro, perdido no meio dos seus pensamentos e apanhado de surpresa pelo ardor, afastou-se dela rapidamente.
— Algum problema Shura? – Perguntou num tom até atencioso, enquanto jogava o algodão sujo de sangue fora e preparava-se para repetir a operação com novo algodão.
— Não... nenhum problema... – Shura ensaiava o seu sarcasmo. – É só que acabei de ser esmurrado bem aí, ou já te esqueceste, mujer! – Shina não lhe deu resposta, mas encharcou bem o algodão desta vez.
— Ai! – Protestou novamente o espanhol.
— Acho bem que te doa! Porque tu não mereces nenhum tipo de delicadeza da minha parte! – Dizendo isso pressionou o algodão com ainda mais força sobre supercílio do cavaleiro.
— Shina! – Shura virou-se e segurou-lhe nas mãos antes que ela pudesse pegar na garrafa de álcool. A cavaleira lutou mas sabia que não ia conseguir-se libertar. Deixou cair o algodão, frustrada, e levantou-se.
— Bem feito para ti! Quem te mandou ir arrumar briga a troco de nada!
— Sabes que tive as minhas razões!
— Sim, mas não precisavas ter partido para cima de um teu companheiro, defensor de Athena, daquela forma!
— Aquele homem não merece ser um defensor de Athena! – Shina tinha força de carácter, isso ninguém jamais lhe tiraria, e Shura não lhe ficava atrás. Uma briga entre eles era que nem uma briga entre duas portas ou duas pedras... Mas Shina ficou em silêncio por um momento retomando o cuidado do agora emburrado espanhol. Acalmou-se por segundos, mas logo continuou.
— Aioria pensa o mesmo de ti, Shura. Vocês se acham no direito de julgar quem merece ou não ser defensor de Athena, quando a própria deusa não contesta a lealdade e o caráter de nenhum de vocês!
— Aioria é um grande tolo! E ainda vou fazê-lo engolir as palavras que me disse hoje! – Alterou-se o capricorniano, como espanhol convicto que era.
A amazona preocupou-se com a reação de Shura. Se ele estava pensando dessa forma a situação estava realmente fora do controle. Se Shura estava disposto a lutar, nada mais poderia impedir o duelo entre os cavaleiros. E certamente essa não seria uma briga de socos como a de agora há pouco contra Kanon. Pela disposição que mostrara Aioria em vingar seu irmão e pela atitude que Shura mostrava de não fugir da luta, essa seria uma batalha de honra, que só acabaria com a morte de um dos lados. Shina sentiu seu coração apertar.
— Cala-te Shura! – bradou um tanto perturbada, provocando surpresa em Shura. – Não estás pensando em aceitar esse duelo ridículo, não é?
Shura olhou para amazona sem nada dizer por alguns segundos. As palavras do sermão que ela lhe tentava dar não eram diferentes em nada das de antes, mas algo tinha mudado... o tom? Sim... a atitude da mulher à sua frente era evidentemente passional. Ficou de pé também, de frente para ela, e respondeu mais calmo.
— Se ele me desafiar terei que aceitar... prezo a minha honra acima de qualquer coisa.
Shina quase ia perguntando "porquê", mas era escusado, compreendia bem demais os motivos de Shura e, estranhamente, saber que faria exatamente o mesmo que ele só a entristeceu. Deu-lhe as costas, apoiando as mãos na pequena mesa de refeições que ficava no canto da sala.
— Então não terá jeito... Aioria não vai desistir da ideia, a essa altura já deve inclusive ter anunciado em público o desafio... – Falou lentamente, com o ar mais derrotado que Shura alguma vez lhe ouvira. Ele se aproximou.
— Não queres que eu lute? Porquê?
A amazona virou-se bruscamente para frente ao ouvir a voz do espanhol no seu ouvido e ao sentir seu corpo encostar-se no dela. Mas já era tarde para escapar. Shura a puxou pela cintura antes que pudesse fazer qualquer movimento.
— Shura... por favor...
— Responde... por que não queres que eu lute?
— Eu... – Shura a olhava fixamente, seus olhos, profundamente escuros, pareciam querer devorá-la. A amazona sentia o ar lhe faltar e as idéias embaralhavam-se. Não conseguia nem mesmo inventar qualquer desculpa para a pergunta do espanhol. Nem deu por conta que fechara os olhos. Só voltou a si ao perceber que o cavaleiro lhe havia tirado a máscara.
Arregalou os olhos e tentou soltar-se inutilmente. Ao mesmo tempo que Shura a segurava contra si e observava seu rosto fascinado, ela começava a admitir a si mesma que não queria realmente sair dali.
— És linda Shina! Mais do que eu poderia imaginar... – Disse docemente, inclinando-se para beijá-la.
Depois de uma última tentativa desesperada, Shina não tinha mais forças para resistir àquele homem. Desejava-o tanto quanto ele a ela. Estava apaixonada e isso tinha-lhe entrado na cabeça por fim. Não sabia desde quando, mas agora tinha toda certeza que havia muito tempo que Shura tinha ocupado o lugar que julgava pertencer a Seiya em seu coração. Deixou-se beijar pelo espanhol. Não tinha mais controle sobre seu próprio corpo e a única coisa de que tomou consciência depois disso foi do suave deslizar com que chegaram ao macio acolchoado da sua cama...
Aioria acabava de adentrar a primeira casa zodiacal do santuário de Athena acompanhado de Milo, e não ficou surpreso ao deparar-se com Shaka, Kamus e Aldebaran, além do guardião da mesma, por lá. Os quatro olhavam, hora para ele , hora para Milo esperando alguma atitude ou resposta que elucidasse em que patamar estava a situação. Foi Aioria a quebrar o breve silêncio.
—Ora vejam só que bonito que é ver toda a gente aqui reunida... então ninguém te mandou, não é verdade Milo? - A atitude cínica que assumia era um disfarce da ira que estava sentindo por o terem enganado durante tanto tempo e por estarem agora metendo-se em sua vida, quando todos para ele não passavam de cúmplices de Shura.
Acho ótimo que estejam todos aqui, assim irão presenciar os fatos em primeira mão! – Continuou o leonino atravessando a casa de Áries rumo ao topo da última escadaria do templo.
— QUE TODOS SEJAM TESTEMUNHAS DO QUE TENHO A DIZER E ESCUTEM-ME! – Soou a imponente voz do Cavaleiro de Leão pelo pequeno adro onde desembocava a grande escadaria das Doze Casas. Aioria estava de pé, alto e austero, no primeiro desses degraus a dirigir-se a todos os que estivessem presentes.
Num dos lados estavam os cinco cavaleiros de ouro, assistindo àquilo preocupados. Mu quase saltou de espanto quando ouviu a voz do Leão, enquanto Camus deixou cair a cabeça para trás e Shaka permaneceu imperturbável. Tinham enviado Milo na esperança de evitar tudo aquilo, mas pelos vistos em vão.
— Afirmo aqui diante de todos vocês que considero que Shura, Cavaleiro de Capricórnio não tem mais condições para continuar na Ordem da Cavalaria! – O Sol brilhava no alto por cima da sua cabeça, conferindo-lhe uma severidade férrea, aos olhos de quem ouvia o Leão. — Por isso lanço-lhe aqui o desafio! Que Shura, se for homem para isso, se venha encontrar comigo para um duelo! Amanhã, ao meio dia, pela fonte ao pé do campo de treino!
Aioria parou para olhar para as pessoas em volta com mais atenção e deu de cara com um público razoável de cavaleiros, aprendizes, soldados e servos do santuários que o olhavam espectantes. Aquilo era realmente um grande acontecimento! O Cavaleiro de Ouro de Leão desafiara o de Capricórnio para um duelo de vida ou morte! Aioria voltou-se novamente para os quatro cavaleiros de Ouro, para rematar a sua conversa com eles.
— Bem, agora já sabem o que vai acontecer a partir de agora, e nada o impedirá! Um de nós, ou eu ou Shura terá que morrer, e eu sei bem em quem não apostaria...
— Aioria, mas perdeste completamente o juízo? Um duelo desses... – disse- lhe Mu, mas se Aioria ainda o ouviu, ficou por saber. O Cavaleiro voltou- lhes as costas e foi-se embora, sem dizer mais uma palavra que fosse. Milo era bem capaz de imaginar a irritação que se devia ter instalado na sua cabeça ao encontrar os quatro ali juntos. Podia-se gabar de conhecer consideravelmente bem o temperamento do seu amigo e sabia que se havia coisas que ele não tolerava, essas coisas eram a traição e que lhe tentassem controlar os passos.
Ficaram os quatro em silêncio por instantes, assimilando a fatalidade de tudo quanto acontecera. Destino cruel, nem Aioria nem Shura mereciam o que acabara de acontecer... ambos os cavaleiros já tinham sofrido o suficiente para o espaço de uma vida.
— Milo, imbecil, não se te pode confiar nada! O que é que lhe foste dizer para piorar as coisas a este ponto em vez de ajudar a fazer as pazes entre os dois! Puseste-te do lado dele, não foi! – falou o Aquário, mas inesperadamente foi Shaka quem defendeu o Escorpião.
— Deixa, Camus... pouco havia a fazer de qualquer maneira. Os dados já estavam lançados. Tinha pouca esperança em que qualquer um de nós pudesse dissuadir Aioria de evocar esta antiga lei... Aioria considera que Shura perdeu as qualidades necessárias a um Cavaleiro e por isso desafiou-o publicamente para um duelo. Se Shura recusar ou não comparecer, estará a prescindir da sua dignidade e honra. Se responder ao desafio, então teremos uma luta terrível entre os dois, de onde só um sairá com vida...
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Ola queridas leitoras! Pensaram que tinham se livrado nois? Ó nois aqui outra vez!
Depois de alguns séculos resolvemos finalmente postar o terceiro capítulo da grande fic Luso Brasileira Sten Akre Tes Filias.
Agora vamos responder aos queridos comentários que recebemos!
Mari: Em primeiro lugar, obrigada por estarem gostando da fic e tudo mais, só que o Aioria é Meu blz?
Nix: ahan! ¬¬ o q foi q vc disse?
Mari: ele é meu mesmo p q? UU
(as autoras agora estão tentando exterminar uma a outra)
...de repente:
Aioria: Já estão brigando de novo meninas? tsc, tsc.
(As duas olham para cima e dão de cara com um par de olhos verdes cintilando num rosto emoldurado por cabelos castanho claros revoltos, tudo isso num corpo escultural de 1,85 de altura)
Nix: AIOLIA!
Mari: AIORIA!
Nix e Mari: MEU!
(o fantástico e cativante deus grego nem tem tempo de pestanejar antes q duas manchas saltem para cima dele)
Aiolia: Meninas, meninas calma aí... vcs n tinham q responder aos reviews?
Nix (nos braços do deus e completamente embevecida): quê...?
Mari (do alto dos 1,85m): ahh, isso... elas não levam a mal, né não?
Depois de algumas horas, as duas voltam ao normal...
Mari: Oba nossa querida amiga Juli.Chan deixou review! Tipo... vc quer deixar de folga com o Aioria ou tá querendo apanhar? òó Juli Miga :-) não precisa nem dizer o quanto nos ficamos felizes que esteja curtindo nossa fic! E olha, estamos esperando ver o Aioria lindo e maravilhoso numa fic sua que sairá em breve n é?
Nix: A gente te empresta ele um niqunho, mas só um niquinho hem!
Mari: uau, ouviste Aiolia.. a Pipe acha que nós te conhecemos bem... é mesmo destino, mori!
Aiolia: Meninas, mas não acham que ela tem razão? Andam a tratar muito mal o Kanon... u.u
Nix: ah, mas alguém tinha que te contar, n achas?
Mari: Adoramos teu comentário Pipe bjss!
Nix: Maya, espero que tenha gostado desse novo capítulo, obrigada pelo review!
Mari: Pois é Luka, não é justo, snif, que o Aioria, snif, e o Shurinha, snif, tenham que sofrer tanto! Buaaaaaaaaa! Eles são tão lindos!
Aiolia: Mais quem sofreu mais foi o meu irmão que foi dessa para uma pior! ¬¬
Nix: Bem... Kourin sobre o Kanon pelado, er...
Aioria: Meninas, que história foi aquela de me porem no mesmo raio de 5km de um Kanon nuzinho?
Mari tem um súbito ataque de tosse e Nix viu uma mosca altamente interessante a passar por perto...
Aioria: Mas eu pensei que... vocês não fossem como elas.. as outras...
Uma brisa vinda de nenhures afasta a cortina da barricada onde os 3 se refugiam e vê-se uma multidão de moças com cartazes onde se pode ler YAOI em letras garrafais
Nix: Melhor mudarmos de assunto (sorriso amarelo)
Mari: Brigada pelo review minha conterrânea!
Nix: Oi Madam que bom que está gostando! hmm, é mesmo o Aiolia mais bonitinho quando está zangado? mas isso não lhe cria rugas naquela testa tão divinalmente perfeita?
Aioria: Vocês acham mesmo meninas? (Aioria fica procurando algum defeito no seu rosto perfeito de frente para o espelho)
(Nix e Mari olham uma para a outra)
Nix e Mari: LINDOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!
