CAPÍTULO 6
Como é que vocês imaginam Hogwarts? E Hogsmeade? E os personagens? Não têm medo de entrar nesse mundo fantástico e se decepcionar? Eu tinha… e agora, que vi aquele mundo com os meus próprios olhos, lamento dizer, sem querer estragar os sonhos seja de quem for, que os meus medos não eram totalmente infundados. A vida no mundo bruxo não é um emaranhado de acontecimentos emocionantes. O dia-a-dia lá é tão normal quanto aqui, tirando, é claro, o fato deles poderem usar magia… o que não se estende aos bruxos menores de 17 anos, que são proibidos de usá-la fora de Hogwarts (com exceção de uns feitiçozinhos básicos, como um "lumus", por exemplo).
Bom, mas é claro que também tem as suas compensações. Hogwarts é um lugar deslumbrante, os doces da Dedos de Mel são as coisas mais deliciosas que já provei na minha vida e o Nick Quase Sem Cabeça foi uma maravilhosa surpresa. Nunca pensei que conviver com um fantasma fosse tão divertido. Fiquei até arrependida do medo que tinha deles quando era criança. Nick é simpático, engraçado, cavalheiro, com aquele sotaque bem forte, bem inglês, e aquele jeito de falar que lembra personagens de Shakespeare… Desagradável foi quando eu quis dar uma palmadinha reconfortante nas costas dele, quando ele me falou do preconceito que os fantasmas totalmente decapitados têm contra ele. Absurdo! Deve ser mais assustador uma cabeça que quase sai do lugar do que uma cabeça na mão. Tentei confortá-lo, mas o meu braço entrou por dentro dele e foi extremamente desagradável a sensação de água gelada molhando meu braço! Eca! Agora, é engraçado como um personagem que eu quase esquecia que existia pode ter se revelado uma das pessoas que eu mais gostei de conhecer. Ah, um detalhe bem significativo: é incrivelmente parecido com aquilo que nós vimos no cinema. Impressionante a semelhança com o ator que o interpretou, John Cleese.
Mas acho melhor contar ao certo como tudo aconteceu. Há dois dias atrás, Remus apareceu no meu quarto, com duas mudas de roupa bruxas para mim. Pediu que eu acessasse o fórum e pensasse com muita força no lugar que gostaria de visitar primeiro. Pediu que eu visualizasse o local na minha cabeça, fechasse os olhos e segurasse a mão dele.
Tremendo, nervosa, coloquei uma das vestes (decididamente, não fazem meu estilo) e obedeci. Resolvi visualizar a Dedos de Mel. Fechei os olhos, peguei a mão de Lupin e, no momento seguinte, escutei a voz dele, dizendo:
- Já pode abrir os olhos.
Dei de ombros, decepcionada. Não tinha saído do mesmo lugar, senão teria sentido algo parecido com os puxões pelo meio do corpo que são descritos nos livros, quando Harry usa chaves de portal. Contristada pela tentativa frustrada, abri os olhos… e tive a maior surpresa da minha vida: não estava mais em casa, na frente do computador; estava numa rua desconhecida, na frente de uma casa colorida, com uma tabuleta que dizia: "Honeydukes" (o nome original da Dedos de Mel).
O meu estômago deu um pulo e só consegui murmurar:
- Acho que não estamos mais no Kansas, Totó!
- Quê? – Inquiriu Lupin, me olhando, com ar confuso. Mais tarde, ele me explicou que o sotaque americano com que eu falei, imitando a Judy Garland como Dorothy em "O Mago de Oz", o intrigou mais ainda do que o fato de chamá-lo de Totó.
Sorri, pasma, e balbuciei, sem tirar os olhos da porta da loja:
- Nada… Só lembrei de um filme. Vamos entrar?
- Vamos – ele replicou, caminhando para a porta, sem largar a minha mão.
Um perfume deliciosamente indescritível invadiu as minhas narinas e os meus olhos se depararam com a maior seleção de cores que eu já vi.
- Uau! – Deixei escapar, fascinada, enquanto Remus ria disfarçadamente do meu ar extasiado.
Eu não sabia para onde haveria de me virar. A vontade que eu tinha era de comer de tudo um pouco… mas não tinha dinheiro bruxo comigo e sabia que Lupin não era exatamente o que se pode chamar de pessoa rica para me comprar fosse o que fosse. Ele pareceu ter lido meu pensamento, pois declarou:
- Escolha o que quiser. Tenho dez galeões só para isso mesmo.
Quase pulei no pescoço dele. Não podia deixar que ele gastasse dinheiro comigo e disse isso a ele, mas Remus rebateu:
- Tolice! É um presente que eu quero te dar. Não é de bom tom recusar um presente.
Sorriu, me olhando nos olhos, com aquele olhar hipnotizante que me fez perder a vergonha e abraçá-lo ali mesmo, na frente da empregada, que nos fitava de olhos esbugalhados, atrás do balcão. Ele corou violentamente e me afastou, pedindo, com um risinho nervoso:
- Por favor, Mary, aqui não!
Devo ter corado também, já que senti as minhas bochechas queimando e não pude deixar de rir, igualmente.
Acabamos por sair da loja com um saco cheio de diabinhos de pimenta, sapos de chocolate, fios dentais de hortelã, lesmas de geleia, abelhas de açúcar que me fizeram levitar (sensação totalmente indescritível! Maravilhosa!), bolinhas de creme, gomas explosivas, balas musicais (sim, cada uma delas tocava uma canção diferente, assim que era colocada na boca) e, como não poderia deixar de ser, feijõezinhos de todos os sabores. Claro que, com a minha maravilhosa pontaria, o primeiro que eu provei foi justamente de leite estragado! Precisavam ver a cara do Remus rindo de mim! Ficou me torturando com essa história até o final do dia! Humpf! Em compensação, o segundo feijãozinho que eu provei tinha um gosto incrivelmente real de morangos com creme. Delicioso!
Dali formos até o Três Vassouras. Madame Rosmerta é um mulherão! Lembra um pouquinho a Julie Christie, que a interpreta nos filmes, mas bem mais bonita. Quando a vi, não pude deixar de lembrar de uma fic que li em que ela era namorada do Lupin e o meu coração se encheu de ciúmes. Felizmente, consegui me controlar. Não dei bandeira, mas fiquei pensando em como ela faria um casal lindo com o Remus. Ele não é bonito, mas tem algo nele que o torna lindo, apesar dos seus traços não serem perfeitos.
Cerveja amanteigada… O que é aquilo? Que delícia! Absolutamente delicioso! Ao contrário do que dizem por aí, não tem nada a ver com sorvetes. É cerveja, mesmo, mas doce, quente e cremosa, com um certo travo de baunilha e manteiga.
Depois de comer tantos doces e de beber duas garrafas de cerveja amanteigada, não é difícil deduzir que, na hora de ir para casa (ou melhor, para o número doze do Largo Grimmauld), eu estava com uma tremenda dor de barriga!
