CAPíTULO 9

Nem nos meus sonhos mais loucos eu imaginara um castelo tão lindo quanto Hogwarts. Aquele verde dos campos, um verde forte, tipicamente britânico, belíssimo, a orla da floresta proibida, o lago com a simpática lula gigante (que me fez dar um pulo de susto, ao surgir do fundo com os seus enormes tentáculos) e o castelo em si, que se erguia imponente, como um palácio de contos de fadas. Tudo aquilo parecia mágico... só então me lembrei de que tudo aquilo era mágico.

O campo de Quadribol era exatamente igual ao que aparece nos filmes. A sensação que me deu foi que alguém da produção deveria ter visitado Hogwarts para ter feito uma reprodução tão incrivelmente fiel. Mas o que me espantou foi que, ao invés de dois times jogando, tinha duas meninas sozinhas, voando em vassouras, perseguindo um pomo de ouro, enquanto uma delas gritava para a outra:

-Bem que você poderia desistir dessa disputa! O Draco nem é parecido com o Tom Felton!

A outra, respondeu:

-Mas é um charme do mesmo jeito, com aquele jeitinho durão dele! Além disso, eu não cheguei até aqui para desistir!

-Mrs Malfoy e Ashley Potter - Disse Remus, apontando as duas, com um sorrisinho divertido.

Duas outras meninas correram para mim, afogueadas. Falavam em português do Brasil e eu percebi que tinham me reconhecido das fotos que eu tinha colocado no fórum. Os nicks delas eram Patt Diggory e Veronica Radcliffe e ostentavam sorrisos de orelha a orelha, enquanto me cumprimentavam.

-O Harry não parece nem um pouquinho com o Dan - Comentou Veronica, embora não parecesse nem um pouco chateada com isso. Acrescentou, com um suspiro - Mas é tão fofo!

-E o Cedrico, então! - Exclamou Patt Diggory, com lágrimas de felicidade nos olhos. - Eu nem acredito que ele está vivo! Entrei no livro 4, antes dele morrer... e antes de namorar a Cho-rona! É uma felicidade só! Ele é tão lindo! Sei que não vai durar muito mais, mas pelo menos realizei o meu sonho.

Dei de ombros, com um sorriso triste. Queria fazer o possível e o impossível para esquecer aquele detalhe, de que não ia durar muito mais tempo, que era uma questão de dias até perder Lupin para sempre. A sensação que eu tinha era que a toda hora aquele assunto martelava na minha cabeça.

Naquele momento, Mrs Malfoy e Ashley Potter passaram bem perto de mim, perseguindo o pomo de ouro e gritando:

-É meu!

-Não! É meu!

-Meu!

O salão estava deslumbrante e Nick Quase Sem Cabeça era um tremendo cavalheiro. Acho que simpatixou comigo por eu ser diferente e estar num mundo que não era o meu... exatamente como ele. O mais estranho foi que só depois de alguns minutos eu me lembrei que estava falando com um fantasma. Mas isso, sinceramente, não me importava. O que eu mais gostava naquilo tudo era de doda aquela magia, vivida de uma forma totalmente natural, como se fosse a coisa mais normal desse mundo ver fantasmas conversando com a gente ou pratos se enchendo de comida vinda do nada.

Depois de Lupin ser chamado por Dumbledore para uma conversa que pareceu demorar séculos, eu passei todo esse tempo com Nick, que me serviu de cicerone. Mostrou-me tudo que eu tinha curiosidade de conhecer (inclusive a cozinha, com os elfos domésticos, que logo me presentearam com um banquete - horrível para Nick, tadinho, já que os fantasmas não podem comer) e conversamos sobre muitas coisas. Ele queria saber como era a minha vida e eu queria saber como era a vida - ou melhor, a morte - dele.

Foi assim até o momento em que eu resolvi desabafar sobre o portal. Com certeza, a conversa que Dumbledore estava tendo com Lupin estava relacionada com isso. Falei na possibilidade de ficar ali e deixar nas mãos de alguma amiga a continuação das fics que contavam a minha história com Lupin, para perpetuá-la ad eternum, caso Lupin não morresse nem terminasse nos braços de outra no livro 6. Iria antes da saída do livro e arriscaria...

Porém, Nick soltou uma garhalhada triste e comentou:

-Mudar para um mundo que não é o seu, ainda por cima sem garantias de que ele não vai sumir, inclusive com você dentro? Isso é algo que eu não desejo nem ao meu maior inimigo. Ficar para sempre num lugar onde você não pertence, onde você é diferente, onde todo mundo te olha de lado, vendo todos fazendo coisas que você não consegue fazer, longe do seu mundo, da sua família, de tudo... Eu sei o que é isso. Sei muito bem... e não aconselho ninguém a querer passar por algo semelhante.

Aquelas palavras ficaram martelando na minha cabeça durante todos os dias que se seguiram.