Capítulo Cinco – Telecinesia.

Domingo. Paris está deitada na grama do jardim do castelo, admirando uma flor amarela murcha.

- McPearson? – uma garota de cabelos loiros, presos em um rabo-de-cavalo, usando uniforme da Corvinal, chegou e a chamou.
- Sim, porque? – perguntou sem perder a concentração na flor.
- Me pediram para lhe entregar isso! – esticou a mão, revelando uma bomba de chocolate.

- E quem foi? – perguntou, desconfiada.

- Uma garota de cabelos castanhos... Magra. Se não me engano, Grifinória.

"Granger, tsc! Só pode ter alguma coisa dentro disso!", pensou.

- Ah, muito obrigada, mas eu não como chocolate. Se quiser, pode ficar.

A garota sorriu agradecida e foi embora. A sonserina voltou sua atenção à flor, até que ouviu um grito choroso. A menina estava jogando o doce no chão, e cuspia. Paris apertou os olhos e viu que as orelhas da Corvinal estavam púrpuras. Devia arder, pois a menina se abanava, com as mãos, freneticamente.

- Eu sabia! Deve ser aquele treco das costas dos Murtiscos... Tsc, isso é tão infantil! – Tateou o bolso, até que encontrou um pedaço de pergaminho. Sussurrou um feitiço e começou a escrever, com a varinha, no papel. Dobrou-o, e correu para o Corujal.

- Toula... – disse quando encontrou sua coruja. – Preciso que leve isso agora para Hermione Granger, é muito importante! – A coruja esticou a perna para Paris prender o pergaminho. – Obrigada! – agradeceu coçando a cabeça da ave, que bicou carinhosamente seu dedo, e em seguida, levantou vôo.

Hermione estava na beira do Lago com Rony e Harry quando Toula apareceu. Ela desamarrou o bilhete da perna da coruja – que sacudiu a cabeça e foi embora – e olhou desconfiada para os lados.

- Esta não é a coruja de McPearson, Mione? – disse Rony.

- Parece que sim... Deve ter recebido meu presente... Bom, foi ela que provocou, porque eu não sou disso!

Não vendo ninguém, abriu o pergaminho, que estava em branco. Quando ia jogar fora, uma fumaça branca saiu e pairou em sua cabeça. Os três começaram a rir, sem motivo algum, mas quando a fumaça formou a palavra "Sangue-Ruim", o sorriso sumiu dos rostos de Harry e Rony, que em seguida, disseram a Hermione o que aconteceu. O pergaminho começou a brilhar, e logo uma frase apareceu.

"Talvez na próxima, querida!

Ah sim, caso esteja curiosa em saber o que está escrito, não se preocupe... Nascida-Trouxa!

PM"

Paris, que estava vendo a cena de longe, chegou sorrindo desdenhosa. Harry a fitou com desgostos, e empunhou a varinha, e virou para Hermione.

- Finite!

A palavra piscou e ficou vermelha.

- Eu esqueci de avisar, não existe feitiço que faça a palavra sumir. Porém, como é doloroso ver sua amiga com os olhos marejados... Existe um livro na biblioteca que ensina como fazer isso desaparecer – ela deu as costas e saiu andando.

- Estupefaça! – Rony gritou, logo depois Paris caiu no chão.

Draco, que estava saindo do castelo viu a cena, pegou a varinha e correu até a garota, Crabbe, Goyle e Pansy em seus calcanhares.

Rony e Harry estavam tentando todos os feitiços que sabiam para tentar apagar a palavra, porém, a cada tentativa, a fumaça apenas mudava de cor.

- Enervate! – disse Draco, quando passou por Paris.

- Tsc, o que era se esperar de um Weasley!? – sibilou Pansy, enquanto Crabbe e Goyle soltavam risadinhas. – Atacando uma mulher pelas costas... Provavelmente, os pais estavam ocupados demais tentando alimentar a ninhada inteira, e não tiveram tempo de dar educação aos filhos.

- Não se meta, Parkinson! – grunhiu Harry.

- Como você é baixo, Weasley! – cuspiu Paris, quando chegou com Draco. – Só teve coragem de fazer isso porque eu estava de costas.

- Se quiser, eu faço agora em sua cara! – interviu Harry.

- Você que se atreva! – disse avançando para o garoto.

- Deixa, Harry! – choramingou Hermione. – Não precisamos nos rebaixar ao nível desses aí, vamos embora!

Os garotos cerraram os dentes e saíram na direção da cabana de Hagrid.

- Grr, esta McPearson é mais suja que a nojenta da mãe Comensal! – resmungou Rony.

Os sonserinos ouviram o comentário, e Draco olhou receoso para Paris, que ficou pálida.

- Perdão, o que disse, Weasley? – ela perguntou, andando até o trio. – Eu devo ter ouvido errado, é claro.

Rony olhou assustado. A feição de Paris, sempre desdenhosa, era de fúria, e percebendo que tocara no ponto fraco da Sonserina, sorriu.

- Você é tão suja quanto sua mãe! – disse alto e vagarosamente.

- Passar fome deve ter afetado seu cérebro... Ou então andar durante seis anos com Potter e a sangue-ruim aí!

- Weasley! – chamou Draco, se aproximando. – Normalmente, eu não perderia a chance de ver você se ferrar na mão de alguém, mas acredite, é melhor você se desculpar, porque, em primeiro lugar, a Sra. McPearson está morta, e segundo, como deve ter percebido, Paris não gosta que falem do que não sabem, e, sinceramente, eu não gostaria de estar no lugar de quem falasse mal da mãe dela.

- Tsc, uma mãe comensal... Que coisa mais nojenta! – continuou Rony, provocando, e fingindo não ter ouvido o conselho de Draco.

- Nojento seria nascer em uma família tão miserável, que o pai precisa fazer hora extra para conseguir comprar um livro usado...

- Porém ele tem mãe, e um pai com um trabalho honesto! – disse Potter, ao ver que o amigo não sabia o que falar. – E mesmo que não tivesse, uma coisa é certo, um Weasley nunca teria morrido dentro de uma prisão, por servir àquele verme que vocês chamam de Lord das Trevas!

- Não se meta no que não sabe, Potter! Você nem ao menos teve o privilégio de conhecer minha mãe – murmurou, cerrando os dentes.

- Graças ao bom Merlim, nunca tive o desgosto de me deparar com sua mãe. Mas a Sra. Weasley já nos falou muito sobre sua família... Tsc! Será que ela sofreu muito, Paris? Quando recebeu O Beijo. Você estava lá, não é, porque não nos conta como foi?

A cabeça de Paris começou a doer. A vista embaçou, e quase não enxergava mais. A dor era tão intensa que ela pensou que ia desmaiar. Não conseguia distinguir as imagens em sua frente, tudo virou apenas um borrão. Fechou os olhos e parecia que o mundo girava. As vozes ficaram altas demais, era difícil entender alguma coisa, quando todos falavam ao mesmo tempo. Sentiu Draco tentando acudi-la, e as vozes preocupadas dos outros. Pansy, "Draco, o que está acontecendo?". Então Hermione, "Porque ela está agindo assim?". E Crabbe, "O que ela vai fazer?". E Harry, "Parece que ela vai desmaiar!". Ela cerrou os olhos com fúria, fitando Potter. O garoto levitou, trêmulo, então foi atirado com violência para o Lago. Hermione gritou apavorada, e correu na direção do Lago, com Rony. Paris caiu de joelhos no chão, apertando a cabeça – parecia estar preste a explodir – com as mãos.

Os outros a encararam assustados – com exceção de Draco, que já sabia o que estava acontecendo.

Paris conversava com Anne Munro no salão principal, quando Dumbledore chegou e as interrompeu.
- Srta. McPearson? – chamou educadamente.
"Bah, posso apostar que eu sei o que você quer. Velho puxa-saco!", pensou enquanto sorria olhando para o diretor.

- Sim, professor? – disse docilmente.

- Alguns alunos da Grifinória me contaram algo muito interessante, e preocupante, devo acrescentar, esta tarde. Também sobre uma brincadeira que deixou uma palavra muito ofensiva... pairando... sobre a cabeça de uma aluna. Acho que a senhorita sabe ao que me refiro – acrescentou fitando Paris com os óculos de meia-lua. Depois olhou para Anne. – Hem, hem. Por favor, professora.

- Pode continuar, se o senhor quiser – Paris rolou os olhos. – Não me importa que a professora ouça.

- Como quiser, Paris. Então, o que tem a me dizer sobre esta queixa?

- Que o senhor sabe que fui eu. Que quando diz alguns alunos da Grifinória, se refere a Potter, Weasley e Granger. E que, com toda certeza, eles não contaram o que causou tudo isso!

O diretor fez sinal para que Paris prosseguisse.

- Eu estava no jardim da escola, sozinha, quando uma Corvinal veio até mim e disse que pediram que ela me entregasse uma bomba de chocolate. Obviamente, eu não aceitei, e disse que a garota podia comer – o diretor lançou um olhar desaprovador, que Paris ignorou, – e quando ela foi embora, voltei minha atenção ao que estava fazendo. Depois ouvi um grito, e reconheci a voz da menina. Ela jogou o doce no chão, cuspia, e estava abanando as orelhas. Apertei os olhos para ver o que acontecia, e então vi que as orelhas dela estavam cobertas de pêlos da cor púrpura...

- Acredito que continha um pedaço do que dizem ser uma pseudoflor, encontrada nas costas dos Murtiscos.

- Foi o mesmo que eu pensei. Então, eu mandei um bilhete para Granger... E daí em diante, o senhor já sabe o que aconteceu.

- E você tem certeza de que foi a senhorita Granger que lhe mandou isto, Paris?
"Argh, eu agradeceria se parasse de falar como se fosse algum amigo meu..."

- Sim, professor. Pois, como o senhor deve saber, há alguns dias aconteceu uma pequena discussão na biblioteca.

- Sim, sim, o professor Snape me informou. Porém, a senhorita sabe que eu não posso deixar isso passar em branco... Portanto, receberá uma detenção, e 10 pontos a menos para a Sonserina.

- Não me importo, sou suficientemente capaz de recuperar esses pontos. O senhor também vai tirar pontos da Grifinória?

- Perdão, como disse?

- Diretor – interrompeu Munro, - se me permite opinar, eu concordo com Paris. Afinal, nada disso teria acontecido se os três alunos da Grifinória não a tivessem provocado.

Dumbledore suspirou pesadamente.

- Com razão. Não se preocupe, senhorita McPearson, eles também perderão pontos. Paris, sobre o outro acontecimento... É algo um pouco incomum, se me permite dizer, e eu gostaria de conversar mais tarde.

- Não tenho muito a dizer sobre aquilo, professor – respondeu, indiferente.

- Então, a senhorita já sabia que era capaz de fazer aquilo?

- Sim... Desde criança. Mas, desta vez, admito ter sido um acidente. Quando me deixam muito irritada, eu não consigo controlar, e sempre acontece algo parecido.

- E o que lhe deixou irritada, Paris?

"Esta McPearson é mais suja que a nojenta da mãe Comensal!", a frase veio à tona.

- Weasley falou sobre minha mãe... – disse numa mistura de angústia, e raiva.

- O que, exatamente, ele disse?

- "McPearson é mais suja que a nojenta da mãe Comensal!". Sinto se isso ofende algum de vocês, professor, mas eu não levo desaforo pra casa, especialmente se for algum idiota falando sobre minha mãe.

- Porém, você deve compreender que o senhor Weasley não conheceu Margareth, portanto ele-

- Isso é apenas outro motivo para ele não se intrometer no que não sabe, e ficar de bico fechado! – cortou.

- Sim, Paris, mas o que você fez com o senhor Potter, poderia tê-lo machucado.

- Eu não me importo!

- Não acredito que isso seja verdade.

- Professor, Potter me provocou! Falou sobre Azkaban. Sobre O Beijo. E eu já disse, não importa quem for, eu não admito que fale da minha mãe.

- Eu entendo, Paris-

- É óbvio que o senhor não entende! – gritou, aturdida.

Os bancos das outras mesas começaram a tremer, e o material de um dos garotos que estava estudando, voou pelo salão, se estilhaçando na parede.

Os alunos, assustados, começaram a se esconder debaixo das mesas. Munro olhava, perturbada e interessada, para Paris. Dumbledore, sobretudo, continuava com o ar sereno de sempre.

- Acalme-se, Paris, por favor – pediu.

A respiração estava ofegante, e os olhos em chamas, exalando raiva. Conforme a respiração se acertava, os bancos paravam de tremer. Os alunos, até então escondidos, saíram o mais depressa possível do salão; todos fitando a sonserina como se ela fosse um Farosutil – a temida Serpente de Três Cabeças.

- A senhorita irá cumprir a detenção amanhã à noite – sorriu Dumbledore. – Agora, com licença, mas eu preciso resolver alguns negócios, boa tarde.

- Ah, diretor? – chamou, Munro. – Será que Paris pode cumprir a detenção comigo? Ela está me devendo um trabalho, então eu pensei...

- Como quiser, Anne. Até mais tarde!

A professora sorriu, depois fitou Paris.

- Vamos até minha sala, precisamos conversar.

Paris suspirou pesadamente, mas não resistiu, levantando e seguindo Munro.

Draco andava pelo campo de quadribol; estava sozinho, dispensou Crabbe e Goyle por alguns instantes, para poder caminhar em paz. Uma garota loira, magra, cabelos longos e lisos, se aproximou.
- Tremere! – disse Draco a cumprimentando.
- Boa tarde, Malfoy! – ela respondeu. – Está menos estressado hoje?
Draco apenas ergueu as sobrancelhas.
- Talvez não... – ela murmurou mais para si mesma. – Está me evitando?
- E por que o faria?
- Talvez receio.
- E tenho motivos para isso?
- Talvez receie se aproximar novamente de mim, e acabar não resistindo, como aconteceu da última vez.
- Isso mesmo, última vez, Tremere.
- Mas eu duvido que não sinta falta de nossas brincadeiras.
Draco não respondeu, apenas fitou a sonserina, com um olhar indecifrável.
- Porque está sozinho? – ela mudou de assunto, vendo que mesmo se continuasse a insistir, não obteria resultados, pelo menos não hoje. – Onde estão Crabbe, Goyle e, claro, McPearson?
- Não estou sozinho, a menos que se julgue não ser ninguém...
- Cuidado com as palavras, Draco – ela disse calmamente, os olhos azul-esverdeados cintilando.
- Estava sozinho porque assim o desejava.
- Isso foi algum tipo de indireta?
- Se assim entender...
- Eu não me intimido com esse tipo de coisa.
- E com o que se intimida?
- Como se você não soubesse.
- Até onde sei, não se intimida com facilidade.
- Tem boa memória.
- Você me lembra a Paris – disse pensativo.
"Argh... Estava demorando para falar dela", pensou Tremere, entediada.
- E o que eu teria que fosse parecido com McPearson?
- Esse jeito de não se intimidar por nada, não se deixar levar pelo momento.
- Bah... Não é sempre que McPearson não se deixa levar pelo momento, não é mesmo? – perguntou com malícia no olhar.
- Sim... O mesmo digo de você, Tremere.
- E o que tem como prova disso contra mim?
Draco a fitou, e tornou a falar.
- Agora, por exemplo, se eu quisesse beijá-la, você o faria sem evitar.
- Ah, querido, a qualquer momento eu o beijaria sem evitar. E você sabe disso.
- Sim, eu sei – disse com ar prepotente. – Mas pelo fato de estarmos a sós, e falando sobre o assunto, você o faria com mais facilidade, ou seja, deixaria ser levada pelo momento.
- Se você entende assim, não vou contrariá-lo – disse, fingindo indiferença.
- Isso porque sabe que eu estou certo.
- E por que não prova que está certo? – ela o intimidou, se aproximando.
Estavam muito próximos, e Néfaste é uma garota muito bonita. Por que evitar? Que mal faria se a beijasse? Afinal, não tinha compromisso com ninguém, e beijar não era algo que Draco considerava cansativo.
Então, sem ao menos dar tempo de um ou outro piscar, Draco entrelaçou os braços na cintura da sonserina, e envolveu seus lábios nos dela. Tremere passou os braços pelo pescoço de Draco.
- Isso não é coisa para se fazer no meio do jardim – interrompeu uma garota, que acabara de chegar.
Draco soltou Néfaste para olhar quem o interrompia; Pansy.
- Não estamos no jardim, Pansy – ele disse. – Caso não saiba, isso é um campo de quadribol.
- Pode ser até um ninho de Arpéus, mas isso não faz com que vocês possam ficar se agarrando.
- Está com ciúmes, Parkinson? – provocou Néfaste.
- Não, querida. Não estou com ciúmes – retrucou Pansy, tentando esconder a irritação em sua voz. – Caso não saiba, já provei do "mel" de Draco. Aliás, provei mais que você, posso dizer.
Néfaste suspirou calmamente.
- Eu teria cuidado, se fosse você, ao escolher as palavras antes de falar comigo.
- Acha que tenho medo de você, Tremere?

- Talvez não tenha... Mas deveria – ameaçou Néfaste.
- Hey! – Draco as interrompeu. – É bom as duas pararem com isso, se começarem a brigar será um motivo para tirarem pontos da Sonserina, então parem por aí.
- Eu não ligo se tirarem pontos... Recuperamos novamente – disse Pansy.
- Mas eu ligo – interviu Draco, – e sou monitor-chefe, logo, superior a você, Pansy. Deveria prestar mais atenção a esses detalhes. E não podemos perder pontos para a casa.

- Bah! Sabia que iria defender Tremere... Que seja! – brandiu Pansy. Olhou para Néfaste, ergueu as sobrancelhas, e saiu andando.
Néfaste sorriu desdenhosamente quando Pansy olhou para trás.
- Isso, Parkinson, boa menina – disse, como se educasse um cachorro. – Abaixe a cabeça e saia andando, antes que as coisas fiquem feias para o seu lado... Quer dizer, mais feias, levando em conta sua beleza exótica.
- E você também, Tremere – disse Draco, irritado. – Além do mais, Pansy não é feia para você dizer isso!
- E eu também o quê? – ela perguntou confusa.
- Não fique se achando demais simplesmente porque a defendi, e pare de provocar Pansy.
- Sinceramente, Draco, isso foi algo que só fez uma diferença.
- E...? – perguntou esperando a respostas da garota.
- Você simplesmente evitou que Parkinson saísse daqui direto para a ala hospitalar.
- Mas é convencida, viu...
- Eu sou convencida? Quem estava se vangloriando agora a pouco, dizendo ser superior a Parkinson, huh?
- Eu não estava sendo convencido. Estava sendo apenas realista.
Néfaste revirou os olhos.
- Que seja! – gesticulou Draco – Eu vou voltar para o salão comunal.
- Eu o acompanho – disse prontamente.

- Sente-se, Paris – disse Anne enquanto sacudia sua varinha e conjurava uma bandeja com duas xícaras de chá fumegante.

- Quer falar sobre o meu dom, não é? – perguntou, com a voz arrastada, enquanto pegava uma xícara.

- Quem sabe que você é capaz de fazer essas coisas?

- Humn, fora meu pai e meus irmãos... Draco. Bom, sem contar a escola inteira.

- Ah, não seja exagerada, não tinha tanta gente assim no salão e nem no jardim.

- Claro, como se, a esta hora, os poucos que viram já não tivessem fofocado pra todos os outros – rolou os olhos.

- Vamos, deixar isso de lado... Você sempre soube que tinha esse dom?

- Desde os sete anos, eu acho. Meu pai pode lhe contar melhor... não me lembro direito, mas quando eu era criança fiz um vaso quebrar em cima de Frederick, e cortar o rosto dele. Depois, quando me arrependi e disse, mentalmente, que queria que o vaso não tivesse quebrado, os cacos voltaram ao normal, sabe... juntaram e formaram o vaso novamente.

- Você usa isso com freqüência?

- Não. Fazia muito tempo que não usava, embora ninguém acredite, a não ser Draco – porque já conhece, – hoje aconteceu por acidente. Acontece quando me irrito, foge do meu controle. Algo quebra, as coisas, ou pessoas, voam.

- Você já leu algo sobre esse dom, ou nunca se interessou?

- Quando eu tinha uns 14 anos, Draco e eu procuramos livros que falassem sobre o assunto, mas não encontramos nada... Nem na biblioteca da minha casa, nem na dele. Em canto algum.

- Não é um dom muito comum, você deve saber...

- Meu pai disse que minha avó, por parte de mãe, tinha o mesmo dom, mas ela nunca se interessou em pesquisar sobre o assunto, então continuou um mistério. Disse que quando eu nasci minha mãe ficava preocupada em saber se eu estava manifestando o dom, pois a mãe dela quase morreu quando era criança, porque não sabia como usar, mas fazia com freqüência. Meu pai se esforçou muito procurando qualquer documento que explicasse isso, porque, antes de minha mãe morrer, ela o fez jurar que me ajudaria a controlar. Mas ele também não achou muita coisa. Três ou quatro linhas de um livro... "Telecinesia: capacidade de mover objetos ou modificá-los pela força da mente. Dom considerado uma função empírica da mente, possivelmente de natureza química." Eu lia isso todos os dias... Dizia também que muitas pessoas confundia telecinesia com a atividade dos poltergeists, sabe, por eles serem chatos e blábláblá, como o Pirraça. Eu queria saber porque nasci assim, mas, até já desisti de procurar.

- Essa "doença", como alguns chamam, só é gerada se uma mulher com o gene recessivo, engravidar de um homem hemofílico. Se a criança a nascer for um menino, ele será outro portador, se for uma menina, ela nasce com o dom da telecinesia.

- Então, minha mãe tinha o tal gene recessivo, e meu pai tem hemofilia? – perguntou, atônita. – E isso se manifesta só em mulheres?

- Basicamente. É extremamente raro casos de homens telecinéticos. Só é possível se o homem for portador do gene da hemofilia, e a mulher também, o que é muito difícil, uma vez que a doença se manifesta principalmente nos homens. No caso, sua mãe, sem sombra de dúvidas, era portadora do gene recessivo, já que ela nunca manifestou sinais de possuir o dom. É difícil explicar... O portador da "doença" é o homem, o gene pode ser recessivo na mulher, mas é dominante apenas na mulher. Entende?

- Acho que sim... Mas é muito complicado.

- Quando estiver sozinha, Paris, eu quero que você treine. Por exemplo, se você olhar para a sala de aula, imaginar as cadeiras e carteiras encostadas na parede, e se concentrar, de fato, isso vai acontecer. No começo, pode ser que você fique cansada, sentindo que, ao invés de levantar um caderno, está tentando levantar uma bigorna, mas se exercitando com freqüência, não sentirá mais as dores.

- O outro lá não vai achar ruim se eu fizer isso escondido... Digo, por mim tudo bem, eu não ligo, mas acho que ele não vai gostar muito de saber que você está me dando tais ordens sem antes falar com ele.

- Pratique. Apenas pratique. Depois eu embromo o velho, não se preocupe – disse dando uma piscadela.

Paris sorriu maliciosamente.

- Posso praticar com-

- Não, não pode.

- Você nem sabe o que eu dizer!

- Eu sei sim... É óbvio que ia perguntar se pode praticar com certas pessoas, e é óbvio que não pode, Paris!

- Bah, estraga prazeres!

- Outra coisa, não conte isso a mais ninguém antes de-

- Ah claro, Hogwarts inteira já sabe. De fato!

- Que seja, mas não conte pra mais ninguém, e nem use isso em "público", antes de falar comigo novamente.

- E posso ao menos saber porquê?

- Eu vou mandar uma carta a Milorde, ele vai gostar de saber que estava certo – disse em um sussurro.

- Perdão, como é que é?

- O Lord desconfiava que você nascesse com o tal dom, pelo fato de sua avó ser telecinética, e sua mãe não, ele percebeu que o gene, nela, devia ser recessivo. Também sabia que seu pai tinha o gene da hemofilia, então ele já esperava que você manifestasse o dom.

- E porque o Lord se interessou tanto assim por mim? – Paris manteve o tom sussurrado da conversa.

- Bem, você será uma Comensal, não é mesmo? Então, é claro que isso interessa ao Lord!

Paris sorriu, orgulhosa.

- Não vai se sentindo tão importante não, viu... – desdenhou Munro.

Paris fez uma careta.

- O chá! – disse, bebericando da xícara.

N/A:

Este capítulo não está betado, então, me desculpem se estiver com muitos erros e blábláblá, hee-hee. Mas eu já mandei um e-mail para uma beta e o próximo chega direitinho xD

A propósito, eu quero agradecer às reviews de vocês. Ééé. Doumoarigatou pra todo mundo, hehe. E, claro, continuem deixando mais e mais reviews, elogiando, criticando, e também seria legal se vocês colocassem sugestões sobre o que gostariam que acontecesse, se a idéia foi boa eu dou um jeitinho de encaixar na história, okie!?

Kata kata pra todos