Beijos Desequilibrados

Capítulo II - Desejo

Disclaimer : Pra variar, não fui eu quem criou Saint Seiya. Caso contrário, os cavaleiros de ouro seriam os protagonistas da série – e o Seiya já teria morrido há muito tempo...

Bem, Saint Seiya pertence a Masami Kurumada, Toei Animation, etc. Sou apenas uma fã que começa a enxergar romances em lacunas deixadas pelo autor... '

Amelie Bertaux é criação minha.

- # - # -

Kamus estava deitado em sua cama, de barriga para cima. Vestia apenas uma calça branca folgada. Seus pensamentos estavam fixos em uma única pessoa desde aquela manhã : Miro. Lágrimas grossas caíam vagarosamente de seus olhos e alisavam sua face como que para acalentá-lo.

Amava Miro loucamente. Fora um amor quase que a primeira vista. Miro sempre o encantou, fazendo-o mostrar diante dele faces suas que não revelara a ninguém desde que virara cavaleiro. Decerto que continuara a ser fechado, mas era notavelmente diferente com Miro.

Sabia que Miro tinha suas aventuras amorosas e nunca teve esperanças de que Escorpião olhasse para ele de outra forma. Ou melhor, preferia que ele não o olhasse de outra forma. Tinha medo de se entregar o amor, este amor que sempre o deixou fraco. Era conformado; achava que tiraria este sentimento de dentro de si rápido. Mas se enganara. O amor que tinha dentro de si parecia crescer cada dia mais.

Mas havia uma coisa que Kamus não conseguia controlar quando estava só e pensava neste assunto. Ciúmes. Ciúmes de todas as garotas que se deitavam com Miro. Invejava-as, pois queria estar no lugar delas. Por mais que tentasse não pensar nisto, estes sentimentos vinham constantemente à sua mente. E depois daquela manhã, então... Miro nunca antes o pedira conselhos para o amor e, agora que o fizera, acabaram brigando. Mas o que mais o afligia não era a briga. Era a garota com que Miro ia passar a noite.

Amelie Bertaux. Quando ele pensara que se livrara dela, ela volta em sua vida de uma maneira que jamais imaginou. Quando se lembrava dela, ficava magoado. Mas também vinha uma súbita vontade de vê-la novamente. Mas não queria que Miro a tivesse ! Ele poderia ter qualquer francesa que ele não se importaria. Exceto Amelie Bertaux.

Tinha idéias absurdas. Talvez, caso ele se deitasse com Miro, ele conseguisse esquecê-lo mais rapidamente. Pois desta forma não teria mais inveja de nenhuma garota. Afastava a cena da cabeça; isto estava fora de cogitação. Miro jamais o iria querer. Lembrava com carinho das palavras de Miro naquela manhã. 'Sim, afinal não foi o charmoso Kamus quem disse que se ela quisesse um francês o procuraria na França ?' Afinal, Miro o achava charmoso ! Era um ponto a seu favor. Ainda confuso, adormeceu.

Teve um sonho estranho. Andava tranqüilamente pela casa de Aquário e ia entrar em seu quarto, quando ouviu barulhos estranhos do outro lado da porta. Abriu a mesma. Viu, com terror, que Miro e Amelie estavam fazendo amor em cima de sua cama e que nem ao menos ligaram quando ele apareceu. Sua cabeça começou a doer. Ele começou a gritar e a congelar todo o quarto. Queria matá-los. Remexe-se na cama e acordou.

O quarto estava muito frio. O pesadelo mexeu tanto com ele que realmente acabou por esfriar a temperatura local. As velas tinham se apagado e ele estava imerso na escuridão. Levantou-se e abriu uma janela. Com a fraca luz da lua que entrou, pode distinguir as horas. Três e meia da manhã. Fez uma cara irritada e recolocou o relógio no criado-mudo. Acendeu novamente as velas e voltou para a janela. Perdera o sono.

Observava as estrelas. Seus pensamentos continuaram a fluir em direção a Miro. Estava com raiva de si porque não o conseguia tirar da cabeça. Iria treinar às oito horas com Shaka de Virgem e precisava dormir. Mas tinha receio de ter o mesmo pesadelo novamente. Resolveu tomar um banho gelado. Quando terminou, voltou para a sala, na verdade uma espécie de biblioteca.

Pegou novamente o livro que estava tentando ler aquela manhã. 'Madame Bovary', de Gustave Flaubert. "Que livro para se ler ! Justo neste momento ! Emma Bovary não vai me ajudar a tirar Miro e Amelie da cabeça ! Deixe-me ver outro livro..." Percorreu com os olhos toda a extensão da biblioteca e escolheu um outro livro. 'O Retrato de Dorian Gray', de Oscar Wilde. Sim, era uma boa escolha. Nada de traições. Nada de amantes.

Continuou lendo o livro até às sete horas. Acabou por terminá-lo, o livro não era muito grosso. Guardou-o e se levantou. Foi até a sala de jantar. Por mais que não tivesse apetite, precisava comer. Shaka não era um adversário qualquer. Comeu algumas frutas que as servas tinham posto na mesa e fez sinal para uma serva de cabelos e olhos muito negros, que estava em pé, mais ao fundo, para que ela limpasse tudo. Seguiu pelas escadas em direção a casa de Virgem.

Quando estava atravessando a casa de Escorpião, sentiu o cosmo de Miro. Ficou um tanto aliviado, pois pelo menos o cavaleiro havia tido a responsabilidade de dormir no Santuário. Mas sentiu também um conhecido aroma de flores que tanto lhe era familiar. 'Anaïs Anaïs'. O perfume de Amelie, sem dúvidas... A casa inteira está impregnada ! Eu poderia até dizer que ela passou a noite aqui se fosse permitida a entrada de estranhos no Santuário." Kamus ficou meio melancólico. Aquele perfume lhe trazia recordações desagradáveis, não gostava de senti-lo. Mas, ao mesmo tempo, o cheiro lhe era muito agradável.

Continuou descendo e encontrou Shaka em pé, em frente a casa de Virgem. Olhos fechados, cabelos loiros soltos, vestindo a armadura de Virgem. Ao sentir o cosmo de Kamus se aproximar, sorriu.

"Bonjour, Shaka." – Kamus falou num tom cordial, mas mantinha-se sério.

"Bom dia, Kamus." – Shaka também voltou a ficar sério.

"Onde iremos treinar ?"

"Numa arena aqui próxima. Vamos."

Shaka começou a andar e Kamus o seguiu. Chegaram a uma arena vazia que dava plena vista a escadaria entre as casas de Virgem e Libra. Subiram na arena e ficaram um de frente para o outro.

"Luta corpo a corpo, sem armaduras ?" – Shaka perguntou.

"Concordo." – Kamus tirou a armadura de Aquário e Shaka fez o mesmo com a de Virgem.

"Não vi Miro descer as escadas... Ele está atrasado para o treino com Aioria."

"Como sempre. Mas vamos ao que interessa ?"

Kamus não pretendia ficar falando sobre Miro com Shaka. Começaram a treinar. Uma rápida sucessão de chutes e socos, todos defendidos pelos dois cavaleiros. Era incrível o poder de destruição que os dois possuíam. Shaka conseguiu acertar um chute no tórax de Kamus, fazendo-o cair. Neste momento, Miro estava passando por entre as casas, rumando até Leão.

"Kamus apanhando ?" – Miro começou a rir.

Kamus deu uma olhada para Miro, ainda do chão. Miro olhou fundo nos olhos de Kamus e deu um grande sorriso, seguido de uma piscadela. Parecia muito feliz e satisfeito.

"Também pudera, Shaka de Virgem é seu adversário !" – Miro deu uma risada. Shaka deu um sorriso.

"Não sabia que Miro se perfumava tanto para ir treinar... Ainda mais um cheiro que lembra o Afrodite... Está completamente impregnado, deve estar perfumando também as casas por onde passa..."

"Ah, este perfume ? É o cheiro do amor, não do Afrodite. Agora, se me dão licença, estou atrasado. Tenho que enfrentar um ruivo falso, arrogante e projeto de traidor chamado Aioria de Leão !"

Miro continuou caminhando. Shaka achava divertido aquele jeito despreocupado de Escorpião, se arriscando até a falar mais displicentemente com ele. Porém, com o último comentário de Miro, tornou a ficar sério. Voltou a olhar a figura caída no chão. Kamus estava muito mais sério, com uma sensação diferente emanando dele. Levantou-se rapidamente e começou a investir em Shaka. Este se defendia facilmente. Notara que Kamus estava irritado, apesar de manter o mesmo semblante. Kamus conseguiu acertar um soco no rosto de Shaka, após algum tempo. Treinaram por horas a fio, parando apenas quando o relógio marcava uma e meia.

"Paramos por hoje, Kamus. Gostaria de almoçar na casa de Virgem ?"

"Obrigado pelo convite, mas tenho de recusá-lo. Gostaria de ficar sozinho." – Kamus sai do ringue e segue em direção à armadura de Aquário.

"Notei que você ficou estranho quando Miro apareceu descendo as escadarias. Aconteceu alguma coisa ?" – Shaka também foi em direção à armadura de Virgem.

"Não aconteceu nada, Shaka. Anda meditando tanto que começou a fugir da realidade... Cuidado, parece que está alcançando demais o nirvana ultimamente..."

Com um leve tom de ironia, Kamus vestiu a armadura e começou a subir as escadas. Estava ligeiramente irritado com o comentário de Shaka. Afinal, esse sentimento era tão óbvio assim ? Não iria discutir sua intimidade com ninguém. Depois de um tempo, chegou à casa de Aquário. As servas terminavam de preparar um delicioso banquete para Kamus. Era como se adivinhassem que uma boa comida francesa o distrairia um pouco.

Aproveitou e entrou no banho enquanto a comida era servida. O som da água colidindo com o chão do banheiro o motivava a pensar. Sim, lembrava-se do maldito perfume que impregnara Miro e a casa de Escorpião. Ele havia passado a noite com ela. E, como se ele fosse ter alguma dúvida disso, Miro ainda piscara para ele ! A raiva começara a subir pelas veias de Kamus quando ele se lembrou de que estava faminto. Enxugou-se, colocou uma roupa simples e foi até a sala de jantar.

Sorriu com o que viu. As servas haviam preparado Lagostas à Termidor para o prato principal, Profiteroles de café com creme como sobremesa e ainda serviram uma bela garrafa de vinho. Como um bom gourmet, não podia deixar de sentir um imenso prazer em comer aquelas iguarias. Ele se sentiu tão leve que chegou a agradecer à serva de olhos e cabelos negros que sempre estava em pé perto da mesa, para o caso de Kamus necessitar de algo.

"Merci, garota. A comida estava divina ! Aposto que foi o seu bom gosto que escolheu a refeição." – A serva sorriu. Raramente ouvia Kamus elogiar a comida que elas faziam.

Seguiu para a biblioteca. Queria ouvir uma boa música. Pegou um porta-cd e escolheu um. Ligou o som, colocou o cd. Uma suave melodia começou a tocar, era tocada no piano. Apertou o botão repeat, colocou a música num volume agradável e se sentou. Queria pensar um pouco na vida. A cortina estava aberta, deixando a luminosidade entrar no ambiente. Mas não foi só ela que entrou lá. Uma pessoa entrou intempestivamente pela porta, fechando-a num baque alto. Kamus não exteriorizou o grande susto que tomou. Sentindo de quem era aquele cosmo, sabia que isto poderia acontecer.

"Bonsoir, Miro. O que o faz pensar que pode entrar deste jeito em minha biblioteca ?" – Kamus nem ao menos se virou para olhar quem era.

"Ah, desculpe-me, Kamus." – Miro se sentou ao seu lado no sofá e colocou os pés numa cadeira próxima – É que eu estava por demais agoniado para lhe contar sobre ontem.

"Sinto, mon ami, mas acho que não quero ouvir." – Kamus se levantou e ficou de pé, mirando a janela.

"Ah, Kamus ! Não faça isso comigo ! A propósito, você já almoçou ?"

"Oui."

"Ah, que droga ! Como saí atrasado de casa e cheguei mais tarde, não consegui falar com as servas... Elas só conseguiram entrar na casa de Escorpião quando voltei do treino..."

"Elas não conseguiram entrar ?" – Kamus fez uma cara engraçada – "As servas não possuem uma cópia das chaves dos aposentos ? Bem, considerando o tamanho do templo de Escorpião e o tamanho da bagunça que você faz, elas vão demorar bastante para arrumar tudo... Patético, você, não ?"

Miro fez uma careta.

"Calma, Miro, pedirei para as servas fazerem uma comida prática para você. Espere aqui, volto já, enfant."

Miro sorriu, agradecido. Kamus esboçou um leve sorriso e saiu. Miro começou a observar o ambiente, olhando os títulos dos livros e dos cd's. Escutava a calma e linda melodia que saía das caixas de som e divagava. Era notável que o francês tinha bom gosto e era muito culto. Depois de alguns minutos, quando Miro estava em pé, de frente para uma estante cheia de livros, Kamus retornou.

"Interessado pelos meus livros, mon ami ? Não achei que eles te atraíam..."

"Ah, Kamus, por que diz isso ? Acha que só porque gosto de farras eu não posso me interessar por livros ?"

"Não foi isso que eu disse. Apenas achava que o fantástico mundo da leitura não o fascinava." – Kamus caminhou e ficou em pé, ao lado de Miro.

"Eu gosto de ler. O último livro que li foi Drácula."

"Bram Stoker ? Bela escolha. O livro é muito interessante..."

"Sim. O engraçado é que os vampiros são bem diferentes do que o conhecimento popular diz."

"É verdade."

Kamus ainda não acreditava que estava conversando com Miro sobre livros. Este lado dele, definitivamente, Kamus não conhecia.

"Kamus, que música é esta ?" – Miro olhou para ele, interrogativo.

"Gosta dela ?"

Miro caminhou em direção ao som.

"Sim. Procurei o cd de origem, mas não o achei."

"Realmente não iria achar. É um cd pessoal, com uma seleção minha. A música é Pathetique(1), de Ludwig Van Beethoven. Título bem sugestivo, non ?"

Miro deu uma risada.

"Sim, bem sugestivo... A música é belíssima, mas tem um tom melancólico..."

"Parece que alguém está morrendo, non ?"

"Sim, Kamus. E que está se despedindo daqueles que amam..." – Miro se sentou.

"Quer que eu a tire ? Acho que ficou incomodado."

"Não precisa. Senta aqui, vamos conversar."

Kamus assentiu e obedeceu. Miro olhou bem nos olhos do francês.

"Por que você não gosta da Amelie ?"

Kamus teve um impulso de se levantar; Miro o impediu, puxando-o pelo braço. Uma onda de ciúme queimava o coração de Kamus. Voltou a sentar e fitou Miro com um olhar frio.

"Já disse que não vou contar assuntos tão íntimos."

"Kamus, por favor. Eu preciso ouvir. Aquela garota mexeu com a minha cabeça. Se você tem algo ruim a me dizer, diga agora."

Kamus olhou para Miro. O amigo estava sério. Não duvidava que Amelie o tivesse fascinado tanto. Aquela mulher parecia uma encarnação da deusa Afrodite na Terra.

"O que quer que eu tenha contra ela, não te diz respeito. Mas tenha cuidado antes de mergulhar de cabeça. Ela vai ficar muito tempo na Grécia ?"

"Não. Volta domingo que vem." – O coração de Kamus ficou um pouco mais leve.

"Você vai vê-la novamente ?"

"No sábado. Marcamos de nos encontrar num pub."

"Miro, não vá. Você disse que esta garota está mexendo com a sua cabeça."

"Eu sei... Às vezes penso que é uma pena ela ir embora tão cedo... Talvez se pudéssemos nos conhecer melhor..."

"Não se apaixone por ela, mon ami. Eu sei que ela é linda, engraçada, mas não se apaixone por ela."

"Mas por quê ? Por que você não me diz o motivo de tanto incômodo com ela ?" – Miro fez uma cara preocupada.

"Não quero dizer, por favor não insista !" – Kamus fez uma cara irritada. A insistência de Miro já estava quase tendo êxito. Kamus estava muito mais exposto, meio frágil.

"Desculpe-me."

"Vamos mudar de assunto, non ?" – Kamus levantou-se e foi até a janela. Miro o acompanhou.

"Por que você tem que ser tão fechado, Kamus ?" – Ele tocou o ombro do amigo. Kamus se virou – "Por que você simplesmente não me conta as suas coisas ? Sinto que você quer desabafar, mas simplesmente não consegue começar a falar."

A música tocava uma melodia agradável e calma. Kamus e Miro estavam muito próximos. Kamus estava sendo delicadamente empurrado contra o pequeno pedaço de parede da janela e Miro avançava silenciosamente até ele, no ritmo da doce melodia de Beethoven. Kamus estava cada vez mais envolvido pela sensualidade que emanava do corpo de Miro próximo ao seu.

"Miro, desde quando você entende de sentimentos ?" – Kamus tentava começar uma briga. Não queria se render aos impulsos que estavam cada vez mais fortes.

"Você nunca me deixou conversar sobre isso. Sempre começa uma briga... Como quer começar agora." – A voz de Miro estava baixa e rouca, quase como um sussurro. Miro começou a se aproximar involuntariamente de Kamus. Não sabia bem o que era, mas achava Kamus tão frágil que teve vontade de tomá-lo nos braços. Kamus já não conseguia mais evitar. Olhava fixamente para os lábios rosados de Miro, cada vez mais próximos dos seus. Queria beijá-lo como nunca quis beijar ninguém antes – "Você nunca me deixou demonstrar que tenho sentimentos, Kamus..."

A respiração de Miro afagava o rosto de Kamus. Aspirava aquele hálito perfumado e se embriagava... O barulho da respiração dele era hipnótico... A música no fundo ajudava a embalar aqueles movimentos... Os narizes começaram a se roçar, os dois pares de olhos já se encontravam fechados... As bocas estavam entreabertas, quase se tocando...

"Kamus-sama, a refeição já está pronta." – A serva de cabelos e olhos negros falou, batendo à porta.

O autocontrole e o bom senso de Kamus despertaram. Astutamente, ele se desvencilhou de Miro, saindo pelos lados e fazendo o amigo se encostar na janela, enquanto dizia :

"Vamos, Miro. A comida pode esfriar e tenho certeza de que você está faminto."

Kamus abriu a porta sem olhar para trás. Tinha medo de não resistir. Miro ficou fitando o céu claro, pensando. "Por Athena, o que eu ia fazer ! Ainda bem que as servas interromperam... Mas por que ele não se desvencilhou antes ?" Miro se virou e começou a caminhar. Percebeu que o som continuava ligado, finalizando a execução de Pathetique. "Ele está muito distraído... Jamais sairia e deixaria o som ligado, desperdiçando energia." Desligou o aparelho e seguiu até a sala de jantar. "Bem, ele realmente precisa desabafar. Acho que não saiu antes da situação porque realmente estava muito frágil, precisando de uma atenção amiga. Preciso demonstrar a ele que sou uma pessoa digna de confiança para assuntos íntimos."

Kamus sentou-se à mesa num lugar que considerara seguramente afastado daquele onde as servas haviam colocado o prato de Miro. Este último, ao entrar, viu Kamus sentado e a serva que os chamara parada, em pé, encostada numa parede afastada da mesa, de prontidão para o caso de seu amo pedir mais alguma coisa. Deixou sair uma exclamação de surpresa quando viu a comida que lhe aguardava. Havia vários sanduíches feitos com pão sírio, carne de cordeiro e outros ingredientes – conhecidos como Gyros – e cobertos por um molho grego chamado Tzatziki – uma espécie de iogurte com pepinos. Para beber, havia Ouzo, uma bebida grega com sabor de anis e servida com água extremamente gelada, com o intuito de refrescar.

"Esta foi a comida que as servas conseguiram preparar mais rapidamente, mon ami. Como sei que você gosta de comer besteiras, achei que não fosse se importar." – Kamus deu um ligeiro sorriso. Miro retribuiu.

"Muito obrigado. Estou faminto !"

Miro se sentou e se serviu. Comeu mais de cinco sanduíches e tomou muito Ouzo, no que foi acompanhado por Kamus. Kamus se divertia ao ver Miro devorando a comida. Parecia uma criancinha, tanto que estava com o rosto todo lambuzado de Tzatziki.

"Toma, Miro." – Kamus estendeu um guardanapo – "Você está com o rosto todo lambuzado."

"Ah, obrigado, Kamus."

Miro estendeu a mão e recolheu o guardanapo. As mãos se roçaram e Kamus se estremeceu discretamente. Miro não percebeu e começou a se limpar. Depois relaxou na cadeira, colocou uma das mãos na barriga e falou :

"Isso aqui estava ótimo ! Comi até me enfartar." – Kamus deu um sorriso – "Agora eu preciso ir... Estou com um soninho..." – O sorriso de Kamus se alargou.

"Tchau, mon ami."

"Tchau, Kamus."

Miro deu um último abraço antes de sair, o que pegou Kamus de surpresa. Depois que Miro partiu, Kamus entrou novamente na biblioteca e ficou na janela, observando o céu e pensando nos acontecimentos daquela tarde.

Continua...

- # - # -

N/A : Aqui estou eu de volta ! E o Shaka-sama faz uma participação especial na fic ! Ele ainda vai aparecer mais algumas vezes. Sei lá, acho que ele e o Kamus-chan deviam se dar muito bem, apesar das intromissões do Shaka-sama... Ele até que está bem irônico, não acham ? E notaram quanto nome de comida tem na fic ? Fiz uma pesquisa danada para conseguir ! ' E, por favor, não se irritem com as minhas notas, elas são necessárias – pelo menos para mim. Ah, e eu morri de pena de interromper o beijo ! Não jogue pedras em mim ! Eu tava adorando tanto a cena... – eu escrevi ouvindo Pathetique, o que me deixou mais inspirada.

Nota :

(1) Pathetique é uma sonata de piano belíssima de Beethoven – sendo mais exata, é a oitava sonata de Beethoven. Ela foi tocada em dois episódios de Rurouni Kenshin e o mais marcante deles é a cena é que Yumi olha no relógio e percebe que Shishio não deve mais lutar. A música começa a tocar até quando Shishio para de falar com Kenshin sobre a morte dela. Quem puder ler as cenas em que esta música aparece ouvindo-a, será maravilhoso. Sim, a música vai tornar a aparecer na fic... (eu e minha boca grande !)

Agora vou responder aos meus 2 reviews !

Anne - Que bom que você ainda anda lendo fics minhas ! Realmente não deve ter muito o que dizer a respeito do primeiro capítulo, mas e este aqui ? Como eu disse antes, fiquei tão empolgada escrevendo a cena do Miro e do Kamus que até tive pena de interromper ! Diz o que achou, tá ? Muito obrigada por ler o que escrevo !

Perséfone-san - Se eu não dedicasse esta fic a você, estaria sendo ridícula. Afinal, quem me apoiou ? Quem está me dando puxões de orelha ? Quem está me incentivando ? Você, lógico ! Beijinhos !