Beijos Desequilibrados
Capítulo XI – Feridas
Disclaimer : Como é que ninguém percebeu que o Grande Mestre era o Saga ? A voz era diferente, a cor dos cabelos, o cosmos... Como são distraídos !
Saint Seiya pertence a Masami Kurumada, Toei Animation, etc. Sou apenas mais uma maluca que se aproveita dos coitados dos cavaleiros... '
Amelie Bertaux, Althea, as gêmeas, Lótus, Catarina e Joseph são criações minhas.
- # - # -
Kamus chegou a Kohoutek um tanto mal humorado. Sua passagem pela Grécia não transcorrera da forma que queria. Não deveria ter se encontrado com Miro; ao menos o fatídico acontecimento serviu para a consolidação de uma muralha entre os dois. Afinal, não deveria haver ninguém que incomodasse o cavaleiro do gelo com bobagens sentimentais.
Entrou em sua humilde casa e verificou que estava vazia. Pensou que Isaac talvez estivesse na casa de Catarina e seguiu até lá, encontrando-a igualmente vazia. Ponderou um pouco e achou que só poderiam estar em um lugar : a planície congelada onde habitualmente treinava com o garoto. Vestindo roupas leves, dirigiu-se até o local. Catarina estava sentada em uma pedra, com Yakoff no colo, observando Isaac, que emitia uma saraivada de socos numa enorme geleira. Kamus deu um sorriso.
"Bom dia." – Kamus falou, sentando-se ao lado de Catarina.
"Bom dia, mestre Kamus !" – Isaac deu um grande sorriso e se aproximou de seu mestre.
"Voltou bem rápido, Kamyu."
"Sim, Catarina. Não gosto do calor da Grécia."
"Isso é algo fácil de perceber." – a mulher deu um sorriso enquanto o pequeno menino apertava-lhe as bochechas.
"Isaac, tenho uma novidade para você."
"E qual é, mestre ?"
"Daqui a mais ou menos uma semana chegará um novo garoto que quer se tornar um cavaleiro. Ele também se tornará meu aprendiz."
"Que bom ! Assim terei uma companhia para treinar. Espero que ele seja bom." – Isaac deu um sorriso.
"Não sei se o é, mas logo descobriremos." – Num gesto carinhoso, Kamus assanhou os cabelos do pequeno Yakoff.
- # - # -
Kamus estava de pé, no meio da planície congelada. Observava uma figura pequena que vinha se aproximando ao longe. A criança trajava poucas roupas, como ele mesmo, e andava de maneira desconfiada. Chegou suficientemente perto de Kamus.
"Então você se chama Hyoga e veio do Japão para se tornar cavaleiro ?" – Kamus fitou o garoto, sério.
"É." – o garoto estava meio afobado, não sabia como agir.
"Por que você quer fazer isto ? Para ficar mais forte ?" – Kamus sempre gostava de saber o que motivava os garotos a se tornarem cavaleiros. Continuava com um semblante sério.
"Tem um navio naufragado no mar da Sibéria." – Hyoga começou a falar, meio nervoso – "Minha mãe estava a bordo... A superfície do mar sempre está congelada. O barco vai ficar no fundo da geleira glacial para sempre... Com minha mãe lá dentro. Eu queria poder mergulhar e pegá-la."
"É por isso que você quer ser um cavaleiro ?" – Kamus estava mais sério.
"É." – o menino pareceu ainda mais nervoso com a postura do homem a sua frente.
"Então você vai morrer." – Kamus foi categórico.
"Hein ?" – o menino ficou perplexo diante das palavras secas de Kamus.
"Com tanta ingenuidade, mesmo que você se torne um cavaleiro, não vai sobreviver. Olhe lá, Hyoga." – Kamus apontou para as imponentes geleiras que se surgiam do chão e rasgavam os céus – "Aquelas montanhas são as geleiras eternas e estão intactas há milhares de anos. Elas jamais derreteram. Hyoga, se você pretende ser um cavaleiro, tem que ficar como as geleiras : tão fortes que nem o sol consegue derretê-las. Você entendeu ? Por mais poderoso que seja o inimigo, jamais deve perder o sangue frio. Aprenda a ser forte como as geleiras eternas da Sibéria, Hyoga !"
"Sim..." – o menino estava espantado diante do discurso de seu novo mestre.
"Agora acompanhe-me. Vou lhe apresentar seu companheiro."
Kamus saiu andando e Hyoga o seguiu. Depois de algum tempo, ambos divisaram a figura de um outro menino, maior e mais velho que Hyoga, treinando sozinho na imensidão congelada.
"Isaac, este é Hyoga. Ele vai treinar com você para ser cavaleiro." – Kamus colocou uma mão no ombro de Hyoga.
"Sim, mestre." – Isaac se aproximou do novato – "Oi, Hyoga. Eu me chamo Isaac."
"B-bom dia..." – Hyoga estava visivelmente tímido.
"O treinamento aqui é tão pesado que pouca gente agüenta muito tempo. Faz um ano que estou treinando com o mestre Kamus. Espero que você não fuja daqui a dois ou três dias, Hyoga. Não é, mestre Kamus ?" – Isaac olhou para seu mestre.
"Sim." – Kamus deu um sorriso.
Hyoga se soltou um pouco mais depois das palavras de Isaac e os três caíram na gargalhada.
- # - # -
Kamus estava sozinho com Hyoga no meio da planície congelada. O menino parecia devorar as palavras que seu mestre proferia com uma intensidade tal que lembrava um transe.
"Você entendeu, Hyoga ? O zero absoluto é a temperatura em que tudo se congela : - 273,15 ºC. É a temperatura em que cessa todo o movimento da matéria. Eu já lhe ensinei que todas as coisas são feitas de átomos." – Kamus olhava sério para seu novo aprendiz.
"Sim. As pedras, as flores e até mesmo meu corpo."
"Isso mesmo." – Kamus esboçou um leve sorriso – "Cada átomo efetua movimentos desordenados. A temperatura é uma medida que nos informa a intensidade desses movimentos." – Kamus se abaixou, pegou uma pequena pedra e ergueu-se em seguida – "Quanto mais movimento, mais alta a temperatura. Quanto menos, mais baixa." –começou a jogar a pedrinha para cima, recolhendo-a com sua mão – "Entendeu, Hyoga ? Se quiser congelar um objeto, é preciso conter o movimento de seus átomos."
Hyoga olhava para seu mestre impressionado. Kamus prosseguiu.
"Para destruir uma matéria, é preciso quebrar os átomos. Mas, para dominar as técnicas de congelamento, você precisa interromper o movimento dos átomos !" – Kamus segurou a pedrinha na mão e ficou sério. Elevou seu cosmo gradativamente – "Sim, Hyoga. Você precisa deter o caos utilizando sua energia cósmica !"
A pequena pedra ficou completamente congelada.
- # - # -
Kamus acordou em sua pequena casa. Percebeu que os dois garotos ainda ressonavam tranqüilos na cama e foi até a pequena cozinha. Preparou alguma coisa para os três comerem e abriu ligeiramente a janela. Estava caindo uma nevasca.
Voltou ao quarto e tirou o lençol de cima dos dois garotos que dormiam juntos numa cama um pouco maior. Os dois se encolheram de frio involuntariamente e começaram a acordar.
"Bom dia, garotos." – Kamus deu um ligeiro sorriso – "Vocês dormiram demais hoje. Arrumem-se, o café está pronto. Precisamos ir treinar."
"Bom dia, mestre Kamus." – os dois responderam num coro baixinho.
Retornou a cozinha e se sentou. Tivera um sonho particularmente estranho. Lembrava-se de estar em pé, no templo de Aquário, e que Miro entrava no local. O escorpiano se aproximava lentamente, segurava-o pelo pescoço e beijava com carinho. Porém as mãos dele começavam a apertar-lhe a garganta. Abria os olhos e via que Miro o beijava de olhos abertos e que duas grossas lágrimas escorriam destes. Assim, tudo virou um turbilhão escuro e acordou. Era a primeira vez que Kamus sonhara com a própria morte. O que aquilo significava ?
Os dois garotos sentaram-se à mesa, ainda sonolentos, e começaram a beber o café que Kamus preparara. A porta bateu três vezes e se abriu. Catarina entrou, com Yakoff agarrado em suas pernas, e uma sacola na mão.
"Bom dia, rapazes." – deu um sorriso – "Trouxe umas maçãs para vocês comerem." – Catarina colocou a sacola em cima da mesa.
"Hyoga !" – o pequeno Yakoff correu com o melhor que pôde e agarrou a perna do discípulo mais novo de Kamus. Este sorriu e afagou-lhe os cabelos.
"Ah, Isaac, acho que você foi trocado pelo Hyoga !" – Catarina comentou e todos caíram na risada – "Kamyu, você não pretende ir treinar com a nevasca que está lá fora, certo ?"
"Sinto muito, mas é necessário. Hyoga precisa aumentar de nível para iniciar os treinamentos junto com Isaac." – Catarina fez uma careta.
"Então que pelo menos vistam agasalhos ! Vocês são fortes, mas ainda são humanos !"
"Mestre Kamus, é melhor obedecer ou ficamos sem almoço..." – Isaac fez uma gracinha; todos riram.
"Tudo bem, Catarina. Farei o que me pede. Isaac, treine por aqui por perto mesmo e Hyoga, acompanhe-me."
Os três se levantaram e vestiram agasalhos e luvas; Catarina fez questão de fiscalizar para que todos estivesse bem confortáveis. Kamus e Hyoga andaram até um local mais afastado. Caía uma nevasca fortíssima.
"Hyoga, quero que treine socos no ar até quando eu mandar parar."
"Certo, mestre."
Hyoga obedeceu e Kamus ficou de pé, observando-o. Era nítida a diferença entre ele e Isaac no começo do treinamento. Isaac era muito melhor que Hyoga e tinha uma motivação justa. Estava cada vez mais claro em sua mente quem seria o futuro cavaleiro de Cisne. Depois de algumas horas, Hyoga desabou no chão.
"O que houve com você, Hyoga ? Temos que continuar o treinamento !" – Kamus falava num tom bravo – "Não é hora de dormir. Se você ficar aí parado, vai morrer de frio."
Hyoga não esboçara nenhuma reação. Kamus tinha certeza que Hyoga poderia se levantar sozinho e ficou irritado.
"Levante, Hyoga ! Senão você morrerá. Quer morrer ? Não quer mais rever sua mãe ?"
Kamus escolhera as palavras certas. Ao ouvir sua mãe ser citada, Hyoga se levantou com um pouco de dificuldade. Ficou de pé e recomeçou o exercício que Kamus mandara. Seu mestre ficou ligeiramente irritado – por que Hyoga não aplicava aquela determinação que tinha para lutar pela justiça ?
"Isso, Hyoga ! O cisne que voa sobre o mar da Sibéria continua a se mexer, mesmo dentro d'água. Para se tornar um cavaleiro, você tem que passar por inúmeros testes... Todos exaustivos."
Kamus viu o menino repetir o exercício mais algumas poucas vezes e tombar novamente. Estava começando a se preocupar com aquela criança que parecia ter tão pouca resistência.
"Hyoga ! Acorde ! Acorde, Hyoga !" – Kamus gritou.
O menino continuou com a cara enfiada na neve.
- # - # -
O tempo passava lentamente. Já fazia um ano que Hyoga havia chegado a Sibéria e seu progresso fora notável. Kamus tomava banho num tonel aquecido por lenha crepitante – o frio intenso do local impedia o funcionamento de qualquer coisa. Relaxava. Seus pensamentos fluíam de encontro ao Santuário. Tinha saudades dos treinos com Shaka, do templo de Aquário... Sentia falta até daquele calor peculiarmente infernal que fazia na Grécia ! "Devo estar doente... Sentir falta de calor ? Francamente...". Enxugou-se e se trocou. Ao chegar a sala, viu que seus dois discípulos conversavam animadamente.
"Não é verdade !" – Isaac bradava – "Não existe pessoas com poderes superiores aos dos cavaleiros do zodíaco !"
"Mas deve existir !" – Hyoga implicava.
"Estão tendo uma discussão animada, garotos !" – Kamus se sentou a mesa – "Deixe-me contar algo a vocês. Não é apenas Athena que possui seus cavaleiros. Outros deuses também os possuem e cada um tem seus próprios poderes. Nada impede que existam cavaleiros com poderes superiores aos do zodíaco de ouro. É isso que se deve manter em mente – sempre existirá alguém mais forte que você, então continue treinando."
"Não disse ?" – Hyoga deu língua para Isaac, que fez uma careta.
"E quem poderia ser mais forte que o senhor, mestre Kamus ?" – Isaac perguntou.
"Posso dar um exemplo. Nas terras do Graad Azul – onde existem as geleiras eternas – havia um vilarejo com guerreiros de força excepcional. Eles eram os Blue Warriors, os cavaleiros do gelo. Eram os guerreiros mais poderosos da mitologia nórdica. Seus punhos eram capazes de perfurar o céu e seus golpes arrasavam montanhas. Houve um período de frio extremo e o povo daquelas terras desapareceu há séculos."
"Eu não acredito que estes Blue Warriors(1) eram mais fortes que os cavaleiros de Athena !"
"Bem, eu não estava lá para saber, Isaac. Mas é o que dizem." – Kamus deu um ligeiro sorriso – "Vocês já terminaram de comer ? Quero ver os dois em combate."
"Sim, mestre Kamus." – os dois responderam em coro.
"Então vamos."
Os três saíram e foram até o habitual lugar de treinos. Kamus sentou-se numa pedra e ficou observando os dois garotos. Ainda era nítida a diferença entre ambos. Isaac atacava Hyoga com uma saraivada de socos e de chutes, e este mal conseguia se defender. Hyoga levou um chute que o deixou no chão; Isaac foi cordial e o levantou.
Kamus gostou de ver que existia amizade entre os meninos. Porém, luta era luta. O que Isaac acabara de fazer fora errado, mesmo em se tratando de treinamento. Fez uma anotação mental de repreender o garoto. Tornou a se lembrar da Grécia. O que raios estava havendo com ele hoje para estar tão nostálgico ? Estranhava-se profundamente.
- # - # -
Fazia quatro longos anos que Kamus residia na Sibéria.
As convocações do Santuário tinham se tornado cada vez mais freqüentes. Havia todo um clima de mistério ao redor do Grande Mestre e Kamus não gostava nada daquilo. Estava cada vez mais desconfiado de que algo estivesse fora do lugar e bagunças lhe eram intoleráveis. E lá ia ele em mais um vôo para a Grécia. Estava quase fazendo amizade com os comissários de bordo. De tão entediado, adormecera.
Sonhava. Estava de pé no templo de Aquário e via Miro entrar. Correu ao seu encontro. Miro o puxou e deu-lhe um beijo. Sentiu as mãos de Miro escorregarem de seus cabelos até sua garganta. Começou a sufocar. Abriu os olhos e cruzou com o olhar triste de Miro. Ambos choravam. Sua vista foi escurecendo lentamente até que acordou.
"Este sonho de novo ? Mas o que isso significa ? Acho que estou entediado demais para estar sonhando com besteiras... Afinal, por que eu estaria sonhando com alguém como Miro ? Ele está muito bem enterrado."
Continuou a viagem com um ar de tédio e aterrissou na Grécia algum tempo depois. Foi subindo lentamente o zodíaco dourado, apreciando um vento gostoso que batia em seu rosto e bagunçava seus cabelos. Admirava as estrelas, tão brilhantes naquela noite. Passou por Virgem e viu que a casa estava silenciosa. "Shaka deve estar no salão do Grande Mestre, para variar.". Continuou subindo e entrou em Escorpião, camuflando seu cosmo. A casa estava completamente escura, exceto por um pequeno feixe de luz vindo do interior. O único som que podia se ouvir era de um choro vindo da direção do quarto de Miro, assim como a luz que observara anteriormente, escapando da porta entreaberta. Mesmo contra o seu senso de educação, aproximou-se da porta do quarto e ficou ouvindo os resmungos de Escorpião. A curiosidade lhe fora fatal.
Viu que Miro estava sentado numa poltrona, de cabeça baixa. A janela estava aberta, permitindo que o vento soprasse dentro do aposento. Grossas lágrimas escorriam dos olhos do grego, enquanto resmungava baixinho.
"Kamus, seu idiota ! Por que você tem sempre que fazer as coisas do seu jeito ? Por que não pôde simplesmente me ouvir naquele dia, há alguns anos ? Há tanta coisa que eu queria que você soubesse..." – Miro aumentou o tom de voz – "Queria que você soubesse o quanto eu estava enganado. Queria que você soubesse que eu te amo ! Droga ! Eu fui mesmo muito estúpido..."
A voz de Miro falhou; soluçou compulsivamente. Afundou seu rosto nas mãos, deixando seus cabelos caírem pelo seu braço. Kamus estava estático do outro lado da porta. Pretendia sair dali, mas algo o impedia. Queria continuar a ouvir o que Miro tinha a dizer. Pressionou a maçaneta com força, mas sem movimentar a porta. Não queria que Miro soubesse de sua presença. Queria que o dono do templo de Escorpião fosse absolutamente natural.
"Milhares de vezes pedi ao Grande Mestre para ir até a Sibéria atrás de você." – Miro falou ainda com o rosto enterrado em suas mãos; sua voz estava abafada – "E ele não deixou, obviamente. Disse-me que não tinha nada a fazer lá. Ah, mas como eu tenho ! Vou fugir daqui, deixar meu posto, abandonar a minha vida para que você possa me ouvir e me perdoar..."
Miro levantou o rosto vermelho. Os olhos estavam vagos e inchados. O coração de Kamus estava prestes a saltar pela boca. Cortava-lhe o coração ver Miro daquele jeito. Viu o grego levantar-se da poltrona e se aproximar da porta; estava completamente desnorteado para sequer se mexer e se afastar dali. Não queria que ele o visse, pelo menos não ainda. Miro encostou-se na parede ao lado da porta e começou a socá-la; mal sabia ele que, se virasse seu olhar para o lado, veria Kamus.
"Apenas me diz o que eu posso fazer para ter você de volta para mim, Kamus... Estou tão desesperado sem ter você aqui, meu amor..." – mais lágrimas escorriam silenciosamente no rosto de Miro; Kamus prendeu sua respiração – "Sinto tanto a sua falta... Queria ouvir você me chamar de mon ami, pelo menos mais uma vez na vida... Mas queria mesmo que me chamasse de mon amour, porque não sei se consigo viver apenas com a sua amizade..."
Viu Miro se afastar da porta e se aliviou. Kamus tinha os olhos rasos d'água e estava extremamente pálido. O grego aproximou-se do som e o ligou. Encostou-se na parede enquanto uma melodia começou a soar e a inundar seu quarto. Abaixou seu rosto, deixando seus cabelos caírem em seu rosto.
"Volta para mim... Não me deixa aqui sozinho e perdido... Eu preciso tanto de você... Mas você está na Sibéria ! Simplesmente porque a sua racionalidade estúpida assim o quis !"
Uma voz feminina começou a cantar e Miro a acompanhou, baixinho(2) :
"Não me deixe em toda essa dor
Não me deixe fora, na chuva
Volte e devolva o meu sorriso
Venha e leve estas lágrimas embora
Eu preciso que seus braços me abracem agora
As noites são tão hostis
Traga de volta aquelas noites em que eu te abraçava do meu lado"
"Conserte o meu coração
Diga que você vai me amar de novo
Desfaça esta dor que você causou
Quando saiu por aquela porta
E saiu da minha vida
Acabe com estas lágrimas
Eu já chorei por muitas noites
Conserte meu coração, meu coração"
"Leve embora aquela triste palavra 'adeus'
Devolva a felicidade para a minha vida
Não me deixe aqui com estas lágrimas
Venha e me beije para que essa dor passe
Eu não consigo esquecer o dia em que você partiu
O tempo é tão hostil
E a vida é tão cruel sem você aqui do meu lado"
"Conserte o meu coração
Diga que você vai me amar de novo
Desfaça esta dor que você causou
Quando saiu por aquela porta
E saiu da minha vida
Acabe com estas lágrimas
Eu já chorei por muitas noites
Conserte meu coração, meu coração"
A música entrou numa parte instrumental. O choro de Miro era mais audível e mais forte. O grego apertava as próprias coxas como que pudesse tirar toda a sua dor interna neste gesto. A dor física era muito mais fácil de ser suportada.
"Kamus... Eu sei que fui idiota, agi igual a Amelie mesmo depois de saber de toda sua história com ela... Como eu queria que você estivesse aqui e pudesse me ouvir... Tenho certeza de que entenderia."
Miro chorou mais compulsivamente. Deslizou suas costas pela parede, sentando-se no chão frio. Voltou a acompanhar a música, agora num tom mais desesperado.
"Não me deixe em toda esta dor
Não me deixe fora, na chuva
Traga de volta aquelas noites em que eu te abraçava do meu lado"
"Conserte o meu coração
Diga que você vai me amar de novo
Desfaça esta dor que você causou
Quando saiu por aquela porta
E saiu da minha vida
Acabe com estas lágrimas
Eu já chorei por muitas noites
Conserte meu...
Conserte meu coração, oh baby
Volte e diga que você me ama
Conserte meu coração, meu querido
Sem você, eu simplesmente não posso continuar
Não posso continuar."
A música terminou. Automaticamente, a próxima faixa começou a ser executada e a melodia suave de Pathetique invadiu o quarto. Miro chorava convulsivamente, não tinha mais forças para exteriorizar seus pensamentos. Do outro lado da porta, um Kamus completamente estupefato estava de pé, sem saber o que fazer. Quando tomou o avião para vir ao Santuário, jamais esperou que fosse ouvir uma confissão daquelas. Seu coração batia descompassado e as pernas pareciam não obedecer ao comando de sair daquele local imediatamente.
A mente de Kamus travava uma terrível batalha. Sua racionalidade gritava para que ele saísse dali o mais rápido possível; sua emoção implorava-lhe para entrar e esclarecer os fatos com Miro de uma vez por todas. Lágrimas insistentes alisavam a face pálida do francês. "Afinal, ele sabia o que tinha se passado entre Amelie e eu ! Como pude achar que não soubesse ? Claro, foi por isso que chegou aquele dia todo choroso... O dia em que me perdi mais ainda dentro de um sentimento confuso chamado amor.". Finalmente tomou uma decisão. Enxugou suas lágrimas e soltou a maçaneta, virando-se em direção ao templo de Sagitário. Sim, sua racionalidade havia falado mais alto, como sempre. Seu amor estava morto. Mas talvez não tivesse sido enterrado tão bem quanto ele pensava.
Kamus subiu com toda a velocidade que pudesse ser associada à discrição de passos silenciosos. Agradeceu mentalmente por não cruzar com Shura pelo caminho e entrou em Aquário num rompante. Seguiu em direção a cozinha e abriu a geladeira. Sua garganta estava completamente seca. Pegou o primeiro conteúdo líquido que encontrou – uma garrafa d'água – e bebeu seu conteúdo até a metade. Sua cabeça estava um verdadeiro turbilhão e ainda não sabia o que fazer. Então lembrou-se do real motivo de estar na Grécia : precisava ir falar com o Grande Mestre.
Foi até o quarto e se olhou no espelho. Seus olhos estavam ligeiramente vermelhos, assim como a ponta de seu nariz. Lavou o rosto e o enxugou. Voltou a se admirar e viu que a aparência melhorara. Penteou os cabelos e vestiu sua armadura sagrada. Voltou a subir as escadarias. Ao chegar no salão principal, observou que Shaka também estava presente, como previra. Curvou-se num gesto respeitoso e ouviu a voz grave do representante de Athena diante de si.
"Seja bem vindo, Kamus de Aquário."
"Muito obrigado, Grande Mestre. Boa noite, Shaka."
"Boa noite, Kamus." – Shaka deu um pequeno sorriso.
"Desculpe-me por te fazer vir até a Grécia tão freqüentemente." – Kamus fez um gesto mudo de 'tudo bem' – "Preciso monitorar estes garotos da Fundação Kido diretamente. Há um deles aqui e está sendo treinado por Marin de Águia."
"Hyoga é um menino que tem ótimas aptidões para se tornar um cavaleiro, como já havia lhe dito antes, Grande Mestre. Porém fica cada vez mais evidente que Isaac merece a armadura. A diferença entre os dois é a do ideal que os move : Isaac luta pela justiça; Hyoga apenas quer retirar o corpo da mãe do fundo do mar. Pensei que, com o passar do tempo, isso se modificaria dentro dele, mas vejo que me enganei."
"Lutar por motivos pessoais é imperdoável." – Shaka completou.
"Exatamente, Shaka." – a voz do Grande Mestre ecoou – "Kamus, o menino apresentou alguma particularidade ou disse algo a respeito das armaduras ?"
"Não. Quanto à Mistumasa Kido, o garoto apenas me revelou que ele era seu pai."
"Pai ?" – Shaka se admirou – "Mas estas crianças não eram órfãs ?"
"Não. Descobri posteriormente que todos os cem garotos são filhos de Mistumasa Kido(3). Porém, ao que parece, o falecido não queria que os garotos soubessem, tratando-os como órfãos." – o Grande Mestre se pronunciou.
"Devo tomar alguma medida em especial ?"
"Não. Quero apenas que continues a treinar o garoto. Já que ele possui um potencial, quem sabe a luz de Athena não o desperte para a justiça ?"
"Tudo bem. Grande Mestre, tenho algo a lhe falar sobre as terras do Graad Azul."
"Sim ?" – a voz do Grande Mestre soou interrogativa.
"Tenho notado uma recente movimentação naquelas áreas."
"Mas como ? Todos os habitantes de lá não morreram num período de frio intenso ?" – Shaka interveio.
"Pelo visto, acho que nem todos morreram. E posso incluir os Blue Warriors neste meio."
"Continua observando, Kamus. Caso notes uma maior perturbação, comunica-me imediatamente. Se os Blue Warriors realmente sobreviveram, precisaremos entrar em diplomacia com eles e creio que tu sejas o mais indicado a fazê-lo."
"Tentarei o meu melhor, mas não tenho disponibilidade de ir até aquelas terras."
"Tudo bem. Agora tenho um pedido a lhe fazer."
"Sim ?"
"Kamus, eu quero que retornes à Grécia."
"Perdão ?" – Kamus não entendeu.
"Sinto uma conspiração crescente ao meu redor. Preciso de todos os cavaleiros de ouro no Santuário. Já enviei cartas a Áries e a Libra, mas ambos precisarão de algum tempo."
"Eles sempre estão ocupados quando são convocados." – Shaka soltou um comentário nada discreto.
"Sinto, Grande Mestre, mas não posso abandonar o treinamento daqueles garotos. Não seria justo." – uma onda de pânico percorreu o corpo de Kamus.
"Dar-te-ei algum tempo. Pense bem antes de me dar uma resposta. Agora podes ir."
Kamus fez uma nova reverência e saiu. Aquele súbito pedido do Grande Mestre o surpreendera. Voltar para a Grécia estava fora de cogitação, ainda mais depois daquilo que acabara de ouvir. Não podia voltar para perto de Miro. Ou simplesmente não queria ? Ouviu passos calmos atrás de si e os reconheceu. Era Shaka que o acompanhava.
"Você hoje está mais pálido que o costume, Kamus." – Shaka se apressou e posicionou-se ao seu lado.
"Impressão sua, meu amigo."
Shaka riu-se
"Não acho que seja impressão minha... Você tem certeza de que não quer conversar ?"
"Aonde ? Na porta do templo de Peixes ?"
"Que tal o templo de Aquário ?"
"Não sei, Shaka..."
"Se pensa tanto, então realmente tem algo que quer me contar."
"Você e suas deduções apressadas."
"Você e suas críticas."
Os dois riram. Kamus finalmente soltou um pouco da tensão que tomava conta de si. Sentia falta da companhia de Shaka enquanto estava na Sibéria; o virginiano era muito parecido consigo e sempre mantinham conversas agradáveis. Chegaram ao templo de Kamus com um clima amistoso no ar. Entraram.
"Kamus, não vou me demorar por aqui. Tenho de fazer minha meditação noturna e dormir, amanhã terei um longo dia."
"Sem problemas. Então é melhor nos despedirmos, volto para a Sibéria amanhã cedo."
" Como você agüenta viver nesta ponte aérea ? Eu viria com minhas próprias pernas !"
"A viagem é cansativa, mas pelo menos é tranqüila. Finalmente fico sossegado para colocar os pensamentos em ordem."
"É, acho que realmente você precisa colocar seus pensamentos em ordem."
"O que quis dizer ?"
"Nada... Apenas que tem alguém por aqui muito cabisbaixo e arrependido. Alguém que merecia ser ouvido ao invés de receber punições constantes."
"Shaka... Este assunto morreu para mim."
"Se é o que você diz... Boa noite e boa viagem, Kamus."
"Boa noite."
Kamus ficou observando Shaka até a vasta cabeleira loira desaparecer nas escadarias cinzentas. As palavras do virginiano ecoavam em sua mente. Será que realmente deveria dar uma chance a Miro para se explicar ? Ou melhor, será que Miro precisava se explicar depois de tudo aquilo que ouvira mais cedo ? Kamus não sabia o que fazer. Aquela situação lhe era completamente nova e temia tomar uma atitude precipitada. Afinal, era muito melhor continuar com sua dor atual do que ter falsas esperanças e levar um tombo muito pior depois.
Entrou no quarto e tirou sua armadura. Vestindo apenas uma calça fina – o calor da Grécia ainda continuava insuportável para seu corpo – deitou-se na cama com os braços por trás da cabeça. Lembrou-se de quando toda aquela loucura começara, assim que pôs os olhos em Miro pela primeira vez, há alguns anos. Aquele grego insuportavelmente sedutor o cativara desde o primeiro momento. Daí fora apenas mais um passo que levara a Kamus se perder num turbilhão de sensações até então desconhecidas – os sentimentos. O que sentira por Amelie não havia passado de um leve interesse; jamais se compararia ao que sentira por Miro. Aquele fogo que o consumia por dentro toda vez que o via com outra pessoa; aquele calor que o devorava toda vez que o grego sorria para si.
'Agora eu vou te mostrar porque tenho fama de conquistador...'
Um doce sorriso adornou os lábios do francês. A suave lembrança daqueles momentos íntimos ainda provocava um rubor em suas faces alvas. Mas então aflorava toda a sua cólera. Aquele canalha tinha de se deitar com as servas ! A natureza era implacável. Uma vez patife, sempre patife. Quem lhe garantia que Miro não tivesse outros amantes ? Shaka ? Não, ele não conhecia a vida íntima daquele homem. Quem faz uma vez, faz duas vezes. Três, quatro, cinco. Simplesmente não conseguia confiar seu coração nas mãos de Miro novamente.
- # - # -
Kamus entrou na casa de Catarina como um raio. A mulher estava alimentando Yakoff quando se assustou com o barulho causado por Kamus. Virou-se e viu que o rapaz tinha precipitado-se até a janela meio aberta, olhando vagamente a paisagem congelada.
"Kamyu ?" – limpou o rosto do pequeno e seguiu até a janela.
Kamus não respondeu ao chamamento.
"Kamyu, o que está havendo ?"
O francês pareceu despertar de um transe; virou-se e deu de cara com Catarina encostada à parede perto de si. Deu um sorriso fraco.
"Nada."
"Não tente me enganar. Você nunca foi bom nisso comigo."
"Não aconteceu nada de importante." – fechou a janela e encostou-se à parede também.
"Se não fosse algo importante, tenho certeza de que não estaria com esta cara amarga. Qual é o duelo que se passa dentro de você, querido ?" – pousou sua mão no ombro esquerdo de Kamus.
As palavras carinhosas de Catarina foram suficientes para que Kamus reentrasse num estado de transe macabro. Seus olhos fitaram a parede do outro lado da casa e tornaram-se opacos; suas sobrancelhas se descontraíram e seus lábios ficaram entreabertos, soltando um pouco de seu hálito que formava uma fumaça fantasmagórica em contato com o ar frio do ambiente.
Catarina assustou-se; nunca vira Kamus daquela forma. Era a primeira vez que via estampada nitidamente no rosto daquele homem a terrível batalha que se passava constantemente dentro de seu ser. O silêncio pesava mais que palavras rudes. Ia se pronunciar quando notou que ele preparava-se para dizer algo.
"Catarina, o que é ser amado ?" – sua voz saiu frouxa.
"Kamyu, não entendo a sua pergunta." – franziu as sobrancelhas – "Você não sabe o que é ser amado ?"
"Receio não saber... Nunca conheci meus pais e vivia num orfanato na França até os seis anos. Ninguém lá parecia se importar se estávamos vivos ou não; se éramos felizes." – um brilho estranho perpassou pelos olhos dele – "Então fui levado por meu mestre até aqui. Pensei que poderia conhecer o amor paterno, mas tudo o que recebi foi rispidez e arrogância. Meu mestre sempre me dizia para não me deixar levar por sentimentos arrebatadores; eles sempre me levariam em direção à morte."
"Seu mestre era louco. Como alguém pode dizer tais palavras a uma criança que nem sequer conheceu os pais !" – Catarina estava horrorizada.
"Conheci Amelie. Pensei ter encontrado um carinho especial, mas me vi enganado. Amaldiçoei os momentos em que não ouvi meu mestre e acabei por fugir daqui. Não poderia encará-lo depois de ter desrespeitado seu princípio mais fundamental. Segui até a Grécia... Que erro !"
"Erro ? O que aconteceu na Grécia, Kamyu ?" – Catarina afagou-lhe os cabelos.
"Foi um erro terrível..." – dizia mais para si do que para a mulher – "Eu não devia ter pisado naquele Santuário um dia sequer em toda a minha vida. A última coisa que me poderia ter acontecido foi ter conhecido aquele homem." – franziu as sobrancelhas – "Fez-me perder a minha racionalidade... Como pude me deixar envolver de tal forma !"
"Kamyu, quem é este homem ?" – preocupava-se cada vez mais.
Kamus não respondeu. Suas sobrancelhas estavam cada vez mais franzidas, até que finalmente fechou seus olhos e algumas lágrimas caíram. Mordeu os próprios lábios violentamente, deixando um ralo filete de sangue entrar em sua boca. Afundou suas mãos em seus cabelos, na altura das têmporas, e abaixou a cabeça. Os cabelos caíram-lhe pelo rosto e, numa tentativa frustrada de arrancar suas lembranças, balançou convulsivamente a cabeça para os lados.
Catarina ficou sem reação. Assistiu assombrada a tudo e simplesmente não sabia o que fazer. Viu Kamus deslizar vagarosamente pela parede e sentar-se no chão, com os joelhos flectidos, e apoiar sua testa nos mesmos. Apiedou-se e foi ter junto a ele. Afagou-lhe os cabelos de maneira maternal.
"Meu pequeno, conte-me o que houve." – sussurrou no ouvido do rapaz.
"Aquele maldito... Infectou-me com sua volupté e me fez perder a cabeça... Fez-me conhecer a désolation e deixou-me com raiva de mim mesmo ! Por que fui tão ingênuo a ponto de me deixar levar por ele ?"
Kamus falava de maneira autista, balançando-se freqüentemente. Catarina estava cada vez mais assustada; sacudiu freneticamente os ombros do francês, forçando-o a olhar-lhe nos olhos. Então percebeu a dor que se passava naquele ser tão frágil prostrado à sua frente. O amor lhe era o mais terrível dos venenos.
"Kamyu, ouça-me !" – o rapaz olhou morbidamente em seus olhos – "Amar é algo maravilhoso ! Como você simplesmente não percebe isso ? O amor é o antídoto, não o veneno."
"Non, o amour é o veneno daquele escorpião maldito que acha que pode ter todo o mundo a seus pés ! A sua beauté non lhe dá o direito de estraçalhar os corações alheios ! Ele non tinha o direito de ter me usado como fez... E ainda se julgava meu melhor ami !" – Kamus gritava com todas as forças de seus pulmões; Yakoff assustou-se, mas era grande o suficiente para saber que não deveria chorar num momento daqueles.
"Ele te usou ?"
"Oui ! Foi para a cama comigo apenas para que meu nome figurasse em sua lista de conquistas ! Deitou-se com duas mulheres depois e disse que nada havia acontecido ! Agora vem me dizer que está arrependido, que me ama... Se me amasse, não teria feito o que fez !"
"Kamyu, este rapaz se declarou para você ?"
"Oui." – Kamus tinha os olhos vermelhos e os cabelos bagunçados.
"Finalmente deve ter percebido o que sentia por você ! Vocês conversaram a respeito do ocorrido ?"
"Non."
"Não ? Mas como não ?" – Catarina irritou-se – "Se você o ama e sabe que é correspondido, por que não deixou tudo em pratos limpos ?"
"Não quero me envolver com alguém que já me feriu uma vez. Além do mais, devo seguir os conselhos do meu mestre. O amor é um pecado mortal."
A mão de Catarina produziu um sonoro tapa na bochecha esquerda de Kamus, que deixou ser acertado. O ferimento dos lábios dele reabriu, fazendo-o sentir novamente o gosto metálico do sangue. A mulher arfava de raiva, tentando se controlar. Mirava o rosto virado do francês.
"Nunca mais ouse repetir uma atrocidade destas ! – gritou – Você deveria ter recebido este tapa há muito tempo. Pare de tentar ser algo que não é ! Seu corpo é mortal como o de qualquer outro. Você não é nenhuma exceção : tem sentimentos como qualquer outro ser vivente no universo. Agora deixe de pensar asneiras ! Deve resolver esta situação com este rapaz de uma vez por todas !"
Kamus virou novamente o rosto para Catarina e falou entre os dentes.
"E acha que é fácil acordar todos os dias se sentindo sozinho e saber que a pessoa que você ama está longe e te corresponde ? Acha que é fácil estar na minha posição, onde simplesmente não posso me levar por frivolidades sentimentais, mesmo sabendo de tudo isso ? Você acha que é muito simples para mim o fato de continuar vivendo ? Eu não posso atirar pela janela tudo o que construí com seis anos de treinamento árduo. Não posso me envolver com ele."
Outro sonoro tapa acertou a bochecha direita de Kamus.
"Você ainda precisa aprender o que é viver ! Só tem dezoito anos, tem toda uma vida pela frente ! Não fale como se tivesse cinqüenta anos e uma bagagem cheia de experiências. Você mal saiu das fraldas ! O amor é um sentimento lindo, Kamyu. Eu não vivo simplesmente porque eu nasci. Vivo pelos meus sonhos, pelo amor que devoto ao meu filho querido. Viver só por viver é algo obtuso."
Kamus recomeçou a chorar; Catarina o abraçou maternalmente.
"Você ainda tem muito o que aprender... E precisa começar pelo perdão."
Continua...
- # - # -
N/A : Capítulo muito interessante de se escrever. Passei semanas ouvindo esta música e me inspirando para escrever algo decente, mas creio não ter conseguido transmitir toda a carga sentimental que desejava. Às vezes tenho muita raiva quando isso acontece. O capítulo acabou ficando maior que o normal – simplesmente não consegui dividi-lo em dois porque um deles ficaria completamente sem graça ! Bem, só espero que continuem gostando.
Peço desculpas pela demora na postagem – tive provas na faculdade e estava estudando muito ! Agradecimentos especiais a todos os leitores – jamais pensei que fosse ter 70 reviews ! – independentemente de deixarem ou não reviews. Agradecimentos especiais a Kitsune Youko (muito obrigada pelo aviso, dei uma revisada e consertei os problemas), Anne, Ilia-chan, Calíope, Litha-chan (muito obrigada pela review ! E o Miro foi muito baka mesmo...), Perséfone-san (tirei da ordem alfabética !), Celly (emocionei-me quando você disse que chorou, de verdade), Mu e Shaka 4ever, Thami-chan (muito obrigada !) e Dark Faye (igualmente agradecida e seja bem vinda !)
Notas :
(1) Para quem não leu o mangá : a saga de Hilda não existe originalmente. Foi inspirada num pequeno conto sobre o Hyoga, donde aparecem os Blue Warriors.
(2) A música cantada por Miro é "Un-break my heart", da Toni Braxton. Devido a resolução deste site, a letra da música foi mutilada. Mas, como a cena só existiria com a música, me vi obrigada a deixar a tradução. Espero não ter problemas.
(3) Aos desavisados, não se assustem ! Lembrem-se de que estou escrevendo a partir do mangá : lá, todos eles são realmente filhos do velho garanhão.
