Beijos Desequilibrados
Capítulo XIV – Recomeço
Disclaimer : Por que, quando o Mu ergueu a Crystal Wall, Máscara da Morte e Afrodite simplesmente não deram a volta e passaram para o outro lado ? Afinal, a parede não iria contornar a Terra inteira, certo ?
Saint Seiya pertence a Masami Kurumada, Toei Animation, etc. Sou apenas mais uma maluca que se aproveita dos coitados dos cavaleiros... '
Amelie Bertaux, Althea, as gêmeas, Lótus, Catarina e Joseph são criações minhas.
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Kamus estava em pé na imensidão de uma planície congelada.
À sua frente, vislumbrava o mar congelado. Em suas costas, um tanto distante, encontrava-se a parede de gelo eterno. O céu estava completamente nublado. Sentia a solidão o consumir por dentro.
"Você está sozinho porque quer. Será que precisa levar mais um tapa para aprender o que deve fazer ?"
"Catarina ?" – Kamus divisou a mulher a seu lado, mas ela logo desapareceu.
"Lembre-se da promessa que me fez, Kamus-sama."
"Althea ?" – a garota se dissipou em seu outro lado.
"Mestre... As escolhas que fazemos decidem o nosso futuro. Tudo depende unicamente de você."
"Isaac !" – viu o antigo discípulo sumir gradativamente no mar congelado, ao mesmo tempo que gesticulava :
"Tenho saudades de você, mestre."
Caiu de joelhos no chão e abaixou a cabeça. Sentiu-se novamente só, perdido num horizonte sem grandes perspectivas. Afinal, tudo dependia de si, não é mesmo ? Então os dados já tinham sido lançados e as conseqüências já lhe eram sentidas. Uma mão apertou-lhe o ombro; virou-se para encarar o dono dela.
"Você sabe que eu posso te salvar. Minha mão já está estendida, você apenas precisa segurá-la com firmeza. Faça isso rápido, antes que todas as pontas da vida se atem..."
Miro estava de pé, com um sorriso no rosto e a outra mão estendida. Kamus esticou seu braço para tocá-lo, mas parecia não conseguir alcançá-lo nunca.
Batidas na porta de seu quarto o tiraram de seu sonho.
"Kamus-sama ! Shaka-sama está aqui e disse que era urgente !"
"Diga-o para esperar um pouco."
Levantou-se um tanto sonolento e seguiu até o banheiro. Tomou um banho frio para acordar e vestiu sua armadura. Encontrou Shaka sentado em sua mesa, comendo.
"Bom dia, Shaka. A que devo a honra de sua visita ?"
"Bom dia, Kamus. Fomos convocados pelo Grande Mestre agora pela manhã. Acho melhor você se apressar."
"Meu café está bom ?" – sentou-se e perguntou, ironicamente.
"Está sim. Esta menina cozinha muito bem." – olhou para Kamus – "E você anda precisando de umas folgas... Está treinando muito. Pena que o Grande Mestre cancelou aqueles descansos que nos dava..."
"Não sabia que você era tão folgado."
"Coma logo, não quero me atrasar."
Kamus estava sem fome e não se demorou muito. Subiram as escadarias, notando que o templo de Peixes estava vazio. Apresentaram-se perante o Grande Mestre, que estava sentado em seu trono, como de praxe.
"Bom dia, Shaka e Kamus."
"Bom dia, Mestre." – os dois responderam num coro baixo, fazendo uma pequena reverência.
"Serei muito prático com vocês. Shaka, preciso que vá até a Ilha da Rainha da Morte. Finalmente chegou o dia em que os cavaleiros negros deverão receber sua punição por manchar a honra de Athena."
"Tudo bem, Mestre."
"Kamus ?"
"Sim ?"
"Quero que você consagre seu discípulo mais novo como cavaleiro de Cisne."
"Mas Grande Mestre... !"
"Creio que vocês devem ter ouvido falar do "Torneio Intergaláctico" que está sendo realizado no Japão pela neta de Mistumasa Kido."
"Aquele torneio é uma afronta direta à Athena !" – Shaka interveio – "Lutar por motivos pessoais, apenas para fazer uma demonstração de força perante a população leiga é contra os princípios dos cavaleiros !"
"Exatamente. Creio que, depois de todos estes anos, finalmente entendemos o motivo que levou Kido a enviar seus filhos pelo mundo. Era tudo planejado para o exibicionismo de sua fundação. Quero que Hyoga vá até o Japão e elimine todos os cavaleiros envolvidos neste tal torneio."
Kamus se incomodou com tal ordem; algo lhe dizia para jamais dizer a Hyoga sobre a localização da armadura de bronze.
"E quanto a armadura de ouro de Sagitário que eles dizem possuir ?"
"A armadura não encontra-se em sua formação original; logo, é falsa. Não nos incomodemos com ela. Apenas repasse as ordens a Hyoga."
Ambos saíram do salão depois de uma última reverência. Kamus ainda estava estático com a última ordem. Para que entregar a armadura de bronze a Hyoga quando se podia enviar um cavaleiro de prata para realizar tal serviço ? Chegou em seu templo e viu Shaka partir para o destino que lhe fora dado. Entrou no quarto e pegou um papel e uma caneta. Escreveu uma carta a Hyoga.
Hyoga,
Depois deste ano que passamos sem trocar notícias, finalmente te escrevo. O Grande Mestre se decidiu por abençoá-lo como cavaleiro de Athena sob uma condição : você deve partir imediatamente para o Japão e eliminar todos os cavaleiros de bronze envolvidos com o Torneio Intergaláctico.
Estes cavaleiros estão lutando por motivos pessoais e, assim, mancham a honra da deusa Athena. Não importa que tenham sido seus companheiros de infância; lembre-se que sentimentalismos só nos levam à desgraça. Eu continuo não concordando em lhe dar tal armadura, mas ordens são ordens. Aproveite esta oportunidade para fazer com que a morte de Isaac não tenha sido em vão. Honre-o, tornando-se um digno cavaleiro de Athena em seu lugar. É a sua chance de me provar que você é capaz disso.
Lembre-se : você não pode abortar esta missão. Deixar os outros vivos implica numa rebeldia ao Santuário e a pena de morte se estenderia até você também. Não me decepcione mais uma vez, Hyoga. A armadura de Cisne encontra-se presa na parede de gelo esterno. Se você for capaz de abalá-la, será digno de possuir a armadura.
Kamus de Aquário.
Deixou a carta seguir seu destino ainda receoso se aquilo era realmente certo. O Grande Mestre lhe parecia cada vez mais suspeito... Sentia que tinha algo errado, mas não conseguia descobrir o que era. Precisava se distrair.
Vestiu sua armadura e desceu as escadarias em direção as arenas. Fazia algum tempinho que não treinava com alguém, apesar de já estar na Grécia há seis meses. Como Shaka, seu habitual companheiro de batalhas, estava fora, ponderava na possibilidade de treinar com Shura. Chegou a seu destino e percebeu um pequeno reboliço. Todos os cavaleiros de ouro que estavam no Santuário se encontravam naquele local. Viu um Aldebaran animado acenar para si e chamar seu nome. Mas também não pôde deixar de notar o olhar de raiva de Miro para si.
"Ora, Kamus resolveu aparecer !" – Shura se aproximou – "Não pensei que se misturasse à ralé."
"Eu nunca disse isso, Shura."
"Mas pensou. E aí, quer treinar conosco ? Máscara da Morte não está e temos um número ímpar de cavaleiros..."
"Não é uma má idéia. Vocês já sortearam as duplas ?"
"Sim."
"E quem é o meu parceiro ?"
"Eu." – a voz mal-humorada de Miro soou nas arenas.
Kamus fitou-o com indiferença. Aquele olhar raivoso o abalava por dentro... Será que aquele treinamento ajudaria a melhorar aquela situação ou só a tornaria ainda pior ?
"Vamos então ?" – falou indiferentemente a entonação do outro.
Ambos subiram na arena. Kamus prendeu o cabelo num rabo de cavalo alto e tirou sua armadura. Todos os outros cavaleiros estavam ansiosos por saber o desfecho daquela luta. Afinal, era do conhecimento de todos que havia um certo clima entre Escorpião e Aquário. Ao notar que todos os olhavam, Miro falou, raivoso.
"O que estão esperando para treinar também ? Isso aqui não é um espetáculo !" – amarrou o próprio cabelo.
Os dois se entreolharam. Pareciam que iam se matar só com tal gesto. Miro, sem aviso, desapareceu no ar, surgindo repentinamente do lado de Kamus. Tentou desferi-lhe um chute no rosto, mas teve sua perna agarrada. O francês desequilibrou-o com uma rasteira e desferiu um outro chute, girando o próprio corpo, na barriga, arremessando-o a alguns metros. O grego conseguiu cair de pé, arfando.
De ódio.
Desferiu insanamente socos e chutes, na tentativa de que ao menos um acertasse a cara de Kamus. Inutilmente. Cego de raiva, Miro tornou-se um alvo fácil, recebendo um soco no estômago. Cambaleou para trás, apoiando-se nas cordas. Não seria mais humilhado por aquele homem que estava na frente. Desapareceu no ar.
"Continua rápido... Essa é uma boa vantagem dele.". Kamus acabou se distraindo por um breve segundo, lembrando-se da carta que enviara a Hyoga. Foi a chance que o grego teve de agarrá-lo por trás, pelo pescoço, sufocando-o. Miro apertava demais o pescoço do francês, numa tentativa louca de matá-lo. Kamus sentia o ar fugir exponencialmente e sabia que deveria fazer algo; encravou suas unhas nos braços de Miro, arrancando-lhe um resmungo e forçando-o a se afastar.
"Seu francês sádico..." – Miro resmungou baixinho.
Ao ouvir tais palavras, fora inevitável a Kamus se lembrar de algo muito parecido que ocorrera há seis anos.
- # Flashback # -
Sentira Miro lhe prender pelo pescoço. Aquele corpo quente, os arranhões que recebia de Miro... Tudo aquilo o estava tirando do sério. Seu corpo começara a reagir de um maneira que não gostaria que o outro percebesse e, num gesto desesperado, encravou suas longas unhas no braço do grego, abrindo grandes feridas. Viu Miro dar um grito de dor e se afastar, saltando longe. Sentiu seus cabelos caírem pelos ombros.
- Seu francês sádico !
- Sádico ? Isto é luta corpo a corpo. E você não falou nada sobre as minhas unhas... – Kamus lambeu os seus dedos melados com o sangue daquele homem que o enlouquecia.
- # Fim do Flashback # -
Como gostaria de poder voltar aquela época... Mas foi arrancado de suas lembranças por um chute em cheio em seu rosto, do lado esquerdo, que o levara ao chão. Sentiu o gosto metálico de sangue na boca e não pôde deixar de sorrir. Lembrara-se de um filósofo grego antigo, Heráclito : "Nós entramos e não entramos no mesmo rio, somos e não somos.". Não é que a teoria de Heráclito poderia estar realmente certa ?
Miro desferiu aquele chute como se sua vida dependesse daquilo. Na verdade, era a sua dignidade que dependia. Todo o seu ódio se dissipara com tal ato e agora o grego apenas encarava, confuso, o francês que levava um grande chute e ria. Aproximou-se de Kamus e lhe estendeu a mão.
"Vamos, levante-se. Acho que esse chute não fez bem ao seu juízo."
Kamus segurou a mão que lhe fora oferecida e se ergueu.
"Quer continuar o treino, Miro ?"
"Não. Você anda muito distraído, assim não tem graça."
O francês sorriu novamente. Será que ele estava imerso num grande déjà vécu ?
"Tudo bem, então. Mas acho que você precisa de umas ataduras."
"E você, de gelo. Espere um instante."
Kamus seguiu até um rochedo e se sentou. Miro havia dito que ele precisava de gelo ? Viu, com estranhamento, o grego se aproximar com um saquinho de gelo na mão e um rolo de ataduras. Sentou-se a seu lado.
"Tome o gelo e coloque em seu rosto. Use seu cosmo para fazê-lo não derreter."
"Obrigado, Miro, mas não precisava."
Kamus flectiu o joelho esquerdo, apoiando o cotovelo nele. Colocou o saquinho na mesma mão e o pressionou contra a bochecha machucada. Observava atentamente o grego se enfaixar com cuidado. Ao terminar, o grego lançou-lhe um olhar calmo.
"Quer conversar sobre alguma coisa, Kamus ? Você não parece muito bem hoje."
Aquela pergunta o pegara de surpresa. Miro ainda se preocupava com a sua pessoa ?
"Você não acha que o Grande Mestre anda estranho ultimamente ?"
"Sim, acho. Parece que deixou de se preocupar com o bem-estar da população do vilarejo, interessando-se por força física... E Máscara da Morte anda saindo constantemente. Isso é tudo muito esquisito."
"Máscara não é um homem digno de muita confiança. Mas acho que o Santuário não deve estar envolvido. Afinal, Shaka foi enviado até a Ilha da Rainha da Morte para eliminar os cavaleiros negros."
"É um bom ponto. Mas o que é que te aflige tanto ?"
"Ah, Miro... É Hyoga, meu discípulo."
"Seu ex-discípulo, você quis dizer."
"Não... O Grande Mestre mandou-me entregar a armadura de bronze a ele em troca da eliminação dos outros cavaleiros de bronze envolvidos no Torneio Intergaláctico."
"O que ?" – Miro assustou-se – "Como ele pôde fazer algo deste tipo ? Entregar a armadura a uma pessoa não completamente qualificada só para matar meia dúzia de cavaleiros incompetentes é um absurdo ! Por que não enviou um cavaleiro de prata ?"
"Foi exatamente isso que me perguntei... Mas acabei obedecendo. Só que tenho um péssimo pressentimento em relação a isso. É como se algo gritasse dentro de mim para que nunca deixasse aquele menino receber a honraria."
"Acha que ele pode se tornar maligno ?"
"Não. Apenas sinto que é algo que trará muito sofrimento."
"Relaxe e aguarde os acontecimentos. Não tome decisões antes da hora. E não escolha por ninguém. Sabe, estava com saudades de conversar assim com você... Fazia uns seis meses, acho."
"É verdade. Antigamente costumávamos conversar todos os dias... Por que você não almoça lá em casa hoje ? Poderemos colocar os assuntos em dia."
"Se não for nenhum incômodo..."
Kamus sorriu.
"Eu estou fazendo dieta. Tem certeza ?"
Miro fez uma careta.
"Tudo bem... O que não fazemos por uma amizade ?"
Subiram juntos as escadarias sob os olhares atentos dos outros cavaleiros de ouro. Kamus sentia-se mais leve; a amizade que cultivava com Miro era importante demais para que suas atitudes a desmanchassem. Era muito bom saber que o grego compartilhava este pensamento.
Conversaram animadamente sobre as mais variadas frivolidades, sem nunca tocar no "assunto proibido". Discutiram sonhos antigos sobre como seria a vida deles caso não fossem cavaleiros. Era incrível como um leque de opções poderia ter sido aberto diante dos olhos deles ! Chegaram até o templo circular.
"Mas eu acho que, mesmo assim, não iria querer ter tido outra vida." – Miro entrou e se sentou no sofá.
"Por quê ?" – Kamus o acompanhou.
"Simplesmente porque, se eu não fosse cavaleiro, nunca teria conhecido vocês. O Aioria talvez, mas não o Shura, Aldebaran, Afrodite, Shaka... E nem você." – completou, receoso.
"De fato, nunca teria saído da França. Bem, acho que é um ponto muito positivo nisto tudo." – sorriu.
Miro teve ímpetos de abraçá-lo, mas foi impedido a tempo pela serva que entrou na sala.
"Kamus-sama, a refeição está pronta."
"Muito obrigado. Vamos ?" – olhou para Miro.
Não respondeu, apenas o seguiu. Entrou na sala de jantar e se sentou; encontrou uma vasilha cheia de líquido amarelo fumegante e franziu as sobrancelhas.
"Avgolemono(1) ?"
"Eu avisei que estava de dieta..."
"Acho que você quer desaparecer ! Pensei que estava brincando !"
Kamus riu.
"Agora não reclama e come. Sei que você gosta."
"Gostar, eu gosto. Mas esperava algo mais "consistente" para almoçar ! Nem que fosse gyros, como de uma outra vez !"
O francês ignorou o comentário e se serviu. Acabou vencendo-o pelo cansaço – ou seria fome ?
"Sabe, fazia um bom tempo que não entrava aqui... Faz me lembrar da nossa infância, não sei exatamente o motivo." – Miro sorveu um pouco da sopa.
"E te faz lembrar o que ?"
"O dia em que nos conhecemos. Ah, aquele dia foi fantástico !"
"Aquele dia foi terrível !"
"Não sabia que tinha se arrependido tanto de me conhecer..." – falou num falso tom magoado.
"Fiquei irritado com a sua teimosia !"
"Pois você já deveria saber que, quando quero uma coisa, eu a consigo."
Aquelas palavras tocaram Kamus estranhamente.
"E você queria destruir a minha casa ?"
"Bem, isso são meros detalhes..."
"Foi um começo e tanto, não ?"
Ambos caíram na risada. Kamus se deliciou com suas lembranças... Fazia tempo que não se lembrava o quão bom era ter a inocência de uma criança. Aquele dia sempre esteve em sua memória com carinho : o dia em que um grego maluco o irritou tanto que mal conseguia parar de gritar.
- # Flashback # -
Chegara da Rússia há umas poucas horas. Acabara de cumprimentar e conhecer o Grande Mestre, uma excelente pessoa de quem seu mentor tanto falava. Descia lentamente as escadarias que o levavam de volta a seu templo, demorando-se um pouco em Peixes para cumprimentar seu dono, um sueco bastante excêntrico, segundo pode perceber.
A única vontade que tinha agora era a de ficar deitado em sua nova cama. Precisava pensar sobre tudo que recentemente acontecera. A descoberta do relacionamento que existia entre Amelie e Joseph. Ainda não acreditava naquilo tudo... Seu melhor amigo e sua namorada o traíram !
Entrou em seu templo e percebeu uma figura, mais ou menos de seu tamanho, que observava com muita curiosidade os pertences que trouxera e agora embelezavam o ambiente. Quem seria tão intrometido a ponto de bisbilhotar nas coisas de uma pessoa que nem sequer conhecia ?
- Pardon ? Quem é você ? – olhou-o, sério.
- Ah, você deve ser o novato ! Estava muito ansioso por conhece-lo ! Sempre gostei de conversar. E aí, qual é o seu nome ?
- Non vou me identificar para quelqu'um que non conheço ! Você que me deve satisfações por entrar em minha maison !
- Você me chamou do que ? – franziu o cenho.
- Pathétique... Chamei-o de "alguém". E identifique-se à l'instant !
O outro caiu na risada.
- O que tem de engraçado em moi ?
- A sua maneira de falar ! Parece uma criança metida ! – controlou o riso.
- Mas, afinal de contas, quem é você ? – falou, bufando.
- Sou Miro, cavaleiro de Escorpião. Qual é o seu nome, Aquário ?
- Kamus. – falou contrariado.
- Você coleciona coisas interessantes, mas parece que entrei num antiquário ! Será que já não basta o próprio ambiente do Santuário ?
- E o que você tem a ver com minhas images ? – Miro aproximou-se de um bonito vaso em cima de um pedestal – E saia de perto deste pot !
O grego aproximou-se lentamente e começou a estudar o vaso. Olhou todos os detalhes possíveis como se aquilo fosse a coisa mais interessante do mundo. Depois, aproximou-se lentamente de seu dono, com um ar estranho.
- O que houve ? – Kamus franziu o cenho.
- Você... É muito fechado, concentrado. Não sabe fazer piadas não, é ? Ficar assim não vai te ajudar em nada. Quem fica muito sozinho acaba se matando.
Era a primeira vez que alguém dizia tais palavras para si. O francês ficou tocado por dentro, descontraindo suas feições. O grego sorriu.
- Assim fica bem melhor...
- Non me diga o que tenho de fazer. – falou ríspido.
- Calma, calma ! – o grego foi andando para trás, com as mãos para o alto, até trombar em algo.
Barulho de algo se partindo. Miro batera no pedestal e o vaso caíra no chão. Kamus ficou furioso, vermelho de tanta raiva.
- Calma, esquentadinho, calma ! Nós podemos colar isso aqui e ele vai ficar novinho em folha ! – foi andando para trás.
- S'il vous plaît, vá embora daqui immédiatement !
- Não bata em mim, não queremos começar uma amizade assim !
Kamus não parava de gritar em francês e o grego saiu correndo. Tropeçou no fio do abajur, provisoriamente aceso, e deu de cara no chão, juntamente com o outro objeto, agora também quebrado. Correu gritando um "Até logo" desesperado.
O francês sentou-se no sofá e desatou a rir.
- Como alguém pode ser tant desastrado ? Quebrou dois objetos de grande estima minha, stupide ! Mais il est très beau(2)
- # Fim do Flashback # -
"Por que você não fala mais nada em francês ?" – soltou de supetão, arrancando-o de seus devaneios.
"Ah, isso foi uma decisão minha. Não era certo ficar falando em dois idiomas."
"Mas era tão bonitinho o seu sotaque ! Era como uma marca registrada."
"Ai, decida-se ! Antes você reclamava, agora já sente falta ? Por que sempre me meto com você, enfant terrible ?"
Miro deu um grande sorriso de satisfação.
"Assim fica muito melhor."
"Não se acostume, isso foi apenas para agradá-lo."
"Chamar-me de 'criança terrível' é um agrado para você ? Seus conceitos são meio distorcidos, não ?"
"Imagina..." – Kamus sorriu.
"Preciso ir, Kamus. Tenho de arrumar umas coisas lá no templo de Escorpião. Foi muito bom conversar com você. E tome cuidado com esta sua bochecha, viu ?"
"Pode deixar, Miro. E você, desinfete bem seu ferimento. Unhadas podem causar sérios problemas."
Miro sorriu e se aproximou para cumprimentá-lo. Preparava-se para estender a mão a ele quando sentiu a leve pressão dos lábios do grego em seu machucado. Seu corpo retesou.
Miro, ao notar a mudança na postura do outro, se afastou, dando um leve aceno com a mão e um sorriso amarelo. Kamus retribuiu com outro sorriso sem graça e viu o grego partir ainda sem entender direito o que acabara de acontecer.
Para Kamus, aquele dia não poderia ter sido melhor. Aliás, poderia sim : se o Grande Mestre não o tivesse convocado para entregar a armadura a Hyoga. Pelo menos, nem tudo estava perdido. A amizade de Miro era o seu bem mais precioso; não iria perdê-la, nem que sua vida dependesse disso.
Continua...
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N/A : Estamos na reta final da fic ! Dá até dó pensar em terminá-la; ela é o meu bebezinho querido. Mas, afinal de contas, tudo termina um dia. Mais diferenças entre o anime e o mangá estão sendo reveladas, tanto pelo Kamus como pelo Shaka. Parece que finalmente o nosso francês querido está deixando de ser cabeça-dura ! A luta entre os dois foi um tanto inspirada no jogo de Saint Seiya para PlayStation II – o qual joguei incansavelmente na casa de meus amigos. Beijos especiais para Calíope, Shakinha, Litha-chan e Dark Wolf, além de todos que leram e não deixaram suas preciosas reviews !
Notas :
(1) Avgolemono é uma sopa light grega que leva caldo de galinha, arroz, ovos e suco de limão.
(2) Eu não errei. A frase toda está em francês, significa "Mas ele é bonito...".
