OXFORD UNIVERSITY
Capítulo 3 – Anne Krux
Author: BETTIN
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Contemplando a janela, Marguerite retomou aquelas lembranças dolorosas. Seus pensamentos a levaram para o dia em que comprou aquele vestido rosa. Estava impaciente para experimentá-lo. Mrs. Anne Krux disse que teria de fazer algumas compras na mercearia e que precisava da ajuda de Miss Carter com as sacolas. Como estavam a apenas três quadras de casa, e Anne sabia que Marguerite ficaria a apressá-las com suas costumeiras reclamações, não viu problema algum em autorizá-la a ir sozinha. Afinal estavam tão perto.
Marguerite agradeceu e andou apressadamente para casa. Subiu correndo as escadas rumo ao seu quarto e não percebeu o capitão a observá-la, sentado no sofá, tomando seu uísque.
Em frente ao espelho, ela rodava toda feliz, contemplando seu lindo vestido. A família fora convidada pelos Spencer para o baile no sábado. Lá estariam os melhores partidos de Londres. Precisava estar deslumbrante.
Foi quando ouviu o barulho de uma chave trancando a porta. O capitão estava parado no quarto colocando a chave no bolso do paletó.
Veja capitão! Esse vestido não é lindo? Perguntou Marguerite sorrindo assustada. Desagradou-lhe o olhar do seu pai adotivo.
Muito lindo! Lindo como você! Ele disse aproximando-se da jovem e segurando-lhe o queixo. Em seguida a agarrou e começou a beijar-lhe. Marguerite sentiu seu estômago enjoar com aquele hálito fétido de álcool.
Solte-me! Gritou Marguerite, se desvencilhando dele e correndo para a porta tentando sem sucesso, destrancá-la.
Você é minha! E agarrando-lhe o braço, a atirou sobre a cama.
Marguerite rolou para o outro lado da cama mas, num movimento rápido, Elliot a segurou e com um tapa no rosto, a jogou novamente sobre a cama, deitando-se sobre ela.
Dou tudo o que você me pede! Tá na hora de você pagar, mocinha! Então ele começou a rasgar seus trajes.
Marguerite não conseguia se desvencilhar daquele homem forte e nojento. Lágrimas amargas rolavam pelo seu rosto. Foi quando ouviu um barulho de chave destrancando a porta do quarto. Anne entrou e sem olhar para aquela cena degradante anunciou em voz alta e cadenciada:
O Tenente Sanders e o Tenente Towers o aguardam na sala, Capitão!
Elliot Krux levou um susto ao ver Anne presenciar aquela cena. Ele saiu constrangido de cima de Marguerite e ajeitando a roupa, não conseguiu olhar para Anne. Deixou o aposento com passadas rápidas.
Miss Carter, entre! Anne chamou a criada, sem olhar para Marguerite que soluçava sobre a cama.
Ajude Marguerite com suas malas e a leve para os fundos da casa. Um carro de aluguel as está aguardando. Anne deixou um envelope sobre a cômoda, saindo em seguida do quarto.
Ao descer para a sala, Anne encontrou Elliot conversando descontraídamente com o Tenente Sanders e o Tenente Towers. Era como se nada tivesse acontecido.
Anne caminhou até a outra sala, para verificar se os canapés estavam conforme pedira a criada. Quanto sentiu a mão do Tenente Sanders esbarrar na sua ao pegar um canapé. Os olhos verdes de Sanders encontraram os de Anne e disfarçadamente com uma voz quase inaudível ele disse:
Espero tê-la ajudado, Anne! Sua voz era densa e rouca.
Obrigada, David! Sussurrou Anne e com um menear de cabeça e um olhar doce, se retirou da sala.
Marguerite assustada, perguntava a Miss Carter o que estava acontecendo. Porque o Capitão a atacou? Por que Mrs. Krux a estava tratando daquele jeito? Miss Carter se limitava a olhava para frente, no mais completo silêncio, enquanto o automóvel atravessava as ruas de Londres.
Uma semana depois, Miss Carter avisou Marguerite que Mrs. Anne Krux a visitaria naquela casa de campo a poucos quilômetros a leste de Londres. Ela uma bela casa de campo, com armas e caças espalhadas pelas paredes. Devia pertencer a alguma homem, pois era muita masculina.
Anne desceu de um automóvel de aluguel às três horas daquela tarde. Marguerite a observava da grande janela da sala. Enquanto Anne subia as escadas, Madge percebeu que sua mãe adotiva estava mais magra e abatida desde a última vez que a vira.
Ao atender a porta, Marguerite recebeu um abraço forte e um beijo rosto de Anne. Mas não havia brilho no olhar dela, o que assustou Marguerite.
Devo-lhe algumas explicações, não é mesmo Madge? Anne a chamou pelo apelido pela primeira vez. E Marguerite magoada, só conseguiu afirmar com a cabeça. Anne segurando as mãos de Marguerite a levou até as cadeiras vermelhas Luiz Felipe que decoravam aquela sala. Após sentarem-se, Anne num menear de cabeça, solicitava a Miss Carter que as deixassem a sós.
A tempos eu venho percebendo que Elliot não a vê mais como uma filha. Eu quis muito acreditar que fosse somente uma alucinação minha, fruto do meu cíume. Porém, movida talvez por um pressentimento estranho, que não sei lhe explicar, pedi a todos os criados para me avisarem sobre tudo o que ocorresse naquela casa. Eu não queria que nada de ruim lhe acontecesse, Madge! Se nós não tivéssemos chegado a tempo e se eu não a tivesse enviado para cá, você sabe o que teria acontecido cedo ou tarde, não sabe? Anne olhava perdida para o teto.
Marguerite percebeu a grande dor que desabara sobre elas. Anne nunca esteve tão próxima e agora, parecia escapar-lhe pelos dedos, como a felicidade dela. Marguerite não aguentou e chorou.
Não há muito o que ser feito! Tudo que consegui do Capitão, foi fazê-lo prometer que nunca mais irá procurá-la. Ele me prometeu também uma remessa de dinheiro, que eu enviarei mensalmente para suas despesas pessoais e para seus estudos. Agora devo me despedir...E se você precisar de mais alguma coisa, peça a Miss Carter que me procure.
Após dizer essa palavras, Anne Krux segurou o rosto de Marguerite e beijou- lhe a testa – Adeus Madge!
Marguerite retornou de suas lembranças e olhou para o chão. Precisava guardar suas roupas nos armários. Foi o que começou a fazer. Algum tempo depois, ouviu o bater da porta.
Quem será agora? Se for aquele rapazinho rabugento... Ela reclamava destrancando a porta. Deparou-se então com uma jovem de pele alva e cabelos negros até a cintura.
Você deve ser a minha nova companheira de quarto, suponho? Disse a jovem com um sorriso simpático e a estender-lhe a mão. - Sou Adrienne Montclaire e você deve ser Marguerite Krux? Prazer em conhecê-la! Declarou.
O prazer é meu! Disse afirmativamente Marguerite, enquanto apertava-lhe a mão e observando curiosa a sua colega de quarto.
Você veio para qual curso, Marguerite? Posso lhe chamar de Marguerite? Não gosto muito destas formalidades! Gracejou Adrienne enquanto sentava-se na sua cama.
Também não gosto muito! Sorriu Marguerite, apreciando a descontração da nova colega. – Pode me chamar de Madge se quiser!
Madge...gostei! Combina mais com você! Bom...se você não estiver muito cansada....posso lhe mostrar o campus...que você acha? Ofereceu Adrienne.
Talvez amanhã...ainda tenho que desfazer as minhas malas e gostaria de me deitar um pouco! Sentia-se muito curiosa para conhecer o campus, mas teve que recusar o convite de Adrienne, pois a sua enxaqueca começava a pertubá- la.
