Meus agradecimentos a Lady K, Lady F, Rosa, Simone Zeze, Norma, Jess, Taiza, Edson Gaspar e Jessy. Vocês são maravilhosas! Suas reviews foram importantes para que eu continuasse a escrever esta fic. Meus agradecimentos também ao Augusto Sproesser e Jefferson Ganda que me auxiliaram nas pesquisas sobre as locações e hábitos da Inglaterra de 1900. E outro agradecimento a Lady K que foi e ainda é a minha mentora e fonte de inspiração!

OXFORD UNIVERSITY

Capítulo 4 - Andrew de Sunderland

Author: BETTIN

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Marguerite estava a espreguiçar feito uma gata despertando de uma soneca. Adquiriu este hábito lá no orfanato. Uma hora de sono à tarde, era mais que o suficiente para deixá-la atenta e com o raciocínio mais ágil. Lentamente voltou seus olhos para janela que dava para o pátio, e percebeu que havia anoitecido.

Já é noite! Não posso perder o jantar! Céus, como estou faminta! Num salto, pulou da cama e ao destrancar a porta, lembrou que não havia perguntado onde ficava o refeitório.

Rapaz incompetente! Ele é que tinha de me dizer isso ao invés de ficar fazendo pose de britânico, aquele irlandezinho fajuta. Pensa que me engana!

Andando pelos corredores apressadamente, a procura de alguma placa que indicasse o refeitório, Marguerite não viu o homem que vinha à sua frente, carregando uma pilha de livros nos braços.

A trombada foi inevitável. Os livros esparramaram-se pelo chão de mármore travertino e os óculos do homem voaram longe. Ele ajoehou e começou a recolher seu material, esbravejando baixinho.

Olha aqui! Disse Marguerite tentando não mostrar o quanto estava constangida com aquela situação - Eu até poderia ajudá-lo se não estivesse com pressa! E além do mais o culpado aqui foi você! Devia olhar por onde anda, sabia! Disse Marguerite com uma das mãos na cintura, tentando, ao modo dela, consertar as coisas.

O refeitório fica na terceira rua à esquerda! Disse aquele homem sem olhar para Marguerite, enquanto recolhia os livros.

Ei! Como você sabe que eu estou procurando o refeitório! Ela perguntou curiosa.

Pela pressa e por essa cara de esfomeada que você tem! Ele não olhou para ela, mas havia um sorriso divertido em seu rosto, que não passou despercebido pela sempre atenta Marguerite.

O que você disse? Ela ficou em dúvida entre caminhar até o refeitório ou pedir explicações àquele engraçadinho.

O que ouviu com clareza! Então ele endireitou-se e ela pôde vê-lo melhor.

O homem à sua frente aparentava ter uns trinta anos. Seus olhos grandes eram de um castanho intenso que contrastavam com a pele bronzeada. Seus cabelos castanhos eram do mesmo tom dos longos cílios que emolduravam aqueles olhos lindos. E que foram logo encobertos pelos óculos que lhe conferiam um ar de respeitabilidade.

Eh....Deixa pra lá! Tudo bem! De repente, Marguerite esqueceu o motivo da discussão e desconcertada, voltou a caminhar pelo corredor que dava acesso ao refeitório.

Pelo menos ele me indicou o local certo! Disse Marguerite adentrando no grande salão.

O refeitório ficava no prédio central. Suas colunas revestidas de tijolos que terminavam em grandes arcos a aproximadamente 10 metros acima do chão, conferiam um estilo medieval àquela instalação.

Marguerite observava as pessoas à sua volta, enquanto saboreava o seu jantar. Percebia que estavam separadas por hierarquia.

Em seguida olhou para o teto para contemplar aquela estrutura arquitetônica e não notou quando Adrienne puxou uma cadeira, apoiando suas mãos na longa mesa de nogueira.

Posso me sentar aqui com você! Adrienne esperava a autorização da sua colega.

Oh! Claro! Me desculpe! Eu estava distraída olhando essas construções! Falava Marguerite apontando para as grandes colunas do salão. E sorrindo acrescentou – Interessantes não!

Sim, muito interessante! Adrienne afirmou com leve desinteresse ao sentar- se, enquanto os seus olhos se direcionavam para as mesas do lado sul do grande refeitório, onde muitos rapazes conversavam animadamente.

Porém eu prefiro aquele tipo de "construção", e você? Ela disse isso, enquanto procurava mostrar a Marguerite, os rapazes com roupas esportivas na mesa do seu lado esquerdo.

Sem dúvida! Marguerite afirmava divertida. – Eu acho que todos os homens belos, fortes e jovens deveriam expor as suas qualidades usando essas roupas de rugby. Para que pudéssemos apreciá-los melhor, não acha!

Parece que agora estamos falando o mesmo idioma, Madge! Adrienne arqueou uma sobrancelha e levantou a taça de água.

Mas agora me diga...O que verdadeiramente a trouxe a Oxford? Adrienne agora mostrava-se interessada.

Ora...As línguas clássicas sempre foram o meu forte. Tenho vocação para o professorado, sabia? Marguerite sorria divertida. – E você? Também quer lecionar?

Eu não! Possuo vocação para a boa vida! Você sabia que as chances de encontrarmos um marido com excelente situação financeira é maior aqui do que em Londres? Adrienne dizia essa palavras quase num sussurro.

Oh! Agora quem está achando isso tudo muito interessante, sou eu! Marguerite gargalhou acompanhada por Adrienne.

Os dias se passaram. A amizade entre Marguerite e Adrienne cresceu. Enquanto Marguerite frequentava o curso de Literatura e Línguas Clássicas, Adrienne frequentava o curso de Geologia e Ciências do Solo. Eram poucas as mulheres que residiam na Universidade de Oxford, o que tornava fácil a predileção dos rapazes pelas duas lindas jovens.

Adrienne e Marguerite possuiam a mesma determinação e vontade de vencer. Eram espertas e inteligentes, e uma sempre encobria a outra nas suas muitas artimanhas.

Não temiam nada nem a ninguém e o futuro parecia promissor. Marguerite aprendeu com Adrienne como diferenciar uma pedra preciosa de outra de menor valor.

Nunca confunda a pirita com o ouro, Madge! A pirita, também conhecida como ouro de tolo, possui uma certa rigidez molecular, enquanto que o ouro é mais denso, mais maleável e sem estrias.

E quanto aos diamantes....Ah! Os diamantes! Esses sim, são os melhores amigos da mulher, minha cara! Mas todo cuidado é pouco com eles! Eles podem ser confundidos facilmente com a zircônia, que apesar do brilho, não vale nada! E mesmos os diamantes possuem variações entre si! Adrienne espreguiçava-se na sua cama, enquanto descrevia os detalhes de cada gema para uma atenta aluna.

Quando sairmos daqui...poderemos ir para a América do Sul! Adrienne sentou na cama e falava extasiada.

Há muito ouro lá, além de pedras preciosas, é claro! A maior parte deste tesouro fica num país selvagem chamado Brasil. Um amigo meu, que esteve naquelas terras, disse que com um pouco de dinheiro é possível contratar uma boa expedição e se aventurar por aquelas selvas. Só tem um problema.....

E qual é o problema, Adrien? Marguerite perguntou curiosa.

Existe uma doença chamada malária, muito comum por lá. Poucos que a adquirem conseguem sobreviver.

Muito engraçado! E é para lá que você quer ir! Exclamou Marguerite sentando numa cadeira. – Pensei que você fosse mais inteligente, Adrien!

Ora, Madge! Vale a pena, arriscar! Eu não estou estudando Gemologia à toa! Não vim aqui para perder! Você não consegue imaginar a sociedade britânica a nossos pés? Pense grande, mulher! Você ainda pode conseguir uma indicação para trabalhar no governo, pedindo auxílio à sua mãe. Mas e eu? Sem título, sem posses, preciso sobreviver, minha cara! Desabafou Adrienne irritada.

Eu pensei que estávamos a procura de um marido rico? Perguntou Marguerite.

Precisamos vencer, de um modo ou de outro! Bom...já está na hora do jantar, vamos? Adrienne sorriu e estendeu a mão para Marguerite.

Combinei com um colega do curso de Física que jantaria com ele. Ele vai me mostrar as fórmulas estruturais de alguns minérios.

Muito bem! Marguerite estendeu-lhe a mão e pondo-se de pé declarou: - Negócios são negócios!!

É assim que se fala! Boa menina! E rindo, caminharam juntas até o refeitório.

No grande salão, Adrienne se encaminhou até uma mesa que ficava próxima à parede leste, sendo seguida por Marguerite. Lá havia apenas um homem sentado, que distraído olhava absorvido alguns papéis à sua frente, enquanto sua sopa esfriava ao lado.

Demorei? Perguntou Adrienne espevitada

Não! Claro que não! Eu estava verificando algumas anotações! O homem falava com voz rouca e grave, e tão cadenciado, que era impossível deixar de perceber sua segurança. Em seguida ele levantou e contornou a mesa com passos leves e elegantes. Puxou uma cadeira para Adrienne e aguardou que ela se sentasse, em seguida repetiu o gesto com Marguerite. Ao sentar na cadeira, Marguerite não pôde deixar de sentir o cheiro amadeirado que exalava daquele homem. Ela já o vira certa vez.....

Miss Montclaire....não irá me apresentar sua bela amiga? A princípio ele sorriu com o canto da boca para em seguida abrir um largo e maravilhoso sorriso.

Perdoe-me, Andrew! Mr. Andrew de Sunderland esta é Miss Marguerite Krux! Apontou um ao outro, apresentando-os.

Encantado, Miss Krux! Havia um ar de zombaria nas palavras de Andrew de Sunderland, que não passaram despercebidas por Marguerite.

O encanto é todo seu, Mr. Sunderland! Ironizou Marguerite.

Ora, ora....As mulheres bravias costumam ser as mais interessantes!!! Porém eu sabia que um dia voltaria a revê-la, e onde mais poderia ser, do que no seu lugar predileto!!! Ele a olhava intensamente.

Ora seu..... Marguerite estava disposta a revidar, quando foi interrompida por Adrienne.

Calma, crianças! Mal terminaram o jantar e já estão querendo jogar a sobremesa um no outro? Tsc, tsc!!! Crianças más! Adrienne achou que a brincadeira quebraria o estado de animosidade entre aqueles dois.

Tem razão, querida Adrienne! Eu posso muito bem dar a minha sobremesa para a Miss Krux, sem problemas!!! Andrew tornou a provocar.

Que terá um enorme prazer de esfregá-la no seu nariz, evidentemente! Marguerite sorria ácida.

Háháháháhá!!!!!! Bravo, bravo!!!! Sinto-me numa tourada em Madrid! Andrew batia palmas.

Você está querendo dizer o que com isso, seu ridículo! Esbravejou Marguerite, levantando-se da cadeira e colocando as duas mãos sobre a mesa, enfrentando-o.

Calma, senhorita! Desta vez eu era o touro e a senhorita o toureiro! Em momento algum quis ofendê-la! Desculpou-se sorridente o homem à sua frente. Em seguida acrescentou:

Hum....de repente ficou quente aqui no salão! E virando-se para Adrienne, disse:

Sua amiga tem muita personalidade, Adrienne! E me desculpe deixá-la com essa cara de assustada! Sorriu Andrew enquanto cobria a mão de Adrienne com a sua.

Como se eu não os conhecesse! Se eu não os tivesse apresentado neste momento, poderia jurar que estavam tendo outra briga de namorados! Adrienne sorria de um para o outro, feliz por terem se acalmado.

Trouxe-me as fórmulas? Perguntou curiosa.

Aqui estão! As fórmulas e uma relação dos produtos químicos a serem utilizados e onde encontrá-los.

Muito bem, Andrew! Você é sempre perfeito! Adrienne sorria ao ler os papéis enquanto que Andrew observava Marguerite com verdadeiro interesse.

Ao final do jantar já conversavam animadamente sobre política, extrativismo mineral e obviamente sobre seus próprios cursos.

Que tal passearmos um pouco pelos arredores? A lua está cheia e a noite agradável para caminharmos pelas alamedas! O que você acha Marguerite?

Ótimo! Me sinto envaidecido por passear com duas mulheres tão especiais! Disse Andrew, roubando a resposta de Marguerite.

Só não podemos perder a sobremesa? Fingiu proteger o rosto com as mãos.

O quê!!! Marguerite riu e em seguida disse – Tudo bem! Não se preocupe! Não irei estragar a minha sobremesa na sua cara de bobo!

Foi o que imaginei! Andrew sorriu enquanto observava aquela mulher e sentiu que algo mexera nos seus sentimentos, naquela noite.