OXFORD UNIVERSITY

Chapter 8 - Time To Cry

Author - BETTIN

....................§......................

Marguerite estava feliz, radiante era a palavra certa. Os dias que se seguiram foram maravilhosos para ela. Passara todo o seu tempo entre as provas na universidade e cuidando de Andrew. Fizeram amor todas as tardes. Marguerite nunca imaginou quão maravilhoso era ser amada pelo homem escolhido. Era puramente divino!

Aconteceu que numa certa manhã, Marguerite acordou com muita dor de cabeça. Enxaquecas eram corriqueiras para ela, mas aquela estava insuportável.

- Tudo bem com você! Perguntou Adrienne, que levantou os olhos do livro para observar a amiga.

- Não! Não estou nada bem! Esta dor de cabeça horrorosa está me revirando o estômago! Disse Marguerite colocando a mão logo abaixo dos seios e fazendo cara de nauseada.

- Madge...a quanto tempo as suas regras não vem? Adrienne arqueou uma das sombrancelhas.

- Não sei! Foram tantas as coisas que aconteceram nestas últimas semanas que não atentei pra esse detalhe! Ela falava distraidamente, enquanto colocava a mão na testa.

- Detalhe? Isso não é um detalhe, Marguerite!!! É a sua vida que está em jogo!!! Adrienne estava profundamente irritada.

- Ei.....eu não gosto quando você me chama de Marguerite!!! Você só fala assim quando está querendo me passar um sermão!!! Marguerite pegou uma toalha e entrou no banheiro.

Trancada no banheiro, pôs-se a chorar. "Adrienne estava certa", admitiu. Suas regras não vinham a semanas. Estaria grávida? Como foi possível não ter tomado os cuidados necessários?

Ao sair do banheiro, seus olhos inchados não passaram desapercebidos por uma atenta observadora. Sentada na cama, Adrienne acompanhou o trajeto de Marguerite cabisbaixa do banheiro até a sua cama. Ela então fechou o livro e colocando-o de lado, chamou a amiga.

- Senta aqui ao meu lado...isso...e deita a sua cabeça no meu colo! Adrienne pegou uma escova e começou a pentear os cabelos sedosos de Marguerite, mais num gesto de carinho do que de embelezamento.

Dois anos mais velha que a amiga, Adrienne sentia-se como a irmã mais velha que deveria acalentar a caçula.

- E se eu estiver grávida, Adrien? O que eu devo fazer? A pergunta brotou em meio a soluços de choro.

Adrienne estava com o olhar perdido, olhando a janela. Como explicar tanta coisa para ela, a esta altura dos acontecimentos. Achava Marguerite tão esperta e determinada...e agora estava ela ali, encolhida sobre a cama e com a cabeça aninhada em seu colo como uma garotinha indefesa!

Adrienne tinha muitas coisas a dizer a Marguerite, mas tinha medo de sua reação. Preferiu apenas perguntar:

- Se for verdade...sobre a gravidez...você vai querer mesmo esta criança? Você sabe que não poderá permanecer na universidade se decidir ficar com ela! Eles são muito rigorosos quanto a mãe solteira e...

Num salto, Marguerite levantou-se, deixando Adrienne com os braços levantados em completo espanto, e então disse:

- Como assim, mãe solteira??? Eu não fiz essa criança sozinha, não! Ela tem mãe e pai! E Andrew se casará comigo, é óbvio! É isso.....eu vou conversar com ele, agora! E enxugando as lágrimas, aprumou-se e resoluta, saiu do quarto sem olhar para Adrienne que desolada, olhava a porta por onde a amiga saira a pouco e então murmurou....

- Marguerite...

Marguerite andava a passadas rápidas pelo corredor principal, tão escuro, quanto sinistro. Ao longo da caminhada, podia-se ver a história secular de uma das mais importantes universidades do país em meio a brasões, quadros e armaduras.

Ela então virou no quarto corredor, o mesmo que dava acesso a coordenadoria de química. O laboratório de Andrew era o de número sete. Entrou e fechou a porta atrás de si. Percorreu com a ponta do indicador os muitos tubos de ensaio que continham experiências químicas.

Umas das paredes possuía uma estante em cerejeira, cheia de livros e vidros cheios de líquidos e formas disformes. No outro lado havia uma pequena estufa, onde provavelmente estavam plantadas algumas ervas e na outra parede, duas gaiolas compridas com pequenos roedores brancos.

Contemplava aquele ambiente de trabalho, quando o seu o olhar foi atraído para a estante. Arqueando uma sombrancelha foi aproximando-se dos muitos vidros que estavam nas prateleiras, impulsionada por sua natural curiosidade, quando ouviu um barulho de porta. Ao virar-se, viu Andrew adentrar a sala com seus óculos pesados, carregando alguns livros e vestido impecavelmente com um terno de tweed cinza e sobre o mesmo, um guarda-pó branco de mangas longas. Ao fechar a porta atrás de si, ele ficou surpreso ao encontrá-la ali em pé.

- Melanie! Que dizer, Miss Krux! Quem bom vê-la tão cedo! Ele sorriu colocando sobre a mesa os livros e os óculos e, verificando se não havia ninguém no visor de vidro da pesada porta de carvalho, deu um rápido beijo nos lábios dela.

- Eu tenho uma surpresa para você...quer dizer...para nós! Ela dizia isso com as pontas dos dedos entrelaçadas às costas.

- Surpresa? Que surpresa? Ele arqueou uma das sombrancelhas e seu sorriso sumiu do rosto.

- Estou esperando um bebê, Andrew! Nosso bebê! Ela foi direto ao assunto e pulando sobre ele, beijou-o.

- Calma, garota! Você sabe que não podemos fazer isso aqui! Ele desvencilhou os braços de Marguerite do seu pescoço e tornou a olhar para porta.

- Comporte-se, Marguerite! Ele a repreendeu.

- Pensei que você fosse ficar feliz com a notícia! Ela o olhava decepcionada.

- Bem....é uma surpresa e tanto pra mim! Ele não conseguia disfarçar o aborrecimento. Porém, quando viu os olhos dela marejados, corrigiu:

- Este não é o melhor lugar para termos esse tipo de conversa. Faça o seguinte... aqui está a chave da minha casa. Vá para lá e me aguarde, enquanto eu peço para o Peter acompanhar a minha turma. Estarei lá em meia hora! Tudo bem? Ele disse, entregando-lhe uma chave.

- Tudo bem! Ela apertou a chave na mão e saiu sorridente, dando-lhe um olhar sugestivo ao sair do laboratório.

Conforme o combinado, meia hora depois, Andrew adentrava a sala de sua casa. E ofegante chamava por Marguerite:

- Marguerite! Marguerite! Onde você está?

- Aqui no quarto!!!

Quando ele entrou no quarto, Marguerite nua sob os lençóis, o chamava com o dedo indicador, para deitar-se com ela.

- Por favor, vista-se e venha para a sala! Ele jogou as roupas dela sobre a cama, saindo do quarto em seguida.

Ao entrar na sala, viu que Andrew estava sentado numa poltrona em estilo barroco George I, com as pernas cruzadas, fumando um charuto fino. Quando a viu, indicou a cadeira à sua frente com um gesto, para que sentasse.

- Vou direto ao assunto, Marguerite! Eu sou casado! Meu nome é Andrew O'Brian, do clã O' Brian, da cidade de Sunderland na costeira nordeste da Inglaterra. Eu sei que deveria ter lhe dito isso a mais tempo, mas as coisas não são tão simples como parecem! Ele lhe disse isso, olhando-a nos olhos.

- Casado! Como casado! Todos o conhecem como Andrew de Sunderland e você é solteiro e mora com outro professor, Peter Radcliffe, também solteiro! Ela estava atônita com aquela revelação.

- Realmente Peter é solteiro, ele é meu serviçal! Minha família é irlandesa. E o meu clã detém oitenta por cento do poder da Casa dos Lords! Sou casado com a minha prima, Anabelle, Lady de Cornhill, a quem eu visito nas férias. Casei-me aos dezoito anos e tenho 4 filhos. O meu maior sonho era estudar química na Universidade de Oxford. O reitor da universidade, amigo de meu pai, decidiu omitir meu sobrenome, para me poupar. Você deve conhecer a tradição por aqui tão bem quanto eu!

Marguerite começou a sentir náuseas e tonturas. Se tivesse a criança, esta seria uma bastarda! Tentou caminhar até a porta de saída, mas de repente tudo escureceu.

Ao acordar, ela viu que Adrienne estava sentada ao seu lado, na cabeceira da cama. Estavam no quarto de Andrew. Adrienne estava colocando um pano úmido sobre a testa de Marguerite.

- Adrienne, ele é casado! Você deveria ter visto o rosto dele quando falei da gravidez! Ela falava baixinho, amargurada.

- Nós sempre conversamos sobre isso, Madge! Sobre como os homens são! Eu acreditei que você sabia lidar com ele, como sempre soube lidar com os outros! O que eu não esperava era que você fosse tão parecida comigo! Acreditei que você fosse melhor que eu! Havia uma sombra de amargura no rosto de Adrienne.

- O que você quer dizer com isso! Marguerite perguntava, mas institivamente sabia que não queria a resposta.

- Tempos atrás, eu também me apaixonei por ele, Madge! E também tirei um filho dele! Adrienne não conseguia olhar para a amiga.

- Porque você nunca me disse isso! Porque nunca me contou sobre vocês! Eu odeio você Adrienne e tudo o que você representa! Saia daqui! E se você foi idiota o suficiente para fazer um aborto, saiba que eu não sou como você! Saia!

- Se um dia você precisar de mim....eu estarei por perto! Adrienne falou baixinho e saiu do quarto.

- Saia!!! Marguerite soltou um grito. Um grito cheio de raiva e frustação.

A noite, ao retornar da universidade, Andrew foi ao encontro de Marguerite, que devido ao mal estar e a angústia das últimas notícias, dormira por horas.

- Marguerite, acorde! Ele a tocou suavemente no ombro.

Ela abriu os grandes olhos azuis, e ainda sonolenta, sentou-se na cama.

- Você poderia me explicar direito esse envolvimento com Adrienne? Marguerite sempre fora direta nas suas perguntas.

- Nós éramos amantes, é verdade! Mas o nosso caso terminou antes de você aparecer! Depois de um tempo, voltamos a ser amigos. Afinal, nunca estabelecemos um compromisso ou seja, eu não posso ter compromisso com ninguém! Ele falava olhando para o chão.

- Mas se você casou tão novo... em nosso país o divórcio é legal e.....

- Eu represento um clã, Marguerite! Entenda! Somos os senhores das terras de Sunderland. Fornecemos carvão e minério para todo o país e ainda exportamos para a toda a Europa e América! As riquezas das carvoarias de Sunderland permanecem concentradas em nosso clã a séculos! Todos os casamentos são arranjados entre nossas famílias. Como eu poderia fugir ao meu destino? A única coisa que realmente pedi ao clã, que não me negassem, foi a permissão de estudar na Universidade de Oxford. Concordaram, desde que eu me casasse com Anabelle, prometida a mim ao nascer. Com o passar dos anos e com o apoio dela, consegui convencê-los a me deixarem lecionar aqui também. Devo muito a ela. O que poderia ser uma prisão para mim, tornou-se o meu passaporte. E os meus filhos? Eu amo aqueles garotos! São quatro meninos, o orgulho dos irlandeses! Divorciar, nem pensar!

- Quer dizer que você pertence a uma família de mafiosos irlandeses que extraem o carvão e o minério das terras inglesas! E quem é o "cappo" nesta família feliz? Marguerite perguntou irônica.

- Meu pai! Aquela frase foi pronunciada de forma pouco expressiva.

Um Andrew impotente olhava a parede e ao levantar-se da cama, declarou:

- Esta semana você ficará aqui, e eu cuidarei de você! Mas depois você deverá voltar para a universidade! Em seguida ele saiu do quarto.

Marguerite olhava para o teto. Sentia-se anestesiada com todas aquelas revelações. Andrew era casado. Adrienne fora amante dele. Quando pensou que o ciclo de uma vida de privações chegara ao fim, começava outro. Quando isso terminaria? Será que ela nunca teria direito a felicidade? Como seria a sua vida agora com uma criança nos braços? Um bastardo! Para proteger-se, ela falava sobre o bom relacionamento com os pais. Nunca mais ouvira falar dos Krux. A remessa mensal de dinheiro era depositada numa conta corrente no Loyd's Bank e não seria para sempre. E Andrew...ele sempre dissera que ela era linda, sensual, inteligente. Mas nunca disse que a amava ou fizera planos a dois. Como pôde ser tão estúpida!!! Virou para o lado e chorou. Chorou muito e adormeceu.

Os dias que se seguiram não foram melhores para Marguerite. Ela ficou na cama o tempo todo. Em todas as tentativas de levantar daquela cama resultava em tonturas e vômitos. Passara a maior parte do tempo dormindo.

Nesse interím, teve um sonho muito estranho. Sonhou que estava numa sala fria, deitada sobre uma mesa. A sala tinha um cheiro enjoativo, que lembrava a éter. Ouvia algumas pessoas conversando entre si, vozes retirá-lo, mas a hemorragia está muito forte...

...O que faremos? Podemos perdê-la também...

...Não sei, não sei! Ela está muito fraca...

...Se dermos mais um pouco de clorofórmio, ela poderá não resistir...

Marguerite ouvia as frases soltas e as vezes conseguia vislumbrar o local. Numa desta vezes, ela viu um vidro cheio de líquido numa prateleira e então percebeu o que havia dentro dele com nitidez. No vidro flutuava uma forma esbranquiçada e parecia ser um feto. Um feto! Meu bebê! Morto! E então tudo virou escuridão.

Ao acordar, Marguerite viu que estava na sua cama no quarto da universidade. Adrienne a vê-la abrir os olhos, não se conteve de alegria.

- Madge! Madge! Fala comigo! No rosto de Adrienne havia muita precupação e temor.

- O que...aconteceu? Marguerite estava fraca, mal conseguia sussurrar as palavras.

- Oh! Madge! Eu deveria ter ficado com você! Me perdoa! Adrienne chorava, enquanto segurava a mão da amiga. – Mas agora que você acordou, eu vou buscar ajuda! Eu não demoro!

- Espere...vá até minha cômoda...terceira gaveta....me traga a caixa de madeira! Marguerite sentia sua vida se esvaindo.

- Aqui está! Adrienne entregou a pequena caixa e em seguida saiu correndo do quarto a procura de ajuda.

Marguerite retirou o embrulho de veludo vermelho que envolvia o rubi e o colocou sobre o ventre e disse:

- Me cure agora! E uma luz vermelha se intensificou sobre o ventre dela, cessando o sangramento. A pedra devolveu a cor ao rosto pálido de Marguerite. A rubi fez seu último trabalho e então desapareceu.

Marguerite sentia aos poucos as suas forças voltarem. Mas ainda sentia-se fraca ao tentar recostar-se no travesseiro. Adrienne entrou pela porta minutos depois acompanhada de uma mulher.

- Madge! Eu não acredito! Você melhorou? Adrienne estava perplexa ante a melhora súbita de Marguerite.

- Tudo bem! Está tudo bem! A senhora pode ir agora. Foi apenas um sangramento mais forte que o dos outros meses! Marguerite deu uma piscada para Adrienne que entendeu o que ela queria dizer.

Após a saída da mulher, Marguerite agarrou com força o braço de Adrienne e perguntou:

- O que aconteceu comigo e com o meu filho, Adrienne Montclaire? Os olhos de Marguerite cintilavam de puro ódio.

- Calma, Madge! Eu não tenho nada a ver com isso! Juro! Vou relatar o que aconteceu! Após a nossa discussão eu sai de lá e vendo que você não voltava, perguntei ao Andrew se ele cuidaria de você e ele me prometeu que sim. Confiei e esperei. Porém, ontem a noite, o Dr. O'Toole e o professor Radcliffe a trouxeram para cá desacordada. Eu perguntei o porque deles não a levarem para a enfermaria onde você teria melhores cuidados e os malditos me responderam que isso causaria muitos constrangimentos.

- E o verme do Andrew? Onde ele está? Eu vou matá-lo! Ela tentou levantar- se da cama mas ainda estava fraca.

- Ele viajou. A família dele o chamou. Eu sei como você se sente, Marguerite! Eu também precisei fazer isso...e então eu procurei uma parteira que também é "curiosa", fora da cidade e fiz! O que não entendi foi como aconteceu isso com você?

- Maldito! Maldito! Marguerite esmurrava o travesseiro com uma raiva e uma tristeza por toda aquela perda. Ela sentia algo morrer dentro de seu coração.