OXFORD UNIVERSITY

Chapter 16 – Prehistoric Jungle

Author: BETTIN

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Ao sul do planalto, Malone e Challenger pararam num pequeno riacho para fazerem uma refeição, pois já eram quase três horas da tarde. Só tiveram condições neste momento, pois no meio da trilha que levava a aldeia Zanga, encontrava-se um acampanhamento de homens-macacos.

O único jeito de não ter de enfrentá-los, era esquivando-se o máximo possível deles. Pois para todos os integrantes da expedição, atirar naqueles seres, era somente em último caso e por questões de sobrevivência. Os homens-macacos só atacavam na tentativa de protegerem seu grupo das ameaças e outras vezes para se alimentarem, sendo que sempre preferiam mais a frutas e outros vegetais. Comiam pouca carne, e quando comiam, preferiam a de certos animais pré-históricos. Perto de outras ameaças do platô, os homens-macacos eram quase risco zero.

A conclusão a que Challenger chegou, foi a de escalarem as montanhas, até atingirem a trilha novamente, lá na frente. Tudo bem para Challenger que era um excelente alpinista e sempre levava consigo cordas e ganchos. Mas não para Malone, que não possuia tamanha habilidade. A habilidade de Ned estava nas corridas. Antes de vir para o platô, Edward Dunn Malone, jogava todos os sábados, no time de rugby, pela equipe de irlandeses de Londres.

Meio a contragosto, Ned concordou com a idéia de Challenger e ambos começaram a escalada pelas montanhas. Já haviam percorrido trechos estreitos há um bom tempo, até que uma pedra escapou sob o pé direito de Malone. Parecia ser o fim do jornalista! Mas este foi resgatado com destreza, pela mão forte de Challenger e pelo bom reflexo de alpinista que ele possuía. Ned ficou com algumas escoriações nos braços e na testa. Mas enfim, os corredores estreitos da montanha voltaram a aparecer logo a frente e nossos aventureiros atingiram a trilha são e salvos.

No caminho, Malone abateu um animalzinho pré-histórico, pequeno, mais carnudo. Challenger ao vê-lo, começou a descrever o nome científico deste. Era um nome tão extenso, que Malone esqueceu o nome do bicho tão logo Challenger terminou de pronunciá-lo. George continuou a relatar a qual espécie, família e escala de evolução, a qual aquele animal se encontrava. E estava tão eloquente que por alguns instantes, Malone sentiu falta da Marguerite ali, interrompendo a tagarelice do Challenger. Que coisa! Desse jeito, ele acabaria sentindo dó do animal que serviria de alimento para ambos! Resolveu fechar a torneira verborrágica do Challenger com uma brincadeira que o amigo detestava:

- Por que foi preciso subirmos pelas montanhas, Challenger? Você não precisava ter tanto trabalho...Afinal de contas, você viu que o homens-macacos sentem um ligeiro parentesco com você, devido a cor do seu cabelo e barba, né? E começou a rir.

- Ora, seu moleque atrevido! Vou fingir que não ouvi essa sua brincadeira! Vamos colocar logo esse fantástico animalzinho no espeto! Estou morrendo de fome! George falava com seriedade na sua voz grave e erudita. Mas havia suavidade em seus olhos! Nestes dois anos no platô, aprendera a ser menos truculento e a apreciar o bom humor dos seus amigos de aventura.

- Lembra-se daquele dia em que fui entrevistá-lo na sua casa, em Enmore Park na West Kensington? O meu lenço estava encharcado de suor, só de pensar em como iniciar aquela conversa com você! Agradeço muito a Mrs.Challenger por tentar me ajudar e por ter me recebido tão bem!

- E você lembra a cara de idiota que nós dois ficamos, quando engalfinhados no meio da rua, parou um policial e disse: "Que significa isso? Vocês deviam envergonhar-se!". Mas eu bem que deixei seu olho roxo, hein Malone! Era Challenger quem gargalhava agora.

- Mas eu só não acertei um bem dado no seu rosto, por educação, Challenger! Mas que raio de mordomo era aquele, que ao invés de apartar a briga, abriu calmamente a porta para que rolássemos escada abaixo? Você o encontrou aonde? Numa funerária? Aposto que ele era um dos manequins dela! Ned então fez a careta do Austin, o empregado mórbido do Challenger.

- Não fale assim do Austin! Ele é muito taciturno e calado, eu sei! Mas também foi o único dos empregados que ficou mais tempo lá em casa. E ele não é um mordomo e sim o nosso chofer! Challenger precisava esclarecer a função de Austin na casa.

- Mas gostei muito de você a partir daquele dia, Ned! Você demonstrou muita coragem para um rapazinho, enfrentando-me! Homens muito mais fortes que eu nunca ousaram! E foi muito digno da sua parte, quando resolveu não prestar queixas de mim para o policial! Eu sei que sempre tive um gênio forte! A minha querida Jessie sempre me dizia que eu seria um homem melhor se ouvisse os seus conselhos e então eu protestava: "Você está totalmente certa Jessie, mas se eu seguisse os seus conselhos, deixaria de ser G.E.C.! Challenger soletrou suas iniciais com muita pompa.

- Porque você gosta tanto de ser chamado de G.E.C., Professor? Malone quis saber.

- Orgulho irlandês, meu jovem! Nasci em Largs, sabe! Lá há muitas familias irlandesas. Minha mãe era uma irlandesa católica! Sussurrou George, como quem confessava um segredo.

- Devo também te confessar algo, Challenger! Sabe porque eu jogo no time dos irlandeses de Londres? É que eu também sou filho de irlandeses católicos, como você! Na verdade, eu nasci na Irlanda, mas ainda era bebê de colo quando os meus pais foram para a América. Moramos muito tempo em Nova York!

- Será então este o motivo de termos simpatizado com o Professor Sunderland e os nossos amigos não? Perguntava Challenger, coçando o cavanhaque cor de avelã.

- Mas ele não possui um sobrenome irlandês! Andrew de Sunderland soa melhor como um nome francês, Professor? Agora era Malone quem estava intrigado.

- Houve um momento em que eu perguntei sobre seu sobrenome, lá no laboratório da casa da árvore! Ele me disse que na verdade o sobrenome dele é O´Brian, mas que precisou adotar esse apelido, para que não tivesse problemas com as famílias dos alunos lá na Universidade de Oxford. Essa é a nossa rigidez britânica, meu jovem! George agora mordia um pedaço generoso daquela carne branca do assado.

- Este nosso largatinho está com gosto de rã, Ned! Prove! E entregou um pedaço para o Malone.

Os dois estavam agora alimentados e descansavam quando Challenger voltou a conversar:

- Sinto muito a falta dela, Malone! Da minha alegre Jessie que você teve a honra de conhecer! Challenger agora olhava para o céu azul em busca das suas lembranças.

- Jessie é uma verdadeira dama! Aqueles olhos escuros, aquela vivacidade toda. Sempre me lembrou uma dama francesa! Ele fechara os olhos enquanto sorria ao lembrar da esposa.

- Foi a mesma impressão que tive dela, Challenger! Também me lembrou uma refinada dama francesa! Nunca me esquecerei como fui bem recepcionado por ela, na sua casa. Lembro-me dos cuidados dela ao dizer "Vou deixar uma campainha perto de você. Se G.E.C. tornar-se violento, você toca a campainha e mantenha-se afastado dele o máximo que puder até eu chegar". Ned também tinha vívidas essas recordações.

- Algo que fez com que eu prosseguisse com a minha entrevista, foi a forma carinhosa e divertida como você lidava com a sua esposa, Professor! Você poderia ser rude com os outros, mas parecia um garoto de cinco anos sendo repreendido por ela! Ned balançava o dedo para Challenger como alguém que descobriu o ponto fraco do outro.

- Mas quando ela exagerava, bem que eu a punha de castigo! Challenger ria da cena do "castigo" que deu em Jessie, colocando-a de pé sobre um pedestal de mármore e falando carinhosamente para ela que só a tiraria dali se pedisse por favor!

- Há muita força e sabedoria na minha baixinha! Ela sempre teve muita paciência comigo! Quando eu não estava no Instituto de Zoologia, ou estava viajando, ou dando palestras em outras cidades....A deixava muito tempo só...E mesmo assim, quando eu retornava, ela me recebia com um abraço caloroso e um sorriso terno, depois me puxava pela mão e ia me mostrar um de seus quadros, ou me falar sobre os acontecimentos da escola onde lecionava. Ela tinha luz própria...Mas mesmo assim, eu me sinto culpado por tê-la deixado tanto tempo só! De repente, George entristeceu e começou a escrever com um galho, o nome Jessie, na terra vermelha do solo seco.

Foi então que Malone, também envolvido em suas próprias recordações, começou a falar de si:

- Quando saí de Londres, ingressando na sua expedição; tudo o que eu mais queria era impressionar a Gladys e o pai dela, Mr. Hungerton! O pai dela é um chato, e aguentá-lo falando sobre dinheiro e investimentos o tempo todo, fazia eu me perguntar o que me levava a tomar um bonde de Camberwell rumo a Streatham em Chestnuts, três dias por semana! Mas quando ela surgia na escada, com aqueles cabelos cacheados e aqueles lábios tão cheios, aí eu me lembrava que ela valia todo esforço do mundo para eu estar ali! Os olhos de Ned brilhavam ao falar de Gladys.

- Até que um dia eu me enchi de coragem e declarei o meu amor para ela! Ela sabia que eu era jornalista do Daily Gazette, e que fizera várias reportagens em que tive que arriscar a minha vida para conseguí-las! Como foi naquela explosão da mina de carvão e também no grande incêndio em Sothwark! Mas tudo aquilo não era o suficiente para ela! Lembro-me de suas palavras: "Eu só amaria um homem de grandes feitos e experiência exóticas. Pois as glórias por ele conseguidas, se refletiriam em mim!". Acredito que ela andou lendo muito Richard Burton e Lady Stanley! Malone chutou uma pequena pedra que estava à sua frente, no chão.

- Disposto a qualquer coisa para casar-me com ela, decidi procurar o editor de notícias do jornal, Mr. McArdle, solicitando uma reportagem cheia de aventuras. Foi então que ele disse para eu procurar o moderno Barão de Munchausen...Você! Ned fez aquela cara de "não me bata", cruzando os punhos na frente do rosto.

Mas Challenger deu de ombros para aquele apelido bobo, que ele sabia bem ser um sinônimo para a palavra mentiroso. Este era um dos menos terríveis, com os quais muitos ignorantes o chamavam. Mas um dia eles saberiam a verdade!

- Mas o que me deixou mais entristecido, foi saber que havia um advogado, um sujeito feioso e careca tentando cortejá-la também! Tenho certeza que Gladys não me trocaria por um sujeitinho com a cara de um cachorro bull terrier! Ou trocaria? O meu maior medo é saber que quando eu voltar para Londres, saiba que ela já tenha me esquecido ou mesmo casado com outro...Talvez dois anos seja tempo demais para uma moça esperar pelo seu herói, você não acha, Professor? Challenger?

- Fique parado aí, Malone! O T-Rex vai notar a nossa presença assim que nos mexermos! Pegue seu rifle com cuidado e corra para aquela caverna pela qual passamos agora a pouco! Challenger sussurrava.

- Dará tempo? Malone sabia que a caverna estava um pouco longe. Será que não seria melhor que cada um corresse para um lado? Um ao menos se salvaria, ele pensou.

- Se você esticar o braço e conseguir lançar o resto do nosso assado até ele, talvez o cheiro o retarde. Quando lançar a isca, espere ele se virar e depois corra! Challenger continuava sussurrando.

Então Malone, vagarosamente, abraçou o assado como a uma bola de rugby e o arremessou bem perto do focinho do tiranossauro. E juntos correram em direção a caverna. No primeiro instante, o cheiro do assado atraiu o faro do tiranossauro, e ele o abocanhou. Mas percebeu o movimento de mais duas caças maiores. Ele estava faminto!

Malone e Challenger correram o máximo que puderam, apesar das pernas já doloridas pela escalada na montanha. O tiranossauro quase abocanhou Challenger, quando o professor tropeçou num tronco e caiu. Mas Challenger era ágil e leve, apesar da idade, e após rolar rapidamente no chão, escapando daquela enorme fileira de dentes, conseguiu levantar-se a tempo, escapando de outra investida da grande mandíbula do predador. Malone e Challenger conseguiram chegar na caverna. Porém a cabeça do tiranossauro conseguia entrar inteira dentro dela. Para sorte deles, havia dois buracos horizontais, que mais pareciam duas covas rasas, onde os nossos aventureiros deitaram rapidamente. Apesar de conseguir enfiar sua grande cabeça dentro da caverna, era impossível tirar suas presas daquelas valas, pois não havia espaço para virar a cabeça e retirar as suas presas dali.

O tiranossauro fez diversas tentativas, mas todas foram frustradas. Até que finalmente anoiteceu e o carnívoro desistiu deles. Passado um bom tempo, Malone ergueu apenas a cabeça da vala, deixando seu corpo esticado dentro dela e encontrou o Challenger na mesma situação que ele. Era noite de lua cheia e a caverna estava totalmente iluminada.

- Você acha que ele desistiu de nós, Malone? Perguntou Challenger sem se atrever a tirar o resto do corpo da vala.

- Acho que temporariamente sim! Malone também não fez nenhum movimento para sair daquela posição.

- Sabe, Ned...Ficar deitado numa cova rasa, na minha idade, não é nada agradável! Challenger ria e completou:

- Mas eu acho melhor nós passarmos a noite aqui, deitados! O que você acha, Malone?

- Sabe, Professor...Estou aquecido, bem acomodado e acho que o sono está chegando...É melhor ficarmos por aqui mesmo! Riu Malone.

- De uma coisa nós sabemos...O Roxton provavelmente está melhor que nós. A esta hora deve estar alimentado e conversando ao redor da fogueira com os nativos de Zanga! Completou Challenger.

Mal sabiam eles que, naquele momento, Lord Roxton embriagava-se na tentativa de esquecer Marguerite, e que acabaria se comprometendo em dormir com uma nativa dos Zanga.....