DISCLAIMER:
Todos os personagens da série "Sir Arthur Conan Doyle's
The
Lost World" são propriedade de John Landis,
Telescene, Coote/Hayes,
DirecTV, New Line Television, Space,
Action Adventure Network,
Goodman/Rosen Productions, e Richmel
Productions.
OXFORD UNIVERSITY
Chapter 1 - Revelations
Author - SIMONE BETTIN
...§...
Já estava no meio da tarde e o sol brilhava forte no céu azul turquesa do platô. O verão havia terminado, mas ainda era possível sentir o vapor quente e úmido que subia da terra. Quão exuberante era aquela vegetação, em que árvores e plantas contemporâneas e pre-históricas conviviam em perfeita harmonia.
O platô possuia vales tão íngremes quanto os encontrados nos trópicos como paragens suaves e graciosas encontradas no interior da Inglaterra.
Roxton e Marguerite continuavam a procurar uma saída daquele mundo perdido. Carregavam consigo mochilas e pertences, pois foram muitas as vezes que tiveram de acampar durante a jornada. O platô possuia uma dimensão enorme e exigia dias de caminhada para atravessá-lo. Sua selva era densa e perigosa e Roxton caminhava à frente para abrir caminho. Marguerite o seguia, exausta e ofegante.
- Eu estou cansada! Disse Marguerite irritada, indo em seguida sentar num tronco de árvore derrubado no chão.
- Calma, Marguerite... Assim que encontrarmos um bom lugar, acamparemos, eu prometo! Ele disse suavemente, olhando-a de soslaio, sem perder o ritmo da caminhada. Lord Roxton a conhecia. Sabia que se não tranquilizasse a sua companheira de jornada imediatamente, sofreria uma torrencial chuva de lamentações.
- Calma! Calma! É só isso que você sabe dizer, Roxton? Estamos andando a horas desde que deixamos aquela malditas cavernas ao norte. Meus pés doem, minhas costas doem, sinto fome, sede e você não para um segundo! Ela esbravejou ao mesmo tempo em que esfregava a mão direita sobre o couro da bota marrom de cano longo sob a longa saia caqui própria para safári.
- Marguerite...- Disse ele calmamente - Alguém, alguma vez, já lhe disse o quanto é resmungona e intratável? Roxton lhe sorria com o canto da boca e uma sobrancelha arqueada, compunha o ar irônico com o qual a observava.
- Sim...você disse...muitas vezes! Ela o olhava exasperada, só desviando o olhar para seus próprios pés doloridos com o longo exercício.
- Muito bem, muito bem...Você já descansou o suficiente certo? Agora vá levantando daí, pois precisamos encontrar um bom lugar para ficarmos esta noite. Ao mesmo tempo que dizia estas palavras, o caçador nato que habitava nele, buscava possíveis sinais de predadores ao redor deles e quando virou-se para Marguerite viu que ela ainda estava sentada no mesmo tronco de árvore. Abaixando ligeiramente a cabeça em negativa, ele caminhou até Marguerite, num andar lânguido quase marchador, segurando o rifle com mira num abraço.
Sentada e distraída, ela levou assustou-se o aço frio da ponta do rifle tocar o seu braço esquerdo.
- Anda...Marguerite... Levanta daí, mulher! Era uma ordem.
- Roxton, por Deus! Como você é estúpido e arrogante! Ela esbravejou ante ao tratamento dele.
- Humpf...Obrigado pelo elogio. Agora levanta daí! Não levará muito tempo para escurecer e precisamos de um lugar seguro para pernoitar. Disse olhando para o céu alaranjado do cair da tarde.
- Se é um lugar seguro que precisamos... - Ela agora estava em pé, girando o corpo em torno de si e com os braços estendidos para o alto - Ficaremos aqui então! Dormiremos naquela gruta ali, acenderemos uma fogueira, preparamos uma bela refeição, dormiremos o sono dos justos! E tão logo amanheça, partiremos para uma nova jornada rumo a casa da árvore... que tal? Olhava-o com aqueles grandes olhos azuis esperando sua aprovação.
- Não! Roxton continuou a caminhar após a curta negativa sem olhar para ela.
- Como não, Roxton! Ela andou rapidamente e posicionou-se à sua frente com as mãos na cintura - Pode me dizer porque não podemos?
- Você sabe que eu não gosto de grutas, Marguerite...Nos tornamos presas fáceis dos predadores nelas. Ou você já esqueceu do que aconteceu conosco naquela gruta que dava acesso aquele lugar parecido com o "Paraíso"? Disse isso colocando o rifle sobre uma pedra e cruzando os braços sobre ele, olhando ao redor pensativo e voltando a falar.
- Jamais me esquecerei daquele dinossauro! Roxton agora olhava para horizonte além dos vales verdejantes onde pastavam estegossauros e ptreodáctilos planavam, como que para lembrar melhor do ocorrera com eles no ano anterior. - Que animal era aquele? Sua boca parecia um enorme triturador de carne! E aquela caparaça! Devia ter no mínimo uns 20 centímetros de espessura...creio que nem um foguete militar atravessaria aquela couraça e além do mais...
- Tá! Tá! Já chega! Interrompeu Marguerite esfregando os braços em aflição - Já temos o Challenger para explicar em detalhes a vida e comportamento destes monstros pre-históricos, além das suas invenções, e o porque disso e o porque daquilo...Mais um senhor explicadinho eu não poderia aguentar! Montaremos o nosso acampamento aqui, certo? Ela disse isso, tirando em seguida a mochila das costas.
Fez isso de forma tão segura e determinada que nem se deu conta que Roxton sem pronunciar palavra, continuou a seguir em frente atravessando a mata. Só quando Marguerite pousou a mochila no chão e levantou os olhos azuis divertidos, percebeu que encontrava-se só, o seu sorriso triunfante lhe sumiu dos lábios.
- Roxton? Primeiro perguntou num sussuro.- Roxton! Depois gritou aflita.
Começou a abrir as folhagens em torno de si a procurá-lo e sem o encontrar, começou a falar alto com raiva deliberada - Volte aqui Roxton! Volte aqui, ouviu? Você não vai me deixar sozinha! Ela gritava seu nome por entre as árvores enquanto olhava ao redor com medo.
Alguns passos adiante, Roxton caminhava com um sorriso maroto nos lábios e pisava propositadamente com força no chão, deixando pistas com a sua bota número 43. Ele conhecia Marguerite. Conhecia a muito tempo o medo dela. Era isso que o atraia nela. Por mais fria e autosuficiente que aquela mulher parecesse, havia nela uma certa fragilidade, quase infantil, que o encantava. Havia se certificado sobre predadores ao redor para deixá-la em segurança. Mas precisa pregar uma pequena peça naquela linda mulher orgulhosa.
Porém após alguns minutos depois, Roxton percebeu que ela não o seguira como planejou e ele irritou-se ante a teimosia e falta de cautela daquela senhora.
Mulherzinha autoritária! Disse a si mesmo. Nunca encontrara uma inglesa que o desafiasse tanto. Ela conseguia tirá-lo do sério, brincar com sua paciência tibetana e fazê-lo dobrar-se aos seus caprichos. E quanto mais submissa tornava-se a sua dedicação a ela, mais alegria invadia seu coração outrora endurecido. Que encantos possuia esta mulher? Perguntou-se quase num desabafo.
Mas ainda disposto a baixar-lhe o nariz topetudo, ele manteve-se firme na decisão de deixá-la um pouco com medo, no intuito de fazê-la crer o quanto precisa da proteção dele.
- Mas ela virá...Ela precisa de mim para protegê-la...Aparecerá correndo... E é só...- Olhou para um lugar convidativo na grama - Aguardá-la bem aqui! Sentou-se então ao pé de uma árvore frondosa, recostando-se nela e puxando o chapéu de caçador sobre os olhos.
Enquanto isso, Marguerite andava de um lado para outro com as mãos na cintura dizendo baixinho - Ele pensa que preciso dele para me proteger... Em seguida gritou - Eu não preciso de você, ouviu Lord Roxton! Nem de você, nem de nenhum esnobe da monarquia inglesa! Você e seus amiguinhos jogadores de críquete exibidos e comedores de caças de uma figa. Como vocês conversam mesmo? deixe-me lembrar...Ah! Que tal comermos umas perdizes abatidas esta manhã em meus jardins, Sir Thompson? Efetivamente, Lord Roxton! Queira mostrar meus dois jovens beagles batedores, Lord Roxton. Que altiva cernelha eles possuem, Sir Thompson! Gritava entre as folhagens para que ele a ouvisse.
Recostado na árvore, Roxton ajeitava o chapéu na cabeça, posicionando-o corretamente - O que será que ela está gritando? Tentou sem sucesso, entender o som abafado que vinha das folhagens. Sabia que ela falava sem parar, e não era nada cristão.
- Bom...No mínimo deve estar falando mal da realeza e da sua corte só para me provocar...É a nova mania dela...Mas se ao menos ela me provocasse e andasse um pouco, estaríamos fazendo um grande progresso! Faltava pouco para anoitecer e Roxton começava a se preocupar.
- Ele vai voltar...Eu sei que vai... - Suspirou Marguerite jogando-se novamente sobre o tronco de árvore - Ele nunca me deixou sozinha antes...Não vai me deixar agora...Eu acho? Disse isso duvidando das próprias palavras.
De repente a selva emudeceu e Marguerite ouviu com nitidez o barulho de um regato a poucos metros dali. Levantou-se e foi de encontro ao ruído. Ao abrir as folhagens, deparou-se com um pequeno lago. Este não deveria ter mais que 10 metros de circunferência e era abastecido por uma queda d'água que brotava de um amontoado de pedras . Ao redor do lago haviam vários salgueiros e a grama baixa e bem cuidada demonstrava que aquele lugar em nada parecia com a vegetação típica do platô. Mais lembrava o lagos de carpas recobertos de líquens dos jardins bem cuidados de Greenwich Park.
Como não percebemos este lago aqui antes? Perguntou-se se esperar resposta e, dando de ombros, pegou um lenço e o molhou, refrescando em seguida colo e nuca suados pelo calor sufocante daquela tarde de verão.
Foi quando, ao olhar novamente para o lago, Marguerite viu uma espada reluzente sair do seu centro. Na sua extremidade duas mãos pequenas e delicadas a seguravam. Surgiu então uma mulher de longos cabelos negros e olhos tão negros quanto amendoados, fixando seu olhar aos de Marguerite. Usava um longo vestido azul escuro e nele tremeluziam pequenos brilhos. A mulher abaixou sua espada e a colocou na bainha em volta da cintura. Marguerite não pôde deixar de observar que tanto a espada como a bainha eram ricamente adornadas com rubis, esmeraldas e diamantes.
- Você de perto é mais bonita! - Disse a estranha com um sorriso. - Venha...Não temas...Sente-se para que possamos conversar. - Disse suavemente enquanto indicava uma pedra próxima com a reverência de uma soberana.
- Esta espada... Eu acho que a reconheço...Ou melhor, eu a vi num desenho...Onde foi mesmo? Disse Marguerite tentando lembrar-se de onde foi. - Já sei! Foi num dos livros de Gawain, naquela pequena expedição de Camelot que encontramos aqui no platô! Sim...Esta é a espada de Camelot! - Marguerite conclui eufórica.
- Excalibur pertenceu a Camelot sem dúvida...Mas foi forjada em Avalon, sob os meus cuidados e a Avalon pertencerá para sempre! Disse a estranha com propriedade - Meu irmão Arthur desfrutou dos poderes de Avalon através desta espada, porém não protegeu Avalon como teria feito seu pai Uther Pendragon. Você não sabe... Mas estamos num plano acima desta terra e um fio tênue nos aproxima de tempos em tempos. Se eu não tivesse reconquistado Excalibur, Avalon teria se perdido para sempre! A voz de Morgana soava triste ao lembrar-se do que tivera que fazer em nome de Avalon.
- Então você chama-se Morgana? - Perguntou Marguerite quase afirmativamente.
- Morgana das Fadas...Era assim que Lancelott costumava chamar-me. Mas isso já faz muito tempo...Morgana olhou ao longe e ao fechar seus olhos, seu rosto parecia esconder uma dor profunda e silenciosa que não deixou de ser percebida pela vivaz Marguerite.
- Mas não é sobre mim que eu quero falar...e sim sobre você. - Morgana abriu os olhos e retomou a pauta da conversa serenamente - Eu estava observando você e o cavaleiro que a acompanhava atravessando estas florestas. Você gosta dele, não é mesmo? - Era mais uma afirmação do que uma pergunta e Morgana sorriu.
- De quem? Do Roxton? Ah, não! Como eu poderia gostar de um homem tão grosseiro, arrogante, impaciente e...
- E terrivelmente atraente! Completou Morgana. - Atraente, generoso, protetor e sincero.
- Sincero...Você disse bem...Sincero até demais! Sabe que a sinceridade dele me assusta as vezes! Gracejou Marguerite.
- Ele não te lembra o outro homem? O do seu passado? - Perguntou afirmativamente Morgana.
- Que outro homem? Não sei do que você está falando! Marguerite respondeu de forma dissimulada.
- Naquela cidade ao sul da Bretanha, onde você concluiu seus estudos. Havia um homem forte de olhos e cabelos castanhos e dono de um sorriso cativante que salvou duas crianças num incêndio... lembra-se dele? Qual era o seu nome? Morgana perguntou desafiadora.
- Andrew... - Respondeu Marguerite com os pensamentos ao longe.
- Andrew de Sunderland, não é mesmo? Concluiu Morgana.
- Sim! Mas isso foi a muito tempo... e você não tem o direito de me fazer lembrar algo que custei a esquecer! Os olhos de Marguerite baixaram magoados.
- Esquecer? Você nunca o esqueceu...Ou você acha que eu não sei o que se passa em seu coração, Melanie! Sorria serena Morgana.
- Melanie...Era assim que Andrew me chamava! Lágrimas embotaram a visão de Marguerite que heroicamente não as deixou rolarem .
- Não quero que as lembranças do passado pertubem você neste momento da sua vida. Embora continuem a pertubá-la, sem você se dar conta disso. Esse cavaleiro que a acompanha agora, não é igual a ninguém que você já tenha conhecido antes. Permita-se viver este momento...eu a ajudarei...dar-lhe-ei um presente.
- Um presente? O olhar interesseiro de Marguerite foi direto para Excalibur.
- Oh, Não! Não a espada! Não a Excalibur, minha esperta e ambiciosa Marguerite. O meu presente é um conhecimento, um conhecimento necessário de certos fatos acerca da sua vida. Disse aegre e suavemente Morgana.
- Oh, Claro! Suspirou Marguerite. Desapontada com a oferta, Marguerite deu de ombros. O que era um conhecimento perto daquela espada que deveria valer uma verdadeira fortuna.
Morgana sacou a espada e a colocou sobre a cabeça de Marguerite. Neste instante ouviu-se o farfalhar dos arbustos, algo se movia na mata.
- Onde diabos se meteu essa mulher! Marguerite! Marguerite! Onde você está? Chamava Roxton ao aproximar-se do local.
Marguerite virou-se e o chamou também – Aqui! Roxton! Aqui!
Ele apareceu dentre as folhagens e viu o pequeno lago. - Humm...um lago! Como não o vimos antes? Eu sei que passamos por aqui? Tenho certeza disso! Olhava em volta admirado.
- Veja Roxton, essa aqui é a Morg...- Marguerite espantou-se. Morgana sumira.
- Ver quem, Marguerite? Roxton abaixou a cabeça e tentava acompanhar o rosto de Marguerite que olhava de um lado para outro a procura de Morgana.
- Mas ela estava aqui agora mesmo! Ela saiu do lago com a Excalibur nas mãos...disse que me daria um presente. Cadê o meu presente? Havia lamento em sua voz.
- Pobre Marguerite...O medo afetou o seu juízo ou será a fome? Zombou Roxton.
- Não zombe de mim, Roxton! Eu a vi...ela estava aqui! Era quase um grunhido de frustração.
- Tudo bem, tudo bem! Disse Roxton tentando acalmá-la - Acamparemos aqui então...Pelo menos temos há água o suficiente para encher os cantis, fazer as refeições e nos banhar. Pegue esses gravetos e vá providenciando a fogueira enquanto eu recolho mais lenha...ou isso também é trabalho demais para a madame? Ele ironizou.
- Tá! Tá! Vai buscar a sua maldita lenha! Neste momento ela queria ficar só e entregar-se aos pensamentos tão violentamente aflorados por Morgana.
Marguerite preparou a refeição com o que trouxeram em suas mochilas. Fez panquecas de farinha de mandioca com carne de iguanadonte seca ao sol. Enquanto Roxton comia ela preparou uma cama de folhas secas e em seguida lavou os utensílios. Roxton encheu duas canecas de café, que ele preparou, e entregou a de Marguerite ao sentar-se ao lado dela num tronco de árvore caído.
- Me fale da visão que você teve hoje a tarde. Ele pediu com sincera curiosidade.
- Não foi uma visão... - Ela interrompeu o diálogo para sorver o delicioso café a qual se viciara - Eu a vi...Nitidamente... E ela me conhecia tão bem...Ela o descreveu... O lugar em que ele estava...Seus olhos, seu jeito. Marguerite perdia-se nas breves recordações enquanto sorvia o café.
- Ele quem? Perguntou Roxton desconfiado.
- De alguém que conheci a muitos anos. Ela foi seca e curta na resposta. Levantou-se em seguida e despejou o resto do café da caneca na terra.
- E o que mais ela lhe contou? Roxton arqueou uma sobrancelha enquanto bebia o seu café.
- Que me daria um "conhecimento", ou sei lá o quê neste sentido! Voltou a sentar sobre o tronco desolada, fazendo círculos com a bota na terra .
- E ela lhe deu o tal conhecimento? Ele encarou Marguerite nos olhos.
- Não...lógico que não! Neste momento ouvi você me chamar e ao virar-me...não a vi mais. Acusando-o.
- E você tem idéia a qual conhecimento ela se referia? Ele agora acendia um cigarro de folhas escuras que ganhou de Mesabi, um grande caçador da tribo de Zanga.
- Agora você está fazendo perguntas demais, Roxton! Você já atrapalhou o suficiente e é só. Quem vigiará no primeiro turno? Ela mudou rapidamente o rumo da conversa pois para explicar-lhe teria que revelar o seu passado e definitivamente, ela nada revelaria do seu passado à ele. Os ingleses com suas tradições arraigadas jamais compreenderiam quem foi Marguerite Krux.
- Eu farei o primeiro turno. Declarou Roxton sem se aperceber dos pensamentos da mulher ao seu lado.
- Perfeito! Então eu vou para a caminha que eu mesma preparei! Ironizou.
- É? E eu? Você esqueceu de mencionar a lenha que "eu" recolhi, do café que"eu" também preparei, também ajudadei com a refeição e a louça suja, esqueceu? Retaliou Roxton fazendo beiço com indignação disfarçada.
- Divisão no serviço doméstico é o justo, meu caro! Ela disse com um sorriso brincalhão.
- Humpf...As vezes eu gostaria de saber o verdadeiro significado de divisão e justiça para você, Marguerite! Te juro! Mas é melhor deixarmos esse assunto para um outro dia e hora. Ele deu de ombros e foi sentar numa pedra próxima a barraca e dedicou a sua atenção a munição do rifle.
- Boa noite...Lord John! Marguerite deu-lhe um sorriso cínico e insinuante.
- Boa noite...linda! Ele fez aquela cara safada com sorriso de canto de boca enquanto a observava recolher-se para dentro da barraca.
Passado algum tempo, Roxton pegou-se olhando para a barraca a sua esquerda e ficou imaginando Marguerite deitada e falou para si mesmo num sussurro – Parece uma gatinha manhosa ronronando...Eu poderia ir até lá e sentir o perfume daqueles cabelos encaracolados e sedosos e...Não! É melhor eu pensar em outra coisa...Falou em voz alta para si mesmo, tirando tais pensamentos lacivos da mente, procurando prestar atenção nos ruídos da noite.
No meio da madrugada, Marguerite sentiu que algo apertava a lateral do seu pé direito. Ao abrir os olhos, percebeu que era o Roxton cutucando a sua bota com a ponta do rifle. Ela levou algum tempo para despertar e quando o fez, brotou-lhe o seu típico mau humor sonolento.
- Dá pra você parar de me cutucar com essa droga de rifle, Roxton? Sentou-se esbravejando a plenos pulmões.
- Não tá na hora da senhorita me render na vigília? Não sei se você sabe, mas eu sou humano e mortal como você e, também sinto sono! – Roxton devolveu-lhe a rispidez com um olhar irritado.
- Dê-me isto aqui! Ela falou entre os dentes e tomou-lhe o rifle das mãos. Em seguida saiu da barraca e foi sentar-se na mesma pedra que ele passara a noite em guarda, olhando com irritação para a barraca. Detestava ser acordada de forma tão abrupta. E esta forma era constante ali no platô.
Algum tempo depois, Roxton dormia profundamente e ressonava alto. Da pedra onde estava sentada, com o rifle em punho, Marguerite podia vê-lo deitado sobre a cama de folhas, com o rosto apoiado sobre os braços e ela lembrou-se daquela vez em que ele dissera "durmo feito um bebê" e completou "porquê você não vai lá ver" saindo em seguida com o rifle em mãos e rindo feito uma criança que acabara de cometer uma travessura. Ao lembrar-se destas cenas, Marguerite não pode deixar de se emocionar, sentiu aquele aperto no coração que se estende e aprisiona a própria garganta para em seguida um suspiro roubar-lhe o ar. Ela conhecia muito bem isto: apaixonara-se por Roxton! Não sabia dizer nem quando nem como acontecera. Só sabia que esconderia de todos e dele. Mas e de si mesma?
- Não.. Não posso! Ou melhor, não devo..É loucura! Se recriminou baixinho procurando desfazer-se desses pensamentos e lembrou que observar a escuridão da selva era sua função naquele momento.
Olhou novamente para a barraca, Roxton agora roncava alto. Era sempre assim quando ele tinha um dia muito cansativo. Marguerite levantou-se e com o rifle numa das mãos, caminhou até a barraca. Se aproximou da cama e ajoelhou-se a seu lado. Podia sentir o cheiro almiscarado que exalava daquele corpo forte. O suor de Roxton penetrava em seu cérebro transmitindo-lhe sinais que toda fêmea sente quando escolhe o seu macho. Embriagada por essas sensações, seus olhos começaram a fechar-se. Ela podia sentir que a temperatura e o cheiro do seu próprio corpo começara a mudar, tornando-a acessível e receptiva. Roxton agora, estava deitado de costas e suas mãos calejadas se entrelaçavam sobre o peito largo Com os olhos semicerrados, Marguerite contemplou o rosto de contornos perfeitos, o maxilar quadrado que terminava numa boca sensual e semi aberta. Os olhos de Marguerite desceram até a cintura dele e sorriu ao deparar-se com as inúmeras facas e apetrechos de caça que ele trazia no cinturão de caçador. Ele sentia muito orgulho das suas armas. E dentre todas essas armas...O olhar dela se prendeu no volume sob as calças de Roxton. Sentiu um rubor nas faces e um frenesi percorrer-lhe às costas vindo a terminar na nuca.
Foi quando sentiu braços fortes envolverem sua cintura e trazê-la para baixo num lampejo. Soltou um grito de surpresa ao ver-se deitada sobre o peito de Roxton e a sua boca a poucos milímetros da dele, quase tocando-a.
- Não! Ela foi tomada de surpresa como se ele tivesse lido seus pensamentos mais secretos.
- Perdeu alguma pedra preciosa aqui, dona? – Seu sorriso tocou de leve os seus lábios. Havia sensualidade demais nos olhos dele.
- Não...E que bem...Eu o ouvi falar dormindo e pensei que estivesse tendo algum pesadelo! Arfava enquanto tentava desvencilhar-se daquele abraço.
- Muito gentil de sua parte, Marguerite. Não sabia que se preocupava com o meu bem estar desta forma! Ele continuou a abraçá-la com força, e tocava diversas vezes os lábios dela ao dizer estas palavras.
- Roxton...Por favor...Me solta! Fingiu uma raiva que não sentia, como também era teatral a sua fuga.
Num movimento rápido, Roxton virou Marguerite contra a cama e deitou-se sobre ela segurando seus braços sobre sua cabeça, dizendo:
- Bom, temos pouco mais de uma hora antes do amanhecer e acho melhor você dormir um pouco e... Roxton direcionou então o seu olhar e atenção para boca dela. Roxton tinha a experiência dos bem nascidos e sabia como ninguém desfrutar dos prazeres da vida. Nunca disperdiçara experiências ao longo das suas quatro décadas vividas na nobreza londrina e nos melhores círculos europeus.
Ao simular uma tentativa de levantar-se, pressionou suas coxas contra as coxas de Marguerite. Ela sentiu seu membro rijo tentando fazê-la arquear-se. Ele desabou novamente seu corpo sobre o dela e beijou sua boca com urgência. Ele gemia e repetia "Marguerite" a cada respiração. Seus olhos verdes não desgrudaram dos azuis dela por um segundo sequer. Quando Marguerite tentou fechar os seus, Roxton puxou-lhe os cabelos para trás. Ele precisava que ela contemplasse a agonia gostosa que provocara nele. A boca dele percorreu o pescoço de Marguerite para em seguida mordiscar-lhe o queixo. A cada vez que ele cobria a boca dela, seus quadris forçavam a redenção daquela beleza. Num movimento rápido, Roxton conseguiu segurar as duas mãos de Marguerite com apenas uma mão sua. E com a outra penetrou aquele corpete sedutor, fechando seus dedos sobre o seio direito dela. Marguerite soltou uma exclamação de êxtase e olhou felina para Roxton.
De repente, Roxton lembrou que era um cavalheiro. E que a sua dama não estava pronta para entregar-se. Ela cederia seu corpo sem reservas, disso ele já sabia...Mas queria muito mais que isso. Queria uma Marguerite completa, entregue de verdade. Saberia aguardar.
Num ímpeto, rolou para o lado da cama, recolheu o rifle jogado no chão e levantou-se. Lançou um último olhar que percorreu o corpo de Marguerite. Saiu da barraca como um gato na noite.
Na cama, de costas e apoiada sobre os cotovelos, uma Marguerite ainda surpresa e desconcertada viu que o melhor era dormir, e ao virar seu rosto contra a cama, não pôde deixar de enebriar-se com o cheiro que o homem de seu afeto impregnara na cama de folhas secas. E então dormiu quase que imediatamente e sonhou... Sonhou que Morgana a levara pelas mãos até um portal e ao atravessá-lo, reconheceu a grande construção. Era a Universidade de Oxford e sentiu-se novamente muito jovem...
