Cap. 3 : Precipício
O tempo foi passando, meu irmão já tinha 4 anos, e era incrível a arrogância que ele já possuía, eu realmente duvidava as vezes se ele era meu irmão.
Eu nunca consegui esquecer aquele dia no meu quarto. Nunca tirei da minha cabeça a minha imagem, sentado no chão do quarto abraçado aos joelhos chorando, e nunca mais olhei a minha família como uma família, a família que eu queria.
Eu tinha acabado de fazer 9 anos, e eu possuía um sentimento de vazio dentro de mim que muitas pessoas levam anos pra alcançar, eu imagino que todos, alguma vez, tenham se sentido sós, incompreendidos, desamparados, inúteis, insignificantes, como se sua existência não tivesse nenhum valor, e imagino que vocês tiveram isso por volta dos 13 em diante, e sabem que isso não é sentimento pra uma criança de 9 anos, uma criança com esses sentimentos são tristes e melancólicas, e era assim que eu era, misture esses formidáveis sentimentos com raiva e amargura. Não fica muito bom.
Bem... o contrario de como eu estava, eu estava muito mal, me sentia completamente só, injustiçado, preso no meio de uma grossa névoa na qual não conseguia encontrar a luz, a saída, eu me sentia, pouco a pouco, caindo em um fundo precipício, com ninguém pra me puxar, ninguém que ligasse, ninguém que notasse.
Desde aquele infeliz episódio com Snuffles eu nunca mais havia chorado, e isso não é bom, você vai guardando a magoa dentro de você, a raiva, e isso vai te deixando amargo, e com o tempo, eu sentia que ia ficando cada vez mais fraco, cada vez mais sem forças pra lutar, lutar contra a minha própria família, e além do mais, eu não tinha um objetivo, não tinha pelo que lutar, eu não conhecia nada além do mundo que a minha família queria me mostrar, ela é claro, só queria ter relações com pessoas importantes, puro sangue, eu não podia simplesmente sair de casa, embora eu fizesse isso escondido de vez em quando, mas só podia andar pelas redondezas, eu não podia me demorar, agora meu irmão estava maior e minha mãe não precisava ficar trancada no quarto pra cuidar dele, por isso logo sentiriam minha falta.
Eu estava cada vez mais sem saída, eu não via uma solução, ou qualquer coisa pra me tirar daquele pesadelo, foi quando de repente, me lembraram de uma coisa que eu havia esquecido completamente, isso costuma acontecer quando você esta deprimido, você fica tão ocupado se lamentando o dia todo, que não consegue lembrar de algo bom que possa acontecer, você simplesmente não consegue visualizar uma saída, então, fizeram esse favor pra mim.
- Esse menino tem que se preocupar mais com o futuro, ele tem que ter melhores amizades, você percebeu como ele é anti-social? – Minha mãe falava na sala com meu pai, eu estava na cozinha sentando na mesa visualizando o prato na minha frente, e até aquele momento eu me mantinha indiferente a conversa – Ele tem que parar com esse gênio horrível que ele tem! Ele já tem 9 anos! Logo chegará a hora dele ir a Hogwarts! E com que gente ele vai andar? Ele tem que ter amizades solidas pra quando ingressar na escola ter gente da nossa classe como companhia!
No momento que eu ouvi a palavra Hogwarts meus ouvidos se destamparam, meu celebro funcionou como uma maquina e meu coração disparou. Hogwarts! Como pudera esquecer de Hogwarts! Sim, era a minha salvação! Eu tinha que aguentar firme até lá, tinha que manter a cabeça no lugar. Eu ia sair daquele lugar horrível! Ia fazer amigos, sim, eu ia, não importava em que casa eu fosse cair, eu seria popular, todos me conheceriam, eu finalmente sairia daquele buraco, e eu ia manter meu juramento! Ninguém passaria por cima de mim! Nem meus pais. De repente eu parecia ter ganhado forças pra reagir, lutar, pra responder as indiretas diretas de minha mãe! Sim! Eu ia resistir!
O tempo passou, meu pai e minha mãe faziam planos pra mim, é claro que eu não dava atenção pra nenhum, o que aumentava a raiva de minha mãe, e até mesmo meu pai que era frio e insensível começava a perder a paciência, eu não me importava, eu me livraria dele, logo logo, eu finalmente estaria livre , livre deles, livre da minha prisão, livre da minha solidão.
Eu tinha feito 10 anos no mês passado, e já estudava livros de magia, eu queria chegar lá sabendo tudo que eu podia, queria ser muito esperto, assim me enturmaria logo.
Meu pai e minha mãe imaginavam que eu ficaria na sonserina, mas eu tinha minhas duvidas, claro, eu tinha até algumas características de lá, mas eu não me imaginava passando por cima de gente que não me fez nada só pra alcançar o que eu queria, e era muito mais honrado que minha família, e dado pelo fato que eu não tivera um único amigo de verdade – a não ser que eu contasse com Snuffles claro- eu tinha certeza que daria um valor descomunal para os que tivesse, é claro, isso se eles fossem verdadeiros, e crescendo com as pessoas que eu cresci, eu podia dizer com certeza, que sabia muito bem julgar o caráter de uma pessoa.
Finalmente a hora estava chegando, eu iria sair com meus pais para comprar o meu material, faltavam dias para o grande dia, eu não me lembro de ter ficado tão empolgado como eu fiquei aquele dia, dentro de poucos dias eu entraria pra Hogwarts, e faria todo o possível pra fazer o contrario do que meus pais aconselhavam.
Me lembro de cada detalhe do meu dia no beco diagonal, lembro de como experimentei extasiado o uniforme de Hogwarts, e principalmente, quando depois de muitas tentativas consegui achar a varinha perfeita pra mim, sim, eu estava pronto, tudo estava pronto, eu iria para Hogwarts.
Alivio, foi o que eu senti quando o dia chegou, todos estavam correndo, apressados, mas eu ia com calma, encantado com cada detalhe, eu já tinha guardado todo material, estava com roupa pronta, tomei o café rapidamente, me forçando a comer alguma coisa pra não parecer um morto de fome no trem, eu estava alegre como nunca tinha estado em toda minha vida, e nada, nada poderia estragar a minha alegria. Era o que eu pensava.
- Vamos! Vamos! Minha irmã e suas filhas já devem estar chegando!
- O que? Desculpe mãe, o que? Minhas primas? Elas vem?
- É claro que sim! Bellatrix e Narcisa vão pra Hogwarts também, e o 1º ano de Bellatrix e o 2º de Narcisa! Elas vão com a gente!
- Andromeda também vai?
- Só até a estação, ela só vai entrar ano que vem.
Fiquei emburrado na hora, mas tive que aceitar, eu iria com elas até a estação, mas não iria ficar com elas no trem de jeito nenhum!
Chegamos pontualmente as 10:55 na estação acompanhados por minha tia e suas filhas, todos nos despedimos, eu com mais pressa que todos e entramos na estação, me senti muito bem deixando minha mãe falando sozinha, me deu um enorme prazer de satisfação, seguido por uma enorme empolgação, o trem de Hogwarts era divino! Eu estava encantado, olhei pros lados e me separei de minhas primas, entrei em uma cabine rapidamente, elas não pareceram se importar, fiquei lá sentado, com uma grande expectativa! Minha vida estava mudando, e pra melhor, bem melhor!
