Cap. 10: Descobrindo segredos.
Bom, agora vocês vão me permitir um pulo no tempo, vamos para o meu 3º ano, quando minha popularidade com garotas havia aumentado, quando eu havia passado Tiago na altura, quando Tiago foi aceito no time de quadribol e passou a reparar mais em uma certa ruivinha, quando descobrimos mais passagens secretas em Hogwarts com a ajuda da capa da invisibilidade que Tiago havia ganho de seu pai no 2° ano, e quando descobrimos alguns segredos.
Estávamos perto do natal, e Remo se preparava pra viajar, é claro que nós estávamos desconfiados, mas não tínhamos a menos idéia do que acontecia, só víamos Remo ficar cada vez mais parecido com o Remo do começo, que carregava o mundo nas costas. Eu me sentia mal por ver meu amigo sofrendo em silêncio sem poder fazer nada, sempre achei que fosse um cara confiável, do tipo que as pessoas contariam segredos que ninguém mais sabe, mas isso não estava acontecendo, já havia tentando encostar Remo na parede pra ver se ele contava algo, mas ele sempre se esquivava, e cada vez se revoltava e parecia se afastar mais de nós, Pedro já tinha desistido, Tiago estava com raiva, e eu estava confuso e frustrado.
- Talvez ele tenha alguma doença e tenha que se tratar uma vez por mês – Arriscou Pedro- Isso explicaria a cara de doente que ele fica as vezes.
- É uma hipótese. – Resmungou Tiago .
Eu observava o cair da noite pela janela pensando em tudo e em nada ao mesmo tempo quando Remo entrou pra pegar as malas. Ele parou na porta e nos olhou, entrou no quarto silenciosamente, pegou as malas e saiu.
- Har.. eu to com dor de cabeça. – Disse Tiago cobrindo o rosto com as mãos.
Algumas horas chatas foram passando, Tiago e Pedro jogavam xadrez de bruxo e eu ainda olhava o céu, agora totalmente escuro, e uma lua quase cheia começava a surgir.
Eu pensava como uma pessoa podia viver assim, como o Remo, guardando algum segredo que provavelmente era sério, sem contar com ninguém, eu sentia um pouco de raiva por ele não confiar na gente, mas toda vez que eu pensava em jogar isso na cara dele eu via em seu rosto uma solidão e um pesar tão profundo, como se doesse bem mais nele guardar esse segredo, e eu aprendi a respeitar, embora não entendesse.
Eu sempre pensei nos meus amigos como alguém em que sempre se pode contar segredos, era essa a imagem que eu tinha deles, e de repente eu me deparava com alguém como Remo, que parecia gostar tanto da gente, e era um amigo fantástico, mas que simplesmente não tinha coragem de nos contar algo.
Deve ser horrível carregar o peso de um segredo sozinho, eu não imaginava como ele podia fazer isso, ficar tão só, sofrendo em silencio, olhando tudo de longe, sem participar, com medo de falar algo errado, como se nós a qualquer momento pudéssemos critica-lo e esquecer dele, o deixar de lado, nem imaginava as coisas que poderiam ter acontecido com ele pra que ele fosse assim, sentia pena por ele ter esse comportamento, e esse medo, ver ele só, e não poder fazer nada, só olhar, e imaginar, como aquela lua no céu, sozinha, em meio a tantas estrelas, nós olhamos, e admiramos, mas não podemos fazer nada além de olhar, e ver sua solidão tão distante.
Foi quando de repente tudo pareceu se juntar, eu senti como se tivesse levado um choque, eu simplesmente não sabia o que pensar, não sabia se eu falava com os outros, se eu pesquisava mais ou se eu me xingava por pensar esse absurdo.
Decidi por pesquisar, meu ego é muito grande pra sair me xingando a toa. .
Levantei o mais rápido que pude e ouvi alguma coisa no meu corpo estalar pelo movimento brusco, não dei importância e corri para o dormitório pegar um livro de DCAT, Tiago e Pedro me seguiram e me olhavam como se de repente eu tivesse ficado louco, era o que parecia, pois eu tentava a todo custo tirar o cabelo da minha cara enquanto vasculhava o livro insistentemente com os olhos arregalados.
- Sirius... o que está fazendo? –Tiago perguntou com muito cuidado como se eu pudesse explodir de repente.
Ignorei tudo que Tiago pudesse estar me falando e continuei a procurar, foi quando finalmente quando eu já estava a ponto de jogar o livro pela janela eu achei.
- É!
- É o que Sirius?
- Espere.
Tiago olhou de Pedro pra mim parecendo muito preocupado com meu estado mental.
- É...
- Sirius?
- Não pode ser, não pode..
- Sirius você está bem?
Aquela pergunta me fez sair do meu estado de choque, eu olhei pra Tiago meio perdido, como se tudo fosse uma espécie de sonho confuso.
Então eu fiz algo que realmente assustou Tiago. Eu ri.
- Hã... Hãhã, HAHAHAHAHAHA!
- Sirius o que deu em você?
Eu também não sabia dizer, nunca tinha tido aquilo antes, eu só conseguia rir, tudo parecia simplesmente tão confuso, tão impossível, que era engraçado.
- Sirius.. –Tiago se aproximou cautelosamente de mim e parecia verdadeiramente assustado- Sirius, olha cara, o que houve? Você tá bem?
- Eu.. estou ótimo, eu realmente estou ótimo, quer dizer, quem aqui pode dizer que tem um problema? Acho que minha vida é realmente ótima.
- Sirius? – Tiago já parecia completamente desesperado.
- Tiago, pense, me diga você se lembra a última vez que Remo faltou?
- Foi.. mês passado.
- Que dia?
- Acho que foi, dia, 10.
Me levantei e conferi uma coisa no calendário lunar.
- É, não tem mais desculpa.
- Sirius será que agora você quer nos contar que é? – Exclamou Pedro irritado, ele odiava ficar sem saber das coisas, era irritantemente xereta.
- Eu descobri o problema do Remo.
- O que é? – Disse Tiago arrancando a pergunta da boca de Pedro.
- Ele é um lobisomem. – Falei num tom tão displicente que nem parecia ter saído da minha boca.
Os instantes que se seguiram foram de silêncio, não posso saber o que se passou na cabeça deles, mas na minha uma voz gritou algo como TRAIDOR.
Eu me senti mal depois que contei, achei que deveria ter guardado minha descoberta em segredo pra conversar com Remo depois, mas na hora eu senti que tinha que dividir isso com alguém ou explodiria, mas a reação de Pedro me deixou mais temeroso, e se ele contasse? Ou se ignorasse Remo, como o que ele provavelmente mais temia.
Finalmente Tiago quebrou o silêncio.
- O que? – Ele perguntou como se estivesse certo que só podia ter ouvido errado.
- O que você ouviu. Eu.. não tenho total certeza, talvez seja só besteira minha.
Mas Tiago tomou o calendário da minha mão, folheou e ergueu os olhos pra mim com um tom amargo.
- Porque ele não disse?
- Ele devia estar com medo, você sabe como os lobisomens são tratados, ele deve ter achado que o ignoraríamos.
Tiago largou o calendário com um ar de nojo.
- Eu não acredito.
- Você não vai ignora-lo vai?
- O que você acha que eu sou? É claro que não, mas eu, cara eu não consigo engolir! Somos amigos dele! Como ele não nos confiou isso?
- Já disse Tiago, ele devia estar com medo, não queria perder nossa amizade.
- Mas.. eu não entendo...
- Onde –Pedro finalmente pareceu recuperar a voz- onde será que ele fica? Pra se transformar? Não deve ser perto daqui, seria perigoso, não é?
- Bom eu não sei onde ele fica, e acho que isso não importa agora – Respondi com frieza, como ele podia agir assim, com o nosso amigo provavelmente sofrendo em silêncio?
- Será que Dumbledore sabe? – Ele perguntou de novo.
- Deve saber, uma coisa dessas não passaria despercebido por ele.
- O que nós vamos fazer? – Perguntou Tiago olhando para o cap. do livro sobre lobisomens.
- Acho que devemos falar com ele.
- Mas e se ele se revoltar ou algo assim? – Pedro se sentou ao nosso lado com uma cara assustada.
- Pedro ele não vai morder você, se é disso que está com medo. – Falei raivoso.
Ele se calou.
- Ele deve voltar daqui a dois dias- Disse Tiago conferindo novamente o calendário lunar.
Os dois dias que se seguiram foram de ansiedade e medo, ensaiávamos o que falaríamos e como falaríamos.
Pedro parecia o mais nervoso, mas com o tempo pareceu se acostumar a idéia e tomar parte no apoio a Remo.
Não sei explicar, mas eu me senti tão confuso naqueles dois dias, era como se toda minha raiva, do mundo, da minha família, da minha vida, tudo de repente perdesse o sentido.
Eu sempre falei pra quem quisesse ouvir que minha vida era horrível, e que eu sempre fui sozinho, mas de repente, vendo a vida do Remo, ele deve ter tido esse problema por muito tempo, com medo de se aproximar das pessoas, tendo que mentir pra que não descobrissem seu segredo, tudo, tudo sempre por causa do maldito preconceito das pessoas, quem podia culpa-lo por se esconder? Todas as pessoas se acostumam a esconder coisas por saber como as pessoas agem, todos conhecemos as pessoas, principalmente por que na maioria das vezes nós somos como elas, muitas vezes você só age do jeito que age porque tem medo do que as pessoas vão pensar se você agir diferente, contra um principio, uma opinião. É sempre assim, e sempre vai ser, por que não importa quanto o mundo evolua, as pessoas nunca mudam, por medo, por costume, por burrice, elas simplesmente não mudam.
Então Remo finalmente voltou, e encontrou com um Sirius ,Tiago e Pedro muito sérios.
- Remo nós temos que falar com você – Começou Tiago.
- Um assunto muito sério –Eu continuei.
- Olha se for sobre a minha viagem nem comecem, eu já falei o que tinh...
- Remo nós já sabemos.
- Sabem do que? – Respondeu um Remo muito impaciente.
- Do motivo pelo que você falta.
- Não o que você conta, o verdadeiro – Tiago continuou minha fala.
Observei Remo ficando com um tom branco, e realmente achei que ele fosse desmaiar, ele estava com olheiras profundas, uma cara muito abatida e cansada, e agora parecia ter entrado em choque.
- Vocês, não sabem de nada – Ele falou parecendo tomar muita coragem.
- Sabemos sim Remo – Eu falei piedosamente.
- Do que vocês sabem?
- Que você é lobisomem – Pedro falou, e eu realmente quis soca-lo naquele momento. Ele precisava ter falado com tanta dureza?
Realmente depois daquilo Remo parecia ter perdido a coragem e a fala, e desabou na cama.
- Remo.. –Eu comecei mas fui interrompido.
- Tudo bem – Ele falou mais uma vez parecendo tomar coragem- Está certo, não precisam mais gastar o se tempo comigo, podem me excluir.
Eu observei Tiago e Pedro trocarem olhares nervosos e eu olhei Remo com um tom de pena, o que ele percebeu.
- Também não precisam ter pena, vivi bem até agora, não precisam se sentir culpados ou inventar uma desculpa de Você entende não é Remo? Agora que nós sabemos, não podemos mais andar com você, porque... poderia ser perigoso, ou alguém poderia descobrir e ficaria mal pra gente, você entende né?.
O rosto de Remo parecia conter muita coisa ao mesmo tempo, raiva, tristeza, amargura, e ele parecia realmente saber o que falava, tive uma forte suspeita que ele já tinha passado por isso antes.
- Remo não vamos deixar você de lado – Falou Tiago com urgência na voz.
- Então vão fazer o que?
- Nada! Vamos continuar seus amigos! Não nos importamos pelo que você é, gostamos de você cara, bastante, você é nosso amigo.
Remo parecia estar com alguma coisa engasgada na garganta.
- Só preferíamos que você tivesse nos contado, mas entendemos seus motivos.
- Desculpem por não ter contado, por muitas vezes eu pensei, mas, tive medo, de que vocês não agissem bem, tive medo que não só me abandonassem como também espalhassem por ai, e poderia não só trazer problemas a mim, como também a meus pais e a Dumbledore, que batalhou tanto pra que eu pudesse estudar aqui. Nesse mundo onde ninguém se importa com ninguém, vocês pareciam ser diferentes, mas..
- Nós entendemos Remo – Eu falei.
- Obrigado.
- De nada.. somos amigos não é? – Falou Tiago
- Amigos são pra isso – Continuei.
Foi ai que Remo pareceu não aguentar mais.
- Eu sempre sofri tanto com isso, escondendo das pessoas o que eu era, e tendo que suportar quando elas me olhavam enojadas quando eu era só uma criança que não entendia nada, e só queria brincar, e eu via as mães tirarem seus filhos de perto quando eu me aproximava, e eu não entendia, por que elas faziam isso, o que eu tinha feito, eu só queria brincar.
Remo dizia tudo isso rápido, como se tivesse isso preso na garganta durante muito tempo, enquanto lágrimas caiam pelos seus olhos. Eu não tinha a menor idéia do que fazer.
- E eu tinha que fingir pra minha mãe que estava tudo bem, por que eu via que ela se preocupava muito, e eu ouvia ela chorando a noite por minha causa, e eu tinha que aguentar tudo, e eu não podia contar pra ninguém como me sentia...
Foi ai que eu fiz a única coisa que poderia ser feita naquele momento, fui até Remo e o abracei, Tiago e Pedro me seguiram nesse gesto.
- E dói tanto, tanto, vocês não sabem como dói, é horrível.
Remo estava desconsolado, e chorava sem parar, meu deus, como o mundo podia ser tão cruel com alguém com o coração tão grande? Uma pessoa tão boa.
- Mas agora você tem a gente Remo – Tiago falou.
- É – Eu continuei- Num mundo onde ninguém se importa com ninguém, nós nos importamos com você.
- É – Falou Pedro- Somos seus amigos.
- É, e sempre vamos ser. – Eu terminei.
Naquele dia, naquele dormitório, nós juramos que seríamos amigos pra sempre, e nada, nada, iria nos separar.
Como nos enganamos.
