Cap. 16: De pais e filhos.

Mais dois meses se passaram, e durante todo ele eu e os outros voltávamos toda noite para a sala de transfiguração para aperfeiçoar nossa transformação, e ajudar Pedro com a dele, em pouco tempo eu e Tiago conseguíamos nós transformar sem varinha, e Pedro finalmente tinha conseguido se transformar completamente. E pra mim, foi um choque ver ele em sua forma animal.

- Rato? Ele vira um...rato!- Eu exclamei surpreso.

Pra mim, não havia nada mais suspeito que isso, mas Tiago achou interessante, disse que assim ele poderia passar por lugares que nós não conseguiríamos.

- Ora vamos! É o trio perfeito, dois grandões pra barrar alguém, e um pequeno pra passar despercebido quando precisarmos de algo mais complexo!

Eu não compartilhei do animo de Tiago, mas deixei pra lá, o tempo passou, e infelizmente as férias de verão chegaram, e eu...tive que voltar pra casa.

Casa. Não existia pior lugar para se estar, pelo menos no meu caso, é claro que Azkaban é um pouco pior mas, de vez em quando eu ainda penso que minha mãe podia ser mais assustadora que mais de um dementador junto.

Eu estava decidido a não me transformar em animago em casa por precaução, as paredes tinham ouvidos e muitos olhos lá. E eu não queria ser descoberto. Mas mesmo assim, só com o pensamento de que se eu quisesse poderia atacar meu irmão pelas costas de surpresa sem que ele nunca entendesse o que realmente aconteceu, me deixava muito feliz.

Infelizmente parecia que minha família assim como os dementadores tinham um poder de sugar meus pensamentos felizes e tornar meus dias lá o verdadeiro inferno.

Mas pra minha surpresa, assim que eu atravessei a barreira magica quem eu vi do outro lado não foi minha mãe, e sim meu pai.

- Sua mãe não pode te buscar hoje, ela foi cuidar de umas coisa pro seu irmão.

- Papai! É sempre bom ver você! Não vo ganhar beijinho de boas vindas?

- Cale a boca Sirius.

- Há eu vou bem papai, obrigado por perguntar.

- Já mandei ficar quieto!

Todo o caminho pra casa foi em silencio, apesar de tudo eu gostava bem mais de ficar com meu pai do que com minha mãe, pelo menos ele não gritava como ela, era muito mais fácil ignorar.

Chegando em casa a 1ª coisa que fiz foi subir para o quarto e me trancar, infelizmente na minha ânsia para ficar sozinho eu não percebi que já tinha alguém no meu quarto.

- Oi maninho, como vai?

- Já estava ruim agora fiquei pior.

- Há, que bom ver que continua o mesmo.

- Regulus o que está fazendo aqui?

- Ué! Vim das as boas vindas ao meu irmão mais velho, não posso?

- Não! E agora saia daqui!

- Nossa, porque todo o nervoso? Você não fica feliz de estar em casa?

- Regulus, olha, você sabe o quanto eu aprecio nossas conversas mas será que você pode deixar ela pra uma outra hora? Está tarde e eu estou cansado, então, boa noite.

- Tudo isso é pra evitar a mamãe?

Respirei fundo procurando paciência, porque se procurasse força acabava com a raça dele.

- Não Regulus é pra evitar você!

- Sabe se você fosse menos rebelde e parasse de contradizer a mamãe você não precisaria passar por isso, poderia estar lá embaixo conosco.

- Regulus eu não quero estar lá embaixo com vocês, agora se você fizer o favor de...

- Quer sim Sirius, você pode não admitir mas você gostaria de estar lá embaixo conosco, como uma pessoa normal, que janta tranqüilamente ao lado da família.

Eu procurei algo pra responder, mas por algum motivo estúpido não me veio nada a cabeça.

- É, pelo jeito eu acertei não é? Mas é tão fácil Sirius, é só você se desculpar por tudo, começar a andar com gente da nossa sociedade...

- Um bando de pessoa vazias, chatas e preconceituosas.

- ... Obedecer mais o que a nossa mãe fala como eu faço..

- E virar o cachorrinho dela? Eu acho que não, olha Regulus se você tivesse algo na cabeça você veria que tudo que ela fala é um bando de besteiras, se você fosse tão esperto como diz que é você ficaria do meu lado e não do dela.

- Ficar do seu lado? E perder toda a minha mordomia? Sirius eu gosto da família que eu nasci ao contrario de você, o que eu ganharia ficando do seu lado?

- Esperteza.

- Eu acho que não, eu não acho esperto ficar contra nossos pais, você sabe muito bem como eles são.

- E você morre de medo né? E por isso que você está do lado deles? Você tem medo?

- Não Sirius, porque do lado deles, eu sou respeitado, você e toda a sua esperteza de que adiantam? Você está aqui agora Sirius, contra a sua própria família, sem poder contar com ninguém, e quando eu sair daqui você vai ficar sozinho, como sempre fica, então eu te pergunto Sirius, vale a pena? – E dizendo isso ele saiu do meu quarto, me deixando com minha solidão.

Eu não quis admitir, mas Regulus havia me deixado confuso, de uma certa maneira ele tinha razão, eu tinha meus amigos, mas agora, eu estava sozinho, lutando contra tudo que me ensinaram, indo contra a minha própria família, mesmo ela sendo do jeito que é.

No dia seguinte eu acordei com uma luz na minha cara e a voz grave do meu pai.

- Você vai tomar café ou vai ficar mofando aqui?

- Há, bom dia pai, bom ver você também.

- Sem cinismo hoje está bem? Você vai tomar café ou não?

- Já to indo.

E ouvindo isso meu pai saiu batendo a porta.

Alguns minutos depois eu desci ignorando todos e indo direto a mesa me servir sozinho.

Durante o café fiquei ouvindo meu pai ralhar com Kreacher, e vendo Kreacher fazer caretas quando meu pai não estava olhando.

- Você já passou as minhas roupas elfo?

- Não Sr.

- Então está fazendo o que aqui parado? Vá!

- Sim Sr. – E dizendo isso se retirou resmungando coisas.

- Você não devia ser tão duro com ele, é um elfo competente. – Reclamou a minha mãezinha.

- Não gosto dele, é um elfo sem disciplina, devíamos arrumar outro.

- Ele já conhece bem a nossa família, sabe do que gostamos e como gostamos, da muito trabalho ensinar tudo a um novo elfo.

- Então ele que se vire, não temos que ter consideração com ele.

- Não estou tendo consideração, estou sendo prática, o elfo obedece muito bem as minhas ordens, é mais fiel e obediente do que alguns membros da nossa família. – Ela falou olhando rapidamente pra mim que fingi não perceber.

- Sim mamãe concordo, e é claro, felizmente, ainda se pode confiar na família.

- Não na nossa. – Falei.

- NINGUÉM FALOU COM VOCÊ, E SE JÁ TERMINOU SEU CAFÉ PODE SAIR! – Gritou minha mãezinha do coração.

- Com prazer! Deve dar até indigestão comer na mesma mesa que vocês. –falei me levantando da mesa e correndo até o meu quarto.

O resto da semana havia sido bem solitário, eu procurava sair do quarto pra comer alguma coisa quando tinha certeza que não tinha ninguém na sala ou cozinha, até que no final da semana eu recebi uma visita no meu quarto.

- Duas visitas em uma semana? Quanto amor papai!

- Eu vim aqui Sirius porque eu quero saber o que você espera ficando contra a sua família! Eu já estou cansado dessa sua rebeldia sem causa, E NÃO ABRA A BOCA PRA ME INTERROMPER! Eu já cansei ouviu? Cansei! Nós somos sua família você goste ou não! E já está na hora de você tomar jeito! Mas se você pensa que eu vou mover um gesto pra castigar você, você está enganado! Eu não vou dar cabo pra sua rebeldia Sirius, eu só vim dizer que eu estou desistindo de você, eu já cansei de não ver você a mesa! Se você quer ir contra todos nós ótimo! Eu estou cansado, você faça o que quiser que eu não vou mais me importar, eu vou voltar pra sala e se você quer mofar no seu quarto bem! Eu não me importo mais, você quer desistir de fazer parte dessa família? Ótimo, pra mim você morreu!

- Se consegue dormir bem assim papai.

- Não fale como se tivesse sido eu que comecei isso Sirius, você está pedindo isso faz tempo, era isso que você queria? Desafiar a sua família? Ótimo! Tudo tem uma conseqüência, e essa é a sua! Essa é a resposta pro seu desafio! – E falando isso ele saiu batendo a porta.

Eu já havia desistido da minha família, mas era a primeira vez que eu sentia que minha família desistia de mim, eu não quis admitir, mas naquele momento, eu me senti perdido.

Eu gosto de pensar que não foi culpa minha, embora algo me diga que foi, mas depois dessa briga, meu pai começou a adoecer, minha mãe não parava de me culpar, tudo estava ficando insuportável, e mais porque minha consciência gritava, então, certa noite, eu resolvi tentar ameniza-la, e fui visitar meu pai.

Minha mãe muito delicada, com medo de pegar a febre do meu pai o colocou em um quarto separado, ela dizia que assim ele podia descansar melhor.

Eu dei duas batidas na porta e entrei, meu pai estava acordado, embora com uma aparência muito cansada.

- O que você está fazendo aqui? Não é mais meu filho, não preciso da sua visita.

- É tão bom ver que seu estado de saúde não prejudicou seu lado paterno papai.

- Não seja cínico, eu não gosto. Mas o que você veio fazer aqui? Rir de mim? Quis ver com seus próprios olhos o estado do seu pai?

- Não pai, eu quis saber como estava.

- Já sabe, agora vá!

- Eu sinto muito, eu, não queria ver você nesse estado.

- Você não tem que sentir nada, não precisa.

- Você ainda é meu pai, eu ainda me preocupo.

- Você tem coragem de me chamar de pai? Depois de tudo?

- Tenho, mesmo que você nunca tenha sido um pai pra mim.

- Eu tentei, mas você e essa rebeldia sempre! Você sempre foi diferente, independente, gostava disso em você, tinha personalidade, mas não sabia usa-la, se tivesse ficado do nosso lado, hoje você seria muito grande Sirius, mas você preferiu ficar do lado dos fracos.

- Eu preferi ficar do lado do que eu acho que é certo.

- DROGA SIRIUS COMO VOCÊ PODE SABER O QUE É CERTO E O QUE É ERRADO? Você não sabe de nada! É só um adolescente idiota que não sabe nada da vida!

- E O QUE VOCÊ SABE? VOCÊ SÓ FOI CONTRA TODOS A VIDA TODA! VOCÊ SÓ É UM VELHO PRECONCEITUOSO!

- EU FIQUEI DO LADO DA MINHA FAMÍLIA SEMPRE! INDEPENDENTE DO QUE EU ACHAVA FICAR DO LADO DA MINHA FAMÍLIA SEMPRE FOI IMPORTANTE PRA MIM! E VOCÊ PREFERIU FICAR SÓ, CONTRA TODA A SUA FAMÍLIA POR CAUSA DE UMA MERDA QUE VOCÊ COLOCOU NA CABEÇA!

- O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI? – Minha mãe entrou no quarto correndo, com a cara vermelha de raiva e olhando pra mim com uma das suas piores caras, o que pra mim é claro não significava nada- VA JÁ EMBORA DAQUI! VOCÊ NÃO TEM NADA QUE FAZER AQUI SEU INGRATO! DEIXE SEU PAI EM PAZ! SAIA DAQUI!

- Não precisa mandar duas vezes, eu vim aqui tentar me acertar com ele, mas acho que é impossível, ele é tão cabeça dura quanto eu.

Eu decidi que naquele lugar não tinha mais espaço pra mim, eu tinha que sair dali antes que enlouquecesse, uma única vez na minha vida eu ia seguir as palavras da minha mãe, ia sair dali, daquela casa, pra sempre.