Cap.17: Fuga.
Aquela casa estava me sufocando, eu sentia que nem podia respirar, eu só queria bater a droga da porta pra ter um pouquinho de paz.
Mas parece que até a porta tinha um complô contra mim. Quando o que eu mais queria era silêncio, eu só escutava barulho.
Como eu nunca tinha reparado que aquela casa era tão barulhenta?
Os gritos da minha mãe, os passos apressados de Kreacher no corredor, o piso de madeira que rangia, a janela que batia, até mesmo o próprio som da minha respiração era insuportável. Eu desejava gritar bem alto, socar a parede, quebrar as coisas. Mas a última coisa que eu podia fazer naquele momento era chamar a atenção.
Mas o maldito barulho estava me deixando louco, e ele era tanto que eu só percebi que tinha alguém atrás de mim, quando esse alguém falou.
- Que é isso maninho? Perdeu a noção do perigo? Ou virou um covarde mesmo e agora vai fugir?
A voz do meu irmão era baixa e calma, mas pra mim era como se ele gritasse. Eu tentei ignorar e continuar a arrumar o meu malão. Ele não ia me impedir.
- Que é isso Sirius? Perdeu a voz? Logo você que nunca cala a boca?
Eu não ouvia mais o barulho lá fora, embora ele ainda fosse grande, eu só ouvia a voz do meu irmão.
- Sabe, tudo isso seria diferente se você deixasse de ser burro e passasse a ficar do lado da sua família. Eu sei que você faz de tudo pra fingir que não está nem ai pra gente, mas eu sei que está. Principalmente pro papai.
Ele fez questão de enfatizar bem a última frase. Eu tentava contar até dez. Repetia sem parar pra mim mesmo, não ligue, ele só quer te irritar, ignore, continue arrumando as malas. Mas isso estava ficando impossível.
- Você sempre teve inveja de mim. Não ria não, sei que teve, porque desde que eu nasci eu tomei seu lugar na família, porque eu aceitei o meu lugar, eu soube como agradar, e como fazer a família ficar do meu lado.
- Sim, e quando eles mandam você pula. É o cachorrinho deles não é?
- Pelo que eu sei Sirius, o único aqui que é tratado como um cachorro é você. Sempre as patadas não é?
- Pelo menos eu tenho amigos, ao contrario de você que só sabe viver na barra da saia da mamãe. Estou sempre cercado de gente.
- É? Merda também vive cercada de mosca e ai?
Toda raiva explodia dentro de mim. Eu quis que o barulho voltasse, porque a voz do meu irmão era mais insuportável que tudo junto.
- Você daria tudo pra ser tratado como eu sou aqui nessa casa não é? – Meu irmão continuou. - Queria que papai tivesse orgulho de você como tem de mim. Porque eu concordo com os ideais da família, enquanto você fica bancando o rebelde. Você queria, que fosse a pessoa que o papai chamaria antes de morrer pra se despedir. O que, graças aos desgostos que você dá a ele, não deve demorar muito não é?
Depois daquele momento eu não sei bem o que aconteceu, só sei que algo explodiu dentro de mim com uma força e raiva que eu não pensei que coubessem dentro de mim. E antes que eu pudesse perceber, meu punho tinha se fechado e ido de encontro a cara dele.
Anos de frustração , anos de raiva contida, tudo isso ao mesmo tempo, nada importava, só machucar bastante a carinha dele.
Ele gritava como uma garotinha assustada.
- Se, importa, de, não gritar, no meu ouvido?
Eu estava arfando, suado, mas nada disso importava, eu só larguei o meu irmão quando ele já não tinha forças.
Eu torcia pra que os gritos dele não tivessem sido ouvidos, ou só atrasaria ainda mais a minha fuga.
Joguei tudo que faltava dentro do malão, fechei e sai correndo pela escada. Não ligava pro barulho, eu só queria sair dali o quanto antes.
Estava perto, a porta estava bem na minha frente, era só atravessa-la e eu estaria livre de tudo, finalmente.
Abri a porta, corri por mais uns 4 quarteirões, até as minhas pernas dobrarem de cansaço.
Eu olhei em volta e pensei pra onde ir agora. Era noite, estava frio e ameaçava chover, todos meus amigos moravam longe e eu estava incomunicável, não tinha coruja, nem vassoura pra ir voando, muito menos podia ir a pé.
Foi quando que por um milagre eu me lembrei do nôitibus.
Estiquei a mão da varinha, e no mesmo minuto o nôitibus apareceu.
Já lá dentro, agradeci mentalmente por eles terem cama a noite, eu estava exausto, e precisava mesmo dormir um pouco.
Eu pensava em tudo que eu estava fazendo. Se a minha mãe já tinha se dado conta do meu sumiço, ou, se meu pai estava bem.
Deitei minha cabeça no travesseiro sem me importar com alguns solavancos do nôitibus, fiquei olhando o céu pela janela, que estava totalmente encoberto. Cruzei os braços por trás da cabeça e vi que tinha um pouco de sangue respingado na manga da minha blusa. Meu irmão devia estar lá no chão do meu quarto inconsciente ainda. Bem feito, ninguém mandou se meter com o grande Sirius Black. Vocês podem até pensar que é covardia bater num muleque que era 5 anos mais novo que eu, mas bem que ele mereceu. E além disso ele não era tão pequenininho assim. Ele era bem grandinho pra idade dele, minha mãe dizia que era o sangue dos Black que era muito forte.
Enfim.
Eu só fui acordar uma hora depois, com o condutor me cutucando.
Desembarquei ainda meio tonto de sono, balancei a cabeça, e bati na porta a minha frente. Esperei uns 5 minutos até ouvir o barulho de alguém do outro lado da porta, foi quando eu me dei conta de que era muito tarde, e todos deviam estar dormindo a essa hora. Me senti imensamente culpado. Até ver a cara confusa, mas sorridente de Tiago.
- Sabe, e costume avisar quando se vai vir a casa de uma pessoa.
- Eu sei cara, desculpe, é que, eu fugi sabe?
Contei toda a historia para Tiago e os pais dele, e com muita felicidade vi que todos concordavam comigo, e finalmente perguntei se podia ficar por lá por uns tempos.
- É claro, você pode ficar o tempo que precisar. Mas você vai ter que me contar melhor essa surra que você deu no seu irmão.
- Tiago! Andem, vão já os dois pra cama, Sirius deve estar muito cansado. Amanhã vocês conversam o que tem de conversar. – A Sra. Potter falou antes que eu pudesse contar mais qualquer coisa.
- Tá certo, vamos Sirius, eu coloco um colchão no meu quarto pra você deitar...
E depois continuou baixinho.
- ...E me contar direitinho essa historia da surra.
E nós dois subimos antes que eu desse risada.
Lá dentro, já deitado no colchão, eu contei melhor a historia para Tiago que se segurava pra não rir.
- O pior é que ele entra pra escola esse ano. – Lamentei, ao final da historia.
- Bom, pelo menos você vai poder ver melhor o estrago que fez na cara dele né? Aquele pirralho idiota.
- É. – Concordei pensativo.
- Que foi? – Tiago perguntou vendo a minha cara.
- Tava pensando o que eu vou fazer agora, quer dizer, eu não vou morar aqui pra sempre não é?
- Há.. agente dá um jeito cara, não fica se preocupando com isso agora, você já vai fazer 16, logo fica maior de idade, pode arrumar um emprego e se virar, e enquanto isso fica por aqui.
- É...obrigado. Bom, então, você vai ser meu novo irmãozinho? – Falei num tom mais descontraído pra espantar as preocupações.
- Hei... nada de zinho pro meu lado ok? E é bom você ir sabendo as regras da casa, a 1ª é que eu é que mando aqui. A 2ª...
Tomei a liberdade de interromper o tom solene de Tiago com uma travesseirada. Que é claro ele revidou, e nós só paramos quando ouvimos a voz da Sra. Potter gritando do outro quarto pra nós dois dormimos.
Eu sentia que minha vida estava mudando, e pra melhor.
