Cap. 18: Voltando a Hogwarts.
Dia. Eu sempre achei que o amanhecer, o sol, e a luz, fossem coisas abençoadas, mas naquele dia, eu poderia desejar que a noite se prolongasse por mais tempo.
Eu abri os olhos já com vontade de fechar, me forcei a pular da cama, e ela me deu um doloroso bom dia no dedinho do meu pé, retribui animadamente o bom dia dela com um palavrão, massajei o pé, olhei pro lado e percebi que Tiago já tinha se levantado, fechei as olhos com força e sacudi a cabeça na esperança de espantar o sono e os pensamentos do outro dia, mas a única coisa que fiz foi me forçar a pensar mais neles.
Tentando inutilmente ignora-los fui com a cabeça a mil por hora, para o banheiro tomar um banho.
Arrastando o meu corpo adormecido até que ele acordasse na marra, pude pensar que deve ser realmente algo muito chato ser um corpo, mesmo que ele tivesse o privilegio de ser o MEU corpo, afinal, ele tem que nos carregar, e tomar banho muitas vezes sem nem poder sentir o prazer da água massageando a pele. Coitado.
Muitas vezes só nos damos conta de que temos corpo quando o coitado dói, e era o que estava acontecendo com o meu naquele momento. O coitado reclamava a cada simples gesto meu.
Aparentemente bater no meu irmão rendera mais energia e esforço do que eu me dera conta. Bom, com certeza era uma dor que chegava até a ser prazerosa, afinal, não era todo dia que se tinha o privilegio de entortar um narizinho empinado como o do meu irmão.
Terminando meu banho troquei de roupa e desci pra tomar café, agradeci mentalmente pela Sra. Potter ser boa cozinheira. Eu bem sabia como precisava de uma boa refeição naquele momento. Tiago já estava a mesa, e com um pedaço de torrada na boca.
- Há... bom dia dorminhoco, senta, vamos tomar café.
Eu demorei a perceber o que tinha de diferente nele, até finalmente encontrar.
- O que você fez no seu cabelo? – Perguntei num misto de espanto e diversão.
Tiago estava com os cabelos meio voltados pra traz - embora alguns fios ainda teimassem a cair para os lados -, e a maioria deles parecia estar grudada com alguma coisa úmida e pegajosa.
- Há... – Tiago começou com um tom envergonhado na voz. – Isso... Foi...- E agora abaixando a voz e olhando cuidadosamente pros lados- Minha mãe, ela, achou essa receita em um livro velho de poções, e colocou todo no meu cabelo na esperança que ele se ajeitasse, disse que eu tenho que ficar com ele o dia todo, mas...
Tiago olhou pro lado de novo nervosamente pra ver se a mãe não estava por perto.
- ... É só o tempo de subirmos pro quarto de novo e eu lavo essa coisa dos meus cabelos.
Nessa hora paramos de conversar porque a Sra. Potter acabava de chegar com um grande prato de ovos com bacon e torradas com geléia para o meu café, que eu comi de bom grado.
Depois disso fomos pro quarto onde a primeira coisa que Tiago fez foi ir ao banheiro tirar a poção dos cabelos. Tomei a liberdade de mexer em alguns pertences dele, acabei achando uma foto de Tiago quando ele ainda devia ter uns 5 anos, ele estava de costas para a maquina fotográfica, só com a cabeça virada pra traz, fazendo uma hora careta, outra hora carinha de anjo.
Tiago saiu do banheiro com os cabelos pingando e uma cara muito frustrada pelo cheiro da poção não ter saído, quando me viu rindo com a foto dele na mão.
- Não te ensinaram que é falta de educação mexer nas coisas dos outros?
- Não..- Caçoei da cara dele- Que carinha de Olha mamãe nasci gay é essa?
- Oras seu..., hunf, mal agradecido, eu acolho você na minha casa e você me agradece assim é?
- Desculpe Tiago mas o fato de você se transformar em um veado também não depõe muito a seu favor..
Me distrai guardando a foto no lugar de novo, e antes que eu percebesse fui atingido com força por uma livrada da cabeça.
- AI! Ei, isso dói.
- Bem feito.
Enfim, os dias foram passando, as semanas, e o mês, e enfim, chegou o momento de voltarmos a Hogwarts.
Foi a primeira vez que eu lamentei por isso, eu estava gostando de ficar na casa de Tiago. Sempre que ficava lá eu me sentia em uma família de verdade. E voltar a escola naquele momento, seria encarar a minha verdadeira família, pois minhas primas, e o meu irmão que entraria aquele ano para a escola, estariam lá, eu não tinha medo deles. Longe de mim ter, mas eu não gostava do fato de ter que ser lembrado a todo instante que aquela era a minha família, e eu não podia mudar.
Toda a viajem de trem foi tranquila, eu procurei não sair da cabine pra não correr o risco de dar de cara com alguém da minha família, mas eu sabia que isso ia ser praticamente impossível na chegada a estação, o que realmente veio a acontecer.
- Sirius...
Ao ouvir meu nome me deparei com a pequena figura do meu irmão, um pouco mais atras dele se encontravam Bellatrix e Narcisa, as duas muito atentas a conversa.
- Oi maninho como vai? O nariz já sarou?
Notei alegremente o tom pálido do rosto do meu irmão corar levemente, embora ele ainda continuasse inflexível.
- Espero que esteja feliz maninho.
- De ter te dado uma surra? Oras mais é lógico!
- Não estou falando disso, estou falando de ter dado mais um desgosto ao nosso pai, ele se sentiu mal, e está cada vez mais doente, pelo jeito desse ano não passa Sirius, graças a você.
Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa ele saiu pra ir com os outros alunos do primeiro ano, e eu pude avistar ainda Bellatrix rindo com Narcisa antes de Tiago e os outros me puxarem pra pegar uma das carruagens.
- Não ligue Sirius, provavelmente era só uma mentira do seu irmão pra te provocar. – Remo tentou me consolar.
- É...
Eu não quis demonstrar, mas o fato é que eu realmente fiquei abalado, se o que meu irmão dissera fosse verdade, ele estava doente por minha culpa, por mais que eu não gostasse dele, eu não queria fazer isso.
O banquete foi tranquilo, meu irmão foi selecionado pra sonserina como eu esperava, e logo após enchermos nossa barriga fomos pra sala comunal.
- Ei! Quem é aquele do lado da Lily? – Exclamou Tiago de repente parecendo verdadeiramente ofendido.
- Eu acho que é o Frank Longbotton. – Disse Remo calmamente.
- É cara... realmente você não é um veado, é um outro animal chifrudo. – Eu falei zombeteiro.
Todos riram menos Tiago claro que me acertou com uma almofadada.
- Ok.. Ok.. eu paro, mas... que agora tá explicado porque você vira um animal chifrudo a tá.
Em pouco tempo um a um os alunos foram indo para seus dormitórios, até que só sobraram eu, e meus pensamentos na sala comunal.
Até alguém chegar.
- Você tá com uma cara de meter medo em susto sabia?
Eu me virei e me deparei com Melanie em pé ao lado na minha cadeira, vestida com um pijama comportado de flanela.
- Porque você ainda está acordada?
- Eu to sem sono, e você?
- É... por ai.
- Eu...incomodo ficando por aqui?
- Não, pode ficar. – Falei achando graça no jeito meio tímido dela.
- Você está com algum problema? Quer dizer, eu não quero ser intrometida mas, você tá com cara de quem poderia conversar com alguém sabe? Eu sei que você vive cheio de amigos então o que não deve faltar pra você é gente pra conversar mas.. sabe, se precisar...
Me segurei pra não rir do longo discurso de Melanie, mas a verdade é que eu sabia que ela não tinha lá muitos amigos, e, naquele momento eu tive uma leve impressão que ela precisava conversar com alguém mais do que eu precisava desabafar.
- Obrigado. É, eu sei, eu... posso contar com você.- Depois de um momento de silêncio eu resolvi puxar um assunto.- Bom... então, você continua amiga da Lily?
- Há, continuo, eu quase tive uma briga feia com ela por conta daquela sua historia de bancar o cupido lembra? Mas eu convenci ela de que não tive nada a ver com a historia.
- Que bom.
- Sirius eu... eu ouvi o que aquele menino disse pra você na estação, era o seu irmão não era? É isso que está preocupando você?
Olhei pra ela pensando se deveria mesmo contar a historia, não é que eu não confiasse nela, mas, eu não sabia se ela entenderia. Mas acabei resolvendo que não tinha nada a ganhar escondendo isso.
- É sim.
- O que você fez pra que seu irmão te acusasse daquilo? Você fez algo que deixou seu pai irritado?
- Você não ouviu tudo que ele disse?
- Não só parte.
- Hum.. Bom, digamos que eu bati em alguém lá em casa.
- Quem o elfo- doméstico? – Ela perguntou em tom de zombaria.
- Gracinha...- Falei sarcasticamente.- Não, foi no meu irmão mesmo.
- Hum... Uau! Há..! – De repente ela riu.- Era por isso que ele tava mancando então..
- Ele tava? – Perguntei surpreso.
- Tava..- Riu Mel- mas, essa historia do seu pai ter ficado doente está preocupando você?
- É, eu não gosto dele mas, também não quero que ele morra por minha culpa.
- Se você não gostasse dele não estaria preocupado. – Afirmou Melanie.
- Eu só não quero levar esse peso na consciência. Você não entende.
- Sabe o que aconteceu com a única mulher que entendeu os homens?
- O que?
- Morreu de rir.
Eu sei que a piada deveria ter me ofendido, mas eu não pude deixar de rir, mais pelo modo dela contar a piada, do que pela piada em si.
- Há.. eu fiz você rir, que bom. Mas sério, eu acho que você não tem que se sentir culpado por gostar dele, ele pode até não ser lá o pai que você queria mas, ele é seu pai, é normal sentir um pouco de carinho, mesmo que você ache que não deva ter. Eu sei que é estranho, que, por mais que os nossos pais não sejam os pais dos nossos sonhos, como nós desejamos que eles sintam orgulho da gente.
Eu olhei bem pra Melanie naquele momento, ela realmente me pareceu muito sábia.
- Bom, eu acho que vou dormir agora, boa noite Sirius, espero que você fique melhor.
Melanie estava no meio da escada que dava pro dormitório feminino quando parou de andar.
- Há, você conhece uma Mary Jhonson da corvinal?
- Sim porque?
- Uma vez ela me viu conversando com você e me parou no corredor pra perguntar se nós dois éramos amigos, eu disse que sim pra fazer inveja nela porque ela é louca por você, e, é muito chata e metida também, bom, o fato é que ela mandou te dizer que ela acha que é sua alma gêmea e que pensa em você todos os dias e te mandou um beijo.
- Há.. ganhei meu dia.. – Falei sarcasticamente. E depois de pensar um pouco no que ela tinha acabado de me dizer falei- E Melanie, nós realmente somos amigos, você não precisa mais dizer isso as pessoas só pra fazer inveja nelas.
- Há.. Ok, obrigada.
- Há! Melanie, você sabe se a Lílian está interessada no Frank Longbotton?
- Não, ela só gosta dele como amigo, mas ela gosta do sorriso dele. Boa noite Sirius.
- Boa noite Melanie. – Fiquei olhando pra ela esperando que ela subisse, mas ela ainda demorou um pouco.
- Pode me chamar Mel.
- Mas uma vez você disse pra não te chamar de Mel...- Fiquei observando meio confuso, Melanie subir as escadas para o dormitório feminino aparentemente rindo da minha cara e finalmente pude entender o que Tiago tinha dito certa vez: Não dá pra entender as mulheres.
