Cap. 20: A loja do Sr. Harries.

Trabalhei na loja do Sr. Harries todas as férias que tínhamos, e uma em especial ficou na minha cabeça.

Eram as férias de natal do 7° ano. Eu já estava acostumado com a personalidade do Sr. Harries, não que eu gostasse dela. Aliás, ele parecia pra mim tão simpático quanto Snape.

Eu ficava chocado como Mel parecia simplesmente não se importar com o humor dele, e ela sempre ria quando eu perguntava se ela era louca por se comportar assim. Aparentemente ela até gostava dele.

- É só uma questão de jeito Sirius, você devia levar mais na brincadeira quando ele dá uma bronca, esse é o jeito dele de nos ensinar, é como a Prof. Mcgonagall.

- Não, ele parece mais um parente do meu pai, isso sim.

Nessa época meu tio Alfardo andava muito doente, o que me deixava um pouco triste, afinal ele, depois da Andromeda, era a pessoa da família que eu mais gostava. Ele era um homem divertido, e sempre admirou minha personalidade forte. Então naqueles dias que eu estava de cabeça cheia eu pensava que a única coisa que podia animar meu dia era se o Sr. Harries tivesse morrido.

- Está atrasado. – Disse o Sr. Harries, aparentemente esse era o seu jeito de dar bom dia.

O que me fazia pensar que para um homem como ele morrer era pouco.

- Você vai me contar o que aconteceu ou eu vou ter que ler a sua mente? – A voz de Mel soou na minha cabeça, me despertando de meus devaneios.

- O que?

- O que você tem? Tá com uma cara estranha. – Mel perguntou preocupada.

- Meu tio Alfardo está doente, e ele é uma das poucas pessoas da minha família que eu gosto.

- Há... sinto muito. Por que você não pede uma folga pro Sr. Harries, ele deixa se você explicar a situação.

- Não, não vou pedir nada pra ele.

- Você é muito orgulhoso. – Mel disse contrariada.

- É faz parte do meu charme.

- Você não toma jeito né? – Ela falou divertidamente.

- Se eu tomasse vocês não me amariam.

- Vocês? Vocês quem?

- Todas as meninas oras! Você sabe como elas me adoram...- Falei como se fosse a coisa mais normal do mundo.

- É, e sei também que você não dá bola pra nenhuma.

- Há, pode ser, mas porque eu acho elas umas ridículas que se importam mais com a popularidade do que com as pessoas em si. – Depois continuei um pouco mais pretensioso. – Mas se eu quisesse teria o suficiente pra todas.

- Você nunca cala a boca? – Mel falou descontraída.

- Depende...- Então como se uma idéia brilhante viesse na minha cabeça eu continuei- você tem alguma idéia interessante de como cala-la?

Antes que Mel pudesse fechar a boca (porque ela tinha aberto de susto), e formular uma resposta(ou uma reação) eu ouvi aquela vozinha desagradável do Sr. Harries no meu ouvido.

- Os dois podem parar com essa conversa mole e prestar atenção no trabalho? Black você aparou torto as cerdas dessa vassoura.

- Tá, errei, me mata. – Falei já irritado e frustrado.

Definitivamente eu não tinha mais paciência. Nós passávamos a tarde inteira cuidando de vassouras, na maioria fora de circulação. Tentávamos dar a elas boa aparência, o que eu achava inútil porque poucas pessoas apareciam na loja e quando apareciam quase nunca compravam, porque o Sr. Harries aparentemente não conseguia ser objetivo e direto, começava um discurso sobre do que a vassoura era feita, em que clima era bom ser usada, pessoas que já tinham comprado, quantos modelos daqueles já tinham sido feitas. Ou seja, todo tipo de informações inúteis que ninguém tem paciência de ouvir, por isso as pessoas sempre inventavam desculpas para sair da loja e acabavam quase nunca comprando nada. Na verdade eu me surpreendia com o fato daquela loja ainda não ter falido.

Bom, alguns dias depois, eu tive a triste noticia que meu tio Alfardo tinha morrido. Mas dois dias depois aconteceu uma coisa que tirou um pouco a minha tristeza.

- Sirius chegou essa carta pra você. – Falou a Sra. Potter logo cedo.

A carta era de um termo formal, que parecia um documento, o que eu acabei percebendo que de fato era. Se tratava de um comunicado de que meu tio havia deixado uma grande fortuna pra mim. O que realmente me surpreendeu, quer dizer, nós nos dávamos bem, mas eu não achei que fosse tanto.

- Estou rico!

- Sirius você é rico. – Disse Tiago com uma sobrancelha erguida e se curvando pra ler a carta.

- Não, a minha família é rica. Mas agora eu sou rico. Meu tio me deixou uma fortuna de Herança.

- O que? – Tiago disse puxando o papel da minha mão tentando confirmar o que tinha ouvido. – Cara... Isso e dinheiro pra caramba! Você sabe o que vai poder fazer com isso? – Falou ele com uma cara de espanto muito divertida- Vai poder comprar aquela moto voadora que você queria!

- Melhor! Eu vou poder largar o emprego! Vou poder dar um chute na bunda daquele velho! – Disse animado dando um soco na mesa. – Cara eu vou contar isso pra Mel agora! – Falei dando m pulo da cadeira e indo me trocar correndo pra me encontrar com a Mel.

Chegando em frente a loja acenei animado pra ela vir. Pude ver Mel falando alguma coisa pro Sr. Harries que concordou com a cabeça e permitiu que ela saísse da loja.

- O que foi? Que animação é essa? Seu tio ressuscitou?- Falou ela também animada.

- Não, mas fez questão de expressar o quanto gostava de mim! Mel, ele me deixou uma herança! Uma verdadeira fortuna!

- Sirius que ótimo! Puxa parabéns! Que legal!

- E sabe o que é melhor? Eu vou poder largar o emprego! Vou poder sair daqui e nunca mais ver a cara desse velho!

Sabe, eu realmente achei que a Mel fosse ficar feliz com essa noticia ou, bom, talvez um pouco desanimada porque ia perder minha ilustre companhia, mas, definitivamente eu não achei que ela fosse ficar decepcionada.

- Há. Você vai... ir embora.

- É...mas... eu vou te ver é claro, eu não vou sumir pra sempre.

- Há...bom, que bom pra você, eu tenho que voltar pra loja.

- Peraí Mel! Que foi? Por que você ficou assim?

- Por nada Sirius, eu preciso ir!

- Não! Eu só te deixo ir quando você me falar o que foi!

- Tá, você quer saber, eu falo! Eu pensei que você fosse diferente Sirius! Eu pensei que você fosse o que eu disse pro Sr. Harries quando pedi pra ele pra deixar você trabalhar aqui! Eu pensei que você não fosse desses riquinhos que só porque tem dinheiro não trabalham! Mas você é exatamente assim! Foi só ganhar dinheiro pra querer voltar a vida mansa não é?

- Peraí! Eu não sou assim não! Eu só não tenho que ficar aturando esse velho folgado e rabugento pro meu lado!

- Sirius eu não acredito que todo esse tempo que você tem trabalhado com o Sr. Harries você ainda não tenha percebido que tipo de pessoa ele é!

- E que tipo de pessoa ele é pode me dizer?

- Ele é uma pessoa maravilhosa, que não tem ninguém nesse mundo Sirius! Que tudo que ele sabe é sobre essa loja. Isso aqui – Mel apontou a loja - é tudo que ele tem Sirius! É tudo que ele conhece! E pra seu espanto, se você quer saber Sirius, se você é tão obtuso que não consegue perceber sozinho ele gosta da gente! Nós somos os filhos que ele não tem! Tudo que ele faz é pra tentar passar tudo o que ele aprendeu pra gente! O que você acha que sobra pra um velho na idade dele que não tem ninguém na vida? O problema Sirius é quem tem coisas que as pessoas não conseguem dizer! Nós temos que perceber! Mas pelo jeito você só consegue ver as aparências!

- Olha aqui Mel, eu não tenho culpa se esse velho não tem ninguém! Eu não sou obrigado a ficar engolindo o humor dele por peninha!

- Sirius você não ouviu nada que eu disse? Olha aqui.

Mel apontou a entrada da loja. Na placa se dizia Harries e filho

- Só Sirius, que o filho dele morreu! Ele não tem mais com quem dividir tudo o que ele aprendeu! Ele é só um velho sozinho! Se ele briga com você e exige o máximo Sirius, e porque ele gosta de você! Ele pensa que você é um garoto de valores Sirius, que não quer ficar parado dependendo da herança da família, ele não quer que você vire um vagabundo como esses garotos que a gente vê por ai! Mas parece que você é exatamente como eles! Só pensa em você mesmo e não tenta entender ninguém! Você não merece metade da consideração que o Sr. Harries tem com você! Você é exatamente como a Lily disse, foi o Remo que me fez pensar o contrário, mas já vi que ele estava enganado. Se ele estivesse aqui tenho certeza que ele entenderia. Pelo jeito ele é o único do grupo que tem a cabeça no lugar, que tenta entender as pessoas!

Então uma onda de calor e raiva tomou conta de mim e eu disse uma coisa de que vou me arrepender pelo resto da vida.

- Não sei se é bem na cabeça de cima do Remo que você está interessada! Tão amiguinha dele, defendendo ele desse jeito...Pelo visto o seu interesse nele vai bem mais além do que uma simples amizade não é?

A última coisa que vi nos segundos seguintes foi a cara enfurecida, ofendida e magoada de Mel, e em seguida um tapa tão forte que me fez ficar tonto por um bom tempo.

Depois daquele dia Mel nunca mais foi a mesma comigo.