A nossa canção

As lágrimas rolam silenciosas por meu rosto e só eu percebo.

A dor entorpece meus sentidos; posso sentir o cheiro de sangue escorrendo e eu sei que é o meu.

Sei que estou morrendo e não me ressinto em nada quanto a isso. Só não queria te deixar.

Por algum tempo eu soube o que é ficar só e não agüentei. Tanto que desci até os círculos mais profundos do Inferno só para te ter de volta. Foram breves os instantes de alívio em que achamos que havíamos conseguido.

Apenas uma condição para que nós pudéssemos sair daquele lugar: não olhar para trás.

Condição única. Quebrada por um erro. Por uma traição.

Não olhar para trás. Irônico que para alguns isso seja um princípio de vida: viver sem nunca olhar para trás. Viver esquecendo o passado. Se eu fosse assim, tudo seria diferente. E eu jamais teria vindo até você.

Você era meu passado. Mas sem você, eu não tinha nenhum futuro.

Você era meu tudo, Eurídice.

Se há quem talvez não tenha entendido minhas atitudes, hão de saber que foi por amor.

Por amor, eu não consegui viver sem você.

Por amor, eu larguei tudo para te procurar nas profundezas do Inferno.

Por amor, eu lá permaneci, quando não pude libertar sua alma da escuridão.

Por amor, eu faria tudo de novo.

Tem quem diga que apenas uma linha fina, separa o amor da loucura. Essa linha é a pessoa amada. Sem você só me resta a loucura.

Por isso, passei grato todos aqueles anos na segunda prisão, apenas pela alegria de ver seus olhos. De tocar algumas notas na minha lira para você. Pela satisfação de ver o seu sorriso de gratidão por eu estar ali.

Estávamos preparados para uma eternidade nessa vida; a vida que nós nunca idealizamos, mas que aconteceu. Podíamos ter continuado a viver assim para sempre, quando algum que nunca podíamos ter previsto aconteceu.

E eu tive que te abandonar.

Te deixei por uma causa, que há anos eu havia abandonado. Quando dois cavaleiros de Athena chegaram à segunda prisão.

Dois cavaleiros de bronze que precisavam da minha ajuda. E eu os ajudei, te deixando para trás sem vacilar.

Podia parecer que eu havia esquecido, mas nem por um instante sequer eu deixei de ser um cavaleiro de Athena. O guerreiro de prata da lira. E por isso, escolhi lutar, mesmo sabendo que isso te faria sentir o mesmo que eu quando você morreu.

Por isso eu sinto muito. Mesmo que não haja nada possa fazer agora.

Eu cheguei até o templo de Hades, na última prisão. Eu lutei contra um dos três senhores do Inferno. Eu o segurei para que os cavaleiros de bronze acabassem com ele.

Não sei se minha morte é em vão, mas sei que morro fazendo o que é justo. Mesmo que tenha sacrificado para isso tudo o que é importante para mim e para você.

O sangue ainda jorra dos meus ferimentos.

Meu corpo fatigado continua incapaz de se levantar.

Mas, num último suspiro antes de morrer, uso o que resta de minhas forças para dedilhar em minha lira algumas poucas notas que podem parecer meu réquiem.

Mas sei que você vai reconhecer a nossa canção. Sei que entre as flores da segunda prisão você vai saber que essas poucas notas são minha confissão, despedida e a minha única maneira de te pedir perdão.

Porque eu te amo.

E porque eu quero que você se lembre de mim, não como alguém que morreu fazendo a justiça. Não como um cavaleiro de Athena. Mas como o homem que te amou.

Lembre-se de mim eternamente como o seu Orpheu.

Minha amada, Eurídice.

-FIM-

N/A: mela cueca e sux, mas eh um desafio cumprido lol na verdade, jah tinha escrito faz tempo esse fic mas optei por naum publicar... mas mudei de ideia! Arthemisys tah aih seu desafio!