Nota: não, eu não sou dona dos personagens. Mas isso não me impede de amá-los...

DISCLAIMER: Todos os personagens da série "Sir Arthur Conan Doyle's The Lost World" são propriedade de John Landis, Telescene, Coote/Hayes, DirecTV, New Line Television, Space, Action Adventure Network, Goodman/Rosen Productions, e Richmel Productions (perdoem qualquer omissão).

Nirce: moça, há quanto tempo! Até te respondi ao review em PVT – você estava inspiradíssima quando deixou esse review. Obrigada, que bom que você gostou de vê-los e que conseguiu reconhecer os personagens nas atitudes e nas falas deles! Beijão!

Maga: Maguinha querida, não chore, moça! Esses nossos exploradores sempre dão um jeitinho de nos emocionar, né? Fico feliz que você tenha conseguido reconhecê-los e que a fic tenha tocado você de alguma maneira... Vem mais emoção por aí... Beijos!

Máline: a lista negra foi só pra impor respeito – deixando review você já saiu dela... O Summerlee com certeza foi muito corajoso, embora eu pessoalmente não desejasse estar na pele de nenhum deles, nossa! Mas ainda tem água pra rolar debaixo da ponte... E como você acabou de me dizer no msn que também chorou no outro capítulo, eu espero que nesse as novidades venham trazer um pouquinho mais de alegria... XOXO!

Nessa: que bom que você reconheceu o povo, mesmo dentro da tristeza... E a série também tem momentos assim (tipo, em Cave of Fear eu me debulhei em lágrimas). Espero que esse capítulo seja "menos sad"... XOXO!

Kakau: esse "como será daqui pra frente" é a pergunta que não quer calar. É o tipo de fino equilíbrio ter que conviver sabendo de tudo que se abriu mão, e apenas grandes amizades são capazes disso. Mas, para ver como nossos exploradores se saíram, é só ler esse capítulo... Beijo!

TowandaBR: ah, lady Si, lady Si... Não é represália não… E você vai ver nesse final – vê se lê e depois aprende a não judiar de mim e dos outros leitores, tá? Beijão... Sôdadix!

Arlete: puxa vida, eu quase tive que tomar uma dose extra de gardenal aqui... Falando sério, quase caí da cadeira quando vi seu review. Fiquei muito, muito feliz mesmo, e muito honrada, pois não vejo reviews seus muito frequentemente! Muito obrigada pelo review e pela mensagem positiva e tão generosa, como sempre! Um beijo grande e espero que goste do capítulo final!

Recado para as inadimplentes (nossa, esse foi do mal). Dona Claudia, Jess, Rosa, onde andam vocês? Estou me sentindo abandonada, rejeitada, esquecida – buá, buá, buá, estou aprendendo a ser drama queen com a dona Lady Simone, gostaram? Estou esperando review de vocês! Beijos pras três – apesar de vocês não merecerem he he he.

Parte III – Vitória sobre a Tempestade

Capítulo 9 – A escolha final

Verônica ainda estava naquele salão. Cada uma das opções de seus amigos fora assistida por ela. E ela estava tocada por quanto eles estavam dispostos a doar simplesmente para que ela vivesse. Tinha se emocionado naquelas horas mais do que jamais se emocionara antes, provavelmente, diante das manifestações abnegadas de seus amigos de seu amor incondicional por ela.

A Valquíria que a acompanhava lhe disse:

'Agora, é sua vez de escolher. Eu vou deixá-la sozinha. Basta chamar Freyja em seu pensamento quando você estiver pronta, e então ela lhe aparecerá, e você poderá dizer a ela o que escolheu.'

'Há alguma regra para minhas escolhas?' Verônica perguntou, a voz ainda embargada pelas lágrimas que derramara até poucos minutos atrás.

A Valkíria a olhou longamente, e sorriu, antes de responder:

'Não. A única regra, no seu caso, é seguir seu coração. Você não está abrindo mão de nada. Você está fazendo uma escolha, um pedido, que lhe será atendido sem qualquer outra imposição. A única sugestão que posso lhe fazer é que siga seu coração. Mas acho que essa é a única sugestão que eu não precisaria lhe fazer, pois como a Protetora heroína você já provou que sabe como ninguém como usá-lo.'

E, tendo dito isto, ela se afastou e deixou Verônica sozinha na sala.

Antes de mais nada, Verônica decidiu sentar-se, se acalmar, se concentrar. Inspirou profundamente algumas vezes, e tentou organizar suas idéias. Repassou em sua mente sua infância com seus pais – seus brinquedos infantis e o amor de que se sentia rodeada... as lembranças que lhe foram dadas de sua adolescência sozinha na Casa da Árvore – aprendendo a se tornar a mulher que viria a ser. E finalmente o período que convivera com seus amigos.

Relembrara os primeiros tempos, com todos tentando se adaptar e aprender a difícil arte de conviver em família, ainda mais quando não se nasceu família. Depois, o mesmo dia-a-dia ensinando-os sobre as agruras – e as doçuras – dessa convivência. Tentou, pela primeira vez, identificar o "ponto de virada", isto é, o momento em que cada um deles definitivamente tinha conquistado seu coração. Mas era difícil, pois para cada um deles poderia citar um sem número de situações que a tinham marcado, modificado, tornado melhor, mesmo que fosse apenas para parar e pensar ou refletir sobre o que ela estava fazendo ou como estava agindo. Lembrou-se de muitas aventuras e de tudo que tinham vivido juntos naqueles três anos. Sim... Ela se tornara uma mulher diferente. Por eles, por causa deles, ela melhorara, evoluíra. Aprendera com cada um deles. E se sentia infinitamente melhor por isso.

Finalmente, repassou em sua lembrança as cenas recentes daquela tarde. Cada um de seus amigos se postando frente a Freyja e abrindo mão de coisas que ela sabia ser tão importantes e essenciais na vida e na busca interior de cada um deles. Realmente se sentia uma privilegiada pelo fato deles terem entrado em sua vida, e principalmente por terem permanecido nela.

Tentou pensar nos aspectos da Protetora, racionalmente, mas percebeu que nenhum dos seus fios de raciocínio se sobrepunha àquele que seus amigos tinham traçado. Não havia lugar para razão no pedido que tinha a fazer. Não cabia ali raciocinar sobre a continuidade da linhagem da Protetora, muito menos sobre quem era Finn nessa linhagem e que papel ela poderia desempenhar. Isso certamente influenciava sua razão, mas não modificava o que ia em seu coração.

E, concentrada como estava, apenas seu coração podia falar. E ela pôde ler claramente, dentro de si mesma, a escolha que tinha a fazer. Sua mente racional podia guiá-la para outras alternativas, mas o seu coração batia cada vez mais rápido em seu peito, ante a excitação do fio que seus sentimentos tomavam.

Imediatamente, Freyja apareceu no fundo do salão onde ela se encontrava. Como a Valkíria tinha lhe adiantado, tão logo ela estivesse pronta, Freyja apareceria.

'Aproxime-se, corajosa guerreira.' Freyja dirigiu-se a ela, reverentemente.

Verônica ficou um tanto encabulada, pois não estava habituada a que se dirigissem a ela assim.

'Não se envergonhe e não tema: estar nos umbrais de Asgard não é uma tarefa para qualquer mortal ou guerreiro. Apenas os heróis chegam até aqui.'

Verônica caminhou até ela.

'Vim até aqui porque você me chamou em seu pensamento, me comunicando que tinha sua escolha.'

'Sim, senhora.' A voz de Verônica era firme e decidida, mas num tom baixo e respeitoso.

'Estive hoje a tarde toda com seus amigos – você nos viu. Eles são nobres e a amam. Foram muito justos e honestos nas escolhas que fizeram – e certamente foram todas escolhas difíceis para cada um deles, mas a generosidade é uma das dádivas do amor. Agora, é sua vez. Lembre-se que da escolha que você fizer depende toda a sua vida.'

'Eu sei, senhora. Mas minha escolha está tomada, de acordo com meu coração.' Verônica demonstrava uma serenidade incrível.

'Diga-me, então.'

Verônica tomou fôlego para explicar:

'Eu fui trazida aqui por ter salvado o platô. Eu fiz o que precisava ser feito. Como uma Protetora, minha missão foi cumprida – e eu não usei minha razão para realizar isso, apenas confiei em meus instintos e em meu coração. E é o que eu pretendo fazer de novo.'

Verônica fez uma pausa, para continuar, e viu que Freyja a observava atentamente, assentindo de vez em quando diante de suas afirmações.

'Meu coração também apontou cinco amigos para que eles me dessem uma chance de voltar à vida – mesmo quando minha razão se esforçava por proteger esses amigos de quaisquer perigos que o Asgard, o Valhalla, você ou as Valkírias pudessem representar. Esses cinco amigos se revelaram ainda mais fiéis do que eu jamais poderia imaginar. Eles foram absolutamente honestos apontando o que lhes era mais caro, e não hesitaram um instante sequer em oferecer exatamente o que lhes era mais caro como o resgate pela minha vida. Eu não poderia ganhar um presente maior que esse.'

'E como não havia regras para a minha escolha, apenas ouvir meu coração... Ele me disse para aplicar a mim mesma as regras a que meus amigos tinham sido submetidos. Então, pensei no que era o mais importante para mim. E não foi difícil chegar à conclusão do que era. Então, é sobre isso que eu venho pedir...'

Freyja a escutava mais atentamente agora...

'Meu único pedido, nesse momento, é que cada um dos meus amigos seja liberado de sua escolha – e não só a tenha de volta, mas que vejam também seu maior desejo realizado. Eles são a coisa mais importante na minha vida, cada um deles a sua maneira, e é deles, e dessa vida, que eu abro mão, uma vez mais, agora conscientemente, da mesma forma como fiz inconscientemente para salvar o platô. Eu não poderia viver feliz sabendo que o preço da minha vida era a maior alegria da vida deles, porque aí quem não poderia viver seria eu.'

Quando ela terminou, Freyja sorria serenamente:

'Suas palavras são sábias, Verônica.'

Verônica ficou atenta – era a primeira vez que alguém daquele mundo a chamava pelo seu nome próprio.

'Sim, Verônica, você fez a escolha certa. Está se perguntando por que eu passei a me dirigir a você por seu nome? É que os heróis, quando aqui chegam, deixam para trás não apenas seus corpos, mas seus nomes. Restam apenas suas qualidades, aquilo que os descreve em sua essência. Mas você acabou de reconquistar sua vida, e portanto posso voltar a chamá-la de Verônica.'

'Desculpe, mas creio que a senhora não me entendeu.' Verônica a interrompeu, preocupada. 'Eu disse que eu abro mão da minha vida. Meu único desejo é que meus amigos possam ter de volta – e realizado – aquilo que mais desejam.' Verônica jamais se perdoaria se qualquer deles passasse o resto da vida sem atingir seu maior desejo, e Freyja parecia não ter entendido seu desejo.

'Calma, Verônica. Deixe-me explicar... Se você repassar em sua memória o que cada amigo pediu, todos disseram "DESDE QUE VERÔNICA ESTEJA VIVA E BEM", de alguma forma. Esse é o desejo de cada um deles. Você tem cinco pedidos a seu favor. E um deles é ainda mais enfático, pois se trata de um homem cujo pedido só pode ser atendido se você estiver viva: afinal, ele só poderá ter o desejo dele de amá-la realizado se você estiver lá, para ser amada por ele.'

'Então, Verônica, para realizar o seu desejo, como você escolheu, eu preciso realizar os desejos de seus amigos. E, realizando os desejos de seus amigos, devolvo a vida a você.'

'Esse é o ciclo que bem poucas pessoas percebem quando lhes é dada a chance de escolher. Se você tivesse simplesmente escolhido viver, também viveria. Mas apenas a escolha sábia é capaz de fazer todos felizes.'

'Agora, o tempo que tinha sido suspenso está novamente em seus eixos. Há apenas uma conseqüência que restará de toda essa experiência – a garantia da continuidade da linhagem da Protetora.' Freyja disse, estendendo a mão para Verônica, que se aproximou respeitosamente para tomá-la. Surpreendeu-se quando viu que das mãos luminosas de Freyja o Trion voltava para suas próprias mãos.

'Adeus, Verônica. Tenho certeza que quando sua hora chegar, mais uma vez você será trazida a essa "Casa dos Heróis", o Valhalla de Asgard.'

E então tudo ficou subitamente branco, e Verônica não viu mais nada.

Capítulo 10 - Final (ou começo?)

Challenger fechara os olhos no último segundo. Mesmo ele, o brilhante cientista, não suportaria ver a mão abjeta do andróide executar o corte preciso que acabaria com sua vida. Mas passa-se um instante, e nada acontece. Ele torna a abrir os olhos, mas as salas de brancura e brilho imaculados sumiram, e ele está deitado no chão coberto de folhas do platô. O céu que se mostra acima da copa das árvores que o cobrem parece agora estar totalmente limpo, como se a tempestade que estivera se aproximando e se formando desde aquela manhã não fosse nada além de um sonho ruim. Ainda trêmulo, sentou-se, mas definitivamente não havia nada a seu redor que representasse perigo imediato. Junto a si, percebeu a corda que usava presa ao redor do corpo quando saiu da Casa da Árvore. E sabe que é para lá que tem que voltar se quiser entender o que aconteceu.

Um grito alucinado de guerra, como devem ter feito seus ancestrais mais primitivos, escapa da garganta de Roxton, que fecha os olhos diante da força instintiva desse desabafo. E quando ele os abre novamente, seu corpo distendido pronto para partir para o ataque, se surpreende vendo-se sozinho no platô. Não crê que seu grito tenha espantado os espanhóis. Olha, desconfiado, a seu redor, e vê que não há marcas da presença deles... O que quer que tenha sido aquele plano de realidade onde ele tinha lutado, desapareceu misteriosamente. Ele está apenas cercado da natureza exuberante do platô. Sopra uma brisa suave, e não há o mais leve sinal da tempestade que os ameaçara mais cedo. Onde estará Marguerite? É só nisso que ele consegue pensar nesse momento, e é em busca dela que ele parte.

Marguerite grita e se debate, e de repente percebe que funcionou – seus braços e pernas estão livres. Ela abre os olhos para rolar de lado, de forma a escapar o mais rápido possível da lâmina do punhal que já quase tocava seu peito. Mas agora nota que apesar de ainda estar sobre a rocha fria do altar da caverna, não há absolutamente nenhum druida ali para ameaçá-la, e tudo parece estar absolutamente destruído, exatamente como ela e John tinham deixado a caverna há pouco mais de um mês atrás. Ela sentou-se, ainda arfando devido ao esforço da luta vã que tinha travado com os druidas, trêmula, e olhando ao seu redor viu o nicho na caverna onde devia estar o corpo de sua antepassada, quem quer que fosse ela. Tudo estava no lugar. Apenas ela é que não estava – não queria ficar mais ali. Tão logo acreditou que suas pernas a sustentariam, levantou-se, com uma única idéia fixa: sair dali e procurar John. Sabia que ele sozinho precisava de ajuda para vencer o bando de espanhóis que tinha decidido atacá-lo. Ela sai da caverna, pela mesma abertura que usou com John da outra vez, após a explosão. Tem mais dificuldade, pois dessa vez ele não está ali para ajudá-la. Ela olha a seu redor, desnorteada, pois não sabe por onde começar a procurá-lo. E decide pela direção da Casa da Árvore, mas atenta aos sons que certamente uma tropa de espanhóis certamente estará fazendo, onde quer que esteja – e espera com eles encontrar também algum sinal de John.

Ele corre, tentando voltar para o ponto onde Marguerite foi tomada pela misteriosa onda de espaço-tempo que os separou. Não sabe o que houve com os conquistadores espanhóis que se desintegraram feito fumaça, mas isso pouco importa agora. Ele precisa encontrá-la, e sem nenhum outro perigo imediato a ameaçá-lo, é só nela que toda sua energia se concentra. Ele grita por seu nome, mas como resposta só ouve os sons tradicionais do platô.

A corrida de Marguerite rumo à casa da árvore é silenciosa, e ela procura ouvir além de seus próprios passos. Mas não há nada que indique a presença dos conquistadores espanhóis. Tudo está coberto pelo silêncio dos ruídos naturais do platô, o que a enerva profundamente! Será que está na direção errada? Onde está John? Continua correndo, e resolve gritar por ele. Não se importa que os conquistadores espanhóis a ouçam ou a encontrem, nesse momento o que importa é achar Roxton, de alguma forma, de qualquer forma.

Os gritos finalmente encontram eco. Ela ouve a voz distante de John chamando por ela. Ele ouve a voz ofegante de Marguerite gritando por ele. Guiam sua corrida baseada nos gritos, que se tornam mais freqüentes agora que se percebem próximos. Quando finalmente conseguem se ver, os gritos cessam. Não há alegria ou outras manifestações efusivas. Apenas uma corrida final, instintiva, em que ambos se lançam nos braços um do outro, ofegantes da corrida e do medo de terem perdido um ao outro. Abraçam-se, apenas, com força, como se desse abraço dependesse a vida de ambos, como náufragos que repentinamente encontram a tábua de salvação. Mas mesmo isso dura poucos instantes. Inspecionam-se em silêncio – estão ambos inteiros e intactos das aventuras – e basta uma troca de olhares para saberem o que precisam fazer a seguir: voltar para a Casa da Árvore.

Na sala da Casa da Árvore, Verônica jaz, ainda inerte. Absolutamente imóvel. E é com essa cena que Challenger se depara. Ele subiu ansiosamente pelo elevador, gritando por Verônica e por Finn. Não vê Finn em lugar algum, mas Verônica definitivamente está ali. Mas não, ela não responde aos chamados dele. Challenger se aproxima e examina-a.

Marguerite e Roxton se aproximam, ofegantes, da cerca elétrica, estranhamente desligada. As pegadas de Challenger estão claras, passando sobre as pegadas anteriores deixadas por ele mesmo, Verônica e Finn quando tinham tentado religar a cerca elétrica. É notável que ele acabou de voltar por ali. Mas há apenas silêncio na parte de cima da casa da árvore. Eles puxam a alavanca que desce o elevador, entram e puxam a alavanca de subida. Quando finalmente atingem o nível da sala e saem do elevador, vêem Challenger, que está ajoelhado ao lado de Verônica. John e Marguerite se aproximam.

'Como ela está?' Marguerite se apressa a se ajoelhar junto de Challenger.

'Está desmaiada, mas não tem nenhum ferimento.'

'Nada, Challenger?' Roxton se aproxima também.

'Nada. É melhor levá-la para o quarto. Ela vai precisar descansar.'

Roxton aproxima-se e toma-a delicadamente nos braços, levando-a para o quarto, seguido por Challenger e Marguerite.

'Ned?' Verônica resmunga contra o peito de Roxton.

Ele não pode conter um sorriso.

'Não, Bela Adormecida, é um outro cavalheiro quem está aqui.'

Ela abre os olhos, sobressaltada.

'Calminha aí, garota. Você esteve desmaiada. Vamos conversar, mas primeiro você deve se deitar.' Roxton tenta acalmá-la, depositando-a na cama, rodeada por seus amigos.

Challenger a examinou uma vez mais.

'Você está sentindo alguma dor? Está ferida?'

'Não...' Verônica parece preocupada ou confusa, olhando de um para outro deles, sem se deter.

'Verônica, o que houve?'

'Eu... Eu não sei... Eu estava aqui, tentando usar o Trion para salvar o platô. Depois, a próxima coisa que me lembro, vagamente, é de um lugar chamado Valhalla, no Asgard... Eu tenho a nítida sensação de que vocês estavam comigo de alguma forma – aliás, não apenas vocês, mas Ned e Summerlee também... Lembro-me de alguém falando de Finn. Mas não consigo me lembrar do que houve.'

Challenger trocou olhares com os outros, e voltou-se para ela:

'Ned, Summerlee? Precisaremos investigar isso melhor, Verônica. Mas creio que você sofreu algum tipo de choque com a tempestade. É melhor você tentar descansar agora... Nós podemos esperar para conversar mais depois...'

Ela continuava incomodada pela situação, e fez um movimento para sentar-se na cama, e só então notou que apertava firmemente em sua mão algum objeto.

Quando abriu a mão, estava com o Trion completamente chamuscado em suas mãos.

'Santa Ciência!' Challenger exclamou, aproximando-se do Trion.

Todos ficaram curiosos com a manifestação de Challenger.

'Eu posso?' ele pediu à Verônica, antes de tomar o objeto da mão dela.

'Claro!'

Ele pegou o Trion e começou a examiná-lo.

'Podemos saber o motivo de tamanha comoção, Challenger?' Marguerite perguntou, irônica. Ela detestava quando ele fazia mistério quanto ao que tinha descoberto, atiçando a curiosidade deles.

Ele continuou absorto, até que Verônica finalmente o cutucou no braço.

'Ei, tem alguém aí?' ela perguntou, divertida.

Challenger finalmente resolveu se explicar, mas era notável seu espanto.

'O iridium... Nenhuma força é capaz de destruí-lo ou de causar dano a ele. Era por isso que ele era o metal que eu estava usando em minha pesquisa durante a guerra. Nenhuma força conhecida poderia corrompê-lo, posso garantir a vocês. Tentamos tudo: substâncias químicas, descargas elétricas, todos os elementos destrutivos conhecidos se mostraram incapazes de danificar o iridium. Por isso o potencial dele como um escudo de proteção era o meu projeto. Posso assegurar que nada – nem ninguém – teria sobrevivido ao que quer que tenha danificado esse objeto.'

Ele olhou intensamente para Verônica.

'Você deixou o Trion por algum momento?'

'Não que eu me lembre, Challenger.' E as marcas em sua mão comprovavam o que dizia, pois via-se que ela estivera por longo tempo apertando o Trion em sua mão, mesmo enquanto estivera desmaiada.

Challenger voltou a repetir, como de si para si: 'Nada, ninguém sobreviveria a qualquer força que causou esse estrago...'

Marguerite e Roxton se entreolharam, e aproximaram-se de George, um de cada lado:

'Vamos, Challenger. Você pode investigar isso depois, em seu laboratório.' Roxton instou.

'Exato. Nada nesse platô é o que parece, e você já devia ter aprendido isso.' Marguerite comentou.

'Talvez nem todas as leis do nosso mundo se apliquem aqui. Afinal, eu estou viva, e o platô não está destruído... Apenas o Trion de iridium foi chamuscado...' Verônica completou, pensativa.

'Mas isso é realmente incrível...' Challenger ainda tentou argumentar.

Marguerite falou, rindo, entre irônica e divertida. 'Challenger, tudo é incrível aqui! O começar do fato de estarmos nesse platô!'

Roxton e Marguerite guiaram Challenger para fora do quarto, mas antes de sair Marguerite ainda fez um sinal para Verônica que já voltaria.

Quando estavam do lado de fora, e fora do alcance auditivo de Verônica, eles se entreolharam.

'É bom ouvi-la falando de Ned e Summerlee – quem sabe temos alguma pista de onde estão ou do que houve com eles.' Challenger comentou, ainda um pouco distraído.

'Mas o que me preocupa de imediato é se algum de vocês viu Finn na volta para cá.' Marguerite completou, olhando para Roxton, pois eles tinham voltado juntos e não tinham visto Finn.

'Não.' Nenhum deles a tinha visto.

'Ela estava com Verônica quando eu saí da Casa da Árvore, mas já não estava aqui quando eu voltei.' Challenger informou.

'E é melhor ainda não preocupar Verônica com isso, perguntando diretamente a ela, por enquanto.' Marguerite acrescentou, preocupada.

'Eu irei procurar por Finn.' Roxton se ofereceu.

'Não é bom sair pelo platô ainda, meu velho. Ainda não sabemos o que pode nos esperar lá fora.' Challenger tentou impedir.

'Challenger tem razão, John. Pode ser perigoso.' Ela ainda tremia interiormente ao se lembrar da terrível sensação de estar nas mãos daqueles sacerdotes druidas.

'Preciso religar a cerca elétrica, de qualquer forma. Irei até lá, e no caminho procurarei sinais de Finn. Não vou me demorar, nem estender meu raio de busca além do que for estritamente seguro.' Ele reafirmou, já subindo para pegar seu chapéu e armas.

Marguerite e Challenger subiram com ele, pois Challenger queria preparar um chá para Verônica – que Marguerite ia servir à caçadora, ajudando-a também a se pôr à vontade para descansar.

Enquanto Challenger foi para a cozinha, Marguerite sorrateiramente se aproximou de John, que se dirigia ao elevador. Ela segurou o braço dele, e havia urgência naquele gesto.

'O que foi, Marguerite?' John perguntou com sua voz grave e calma, virando-se para encará-la, como sempre se perdendo imediatamente na profundidade daqueles olhos cinza azulados.

Ela hesitou, mas por fim disse: 'Tome cuidado, sim?' a preocupação era sincera e transparecia na urgência também do olhar e da voz dela.

Ele sorriu em retorno, e tocou delicadamente a linha que delineava o rosto dela com a palma de sua mão. 'Estarei de volta antes que vocês dêem por minha falta. Agora, vá ficar com Verônica – ela parece ter passado por uma provação maior que a nossa durante essa tempestade...'

A expressão dela se suavizou ao toque dele, e ela finalmente sorriu. Ele abaixou-se então, roubando-lhe um beijo rápido, e antes de sair apenas sussurrou ao seu ouvido: 'Eu amo beijar seu sorriso.' E entrou no elevador.

Ela ficou parada ali por um instante, mas foi chamada à realidade por Challenger gritando uma imprecação qualquer na cozinha – ele provavelmente estava queimando algo, para variar, e ela foi em seu auxílio.

Verônica observava o Trion chamuscado e tentava se lembrar das coisas que tinham acontecido desde que estava no centro do cone de luz na Casa da Árvore. As palavras Asgard e Valhalla estavam gravadas em sua mente, bem como os rostos de todos os seus amigos, inclusive Ned e Summerlee. Como sentia falta deles. Será que o que tinha visto durante o período em que estivera desacordada podia dizer algo sobre onde eles estavam? Por isso estava se esforçando tanto por se lembrar, mas sem sucesso até o momento...

'É isso que você entende por descansar?' Marguerite perguntou, entrando no quarto carregando a bandeja com a chávena de chá que Challenger tinha preparado.

Verônica limitou-se a sorrir – era bom desviar seu pensamento daquelas lembranças vagas e ver seus amigos ali, em carne e osso, perto dela. Pelo menos uma parte deles – não podia se esquecer dos saudosos Summerlee e seu amado Ned.

'É bom você tomar isso antes que esfrie – sabe que as beberagens de Challenger não são grande coisa quando quentes, mas podem ser intragáveis quando frias.' Marguerite fazia o possível para distraí-la e desanuviar o ambiente, sentando-se na cama e servindo Verônica do chá, que ela bebeu em silêncio.

'Obrigada.'

'Agora, que tal vestir algo mais confortável para tentar descansar um pouco?' Marguerite não estava acostumada a ver Verônica com aquele olhar distante, justamente a caçadora sempre tão prática e pragmática.

Verônica não respondeu, distraída. Marguerite se preocupou. Tocou de leve no braço da moça loira.

'Está tudo bem?'

Verônica pareceu despertar de seu devaneio, e olhou diretamente para Marguerite antes de responder.

'Sim...' ela finalmente sorriu. 'Acho que vocês têm razão, eu estou um pouco aérea, preciso descansar.'

Marguerite sorriu de volta, e ajudou Verônica a se livrar de suas botas e das suas roupas, e acomodou-a para o descanso.

'Onde está Finn?' Verônica perguntou, já deitada.

Marguerite não contava com essa pergunta.

'Ela... ainda não voltou.' Não soube mentir com rapidez, e preferiu dizer a verdade. 'Mas John foi religar a cerca elétrica e ia aproveitar para trazê-la de volta.' Queria transmitir aquela certeza à Verônica, que ficara subitamente preocupada novamente.

'Finn não está aqui? A última vez que a vi ela estava comigo, fora do cone de luz, no centro da Casa da Árvore. E logo depois ela simplesmente desapareceu, como que sugada por uma daquelas ondas temporais... E Roxton saiu atrás dela?'

'Sim, mas logo ambos estarão de volta.' Marguerite reforçou, para tranqüilizá-la. 'Agora, descanse, sim?' Ficou aliviada vendo os olhos pesados de Verônica – Challenger definitivamente caprichara na dose de relaxantes contidos no chá que preparara. Ainda ficou sentada ali à beira da cama até que Verônica adormeceu, e só então recolheu a xícara de chá usada, a bandeja, e subiu as escadas que levavam à cozinha.

Estava colocando as coisas na pia, quando ouviu o barulho do elevador e largou tudo como estava para ir ao encontro de John e Finn. Challenger vinha do balcão na mesma expectativa. Mas apenas John saiu do elevador.

'A cerca elétrica está ligada.' Ele disse, laconicamente, enquanto pendurava seu chapéu e seu coldre. 'Mas não há nenhum sinal de Finn.' Ele finalmente disse, preocupado. 'As pegadas dela só estão dentro do perímetro da cerca elétrica, o que significa que ela não saiu daqui caminhando. Você disse que a deixou com Verônica, Challenger?'

'Sim, quando saí para tentar religar a cerca elétrica as duas estavam juntas.'

'Verônica comentou que viu Finn desaparecer como que tragada por uma daquelas ondas temporais.' Marguerite explicou.

'Mas parece que, ao contrário de nós, não foi liberada da onda temporal...' Challenger elocubrou.

'Ou foi, mas desembocou em algum lugar do platô que ela ainda não conheça, ou a partir do qual não saiba voltar para casa.' Roxton ponderou.

'Acho pouco provável. Todos estávamos num raio de poucos quilômetros da Casa da Árvore. Finn não seria exceção.' Challenger racionalizou.

'De qualquer forma, temporariamente temos mais uma desaparecida. Primeiro Summerlee. Depois Ned... E agora Finn...' Marguerite comentou, com um tom indisfarçável de tristeza.

'Mais uma desaparecida para juntar às nossas buscas, que serão retomadas assim que Verônica se recuperar.' Veio o complemento de Roxton, num tom esperançoso – pois sabia o quanto Marguerite tinha sofrido em silêncio com cada um dos afastamentos de seus amigos.

'Exato.' Challenger concordou. 'Mas parece que o que quer que Verônica tenha visto durante o tempo em que esteve desmaiada vai se tornar uma informação essencial para entender o que houve e por onde podemos retomar as nossas buscas pelos três desaparecidos. E assim como Verônica precisa descansar, creio que todos nós precisamos – todos tivemos um dia cheio hoje.'

'Nesse momento não poderiam haver palavras mais sábias, George!' John concordou. Estava definitivamente exausto.

'Boa noite a todos, então, nos vemos amanhã...' Challenger apressou-se em se despedir, sabendo que Roxton e Marguerite bem que precisavam de alguns minutos a sós.

'Não se preocupe, George, eu irei dormir no quarto de Verônica, caso ela precise de algo durante a noite.' Marguerite o tranqüilizou.

Quando Challenger já tinha saído, foi a vez de John perguntar a Marguerite: 'Como você está?' Ela se surpreendeu um pouco com a pergunta, mas o tom da voz dele era aquele mesmo que ele usava quando estava mais próximo dela.

'Bem, John, saímos todos vivos dessa aventura, ao que parece...' Roxton sabia que as reticências dela se referiam a Finn.

'Tenho certeza que Finn, Ned e Summerlee estão bem, onde quer que eles estejam agora. ' ele disse, com sinceridade.

'Assim espero.'

Ele queria poder assegurá-la disso, de alguma forma, mas a conhecia bem o suficiente para saber que ela precisava de um tempo para digerir tudo o que tinha acontecido e os sentimentos que esses acontecimentos haviam despertado. Ele se aproximou mais dela, beijou-a, e sentindo que ela correspondia, envolveu-a num abraço carinhoso, que ela também retribuiu. Mas logo ela se afastou, suavemente, e ele a deixou ir. Ambos estavam reconfortados. E apesar do brilho de estrelas que seus olhos tinham ganhado, ela apenas se despediu com um 'Boa noite.' murmurado antes de girar sobre os calcanhares e dirigir-se ao quarto de Verônica. Roxton apenas sorriu e foi para seu próprio quarto, para seu tão merecido descanso.

&&&

Tinha sido por pouco. Escapar dos carros era um pouco mais difícil que escapar dos dinossauros, porque os carros eram mais rápidos. Por outro lado, era mais fácil porque o ruído dos carros era muito menos sutil que o ruído dos raptors, por exemplo.

Ela tinha voltado ao seu antigo esconderijo, no sótão do shopping abandonado.

As coisas estavam exatamente como tinha deixado – afinal, matara seus inimigos antes de ir para o mundo perdido com seus novos amigos. E as outras pessoas estavam todas nos campos de óleo, trabalhando como escravas.

Tinha chegado e se jogado sobre um monte de papelão, que ela antigamente chamava de cama. Era impossível não comparar o que estava vivendo agora com o pouco tempo que passara no mundo perdido, com pessoas que se respeitavam e se gostavam, e que a tinham aceitado como parte da família.

Ainda não entendia como tinha ido parar de volta ao seu tempo. Será que o mundo perdido tinha acabado, e era por isso que em seu tempo não havia mais qualquer sinal daquele paraíso que ela conhecera? Ou será que como Maple White dissera a Challenger, ela tinha sido devolvida ao seu próprio tempo para que as coisas voltassem a seus devidos lugares? Tudo aquilo era muito teórico e complexo para sua compreensão.

Procurou entre suas coisas, era uma pena que não tivesse nada com ela para lembrá-la dos exploradores. Nem uma foto ou uma lembrança, mas sabia que não os esqueceria, eles estavam em seu coração.

Isso a fez lembrar-se de uma caixinha de guardados, que ficava escondido no corpo gasto e puído do urso de pelúcia que fora seu único companheiro desde os quatro anos, quando seus pais tinham morrido. Encontrou o urso dentro de uma caixa que estava sob outras caixas. Ninguém o encontraria ali, exceto ela.

Pegou o urso rasgado e tantas vezes remendado, já sem olhos, com o focinho totalmente gasto, prestes a desaparecer. Virando-o, abriu o botão que fazia com que o seu enchimento original permanecesse dentro dele. Mas agora, envolvido pelo pouco enchimento envelhecido que restava, encontrou a caixinha que conseguira trazer de sua casa antes da guerra. Abriu-a. Dentro estavam vários papéis. Ela na verdade não se lembrava porque tinha guardado tudo aquilo, porque nunca aprendera a ler. Mas sorriu. Agora tudo era diferente. Challenger a tinha ensinado. Ela não era uma leitora rápida, ainda, mas já conseguia entender o que estava escrito.

Espalhando os papéis, começou a abrir um por um para verificar seu conteúdo.

Lentamente, começou a ler cada papel. A maioria era de bilhetes que provavelmente seus pais tinham trocado. Mas isso já a emocionou. Ela tentava não pensar muito nos pais que perdera tão pequena, mas ler aquelas mensagens simples e singelas, trocadas por pessoas que se amavam e que a amavam, algumas mensagens até mencionando seu nome, realmente fizeram com que um nó se formasse em sua garganta...

Porém, no último papel que abriu, quando o desdobrou, encontrou um objeto metálico em seu interior: era bem fininho e leve, talvez por isso nunca imaginou que no meio do papel houvesse algo. Mas era um Trion, como o de Verônica, uma pirâmide com um vórtice... Finn ficou olhando pensativa para o Trion, sentindo ao mesmo tempo seu coração se apertar, sentindo falta daquela que ela aprendera a considerar como uma irmã mais velha. Mas então a curiosidade a venceu, e ela foi ler a mensagem no papel, tentando entender como sua mãe ou seu pai tinham tido acesso a um Trion cento e onze anos depois do tempo de Verônica... E o papel em que o Trion dizia assim, na letra que Finn julgou ser a de sua mãe:

'A população mundial está morrendo, vítima das armas químicas. O que vamos fazer? Apenas nesse lugar sempre e eternamente abençoado e protegido parece haver alguma chance de sobreviver. Mas mesmo esse lugar não consegue ficar imune ao ar que circula e à química que vem com a chuva.

Finn ainda é jovem demais para conhecer seu destino como Protetora do Platô. É apenas uma criança, mal deixou de ser nosso bebê. É nossa sina não poder sair daqui, nem nos salvar enquanto indivíduos, deixando para trás os outros. A proteção e a continuidade do platô estão acima dos nossos interesses pessoais.

Assim foi com Abigail, depois com sua filha Verônica, com minha tataravó Marguerite, com minha bisavó Sara, com minha avó Jessica, com minha mãe Vanessa, comigo agora, e será assim com Finn. Sempre foi assim, e assim sempre será...

Temo apenas que essas forças externas nos destruam antes que Finn possa compreender o que preciso ensinar a ela, sobre ser a Protetora do Platô. Mas ela ainda é uma criança, e teremos muito tempo para isso...'

Finn ficou ali, estática, numa mistura confusa de emoções. Sua mãe tinha sido uma Protetora do Platô. Ela, Finn, também era uma Protetora. Ela era da mesma linhagem de Verônica. Verônica era sua tatataravó ou o nome que se desse a isso! E ela não soubera disso antes...

Se esforçou por lembrar algo que sua própria mãe pudesse ter-lhe ensinado ou mencionado sobre o assunto. Mas nada, absolutamente nada lhe vinha a mente. Na verdade, mal se recordava do rosto de seus pais, era tão pequena quando eles tinham morrido...

Tentou desviar o rumo de suas idéias, e pensar nas oportunidades que tivera de conversar com Verônica... Teria aproveitado as oportunidades adequadamente? Teria usado bem a única chance que tinha tido de aprender um pouco sobre o que era ser uma Protetora? Sabia apenas que tinha aprendido muito com aquela família que a adotara por alguns meses. E aprendera muito com Verônica, uma conexão imediata entre elas desde o primeiro encontro em que as duas inadvertidamente tinham medido forças entre si.

Como é mesmo que Challenger dizia? Que todos eles tinham ido para o Platô por um único motivo, que não era à toa que todos eles estavam juntos? Talvez ela devesse começar a acreditar nisso...

Chorou um pouco, mas quando se levantou, decidida, estava mais forte que antes: tinha agora uma linhagem de mulheres fortes e poderosas que a antecediam e que não tinham falhado. Tinha a lembrança de um grupo de amigos – e alguns agora reconhecidamente mais que amigos – que tinham lhe ensinado sobre fidelidade e fraternidade – e ela não esqueceria. Eles também não tinham falhado. E ela, Finn, também não falharia.

&&&

'Mãe, eu sou a Protetora?' Verônica se via perguntando mais uma vez, em seu sonho.

Mas dessa vez ela ouviu a voz de Abigail em resposta.

'Sim, filha, você é a Protetora, minha sucessora. Mas sua hora ainda não soou – e apesar de não ter ainda sido instruída para assumir meu lugar, seu instinto a guiou hoje.'

A tempestade tinha desaparecido, e Verônica ouvia a voz calma de sua mãe, apesar de não vê-la.

'Descanse agora. Em breve você vai reencontrar seus amigos, o sábio botânico e o jovem repórter.'

Verônica ficou feliz em ouvir aquilo de sua mãe, ajudava a reforçar sua confiança. 'E Finn?'

'Ela aprendeu o que tinha que aprender, e está de volta ao seu próprio tempo. Vocês não vão revê-la.'

Verônica sentou-se na cama, perturbada por seu sonho. Marguerite se sobressaltou com o gesto brusco da moça, que estava dormindo profundamente quando ela chegara. Levantou-se e se aproximou suavemente da loira, que parecia ainda bastante agitada.

'O que houve, Verônica?' como a moça não respondesse, ela se sentou à cama, fazendo com que Verônica se deitasse, e tentando tranqüilizá-la: 'Está tudo bem.'

Verônica finalmente disse, com os olhos cheios de lágrimas: 'Nós reencontraremos Ned e Summerlee. Mas não veremos mais Finn.'

'Como assim?' Marguerite tentou disfarçar o tom de alarme em sua voz.

'Minha mãe. Ela me disse.' Verônica não saberia explicar melhor.

'Foi apenas um sonho, Verônica.' Marguerite tentou racionalizar.

'Pode ser...' Foi a resposta lacônica de Verônica. Não podia explicar melhor a certeza que sentia de que sua mãe realmente lhe transmitira aquela mensagem através do sonho.

'Volte a dormir agora.' Marguerite insistiu, mas sabendo, intuitivamente, que Verônica realmente estivera com sua mãe... Afinal, aprendera a confiar em seus próprios sonhos, e não tinha porque duvidar dos de Verônica.

O que nenhuma das duas – e nenhum dos outros exploradores – poderia saber é que, de Avalon, Abigail observava, orgulhosa, sua filha. Que salvara hoje o platô, instintivamente. Que fora reconhecida como heroína e levada ao Valhalla, no Asgard. E que por conta da generosidade inestimável de seus amigos, pudera fazer uma sábia escolha e voltar à vida, garantindo a continuidade da linhagem da Protetora, que estava agora definitivamente assegurada até Finn, no longínquo ano de 2033...

FIM

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