...Last Mission...

Parte IV

Momoe observava a caçula da família se afastar.Minha irmã gosta do namorado da melhor amiga...que situação mais conflitante...

E dando um longo suspiro de resignação, foi se juntar aos demais.Naquele exato momento, Momoe Inoue não era capaz de sequer imaginar o quanto Ken Ichijoji estava desesperadamente enredado em sua própria situação conflitante.

Não estava com a menor vontade de tocar no Rondelli de Mussarela ao Sugo que Kari fizera especialmente para ele.Tudo o que se limitara a fazer foi ouvir com intocável atenção à tudo o que a namorada dizia.Enquanto ela tentava encontrar um assunto sobre o qual ele estivesse disposto a conversar, Ken mexia os pés nervosamente embaixo da mesa.A comida esfriara, mas o rapaz continuou comendo um pedacinho aqui e outro ali, decidido a não permitir que a moça notasse seu estranho se isso fosse adiantar...

"Ken, tem alguma coisa errada?".

Ele tinha acabado de colocar mais um fragmento da massa em sua boca, quando levantou os olhos para Kari.Ela tomara um gole de suco, e o fitava serenamente.

De repente, Ken engasgou.Seus olhos se enchiam de lágrimas na medida em que a falta de ar o acometia.Antes que Kari pudesse chegar até ele, o rapaz se levantara e correra até a sala, onde começou a tossir sem parar.

Mesmo naquela situação sufocante, Ken ainda pôs a mão sobre a boca, num ímpeto de tentar manter um mínimo de sua educação e postura usuais.Encolheu os ombros enquanto seu corpo era sacudido pela tosse violenta.Ainda podia sentir Kari batendo suavemente em suas costas quando caiu sentado no sofá.

"Você está bem?".

Ela sentou-se diante dele, colocando as mãos em seus ombros.Os olhos de Ken estavam muito vermelhos.

"Eu estou sim... desculpe por isso".Respondeu, ainda um pouco ofegante.

"Não tem do que se desculpar, não se preocupe".

Ken suspirou, e recostou-se contra a superfície macia.Os dois tiveram um bom momento de paz e silêncio.Kari o fitava gentilmente, até flexionar os dedos de uma forma urgente.

O olhar do rapaz, que já recuperara totalmente o controle, estava perdido, naquele mesmo lugar com o qual Kari não tinha a menor familiaridade, ao qual ela achava que nunca seria capaz de chegar...

Eu queria tanto saber o que acontece com você, Ken...Pensou a garota, fitando durante breves momentos o modo como seus cabelos volumosos, poucos centímetros acima dos ombros, emolduravam seu rosto, e o brilho pacífico e ao mesmo tempo tão perturbador de seus olhos.

Ken estava se preparando para dizer à Kari tudo o que deveria dizer,da forma mais delicada e coerente possível,quando sentiu uma de suas mãos macias acariciar-lhe timidamente os cabelos.

Surpreso, ele se voltou para ela.Sentiu o peito apertado de tanto remorso.Será que nós ainda poderemos ser amigos?O que será que os outros vão achar disso?

"Ken..." Chamou Kari, suavemente, tentando mirar os olhos dele."Você... sabe que dia é hoje?".

O rapaz a fitou sem emoção.Não, ele não se lembrava que dia era hoje.

"Er... lembro. Lembro sim, claro que lembro. Kari,eu gostei muito do jantar,foi uma surpresa linda,mas..."

"Ken".Ela o interrompeu.Sua voz e expressão denunciavam mais que gentileza.Ela tentava ser firme, mas era como guiar um barco num mar de nervosismo em dia de tempestade.Kari respirou fundo, e baixou o rosto.

"Não era essa a surpresa...".

Ichijoji ergueu ligeiramente uma sobrancelha."Não?".

Kari levantou o rosto.Estava muito corada.Seu sorriso gentil vacilou pela primeira vez.

"Como hoje é uma data muito especial... e eu gosto muito de você... eu pensei que... bom... certas coisas na vida têm o seu tempo certo para acontecer... e eu acho que... bem, que nós já tivemos tempo o suficiente para...".

Kari não conseguiu completar a frase, mas um pequeno sorriso sem graça deu à Ken uma boa pista sobre do que estavam falando...ou melhor,sobre o que ela queria.

"Kari, eu..." Ken interrompeu à si mesmo,quase que petrificado."Era só o que faltava! Eu não acredito!".

A garota o fitou mais uma vez, só que de um jeito muito singelo, com um toque simples de intensidade.Mas a doçura dos olhos de Kari, e a candura de seu sorriso, ao invés de enternecê-lo ou seduzi-lo, só fez com que ele tivesse mais vontade ainda de desaparecer dali.

Kari ergueu os braços vagarosamente.Por um instante, seu olhar recaiu sobre seus próprios pés, mas quase em seguida voltaram a perscrutar os olhos dele...Ken sentiu os braços delicados da namorada em volta do pescoço.A distância entre os dois olhares ia se tornando cada vez menor.Kari acabara de fechar os olhos, sentindo o perfume do rapaz, ao passo em que ele podia sentir o dela bem debaixo do nariz...

"Não".

Ela ficou quase alheia ao par de mãos que seguraram seus ombros e a mantiveram imóvel.Mas abriu os olhos de uma só vez, diante de uma expressão indescritível estampada no rosto de Ken...ela não era rapaz de dizer se ele estava nervoso,confuso ou o quer quer que fosse.

Na verdade ele já estava decidido.Aquela estória ia ter fim naquela mesma noite, naquele exato momento.As coisas haviam chegado num ponto em que era impossível continuar fingindo!

"Eu sei, desculpe, eu me precipitei".Disse ela, afastando-se dele subitamente."Eu deveria ter conversado com você primeiro".

"Eu é quem deveria ter falado com você" Retrucou, endireitando o corpo.

Kari viu Ken assumir uma postura séria e atenciosa.Supôs que ele teria algo muito importante a lhe dizer, mas não se mexeu ou falou.Apenas ficou esperando.

"Kari... eu acho que você não se precipitou... sabe... er...querer isso...que você quer...é..."Ele engoliu em seco."É muito natural... mas... eu não quero. Eu não posso".

Ken reprimiu qualquer demonstração de fixando seu olhar na figura dela, muito concentrado.Desejava explicar a situação, pedir desculpas mil vezes se fosse preciso.Não queria deixar mágoa.Queria manter a amizade e o respeito que sempre existira entre eles."Será que eu fui contundente demais?".

Ela não pareceu desapontada.Muito pelo contrário.Uma expressão compreensiva de concordância tomou seu rosto.Ela assentiu polidamente.

"Claro, eu compreendo. Ainda é muito cedo para você".

Ken sentiu um sensível aumento em seu grau de apreensão.Não foi o suficiente para que ela entendesse...claro, seu burro,ela é esperta mas não tem a obrigação de adivinhar o que você está pensando!

"Kari...o que eu quero dizer é que..."

Ela aguardava.O que mais lancinava Ken era justamente isso, essa atitude generosa.Ela era paciente, esperava, ouvia, na tentativa de compreender e tornar tudo mais fácil para os outros."Onde eu estava com a cabeça quando aceitei esse namoro? Mais cedo ou mais tarde isso ia acabar mal!".

Na época, desiludido e chateado, Ken achou que poderia vir a gostar realmente da amável Kari.Não da forma como gostava da temperamental Yolei, mas ao menos pensou que seria capaz de esquecê-la e concentrar-se na outra, com quem de certa forma tinha mais em comum...mas seus sentimentos o levaram a falhar miseravelmente.

"... Eu acho melhor nós terminamos".

Ele baixou os olhos durante alguns instantes.Seus dedos entrelaçaram-se uns nos outros, enquanto esperava alguma reação.Sentiu-se melhor, repentinamente.Não que estivesse de todo confortável...na verdade,ainda estava muito constrangido.

"Porquê?".

Ken levantou o olhar.Os lábios de Kari estavam entreabertos.O rapaz não teve nada mais a fazer a não ser demonstrar alguma consternação.Não houve uma única palavra entre os dois durante alguns momentos.A garota o fitava com silenciosa angústia, talvez tentando entender o que estava acontecendo.Ele, por outro lado, parecia calmo, mas ainda assim, muito sério e concentrado.

Kari se achava entorpecida pelo choque de estar, num momento, jantando à luz de velas com o namorado,e no outro,estar sendo dispensada por ele.

"Você não gosta de mim, não é?".

"Não se trata disso, eu...".

"Não, Ken. Você não gosta de mim".Declarou a moça, num tom pesaroso.Mas até mesmo sua tristeza parecia carregada de serenidade."Você sabe o que eu quero dizer. Você gosta de mim, mas... não do jeito que eu esperava. Você não está apaixonado por mim... nunca esteve...".

Ken fitou Kari como se de repente tivesse perdido o fôlego e não houvesse jeito de recuperá-lo."Eu... eu nem sei o que dizer sobre isso... a única coisa que eu sei é que... é que eu não queria magoar você... isso é um clichê muito cínico... mas é o que eu sinto de verdade".

"Eu acho que só agora você está assumindo tudo o que sente de verdade, não é?".

Ela não o estava acusando.Apenas fazia uma constatação, com muita seriedade.

"Você nunca demonstrou estar feliz durante todo esse tempo em que nós namoramos... eu achei que talvez fosse por você ser muito reservado... mas agora eu estou vendo que não era nada disso".

Kari fechou os olhos e passou a mão sobre suas pálpebras delicadamente.Quando os abriu, as pupilas de cor castanha pareciam estar derretendo, mas nem uma única lágrima escorreu pelo seu rosto.

"Porquê você aceitou, Ken? Mesmo sem gostar de mim?" Indagou, suavemente.

"Eu gosto de você".Declarou o rapaz, com firmeza."Eu só... é que eu não estou apaixonado por você, entende?" Disse, em voz baixa."Eu tentei, mas... eu não consegui. Não por culpa sua. É que... eu...".

Ken se conteve.Até a sinceridade, às vezes, tinha de ter um limite.Agora não parecia ser o momento para dizer à Kari que estava interessado em outra pessoa.Definitivamente não era.

"Você não precisa usar esse clichê também, Ken... eu sei que você gosta de mim... que você gosta da minha companhia...".

"Kari...".

"Eu acredito realmente nisso. Você só... você só não me quer... do jeito que eu quero você".

Ken finalmente relaxou.O inevitável tinha acontecido.E foi melhor assim.

"Eu só quero saber... porquê? Porquê você aceitou levar isso adiante? O que significou para você esses meses em que nós ficamos juntos?".

Ken deu um sorriso repleto de melancolia."Foi muito bom. Você é maravilhosa. Mas...eu não quero mais mentir para você."

"Então não minta mais. Por favor".

Ken fitou Kari sem emoção.Não viu mais a tristeza nem a perplexidade em seu semblante.Parecia que estava esperando alguma coisa dele, e estava determinada a agüentar o que tivesse de agüentar.Ela quer saber de qualquer jeito.Não posso negar isso à ela.

"Tem uma pessoa de quem eu gosto muito..." O rapaz se esforçou para não desviar os olhos de Kari.Depois de tanta falsidade, queria que ela voltasse a ter pelo menos o mínimo da confiança que costumava ter nele, e que agora deve ter perdido."Nunca houve nada entre nós... talvez pudesse ter acontecido, mas por culpa minha nunca aconteceu... a verdade é que eu sou um covarde. Eu continuo ferindo as pessoas, continuo ferindo à mim mesmo...agora eu feri você...e essa pessoa de quem eu estou falando...ela talvez nem queira saber de mim...só que eu não consigo mais viver nessa farsa."

Os olhos de Kari continham um brilho líquido, que tremulava calmamente.Mas ela manteria o controle até o fim.

"Você teve medo de chegar perto dela? Porquê?".

Ken sarcasmo, com tristeza, e com uma raiva patética de si mesmo.

"Quando era o Imperador Digimon, eu costumava brincar com tudo à minha volta... quando recuperei a consciência, pareceu que eu tinha me perdido, porquê tudo ao meu redor parecia novo... eu tinha de descobrir as pessoas, descobrir um jeito de corrigir os meus erros... tinha de descobrir quem eu era na verdade. Mas tem certos sentimentos para os quais eu me fechei, porquê não sabia realmente como lidar com eles... e quando descobri, era tarde demais".

"E agora isso mudou...".

Ken assentiu.Nesse momento, ele se levantou e foi se ajoelhar diante de Kari.

"Eu queria tentar consertar mais esse mal que fiz...".

"Todos tem o direito de se enganar, Ken".Respondeu a moça, com neutralidade."Eu não vou exigir nada. E desejo também que você tenha muita sorte. De verdade".

O rapaz não se surpreendeu ao ouvir essas palavras.Não poderia se esperar outra atitude de Kari.Fitando-a com gratidão e ternura, ele tomou as mãos dela entre as suas, e as beijou, respeitosamente.

"É melhor você ir agora, Ken...".

"Tudo bem".Ele murmurou."Tchau".

Ichijoji ficou de pé, e se afastou.Ao ouvir o som da porta se fechando, Kari deitou de lado sobre o sofá, descansando a cabeça sobre os braços.Só então permitiu que as primeiras lágrimas caíssem.


U-HUUU!Até que enfim eu terminei a parte IV!

Pé na bunda sensível esse,huahuahua!

Vocês não tem idéia do quanto foi difícil escrever esse break-up deles!Tomara que tenha ficado bom, mas isso só vocês podem me dizer.

Eu tive muita dificuldade para retratar a personalidade da Kari!O que vocês acharam, é ela mesma que está aí ou eu viajei legal?E o Ken?Acho que ele não ficou parecendo canalha, naum, é só imaginação minha, eu espero!

Vou continuar escrevendo bravamente!Meu público é pequeno, mas é de qualidade (Esse vai ser o meu lema a partir de agora!).

Parte V vindo aí!Agora que o pepino com a Kari já está resolvido, Ken vai ter de descascar um verdadeiro abacaxi, he he he.Vou ver também se coloco um pouco de ação.Já está mais do que na hora!

Beijos para todos!