...Last Mission...

Parte V

Cody Hida guardou o Shinai em sua mochila, pendurando-a então num ombro só.Olhou ao redor.Poderia treinar em qualquer outra academia que fosse.Mas, curiosamente, só conseguia se sentir inspirado no dojo da academia de polícia.

Não havia ninguém no pátio do prédio, mas todas as luzes em seu interior estavam acesas.Ele cruzou os portões e atravessou a rua iluminada.

Caminhava tranqüilamente pela calçada, em meio à poucos transeuntes.As ruas de Odaiba geralmente eram muito calmas àquela hora.Bem, somente as ruas principais, porquê em certos pontos obscuros se escondiam surpresas muito desagradáveis...

Ultimamente vinham aparecendo muitas aglomerações de jovens vagabundos que, sem nada melhor para fazer, e ainda não muito preocupados com o futuro, dedicavam seu precioso tempo a encher a cara e arrumar brigas com quem passasse por perto.Claro que alguns deles faziam questão absoluta de estarem sóbrios para promover o caos de forma mais organizada, e agora, certas ruas paralelas do distrito de Odaiba haviam se tornado meio que pontos de encontro desses elementos.

Cody reconhecia alguns colegas de escola entre os baderneiros.Também sempre chegavam aos seus ouvidos algumas estórias das peripécias das gangues, como depredação de seus bares favoritos após memoráveis bebedeiras e discreto consumo de drogas nos banheiros dos metrôs e shoppings.

Toda essa situação incomodava profundamente o jovem rapaz.Por mais que se esforçasse, não conseguia entender qual o objetivo daquela gente em tornar a própria vida um lixo.O que de engraçado achavam que havia em, por exemplo, perturbar o sossego dos estudantes não-envolvidos, esfregando canivetes junto aos seus narizes, atirando-lhes garrafas vazias contra as costas, ou pior, perseguindo-os pelas ruas em bandos, apenas por diversão.

O jovem Hida franziu o cenho, levemente irritado ao recordar a primeira vez em que se viu envolvido no circo de selvageria que se instalara entre os adolescentes do distrito: um pobre garoto, estudante do 3º ano do Ginásio, tivera o azar de atrair a antipatia de dois daqueles indivíduos problemáticos.Sob perseguição constante, o rapaz desistira de ir à escola e até deixara de sair à rua, achando que o fato de não estar maculando o sagrado território da dupla, em pouco tempo, o colocaria fora de perigo.Numa certa noite, porém, ficou aterrorizado ao descobrir que as coisas não acabariam tão bem quanto ele esperava: os dois tentaram invadir sua casa, aproveitando a ausência de seus pais.Se Cody não estivesse lá, tentando convencê-lo a delatar seus perseguidores, provavelmente o garoto teria tido a pior noite de sua vida...

Entre os propósitos da prática do Kendo estão o cultivo de um espírito vigoroso, e a promoção da paz e da prosperidade entre as pessoas.Mas naquela noite, Cody Hida fizera uso daquela arte para surrar uma certa dupla de cretinos o suficiente para convencê-los de que invadir a casa alheia com o intuito de agredir alguém não era uma boa idéia.

Desde esse dia, passara a ter de dar uma lição em dois ou três encrenqueiros de vez em quando.Seu status atual na comunidade não era, pelo menos não ao seu ver, nem um pouco animador.Para a maioria, ele era o justiceiro sensato e gentil, muito digno de admiração e respeito.Para os seus desafetos, não passava de um moleque metidinho que gostava de bancar o escroto, mas que ia se ferrar qualquer dia desses.

Então, mais uma oportunidade para que a 'profecia' das gangues se realizasse aconteceu...

Cody tinha acabado de dobrar uma esquina quando deu de cara com Tasuki, um projeto de gângster dos mais sórdidos, alto, de cabelos ruivos e olhos escuros.Ele estava acompanhado de mais três rapazes, sendo que um deles o digiescolhido já conhecia perfeitamente: era Seiya Utada, o ex-namorado de Yolei.

Utada tinha uma ótima aparência, ao contrário de seus acompanhantes.Enquanto os outros estavam vestidos com desleixo, e pareciam envoltos por uma indefectível aura de descrédito e cinismo, ele vestia uma combinação elegante de roupas bem cuidadas, cheias de estilo.Seus cabelos castanho-loiros estavam simplesmente penteados, e os olhos verde-claros exibiam seu característico brilho sereno.

Cody achou aquilo muito estranho, mas procurou não demonstrar.Seiya Utada era conhecido não só por ser um estudante exemplar e um exímio jogador de basquete.Seu temperamento explosivo e seus modos violentos também eram bastante populares entre os colegas.Mas nunca soubera que ele andava em companhia de membros de gangue, principalmente de Tasuki, que era um dos mais ordinários líderes da barra-pesada de Odaiba.

"Cody".Disse Seiya Utada, à guisa de cumprimento.A inflexão de sua voz era incrivelmente polida e suave."Chega mais".

Utada lhe fizera um gesto ameno, mas os olhares que recebeu dos demais eram decididamente hostis.Tasuki era o que tinha o olhar mais penetrante, e bem mais ameaçador.

Ao mesmo tempo em que desejava evitar qualquer conflito, também não poderia dobrar de costas e fingir que eles não estavam ali. Aproximou-se do pequeno grupo, mas parou à uma distância que julgou segura,de modo que pudesse ficar em frente aos quatro rapazes.

Tasuki estava recostado contra um poste, com as mãos enfiadas nos bolsos, um cigarro aceso no canto dos lábios.Seiya estava de pé, diante dele, e o restante estava sentado, sobre a grade de proteção que separava a rua e a calçada.

"Como vai? Andando sozinho na rua à essa hora?"Seiya mal conteve um sorriso.Os dois que estavam sentados ainda olhavam fixamente para Cody, mas Tasuki parecia interessado agora numa das lâmpadas que iluminavam a rua.

"Eu acabei de sair do meu treino de Kendo".Respondeu Cody,em voz baixa,evitando olhar para os outros três.Não adiantava cumprimentar ou ser simpático.Aquelas pessoas não estavam interessadas em civilidade.Na verdade, Cody achava que estavam interessadas em absolutamente nada.

"Ah, é verdade..." Observou Seiya, com suave simpatia."Você treina na academia de polícia, não é? O pai dele era um dos melhores tiras dessa cidade...".

Cody não manifestou qualquer tipo de contentamento com o elogio.Sabia que aquele tom polido com que Seiya falava com os outros era um truque discretamente mordaz, um deboche típico de um profissional do o jovem Utada o bastante para saber exatamente o que ele estava fazendo: atirando na cara de Tasuki que ele era um fracassado, incapaz de amedrontar um garoto de 14 anos que os enfrentava sozinho, usando apenas uma espada de bambú.

"Bom, eu já vou indo, Seiya".Declarou Cody, inclinando ligeiramente a cabeça."Boa-noite".

"Espera aí, cara...".

Cody se voltou para eles de imediato.Um dos rapazes que estavam sentados falara com ele.Tasuki deu uma longa tragada no cigarro e soltou a fumaça sobre o que estava mais próximo.Seiya fez uma educada (e discretamente desdenhosa) careta, e abanou o ar à sua volta.

"Sim?".

"Como é que vai a namorada doida do chefão aqui?".

Cody viu que ele olhava com malícia para Seiya, que por sua vez, não se alterou.O rapaz até sorriu para o autor da pergunta-piadinha, fazendo o terceiro rapaz dar uma risada rouca.Tasuki prestava muita atenção aos três, momentaneamente esquecido de Cody.

De repente, o cigarro escapou de seus lábios, ao passo em que ele saltara para o franziu o cenho e também pareceu muito surpreso, mas não se moveu.

Seiya Utada, até então muito calmo e gentil, havia erguido a perna tão rápido que Cody mal tinha podido acompanhar o movimento.O lado de seu pé bateu violentamente contra uma das faces do rapaz que se dirigira ao digiescolhido, arrancando-o do assento improvisado e fazendo com que ele caísse de cara no asfalto.

O outro rapaz correu para junto de Tasuki.O que fora atingido pelo golpe surpreendente de Seiya continuava cobrindo o rosto com as mãos, gemendo de dor e se contorcendo.

"Cody, não me leve a mal." O garoto, muito sério, olhou para Utada, que permanecia tão sereno quanto antes."Mas é que eu sou completamente apaixonado por aquela sua amiga cabeça-dura, e não admito que a ofendam. Sabia que hoje ela até me deu um soco na cara e me expulsou aos gritos da casa dela? Mas mesmo assim, eu não consigo sentir raiva... ah, eu adoro aquela garota... ela vai sempre ser a minha gata!".

Seiya riu com descontração, passando os dedos através dos cabelos ao lançar um breve olhar sobre o rapaz em quem batera, antes de fitar Cody.

"Ela me disse que vocês terminaram".Disse o garoto, secamente.Seiya contraiu o rosto, em uma expressão jocosa de surpresa, como se tivesse acabado de ouvir uma piada interessante, mas muito esquisita.

"De onde você tirou essa idéia?".

"Ela me disse".

"Oh... tsc... sabe, Cody, talvez esse seja o único defeito da minha gatinha... ela não é muito discreta... quero dizer, não se deve sair por aí dizendo coisas que ainda não foram bem decididas...".

"A Yolei foi muito clara quando disse que não queria mais nada com você, Seiya. Eu espero que você saiba respeitar a vontade dela".

Repentinamente, os olhos de Seiya mudaram.Esse detalhe poderia ser imperceptível à qualquer pessoa,mas não ao extremamente observador Cody Hida.O rapaz não parecia mais sereno e brincalhão.Sua atitude parecia mais atrevida e irônica.Ele cruzou os braços e sorriu de forma desagradável.

"Eu vou clarear as idéias da minha namorada... e as suas também, qualquer hora dessas".

Ao dizer isso, Seiya apontou o dedo indicador para Cody, erguendo também o polegar, e imitou o som de um tiro com a boca.Deu uma piscadela marota ao garoto, e juntou as mãos, curvando-se gentilmente diante dele.

"Vamos indo, caras".Ordenou, fria e monotonamente, aos demais rapazes.O que fora agredido por ele estava entre os dois companheiros, de cabeça baixa.O grupo se afastou rapidamente, sob o olhar de Cody, que só relaxou quando ele sumiu de vista.

"Yolei, no que você foi se meter...".Murmurou o garoto sem perceber que alguém se aproximava dele.

"Cody?".

O menino se virou e sorriu, ao se deparar com Ken Ichijoji.

000

Após o jantar,os irmãos Inoue e Davis Motomiya tinham se dispersado:Momoe estava ao telefone,conversando com o namorado;Chizuru,em seu quarto,deitada na cama,lia com muito interesse uma revista;Mantarou testava uma nova marca de gel em seus cabelos,diante do espelho do banheiro;Davis continuava pregado na frente da televisão;e Yolei estava no quarto,penteando os cabelos.

De repente,lá na sala,o som da TV cessou.Yolei acabou de escovar suas longas mechas púrpura,e fitou o próprio rosto por um momento,refletido no espelho.Ainda bem que não estava sozinha naquela noite,por que se estivesse,com certeza sucumbiria à opressão da angústia.

Kari lhe confidenciara que estava pronta para dividir com Ken algo bem importante e íntimo,naquela mesma noite...e aquela revelação a deixara muito chateada.Não que ela ainda nutrisse alguma esperança em relação ao rapaz,de forma nenhuma!Mas é que ainda lhe restava a frustração.Ela descobriu que era doloroso refletir sobre algo que parecia se encaminhar do jeito que a pessoa desejava,e que então,gradativamente,mudara de direção,dando a entender que,desde o começo,tudo não passara de um engano.

Yolei e Ken foram,e ainda eram,amigos muito próximos.Mas uma coisa que ela sempre desejara nunca aconteceu.Dependia tudo exclusivamente dele,mas o sentimento,diante dos fatos,não fora recíproco.

"E a partir de hoje se tornou totalmente impensável..." Disse a moça,fitando o próprio reflexo como se procurasse ali uma reminiscência que pudesse lhe proporcionar algum consolo.Mas não viu nada,exceto um rosto em cuja superfície se abria aos poucos um sorriso maldoso e travesso.

"HUAHUAHUAHUAHUA!"

"DAVIS!"

Yolei atirou a escova sobre a penteadeira,furiosa,encarando o reflexo intruso ao lado do seu.Davis entrara sorrateiramente,e se postara atrás dela.

"O que é que se tornou impensável?" Indagou o rapaz,em tom de troça."Deu pra falar sozinha agora?"

Motomiya já engendrava uma enxurrada de gracejos para atormentar Yolei,quando ela se voltou para ele,colocando as mãos nos quadris.Davis engoliu em seco,ao ver que a camisola verde-água que a amiga vestia,apesar de cobrir-lhe quase até os joelhos,tinha um bonito decote rendado e caía perfeitamente sobre as curvas suaves de seu corpo esguio.

"Davis!" Chamou Yolei,estalando os dedos debaixo do nariz dele.O garoto disse um 'Hã,ah sim',e examinou ávida e rapidamente a garota,dos pés até a cabeça.Os quadris dela não são tão largos quantos os da Ayu,deve ser por causa da altura...mas ela tem uns peitos lindos,caramba!E,cara,olha só quanta perna,pensou o rapaz,cujo raciocínio era muito eficiente quando se tratava daquele tipo de assunto.Davis então arriscou uma olhada para o espelho,e viu as costas de Yolei refletidas.É,e o traseiro dela tem um formato redondinho!

"DAVIS!" Berrou Yolei,com extrema impaciência,sacudindo-o pelos ombros.

"AH!Ah,o quê que foi?"

"Porquê você tá aí,parado,me olhando desse jeito?"

"Jeito?Que jeito?"

Yolei crispou os lábios e franziu o cenho."Não é a toa que está atolado em problemas até o pescoço!Você não pensa em nada mesmo,Davis!Cai fora daqui,vai!"

"Ah,deixa eu ficar aqui!Eu não tô com sono ainda!Tá cedo pra gente ir dormir!"

Davis se deitou em um dos lados da cama,e descansou os braços atrás da cabeça."Eu fiquei contente que você tenha deixado aquele cara!"

Yolei fitou o nada por alguns instantes.Em seguida,deu um suspiro,sentou na beira da cama,e abraçou as pernas,olhando para Davis. "Não mais do que eu...droga,como eu perdi tempo com o Seiya...ele não é nada daquilo que eu imaginava..." A garota apoiou o queixo sobre os joelhos."Sabe,ele parecia tão gentil,tão calmo...".Os olhos de Yolei de repente adquiriram um brilho sonhador,como se uma boa mas distante lembrança tivesse vindo à tona."Até o jeito dele de falar,de se comportar...o jeito como ele ficava quieto,ouvindo as coisas que eu dizia...se parecia muito com uma pessoa...mas aí eu descobri que era tudo superficial...toda aquela amabilidade do Seiya é fachada,Davis...ele é um nojento."

Davis sentou-se e olhou atentamente para ela."Yolei,esse cara te fez alguma coisa?Se ele tiver feito eu vou..."

"Não.Ele não me fez nada...de muito grave.O que ele fez,fez aos poucos,cada dia foi uma decepção diferente.Não foi só ele quem me decepcionou...eu decepcionei também à mim mesma,sabe?Eu procurei nele uma pessoa...que ele,na verdade,não era."

Davis deu um tímido sorriso de condescendência."Ele te enganou,fingiu ser uma coisa que ele não era...não tinha como você saber...não foi sua culpa..."

Yolei sorriu,com leve desânimo."Foi sim,pelo menos em parte.Eu me enganei.Eu achei que podia ter,de alguma forma,uma coisa que eu sempre quis...mas que nunca foi minha...eu achei que tinha encontrado no Seiya uma pessoa que eu amo muito,entende?"

Davis recuou um pouco o tronco,piscando confuso."Como assim?Você não gostava do Utada?"

Yolei então se aproximou,sentando-se ao lado dele.Os dois agora estavam frente-a-frente,olhando um nos olhos do outro.

"Davis,eu não posso falar essas coisas pra ninguém,nem mesmo pra Kari!Eu só estou te contando isso porquê eu sei que você é um cabeça de vento e que isso vai morrer aqui mesmo!E também porquê eu não suporto mais guardar isso só comigo...o Hawkmon está tão longe...eu só tenho você com quem conversar."

"E os seus irmãos?"

"Eu já disse que quero que esse assunto morra aqui.E como você nunca pensa em nada,não pense mais nisso também."

"Que pessoa é essa que você estava procurando no Seiya?"

"Vamos jogar cartas." Decidiu a garota,apanhando um baralho na gaveta do criado-mudo.Ela começou a dividir as cartas,sob o olhar neutro de Davis.

"Ei,me diz quem é essa pessoa!"

Yolei levantou o rosto,e o fitou com extrema irritação.

"Você consegue ser inconveniente demais para alguém que nasceu sem cérebro,sabia?Olha aqui,se você ganhar três partidas seguidas,eu te conto quem é!"

A irritação deu lugar à uma atitude desafiadora e pretensiosa.Davis estreitou os olhos.

"Tomara que essa pessoa não seja eu,Yolei,porquê senão..."

"Eu sei...eu corro o risco de ter de passar o resto dos meus dias trancada num sanatório!Anda,você começa!"

Davis deu um pequeno sorriso vitorioso,antes de mostrar-lhe a língua."As damas primeiro!"

000

Ken concordara em acompanhar Cody até o prédio onde este morava.Ao longo do caminho,relatou ao amigo o que ocorrera durante o jantar romântico que Kari preparara para ele.

"Bom,finalmente você definiu a situação,Ken,isso é o que é mais importante...claro que os sentimentos da Kari também devem ser levados em consideração...mas pelo que você me contou,ela vai lidar muito bem com isso..."

Ken sacudiu a cabeça."Eu não tenho muita certeza disso..." Falou,suavemente."A Kari sempre se controla,sempre pensa nas outras pessoas em primeiro lugar...mas para isso,ela reprime o que sente,o que quer realmente...quer dizer,eu praticamente a enrolei durante meses!...sabe,pra dizer a verdade,eu preferiria que ela tivesse gritado e atirado coisas em cima de mim..."

Cody sorriu,divertido."Isso você pode deixar com a Yolei.Ela é muito boa em extravasar o que sente com a maior exuberância possível".

Ken riu."Ela é cheia de vida".E acrescentou,quase enlevado."Eu gosto".

"Certo,mas voltando à Kari...você acha mesmo que ela não vai ficar bem?"

"Não sei..." Ken pareceu ligeiramente preocupado."Eu sempre achei que a tristeza fosse como uma ferida aberta:sara mais rápido quando dói o quanto tiver de doer e cicatriza por etapas...a Kari se tranca muito em si mesma."

"Bem,com o tempo nós vamos descobrir se a sua teoria se aplica à Kari.Por enquanto eu vou ficar de olho nela."

"Acho que eu é quem deveria fazer isso,eu sou responsável por..."

"Você agora é responsável por recuperar o tempo que foi perdido,por sua culpa,diga-se de passagem." Observou Cody,do jeito que uma avó condescendente aconselha um neto à reparar um mal-feito."Agora que a Yolei finalmente está livre daquele sujeito desprezível,você tem de se aproximar dela.Mas não se esqueça,tem de ser gentilmente.Nem preciso dizer o porquê,não é?"

Ken assentiu, e sorriu para o amigo."É impressionante o modo como você lida com os sentimentos dos outros, Cody... você é bom assim com os seus também?"

"Os meus sentidos estão sempre em alerta, Ken. Eu sempre busco equilíbrio entre a razão e a emoção, uma jamais vai funcionar direito sem a outra. Por isso a sensibilidade e a sensatez precisam coexistir harmoniosamente".

Ken piscou, analisando a expressão compenetrada do jovem...era possível aquelas palavras saírem da boca de um menino de 14 anos?O rapaz de cabelos escuros riu suavemente.

Os dois entraram no prédio, e tomaram o elevador.Ao cruzarem o portal, e entrarem no andar onde ficava o apartamento de Cody, ouviram um pequeno tumulto no fim do corredor.

"O que é isso?" Indagou Ken, ouvindo vozes esganiçadas e gritos indignados.

Os dois amigos chegaram ao local da pequena confusão, que estava prestes a suscitar um incidente condominial de grandes proporções: Yolei atirara um maço de cartas na cara de Davis,que furioso,a acusava de ser uma 'ladra descarada'.Agora, o rapaz tentava entrar no apartamento dos Inoue, mas era impedido pelas mãos enérgicas de Yolei em seu peito, enquanto ela o condenava, em alto e bom som (tão alto e bom que logo o som das sirenes de uma viatura da polícia provavelmente se juntaria à ele) a dormir do lado de fora,sobre o tapete felpudo que enfeitava a entrada,como o 'cachorro desonesto' que ele era.

Cody e Ken se entreolharam, à princípio perplexos.Os dois voltaram a observar a briga patética entre Davis e Yolei com incredulidade, até Ken começar a rir e Cody revirar os olhos para o alto.

Yolei, que estivera tentando prender a cabeça de Davis entre a porta e o portal, deu um chute numa das canelas do líder dos novos digiescolhidos, e olhou para o lado, dando de cara com dois de seus melhores amigos.Davis agora pulava sobre uma perna só, uivando de dor e atribuindo uma série de adjetivos nada elogiosos à garota.

"Oi, Cody!" E olhou para Ken, um tanto surpresa."Er... oi... Ken?".

"Oi, Yolei".Ele sorriu, e só então a observou com mais atenção.Ela saíra para o corredor, e estava agora sobre o tapete onde Davis provavelmente dormiria aquela noite.

Ken engoliu em seco, um rubor incontrolável cobrindo-lhe a cara.Seu olhar havia descido, quase que involuntariamente,do rosto para o resto do corpo de Yolei, que tinha acabado de afastar para trás mechas de seus cabelos.

Cody, que fitava Ichijoji de soslaio, rapidamente pigarreou muito alto."Sensibilidade, sensatez, e harmonia, Ken... muita harmonia, por favor...".E voltou-se para a amiga."Yolei, isso não é jeito de você estar vestida aqui no corredor, o que os vizinhos vão pensar?".

Yolei piscou várias vezes e olhou para si mesma.Muito constrangida, cruzou os braços sobre o peito e se encolheu, dando um sorriso amarelo.

"Er, entrem, sejam bem-vindos!".

Mas ela não esperou pelos rapazes, e precipitou-se mais que depressa para dentro.


Huahuahua...a parte VI sai em breve e vai bombar!Ken vai se acertar com Yolei,ou será que ela é quem vai acertá-lo?

Muito cool esse tal deSeiya Utada,não?He he he!

Respeitável público,manifeste-se!