Sirius estava quieto a mais de meia hora, sentado em uma poltrona no Salão Comunal. Tiago, Remo e Pedro estavam a sua volta, esperando que ele resolvesse contar o problema.

"Obrigado por saírem de Hogsmeade e virem me ajudar." - disse Tiago, agradecendo pela sexta vez aos amigos.

"Imagine." - disse Remo. - "Mas ele não falou nada? Nem uma única palavra?"

"Nada. Ele chegou e se afundou nessa poltrona, e não fez um único movimento nem falou nada desde então.

"Já tentou perguntar alguma coisa?" - perguntou Pedro.

"Claro que já. Assim como eu ameacei azara-lo se ele não falasse ou se mexesse, mas não adiantou nada.

"Querem que eu tente?" - perguntou Remo.

"Pode tentar, mas duvido que aconteça alguma coisa."

"Então vão dar uma volta." - disse Remo. - "Ou pelo menos se afastem um pouco."

Tiago e Pedro foram para o outro canto do Salão Comunal, e Remo se ajoelhou do lado da poltrona de Sirius.

"Quer conversar? Almofadinhas, seja lá o quê você tenha feito, ou pensado, ou tentado fazer, não vai adiantar nada ficar em silêncio. Você vai acabar falando alguma hora, e quanto mais cedo você fizer isso, melhor."

"Você quer conversar com um estúpido como eu? Quer mesmo?"

Remo suspirou, aliviado.

"Eu já estava pensando que você tinha sido enfeitiçado pra não falar mais. O quê exatamente você fez, Sirius? Eu quero conversar sim."

Quando Sirius abriu a boca para explicar, uma coruja entrou velozmente pela janela aberta. Tiago não agüentou e se aproximou de Remo e Sirius, observando a coruja que estendia a pata para Sirius.

"Pega logo o bilhete. Eu acho que eu conheço essa coruja." - disse Tiago, esfregando as mãos, ansioso.

Sirius olhou sério para o amigo e então pegou o bilhete que a coruja estendia.

Sirius:

Estou preocupada com você! Você estava muito estranho. Se quiser conversar, eu estou na biblioteca. Vou esperar até as 6:00 pm. Estou sozinha.

Lílian.

"É a coruja da Lily, não é?" - perguntou Tiago, ansioso.

"Bem." - disse Sirius se levantando e pensando um pouco. - "De certa maneira, não importa de quem é a coruja. Eu preciso sair." - e saiu do Salão Comunal.

Remo, Tiago e Pedro se encararam.

"Eu acho que eu vou falar com a Lily." - disse Tiago para os amigos.

"Hum... Pontas, não é realmente uma boa idéia, pelo menos eu acho que não agora." - disse Remo, olhando a coruja de Lílian ao longe.

"Mas de qualquer forma, você viu realmente como ele estava? Primeiro ele fica em silêncio e depois, a primeira frase que ele fala já é mal educada."

"Não é justo. Ele deveria contar o que aconteceu."

Tiago bufou e se jogou na poltrona em que Sirius estava. No mesmo tempo, Sirius chegou na biblioteca. Lily esperava em uma mesa próxima a porta. Ela acenou e ele chegou perto dela.

"Pode se sentar." - disse ela, sorrindo.

"Lily..." - começou ele, confuso. - "Eu acho que eu deveria... me desculpar?"

"Não precisa se desculpar." - disse ela, dando um meio sorriso. - "Eu queria só saber se você está bem, você parecia estar passando mal ou coisa do tipo."

"Não precisava se preocupar." - disse ele, jogando a franja para o lado. Lily revirou os olhos para o teto. - "Desculpe, eu sei que você não gosta disso."

"É por causa do seu amiguinho Potter."

"É... Tiago..." - Sirius respirou fundo, se odiando pelo que iria fazer. - "Na verdade eu queria conversar com você por causa disso... Ele..." - ele remexeu as mãos, nervoso. - "Ele quer falar com você."

"E porque exatamente ele não fez isso?"

"Primeiro porque você aparentemente o odeia. E depois porque ele é meio inseguro... pelo menos com você." - completou Sirius com um sorriso.

"Bem, Sirius, se ele queria mesmo falar comigo ele deveria ter feito isso. Você sabe. O sexto ano está acabando, talvez eu não o odeie tanto. E se eu falasse com ele?"

"Não, não, Lily, não faça isso." - disse Sirius antes que ele pudesse se conter.

"Porque Sirius? Você não queria que eu falasse com ele?" - disse Lily, confusa. Sirius colocou a mão na testa.

"Desculpa. Pode ir."

Ela sorriu e saiu da biblioteca. Sirius continuou sentado.

Tiago estava sentado sozinho na poltrona, quando Lily entrou no Salão Comunal.

"Potter. Black disse que você queria falar comigo."

Tiago abriu a boca, aparentemente sem saber o quê falar. Depois se levantou, respirando fundo e olhando para ela.

"Eu..." - e de repente percebeu que não ia conseguir. - "Ahh, acho que eu esqueci."

"Esqueceu?"

"É, exatamente, eu esqueci."

Lily revirou os olhos para o teto.

"Toda essa enrolação que me deixou preocupada com o Black o dia inteiro para eu chegar aqui e você dizer que esqueceu. Muito engraçado." - disse ela, começando a parecer realmente furiosa. - "Certo. Saiba que se você realmente tiver alguma coisa para falar para mim, você deve começar falando para MIM e não mandando seus amigos como mensageiros. Portanto, se você lembrar desse assunto secreto, por favor, fale diretamente comigo. Certo? Mas enquanto você não lembra, eu agradeceria se você ignorasse minha presença como fez todos esses anos." - ela saiu rapidamente para o dormitório das garotas, enquanto Tiago fitava ela se afastando em silêncio.

Sirius entrou despreocupado no Salão Comunal, pensando que talvez não tivesse sido o fim que ele gostaria, mas pelo menos tinha feito o que tinha se proposto a fazer. Mas teve uma grande surpresa ao entrar no Salão e ver Tiago em pé.

"Cara? Tudo bem?"

"O-quê-foi-exatamente-que-você-falou-com-a-Lily?" - disse Tiago, falando todas as palavras juntas.

"Só disse que você queria falar com ela."

"E porque você não falou que já tinha conversado com ela?" - disse Tiago, cada vez mais furioso com o amigo.

"Porque... eu esqueci, eu acho."

"Esqueceu? Você fez ela ficar preocupada com você, seu estúpido. Ela se preocupa mais com você do que comigo."

"Na minha opinião você está descontrolado."

"Na minha opinião o senhor não queria realmente conversar com ela."

"E o quê exatamente você está insinuando?"

"Quê você não quer que eu fique com ela. Porque toda aquela cena, Sirius? Você em silêncio, ela preocupada, vocês se encontram depois, longe de mim, longe de eu saber o porquê. Vamos, admita que você estava preocupado com o quê ela estava achando de você. Aliás, que você se preocupa até demais com ela."

"Você está passando um bocado dos limites, Tiago."

"Você quer roubar ela de mim!"

"Ela NUNCA foi sua, Tiago! Nunca!"

Os dois pararam de gritar e se encararam. Sirius estava furioso, porém controlado.

"Por mais que eu quisesse Lily. Por mais que eu percebesse o quanto eu preciso dela. Por mais que eu visse o quanto eu era cego todos esses anos. Por mais que eu estivesse apaixonado por Evans, eu nunca, em momento algum, roubaria ela de você, se de fato ela fosse sua. E, em nenhum momento eu lutaria por ela se você também estivesse fazendo o mesmo. Queria que você visse o quanto minha atitude de hoje foi completamente sem egoísmo. Mas se você não quer ver nada, e quer guerra, é isso que você vai ter." - silabou Sirius e subiu para o dormitório pisando forte nos degraus.

"Você não sabe o quanto eu quero uma guerra." - murmurou Tiago para si mesmo.

"Qual é o problema, Sirius?" - perguntou Remo na manhã seguinte.

"Já é a décima vez que você pergunta. Você está conseguindo estragar o meu domingo, Remo. Se você quer respostas, porque você não vai falar com o Potter?"

"Porque ele está igualmente calado. E por sinal, eu ouvi um comentário por aí que Lílian Evans não quer sair de jeito nenhum do dormitório. As amigas já estão ficando preocupadas."

"Mas ela está doente?" - perguntou Sirius, levantando os olhos dos deveres.

"Ninguém sabe."

"Eu preciso achar uma das amigas dela." - disse Sirius, se levantando, mas Remo o segurou pelos ombros.

"Não mesmo. Ou você me conta o quê realmente aconteceu entre Lily, Tiago e você ou você não vai sair daqui."

Sirius bufou, mas na mesma hora em que ia começar a contar, Tiago apareceu na porta com os olhos apertados.

"Solte ele e saia, Remo."

Remo olhou assustado para Tiago e Sirius, mas mesmo assim fez o que Tiago mandou e saiu, fechando a porta.

"Ontem você não me falou, então eu quero saber agora." - começou Tiago. - "O quê você falou com Lílian Evans ontem? Tanto no café quanto na biblioteca."

"No café eu não falei nada, e na biblioteca eu falei que você queria falar com ela. Só isso. Eu já disse isso para você." - disse Sirius, controlado.

"E você acha que eu realmente vou aceitar essa resposta?"

"Tiago, essa é a ÚNICA resposta. Agora, eu não consigo entender você. De fato, você mudou muito rápido."

"O quê você quer dizer com isso?" - perguntou Tiago, cada vez mais próximo de Sirius.

"Quero dizer que Lily está lá no dormitório sem querer sair, as amigas estão preocupadas e você está aqui brigando comigo. Se você realmente se importasse com ela, não estaria aqui, estaria sabendo como ela está."

"NÃO OUSE FALAR DO QUANTO EU ME IMPORTO COM LILY!" - gritou Tiago, sem se controlar. Levantou a mão fechada para dar um soco em Sirius, mas o amigo ficou assustado com a reação e saiu da frente de Tiago.

"Eu sinceramente não tenho tempo para gastar sendo seu saco de pancadas." - resmungou Sirius e saiu do Salão Comunal batendo a porta. Remo entrou logo em seguida para falar com Tiago.

"Tiago, será que alguém pode se dar ao trabalho de explicar o quê está acontecendo?" - perguntou Remo, exasperado. - "Você e Sirius gritando como dois malucos... Vocês são tão amigos que eu sinceramente não entendo o quê aconteceu."

"Não tão amigos." - disse Tiago.

"É a Lily, não?" - perguntou Remo, sentando-se em uma cadeira em frente a mesa.

"Até você consegue perceber isso." - disse Tiago, frio.

"Eu deveria tomar isso como um elogio. Olha, Tiago, não sei qual exatamente foi o motivo para essa discussão, não sei mesmo, e não deveria me intrometer, mas todos nós somos amigos. A algum tempo atrás, você disse a Sirius que só valia a pena brigar por causa de mulher. Mas se você pode perceber, isso não vale a pena. Não agora. Vocês não sabem o quê a Lily pensa ou sente, portanto porque vocês vão discutir por um sentimento que vocês nem sabem que existem? Vocês não são melhores amigos? Praticamente irmãos de sangue?"

Tiago concordou com a cabeça baixa.

"Alguém vai ter que dar o primeiro passo e você sabe disso. Não deixe muito tempo passar Tiago, ou vai perceber o quanto Sirius era importante, tarde demais. - terminou Remo e saiu do Salão Comunal.

De noite, Remo, Sirius, Pedro e Tiago estavam juntos no dormitório.

"Aluado, Rabicho e Almofadinhas." - chamou Tiago e todos olharam. - "Acho que nós deveríamos conversar."

Todos eles se sentaram na cama de Tiago.

"Só espero que não seja novamente para tentar me dar um soco." - disse Sirius, olhando fixamente para Tiago.

"Sirius Black, faça o favor. É sério. Antes de dizer o quê eu tenho a dizer, eu preciso fazer uma pergunta, e quero que você responda sinceramente. Acha que consegue?"

Sirius balançou a cabeça afirmativamente.

"Certo. Eu gostaria exatamente de saber quais são seus sentimentos por Lily Evans. Só isso. Uma pergunta clara e objetiva."

Sirius encarou o amigo durante algum tempo em silêncio, e depois começou a responder calma e pausadamente.

"Eu não sei quais são, nem ao menos se eu tenho algum. Mas isso vale tanto para Lílian quanto para qualquer mulher. Você é o irmão que eu nunca tive, cara. Eu nunca brigaria com você por causa disso. Se você estivesse interessado em alguém e eu também, eu abriria o espaço para você, por mais difícil que isso parecesse. É assim que irmãos como nós costumam se comportar."

Tiago encarou Remo, que sorria, e percebeu que o amigo também tinha tido uma conversa sobre amizade com Sirius.

"Certo. Cara, desculpe pelas brigas, e por eu tentar te dar um soco."

Sirius riu e eles se abraçaram.

"Então, eu só reuni vocês porque eu realmente espero que a gente nunca passe por isso de novo. Nunca mesmo." - disse Tiago. - "E, por enquanto, Lily Evans virou um tabu entre nós. Todos concordam?"

"Pra mim tá bom." - disse Sirius, indo para sua cama.

"Pra mim também." - disse Pedro, levantando-se.

"Eu sinceramente só esperava por isso." - disse Remo indo para o banheiro.