Promessas
By Carol Yui
Será que ele já me amava desde aquela época? Não... não podia ser... quem amaria uma pessoa tão cheia de amargura?
A voz do amante o chamando, tirou Duo de seus devaneios.
- Eu trouxe aqueles chocolates que você gosta. - O ruivo retirou as embalagens da sacola de compras e virou-se na direção do americano. - Quer agor...Duo, o que houve?
Estava bem claro nas feições do americano que ele não estava bem.
- É que... eu não sei... eu não tinha mais esses pesadelos há tanto tempo! E ...porque agora? E eu não consigo parar de ....pensar e... - Duo não conseguiu continuar e os soluços brotaram de sua garganta e as lágrimas que vinha tentando prender desde que acordara finalmente venceram sua luta.
- Duo... - O ruivo abraçou o corpo trêmulo e levantou-o nos braços para levá-lo para a sala. Sentou-se no sofá com Duo no colo e esse aninhou-se como um gatinho abraçando o ruivo pelos ombros e enterrando o rosto na curva do pescoço. Ali o choro aumentou ainda mais. Duo se sentia acariciado nas costas e aquele conforto foi lhe fazendo bem, até que se deu conta do que fazia.
Jean sabia exatamente o motivo de suas crises. No início, logo que se mudara para a cidade, Duo até gritava pelo japonês. As crises foram diminuindo com o passar do tempo e depois que ficaram juntos, foram poucos os momentos em que perdera o controle como agora. E apesar dele não demonstrar, sabia que magoava imensamente o companheiro. Era a prova de que ele nunca esquecera seu primeiro amor. E Jean não merecia isso. Não depois de tudo que fizera por ele. E ainda fazia, pois não estava ele ali a lhe confortar com seu carinho? Não devia deixar que ele me visse assim, droga!
Duo se forçou a relaxar e enxugou as lágrimas levantando o rosto e encarando o ruivo.
- Desculpe... Jean, me desculpe, eu não queria...- Duo não sabia o que dizer. Conseguia enxergar a tristeza profunda que causara ao fitar os olhos do amante e provavelmente nada do que dissesse agora iria adiantar. - Eu... é só uma dor de cabeça... eu vou me deitar um pouco e já vai passar. - E ao mesmo tempo que falava, ia se afastando e tentando se levantar. Se sentiu preso por mãos fortes, que o trouxeram de volta.
- Fica... fica aqui comigo... - Jean abraçou o americano com força, como que querendo ter certeza de que ele não iria a lugar nenhum. Escondeu o rosto no ombro do outro e de repente, não se sabia mais quem estava consolando quem.
Deus... por quê ele tem esse poder sobre mim? Por que mesmo sabendo por quem ele está chorando eu não consigo me afastar? Mesmo agora... Eu sinto o calor do corpo dele, seus braços em torno do meu pescoço... e o perfume... o perfume dessa pele que me intoxica... entra em minha mente e me deixa tonto... eu queria... poder me afastar...mas esse amor, é muito mais forte que eu...
Sem que notasse, o ruivo ainda acariciava as costas do companheiro. Sua mão deslizando até a nuca do americano, enterrou-se em meio aos cabelos, na base da trança e foi escorregando ao longo dela, fazendo-o sentir a maciez dos fios. Estava totalmente inconsciente desses gestos, quando sentiu o corpo em seu colo retesar-se e empurrá-lo com violência.
- Solta! Larga o meu cabelo! - O tom de voz do americano era de raiva e assim que sentiu a trança solta, levantou-se com rapidez e correu pro quarto, trancando a porta atrás de si.
Jean deixou-se ficar. Sabia que o que fizera era proibido. Era algo que nunca fora discutido, mas que existia. Duo nunca o deixara tocar ou mesmo vê-lo de cabelos soltos. Antes, ele achava que um dia venceria mais essa barreira do americano, mas agora, diante da violência com que fora empurrado, duvidava de que aquilo fosse acontecer.
Duo trancou a porta e encostou a testa na madeira, sem forças para mais nenhum passo. Agora que estava sozinho, as lágrimas vieram com força total. Ele nem tentou contê-las, sabia que não conseguiria. Chorou por muito tempo. Primeiro por seu amor perdido, por tudo que poderia ter sido e que foi tão bruscamente interrompido. Depois pela pessoa que estava na sala. Por não poder retribuir do mesmo modo todo o amor que lhe era dedicado. E por que com certeza, o machucara mais uma vez, com sua reação às carícias em seus cabelos.
- Por que fez isso, Jean? Você sabe que eu não posso deixar... Isso era só nosso... só meu e dele. Sinto muito mas não posso...
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- Hee-chan! Larga esse livro! Fica aqui comigo um pouquinho! - Duo subiu na cama e de joelhos tentava fazer com que o japonês lhe desse atenção.
Heero nem se dignou a levantar o olhar para ele..
- Duo, isso não é um livro, é um manual, e se você não notou, é parte do que a gente vai precisar saber pra próxima missão. Se você me der licença, eu pretendo acabá-lo ainda hoje.
- Mas Hee-chan... eu... tô precisando de você!
Ainda sem levantar os olhos:
- É? Pra quê?
- Ahhh, mas é para uma missão muito mais importante...meu cabelo já secou... e eu queria refazer a trança... mas meu ombro ainda tá doendo, e eu não consigo levantar o braço direito... faz pra mim, Hee-chan? - O tom de voz era intencionalmente meloso.
A simples menção da palavra "cabelo", fez o soldado perfeito levantar os olhos do manual e fitar seu amante já com interesse. Não se arrependeu.
A visão de Duo, cercado pelas mechas castanhas, a cabeça inclinada pro lado como ele fazia quando queria lhe pedir algo, era por demais... irresistível.
Ainda se sentiu na obrigação de esconder que fora tão rapidamente convencido.
- Só por que seu ombro ainda tá machucado. E depois, some daqui e me deixa ler em paz!
- Ai, tá ... eu prometo...
Somente algumas horas mais tarde é que Duo, com um sorriso totalmente satisfeito, resgatou o manual, totalmente esquecido de debaixo da cama.
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- Jean... eu sinto muito... mas não posso. - Segurava a trança com força.
Duo queria muito acreditar que um dia voltaria a ser o mesmo Duo de antes, mas sabia que era impossível. Sua vida agora era uma mera sombra em comparação com o brilho que antes possuía quando vivia ao lado do japonês.
Se esforçara muito para conseguir dizer um "eu te amo" para Jean e mesmo assim só o fizera porque sabia que o amava de uma forma totalmente diferente. Era um sentimento de gratidão pela vida tranqüila que o ruivo lhe proporcionava agora. E ele merecia escutar aquilo, mesmo que só tivesse dito espontaneamente na primeira vez. Em todas as outras só respondia um "eu também te amo" ou então participava da brincadeira do "muito muito, muito pouco" que ele tanto gostava de fazer.
- Me perdoa, Hee-chan... não é a mesma coisa que eu sentia por você... mas é que... ele precisava escutar isso, e eu...precisava de alguém em quem me segurar.
As lágrimas continuavam a descer livremente e Duo começou a pensar até quando carregaria aquela dor consigo.
Se pelo menos eu soubesse... o que aconteceu. O que aconteceu? Como foi? Você sabia que ia morrer?Sentiu dor? Sentiu medo? Se sentiu sozinho? Eu queria estar com você! Eu disse que eu queria ir com você! O que aconteceu? Você prometeu que ia voltar! Você me prometeu! Por que não cumpriu sua promessa?
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- Missão individual? Como assim, individual? Desde quando você sabia? Por que não me contou antes? - Duo estava em pé a frente do japonês que acabara de lhe comunicar que estava de saída para uma missão.
- Se você não calar a boca eu não vou conseguir explicar.
- Eu vou com você!
- Não, não vai! Duo, seja razoável... isso nem pode ser chamado de missão, afinal de contas é só um teste... e é por isso que eles só chamaram a mim.
- Teste? Que teste?
- Eu vou pilotar o protótipo de uma nova nave desenvolvida para ser usada pelos Preventers. Parece que ela é totalmente a prova de rastreamento. Só há um tipo de radar capaz de detectá-la e ele foi desenvolvido pelo próprio engenheiro que criou a nave e se encontra no momento instalado no laboratório de testes. O radar vai estar desligado e ninguém tem o meu itinerário. Eles vão tentar me encontrar e eu vou testar se a nave é mesmo invisível aos outros tipos de radares. É só isso. Não tem com que se preocupar.
- Mas eu não gosto de "missões individuais". A gente nunca fica longe um do outro... por que agora? Se não tem perigo nenhum, por que eu não posso ir?
- Por que as ordens que eu recebi diziam "Heero Yuy" e só. E foi por isso que eu não te contei antes, por que sabia que você ia fazer essa cena!
- Não é "cena", é que eu fico preocupado, você é um insensível mesmo! - respondeu Duo com cara de magoado.
O japonês se arrependeu de ter sido tão rude ao fitar os olhos violetas cheios de lágrimas. Pegou-o pelos braços e colocou-os em seus ombros, abraçando em seguida a cintura do americano.
- Escuta... são só dois dias. É o tempo de ir até o campo onde a nave está escondida, voar algumas horas e voltar. A cidade nem é tão longe assim. Por que não fica com Quatre e Trowa esses dias?
- É... pode ser...- Duo continuava com a cabeça baixa e a carinha triste.
- Ei... não vai me dar um beijo de despedida?
O beijo foi profundo e demorado. Parecia que ambos queriam ficar com o sabor um do outro em suas bocas por tempo suficiente até se verem de novo. Quando pararam, Duo encostou a testa na do japonês e fechou os olhos, sem querer soltá-lo.
- Duo... eu tenho que ir...
- Promete que volta?
- Duo! São só dois dias!
- Promete?!
- Ok, prometo. Você promete que me espera?
- Prometo.
- Agora vem... me leva na porta...
O japonês ainda olhou para trás mais uma vez antes de entrar no carro. Duo estava debruçado a janela vendo-o partir.
Heero formou com os lábios as palavras: Eu te amo..
Duo devolveu todas as palavras com os lábios e sem voz: Eu também te amo.
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Por que não me deixou ir com você? Por que não cumpriu sua promessa?
Duo sabia que não podia continuar trancado no quarto o dia inteiro. Aquilo era passado, e apesar de ainda sentir o gosto daquele último beijo, havia agora uma outra pessoa em sua vida que merecia e precisava de sua atenção.
Foi ao banheiro... tomou um banho demorado, dando bastante tempo para que os vestígios dos olhos inchados se apagassem. Prendeu os cabelos novamente e dirigiu-se a porta. Antes de abri-la, respirou fundo e forçou-se a pensar no presente, somente no presente. Girou a maçaneta:
- Jean...
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Dois meses depois...
- Quatre! Quatre Raberba Winner, na porta da minha casa? Mas que honra! - Duo disse ao ver quem tocara a campainha.
O loirinho riu da surpresa do amigo.
- Nossa! Eu fiquei tanto tempo assim sem aparecer aqui?
- Ficou sim! Mas entra! Cadê sua cara metade? Veio sozinho?
- Sim... Trowa teve que resolver ... algumas coisas, mas eu já vou te explicar. E o Jean? Não está?
- Alguém me chamou? - O ruivo acabara de entrar na sala. - Quatre! Que surpresa!
- Oi Jean, é ... acho que o trabalho nos manteve mais afastados do que gostaríamos, não é?
- Com certeza. E Trowa? Tudo bem com ele?
- Sim, tudo bem. Ele não pôde vir mas mandou um abraço.
Duo indicou o sofá para que o amigo sentasse.
- Mas o que te trouxe a cidade, Quatre? Veio ver Une?
- Não...- Quatre começou a ficar nervoso diante da tarefa que teria pela frente. - Na verdade, vim pra falar com você. - Ele não sabia que seria tão difícil, ainda mais com a presença de Jean, ali. Antes de vê-lo tinha a esperança de que ele não estivesse em casa, mas...
Duo se surpreendeu com a resposta. Eram muito amigos, sim, e falavam-se com freqüência pelo videofone, mas não conseguia imaginar um motivo para Quatre ter viajado até ali só pra falar com ele.
- Quatre... tá tudo bem mesmo? Você e o Trowa...
- Não Duo, tá tudo bem mesmo com a gente, não se preocupe, é outra coisa... - seria realmente impossível falar na frente de Jean, mas seria muito indelicado de sua parte pedir para falar a sós com o americano.
Mesmo assim, parece que de algum modo o ruivo notou o constrangimento de Quatre e achou melhor deixá-lo aos cuidados de Duo.
- Bom, foi muito bom te rever Quatre, mas eu tenho muitos relatórios para ler ainda hoje. Vou deixar vocês dois a vontade. Lembranças ao Trowa.
- Foi bom te rever também, Jean e pode deixar que eu falo pro Trowa.- Quatre estava visivelmente aliviado com aquela saída. O que não tornou mais fácil o que iria fazer agora.
Depois que Jean saiu da sala e ouviram o barulho da porta do escritório sendo fechada, Duo encarou o loirinho com curiosidade, querendo saber o quê de tão importante ele teria para lhe falar.
- Duo... eu... realmente não sei por onde começar...Foi um choque pra mim, e eu imagino que vá ser muito maior pra você. O Trowa não queria que eu viesse, mas eu me coloquei no seu lugar e achei que eu gostaria que alguém fizesse isso por mim...
- Nossa Quatre! Tá me assustando... o que aconteceu?
- Eu vou ter que falar logo de uma vez, por que não tem como enrolar. Há mais ou menos duas semanas eu estava passando de carro pela rua em que você morava e... lembra-se da quadra em que costumávamos jogar basquete quando tínhamos tempo?
Duo não estava gostando do início da conversa. Se tinha uma coisa que ele definitivamente não podia fazer, pra seu próprio bem, era relembrar aqueles momentos felizes dele e de Heero passados ao lado dos amigos. E Quatre sabia disso.
Por que ele quer falar disso agora?
- Lembro. - claro que eu lembro
- É, bem... eu fiquei com saudades daquele tempo e quando passei em frente a quadra, não pude evitar de olhar e...eu vi...- Quatre já estava suando com o esforço que fazia para falar. Não conseguia prever a reação do amigo ao que ia dizer.
- Viu? O quê?
- Sentado no banco da lateral , eu vi... o Heero.
Duo ficou sem ação. O que poderia dizer diante daquilo? O amigo agora estaria tendo visões?
- Quatre... eu não sei o que di...- Antes que acabasse, Duo foi interrompido.
- Espera... deixa eu acabar de falar, você vai entender.
Duo se calou, mas uma voz vinda de dentro o dizia que o que ia escutar era algo sério. Ele conhecia seu amigo muito bem e sabia que ele não viajaria até ali para contar-lhe que vira um fantasma!
- Eu fiquei tão atordoado! Por que mesmo que tenha sido rápido, eu tive certeza que era ele! Eu dei a volta no quarteirão, para olhar de novo, mas quando voltei, não havia mais ninguém. Eu contei ao Trowa... e ele me disse que eu tinha ficado maluco. Como você deve estar pensando agora. Mas eu tinha certeza. Eu sei o que eu vi. Decidi começar a investigar por conta própria. Vasculhei vários arquivos dos Preventers e não achei nada... já estava ficando louco com isso. Daí o Trowa viu que eu não ia desistir e resolveu me ajudar só pra acabar logo com aquilo. E... ele achou. Ele conseguiu entrar em alguns arquivos ultra-secretos... nem sei como, e descobriu. Duo... o Heero está vivo.
Continua...
Comentário da autora: Eu estou perdida! Combinei com a Goddess que iria continuar a fic se recebesse bastante reviews, crente que ninguém ia ter paciência pra ler de novo. Me dei mal...
Vamos aos agradecimentos pelos reviews (¬¬) : Aryam (não enjôo dos seus comentários não), Anna Malfoy (tá doida? Acha que eu ia fazer isso?), Bulma-chan (Calma que vai dar pra entender tudo), Athena Sagara (no meu mundinho também não... espere só mais um pouquinho), Pipe (hahaha!! Bom método, mas a idéia dos reviews foi da Goddess, não brigue comigo) e a Goddess, minha maior incentivadora. Obrigada a TODOS!!!
Comentário da Empresária: O método de postagem não é meu, é da Arkanuza, ela que me disse pra fazer assim e eu achei que ia ser lekal! Claro que eu xei q sem capítulos, sem reviews.. Mas é sempre bom ter umas reviews pra todo capítulo, né? Eu não sô loka genteeeee!! Agora, Carol-sama.... Eu disse que existiam pessoas que apoiavam a minha causa desesperada! Você não acreditou.... ajoelhou tem que rezar! .
Espero que todos estejam apreciando tanto quanto euuuuuuuuuu... XD Que tal uma pequena demonstração do próximo capítulo? E não esqueçam das reviews, hein??
Cena do Próximo Capítulo:
Heero está vivo.
Jean havia aberto a porta do escritório, o antigo quarto de Duo, e estava indo em direção a cozinha quando ouviu a frase. Parou estático antes de passar pela porta que dava para sala e não conseguiu se impedir de parar para ouvir, mesmo porque, suas pernas não obedeciam mais aos comandos da mente.
