Comentário da Empresária: Agora vamos discutir entre nós, leitores a amantes de Promessas! SE alguém for fofocar pra Carol-sama que eu postei quase dez páginas eu volto a colocar só QUATRO! ò.
Próximo tópico: Gente, as linhas que eu tenho estão chegando ao final! Tenho apenas mais 14 páginas... resumindo: VAMOS A LUTA! . Precisamos fazer a Madame escrever mais e logo... se não ficaremos sem nada! E ela havia PROMETIDO, então... temos que faze-la cumprir, certo? CERTO!
Outro: Eu não sei como ela postou os capítulos deste fic, como eu recebi primeiro tá sem marcação, então, please, não me culpem...!!
Próximo...: Ela agradece desde já todas as reviews!
o.o Agora um ps meu pra Patty-chan: XD Patty-chan, caso a Srta passe por aqui mais uma vez, me manda um e-mail com seu telefone que minha agendinha simplesmente resolveu apagá-lo, já fui duas vezes para Curitiba e qria ir te visitar só que não tinha o maldito tel! " E o endereço eu só tinha no envelope que te mandei, com a carta! Resumindo: estou sem contato!
Agora... que as cortinas se abram! XD
Heero está vivo.
Jean havia aberto a porta do escritório, o antigo quarto de Duo, e estava indo em direção a cozinha quando ouviu a frase. Parou estático antes de passar pela porta que dava para sala e não conseguiu se impedir de parar para ouvir, mesmo porque, suas pernas não obedeciam mais aos comandos da mente.
- Eu não sei bem o que aconteceu. - Quatre continuava. - Tudo o que conseguimos descobrir é que ele foi reincorporado ao quadro dos Preventers mais ou menos um ano após sua mor... seu desaparecimento. Parece que agora suas ações são totalmente secretas e ele só recebe ordens e somente se comunica com Une.
Quatre tentava decifrar o que ia pela mente do americano, mas ele permanecia impassível a sua frente. Não esboçava qualquer tipo de reação.
- Duo, você está bem?
O americano focalizou o rosto do amigo a sua frente, mas as palavras estavam presas em sua garganta. Não conseguia nem organizar os pensamentos, quanto mais verbalizá-los. Vivo... ele está vivo... Nem por um momento duvidou das informações dadas por Quatre. O loirinho não estaria ali lhe dando esta notícia se não tivesse certeza absoluta de todos os fatos, e o fato de ter sido Trowa a descobrir o arquivo só confirmava ainda mais a estória toda.
Vivo... Heero está vivo... Mas... se ele está vivo, por que não voltou? O que aconteceu? Por que aquela separação tão sem sentido? Se ele não...me amava mais, não precisava ter feito aquilo... Uma farsa? Não... isso não. Ele me amava... eu sei que amava... nós nos amávamos... Não... consigo entender...
- Quatre... você sabe onde ele está agora? - sua cabeça ainda girava, o coração parecia querer saltar do peito, mas obrigou-se a respirar fundo e a agir com racionalidade.
- Sei... o endereço estava no arquivo, eu trouxe por que achei que iria querer... mas, você nem vai acreditar aonde ele mora agora.- Quatre puxou um papel do bolso e estendeu-o a Duo.
O americano arregalou os olhos ao ler o que estava escrito.
- Mas, Quatre! Essa... é a mesma rua! É a mesma rua em que morávamos! Esse número... é o edifício em frente ao que morávamos! Eu não entendo...- Agora sim, todo peso daquela notícia se fez sentir no americano e ele se sentiu desmoronar. Sentiu que estava flutuando, voando, enquanto o mundo inclinava-se em seu eixo e o teto girava acima dele. Ele desmaiou.
Ele respirava irregularmente. Alguém o ajudou a se sentar. Conseguiu divisar o rosto de Jean a sua frente.
- Você está bem? Está me ouvindo? Tente respirar fundo, você ficou um bom tempo desacordado.
Duo olhou em volta e identificou o quarto que dividia com Jean. Estava na cama, sentado ao lado do ruivo.
- Como? O que aconte... - seu cérebro começou a clarear e a lembrança da conversa com Quatre voltou a sua mente.- Onde está Quatre?
- Ele já foi. Pediu desculpas por não ter esperado mas Trowa o estava aguardando. Ele... pediu que eu lhe dissesse que ... sente muito.- Jean não estava conseguindo disfarçar muito bem a angústia que estava sentindo no momento. Parecia que desde que ouvira aquela frase, uma mão esmagava seu coração tentando parti-lo em pedaços.
- Você... já sabe? - Duo notou o nervosismo do ruivo.
- Já. Eu ouvi. Estava passando pela porta quando ele falou e ... não pude me impedir de ouvir.
- Eu... estou tão confuso! Nada mais faz sentido! Eu me sinto tão perdido!
Duo estendeu os braços para o companheiro, sendo imediatamente abraçado por ele.
- Deita de novo. Vou procurar um calmante. Você já não toma nenhum há muito tempo, mas acho que ainda sobrou um vidro.
Jean retornou em poucos minutos com um comprimido e um copo de água. Momentos depois Duo estava mergulhado num sono sem sonhos.
Duo abriu a porta do escritório lentamente. Enxergou Jean sentado a sua mesa com pilhas de papel a sua frente, mas não os estava lendo. Seus olhos estavam perdidos em algum lugar, sua mente longe dali. Fechou a porta com um ruído para que o ruivo notasse sua presença.
- Já acordou? Está se sentindo bem?
- Sim... tudo bem - Duo sabia que o diálogo que se seguiria não seria fácil. Não conseguiu pensar em nada para falar e ficou apenas encarando o companheiro, parado a sua frente.
- Já decidiu o que vai fazer?
- Não... não pensei ainda. Só sei que não posso ficar sem saber o que aconteceu pro resto da vida...- O olhar de Jean sobre ele o estava perturbando. Ele podia enxergar o desespero nos olhos verdes e o esforço que ele fazia para disfarçá-lo.
- Então... você vai atrás dele, não vai?
- Jean... eu preciso saber... você não acha que vai ser pior guardar essa duvida pra sempre?
- Pior pra quem? Duo... já se passaram quatro anos. Quatro anos! Se ele te amava como você pensa que amava, por que ele não voltou? Que diferença vai fazer o que ele te disser? Se ele quisesse te encontrar, já teria aparecido. Você ... vai se machucar e ... vai me machucar...
Duo sabia que o que ele dizia era verdade, e odiava magoar Jean dessa maneira, mas não lhe restavam muitas dúvidas sobre o que tinha que fazer.
- Jean... eu sinto muito... mas eu não posso simplesmente fingir que nada aconteceu... Eu preciso saber. Eu não quero te magoar, mas...
- Então você já decidiu. Vai procurá-lo. Eu já sabia. - o tom do ruivo não se elevara, o descontrole só transparecia no tremor de sua voz. Ele levantou-se e se dirigiu a porta, parando de costas antes de sair, seu pesadelo mais terrível estava se tornando realidade. Duo, eu... quero te pedir um favor... quero que me prometa... que não vai voltar. Eu preciso ter certeza que você não vai voltar! Senão, eu vou ficar esperando... minha vida vai virar um inferno! Se você for, eu quero ter certeza que não vai mais voltar. Nunca mais. Prometa!
Duo sabia que aquela decisão era sem volta. Jean tinha razão, não era justo deixá-lo na dúvida... como se fosse uma segunda opção. Sabia também que o fato de reencontrar Heero não mudaria em nada a situação dos dois. Se em quatro anos ele não o procurara, escondera que estava vivo, não seria por se encontrarem novamente que tudo se resolveria. O que faria? A decisão era sua. E já estava tomada.
- Eu prometo.
Estava há meia hora parado diante do edifício e ainda não reunira forças suficientes para deixar o carro. Era a quinta noite seguida que ia até ali mas perdia a coragem e voltava pra casa sem conseguir ir adiante com o que planejara.
Chegara na cidade há uma semana e hospedara-se na casa de Quatre. Fora muito bem recebido e não houveram comentários sobre a quantidade de malas que trouxera. Para Quatre estava tudo muito claro e a personalidade calada de Trowa o impedira de fazer qualquer pergunta.
Estendeu a mão para as chaves na ignição, mas parou-a no meio do caminho. Não! Dessa vez não iria fugir!
Olhou novamente o pequeno edifício de três andares, tentando adivinhar qual das janelas do segundo andar correspondia ao novo lar de Heero. Pensou em invadir o apartamento e surpreendê-lo, impedindo qualquer tentativa de escapar de sua presença, mas chegou a conclusão de que aquilo não seria necessário. Depois de quatro anos, o outro certamente não estaria esperando sua visita.
Conseguiu sair do carro calmamente e dirigiu-se a entrada. Era um bairro tão calmo que dispensava porteiros eletrônicos e outras parafernálias de segurança. A porta da frente estava trancada, provavelmente somente os moradores tinham as chaves, mas aquilo não era um empecilho para Duo.
Subiu as escadas vagarosamente, seu corpo pesava toneladas. Localizou o número que queria acima de uma das portas e antes que se arrependesse tocou a campanhia.
Foram segundos de espera que pareceram anos. O som da chave girando na fechadura parecia vir de muito longe e a porta se abrindo parecia estar em câmera lenta.
O violeta e o azul se encontraram antes que o cérebro de ambos interpretassem o que estavam vendo.
O momento de choque permaneceu por um tempo infinito, até que o movimento da porta se abrindo mais fez Duo entender que estava sendo convidado a entrar.
Duo percebeu que ele estava lhe perguntando algo:
- O que está fazendo aqui? Como me descobriu?
A voz... era a mesma voz da qual se lembrava tão bem. Ficou encarando o japonês, sem esboçar nenhuma reação. Seus olhos percorriam a pessoa a sua frente, querendo certificar-se de que ele estava realmente ali. Em carne e osso. Sentiu a realidade sólida dele enquanto se esforçava para permanecer de pé. A palidez devia ter se evidenciado em seu rosto, indicando que ele não estava bem, pois Heero lhe apontou uma poltrona na qual sentou-se rapidamente, antes que fosse ao chão como um saco de batatas.
- Por que, Heero... Por quê? - Duo nem tentou esconder as lágrimas que começaram a escorrer.
O japonês também estava pálido, mas a expressão do rosto era dura como pedra. Virou de costas rapidamente para impedir-se de se perder no violeta daqueles olhos que lhe encaravam implorando por uma explicação.
- Você não pode se negar a me explicar o que aconteceu! Eu passei os últimos quatro anos da minha vida chorando a sua morte! E... você está vivo! Não pode se negar a ...
- Quatro anos? - o japonês voltou-se com um olhar de ódio. - Você disse quatro anos? - Ele começou a rir, uma gargalhada cruel e falsa. - Não me faça rir! Pelo que eu sei, você se recuperou bem antes disso!
- Como assim? O que quer dizer com isso? - Duo não entendia a reação do japonês.
Heero o encarou, os frios olhos azuis sem nenhum indício de que ficara satisfeito ao vê-lo.
- Se eu contar você vai embora?
- Eu... sim, mas...
- E eu não quero ouvir sua voz! Você vai escutar e vai embora, certo?
- Certo.
Três anos antes:
A figura andando em direção a uma das casas do condomínio havia parado e estava olhando para o céu noturno exatamente no momento em que uma estrela cadente riscava a noite. Ele pensou se seria um presságio.
Por que estou pensando nisso agora? Ele nunca fora supersticioso. Mas este momento em que vislumbrara uma estrela cadente projetando-se para sua morte através da mecânica de um universo lançado em movimento no início do próprio tempo, causou nele um impacto perturbador. A estrela cadente tinha seu destino. Qual era o dele? Será que tinha algum?
Esse último pensamento era ainda mais confuso. Fosse ao acaso ou divinamente determinado, ele tinha um destino, não tinha? Ele podia moldá-lo de alguma maneira, como sempre fizera, por que estava vivo e tinha escolhas.
Ele argumentou consigo mesmo. Estou vivo! Nunca estive tão vivo como estou agora! E contudo sabia que estar argumentando consigo mesmo desta maneira era um sinal de que se tornara menos que vivo, apenas um eco de alguma coisa que não vivia mais, um fantasma.
Qualquer um que o visse possivelmente teria sentido a mesma coisa. Ele estava parado numa imobilidade sinistra, e quando se moveu de novo, forçando-se a avançar, parecia flutuar, como alguém que vira mundos desconhecidos para os mortais.
Ele parou outra vez na escuridão do lado de fora da casa.
As luzes estavam acesas. O interior do cômodo brilhava. E movendo-se dentro dele, mais luminoso que os papéis brancos espalhados em cima de uma mesa, estava Duo, sozinho e lindo, como um modelo cuidadosamente preparado para uma foto de um comercial.
Ele ficou parado completamente imóvel, hipnotizado, observando o americano através das grandes portas de vidro.
A luminosidade do interior do cômodo que parecia um quarto transformado em escritório teria dificultado, senão tornado impossível, para Duo enxergar do lado de fora. Se tivesse olhado para os painéis das portas, teria visto sua própria imagem refletida. Se ele realmente tivesse olhado fixamente através do vidro,e se forçado a focalizar lá fora, poderia ter vislumbrado o contorno dos cabelos dele, ou a silhueta dos seus ombros.
Mas Duo não estava olhando para fora. Ele estava se movendo em torno de uma máquina que parecia um fax. Exatamente quando o homem lá fora se aproximou aos pouquinhos do vidro ele foi para escrivaninha que ficava de frente para as portas e sentou-se.
Em sua mesa, organizava fichas e papéis, sem muito ânimo.
Lá fora na escuridão, Heero – por que era Heero – aproximou-se mais das portas de vidro.
Ele não podia ver bem o que estava sobre a escrivaninha dele. Não teria olhado mesmo que pudesse ver. Só olhava para ele.
Ficou parado ali, agora separado dele apenas por alguns passos e a espessura do vidro da porta, quase próximo o bastante para tocá-lo. E embora se sentisse como um fantasma, sem substância, sem o poder do movimento, ele estava muito vivo, e nunca sentira a vida com todos os seus anseios e desesperos mais do que sentia agora, assim como ver Duo e ficar tão próximo dele o deixara sem fôlego.
Vida. Duo significava a vida para ele. E amor. Vida e amor: para ele, no momento, uma única e mesma coisa. A razão para isso não era um sentimentalismo sonhador, ainda mais, por que não se achava capaz disso. Era concreto e real. Seu amor por Duo o mantivera vivo.
Enquanto as imagens do que ele passara desde que o vira pela última vez voltaram a sua mente, ele refletiu sobre aquele fato inegável. E lembrou, lembrou com toda força, de ferimentos, de quando arrancou os cintos de segurança, ficou de pé no assento e se jogou para longe da nave, enquanto ela corria seus últimos metros de vôo através da neblina flutuando sobre o mar.
E lembrou-se do louco instante, tão rápido para o resto do mundo mas tão eterno para ele, quando parecia que teria todo tempo do mundo para avaliar se bateria na água num ângulo agudo o suficiente para deslizar sobre a superfície, ou se em vez disso bateria em cheio na água, com o mesmo resultado de bater num muro de pedra. Depois o clarão ofuscante em seu cérebro provocado pelo impacto que fora algo entre os dois, e o frio, o frio devastador, contra sua carne cauterizada.
Tinha sido o frio que primeiro lhe dissera que havia sobrevivido ao impacto, mas que em breve estaria morto. E foi então que o rosto de Duo saltou em sua mente. Ele ouviu sua voz nos fragmentos da última conversa.
Promete que volta?
O choque frio estava subindo pelo seu corpo mais rápido do que afundava. Ele então percebeu que o resultado do impacto ainda estava com ele. Seus pensamentos flutuavam livres da realidade porque mal estava consciente. Suas roupas de vôo tinham perdido todas as bolsas de ar, sua jaqueta de couro estava encharcada com a água do mar, ele estava deslizando para baixo da superfície.
Promete que volta?
Parado do lado de fora da casa, olhando fixamente para Duo lá dentro, seu peito moveu-se num espasmo quando seus pulmões lutaram para encontrar ar, como eles tinham feito meses antes no mar do Norte. Em lampejos de memória ele viu as bolhas saindo de sua boca em direção à superfície enquanto seu corpo afundava. Se naquele momento ele ouviu alguma coisa fora a voz do seu próprio medo, gritando Duo! Duo! Ele lutou para subir outra vez até a superfície, sugando o ar, chutando seus sapatos para longe, tirando a jaqueta, despindo suas calças.
O esforço o deixou exausto. Ele estava tentando pensar com clareza, lentamente, com sabedoria, mas quando seus membros recusaram-se a se mover, ele não teve idéia se era por cansaço ou enrijecimento do frio. Ele não tinha forças para nadar, e para onde nadaria, mesmo que tivesse podido? Flutuar. Mantenha-se vivo, ele pensou. Duo.
Suas calças já tinham afundado sob a superfície, mas ele agarrou onde elas tinham estado e seus dedos conseguiram tocar seu tecido. Ele amarrou nós nas bainhas de cada perna e franziu a cintura, soprando ar para dentro das pernas. Era uma das invenções mais toscas de flutuação, mas o manteria vivo por mais alguns minutos.
Por quanto tempo flutuara, ele não sabia. Durante algum tempo ele ficou vivo fazendo uma série de pequenas negociações particulares: Mantenha-se vivo por mais um minuto, dizia para si mesmo, e então você pode desistir... Só lute contra a dor por mais um minuto.Seu corpo tremia, seus dentes batiam em seus maxilares doloridos. E então nada tremia, nada se movia, nada doía.
Ele não tinha nenhuma força, nenhuma vontade de viver. Seu rosto se acomodou na água... seu corpo escorregou do salva-vidas improvisado, e o que fora Heero Yuy deixou-se arrastar sob a superfície.
Você promete que me espera?
Prometo.
Ele ouviu a voz tão claramente que abriu os olhos para procurar pelo americano. Encontrou-se sob a superfície do mar, a que profundidade não sabia. Olhou para cima e viu raios brilhantes de luz de um lugar acima da superfície. Através dos raios dançantes que alcançavam o fundo da água, ele viu o rosto de Duo, olhando fixamente para ele como ele o imaginava olhando fixamente para ele da janela de casa. Seus membros reviveram e ele lutou em direção à luz, rompendo a superfície. O mar estava escuro e vazio, mas ele alcançou as calças com os nós, encheu-as outra vez, e agarrou-se a elas. Por sua vida, e por Duo.
Ainda parado atrás do vidro, olhando para ele, uma outra imagem surgiu na mente de Heero, sua lembrança seguinte após a agonia confusa e entorpecida. Ele viu homens em casacos pesados, apetrechos de homens do mar, parados de pé acima dele. Ainda estava tão molhado e frio que pensou que ainda estava na água, mas sentiu uma pulsação sob suas costas e percebeu que estava no convés de um barco que mais tarde descobriria ser apenas uma pequena canoa de pesca. Os dois tripulantes lhe falavam mas ele não entendia. Os membros de Heero estavam enrijecidos , até seus lábios estavam congelados, e ele pensou consigo mesmo se já estava morto. Mas havia uma dor crescendo em seu peito, se espalhando do seu coração, sob os cobertores com que os pescadores o haviam coberto, e ele tentou forçar uma palavra pelos seus maxilares rígidos. Um dos pescadores se debruçou sobre ele e ouviu, e Heero conseguiu articular a palavra outra vez, mas o pescador não entendeu. A palavra que Heero falou foi... Duo.
Não sabia por quanto tempo ficara desacordado, mas quando pôde abrir os olhos e olhou a sua volta, estava num quarto branco, que apesar de simples, poderia pertencer a um pequeno hospital ou posto de saúde. A senhora que estava sentada em uma cadeira próxima a sua cama levantou-se ao vê-lo acordado e saiu sem uma palavra.
Poucos minutos depois, um senhor já idoso, cabelos brancos como neve, entrou no quarto e parou ao seu lado.
- Como está se sentindo meu jovem? Já consegue falar? - A voz era calma e acolhedora.
- Sim... onde estou? - Sua voz saiu rouca, mas inteligível.
- Numa ilha chamada Santuário.
- Quando poderei sair daqui?
- Se você está se referido a sair do centro médico onde se encontra agora, quando você quiser e se sentir forte o bastante. Mas ... quanto a sair da ilha, temos que conversar um pouco. Foi por isso que me chamaram. Meu nome é Seth e eu sou o líder dessa comunidade. Como é o seu nome, meu jovem?
- Yuy, Heero Yuy.
- Pois bem jovem Yuy, você está numa ilha que como o próprio nome já diz é considerada por nós, que nela vivemos como um santuário. Vivemos como os nossos ancestrais aqui viviam há séculos e séculos atrás. Recebemos autorização para sermos uma comunidade independente, não devemos obediência a nenhum país nem território. Para que não haja interferência no modo de vida que escolhemos levar, abrimos mão da tecnologia e de qualquer tipo de comunicação com o mundo exterior. Não temos nenhum meio de transporte capaz de cruzar a enorme distância que nos encontramos da cidade mais próxima. Somos fechados a visitantes. Somos auto-suficientes. Você não está preso aqui, veja bem... não é isso que quero dizer. Não somos bárbaros. O problema é que o único modo de você sair daqui é no barco de um grupo de cientistas que uma vez por ano tem a permissão de desembarcar em Santuário com o único objetivo de fazer registros como número de nascimentos, mortes e algumas outras informações... Enquanto você estiver aqui, será muito bem recebido.
- Minha nave... ela possui um sistema localizador... meus superiores já devem ter localizado o paradeiro dela e provavelmente estarão tentando me localizar... não vão demorar a descobrir essa ilha...
- Jovem... não há o que descobrir, por que não estamos escondendo nada... nossa ilha está muito bem localizada em qualquer mapa-mundi que você encontrar. Apenas escolhemos um modo diferente de viver. E eu sinto muito pela informação que vou lhe dar agora... entendo a sua ansiedade em retornar, mas... meus pescadores viram sua nave afundar... e foi exatamente onde começa a mancha escura que delimita uma falha abissal da qual desconhecemos até onde vai, tamanha sua profundidade. Sentimos muito por você, mas a essa altura sua nave e todas as peças que a compõe não passam de poeira esmagadas pela pressão da água.
Minutos de silêncio se passaram entre eles, até que Heero tomou coragem de perguntar.
- Quanto tempo?
- Como? Não entendi sua pergunta.
- Quanto tempo para o barco dos cientistas voltar a ilha?
- Ainda não completou duas semanas que eles saíram daqui.
Agora, um ano depois, Heero estava olhando fixamente para Duo pelas portas, em carne e osso, em forma, em realidade. A primeira coisa que fizera após ter desembarcado do barco que o trouxera de volta a civilização fora localizar o endereço de Duo. Não fora difícil também, com suas habilidades, conseguir roupas e o transporte necessário para levá-lo até ele.
Dentro do cômodo, Duo colocou um calendário em seu lugar sobre a escrivaninha e arrumou os lápis e as outras coisas insignificantes que estavam desordenadas sobre ela, com o cuidado estranho de alguém que sentira uma perda de controle sobre os assuntos mais importantes da vida e por isso toma um cuidado especial para controlar os menos importantes.
Heero estendeu a mão para um dos painéis da porta que já se encontrava meio aberto. No momento em que sua mão tocou o puxador, a porta interna do cômodo se abriu dando passagem a um rapaz alto e ruivo que o japonês nunca tinha visto. Heero recuou.
- Ainda acordado, Duo? - Ele tirou a jaqueta e jogou-a no encosto de uma cadeira.
- Estava te esperando... você demorou... - Duo olhava para trás, Heero não conseguia ver a expressão de seu rosto.
- Humm... é que eu parei pra comprar isso no caminho de volta... - O ruivo enfiou a mão no bolso da jaqueta e retirou uma enorme barra de chocolate que começou a balançar na frente do rosto do americano para provocá-lo.
- Ai!!! É aquele que eu gosto! Me dá logo, Jean, vai...
O rapaz alto segurava o chocolate com um braço estendido numa altura que Duo não conseguia alcançar, mesmo se esticando. O ruivo o puxou pela cintura com o outro braço.
- Só se você disser que me ama.
- Eu amo.
- Ama muito?
- Amo muito.
- Muito muito, ou muito pouco?
- Muito muito!
- Agora sim. Acho que você merece. - Mas antes do chocolate chegar ao americano, este foi puxado para um beijo e arrastado para fora do escritório.
Heero ficou parado a beira do cais e olhou fixamente para a água escura. As estrelas ainda estavam brilhando acima dele, mas ele não sentia nenhuma ligação com elas, nenhuma ligação com qualquer coisa na vida ou no amor. Duas coisas, a mesma coisa, ambas tão mortas quanto a estrela cadente que ele vira mais cedo, caindo para a sua morte.
Parecia a ele que o mar simplesmente engolira a essência da estrela para escuridão eterna, como fizera com a alma de Heero Yuy, que fora um dia um soldado, um piloto, um amigo... e que fora um dia um amante de algo que não era real.
Enquanto ficava parado sentindo-se tão só e fragmentado quanto os pedaços da estrela cadente, a imagem do pescador que o resgatara debruçado sobre o seu corpo congelado e meio afogado, lampejou outra vez na mente de Heero, e com aquela imagem veio o sussurro daquela única palavra que ele falara: "Duo".
Heero olhou fixamente para a escuridão do mar insensível, e lutou para enterrar tão profundamente a memória deste amor, de forma que ele nunca o sentisse outra vez. Nunca mais.
Cenas do próximo capítulo (Tudo para levantar o Ibope! ):
- ... quanto tempo você esperou? Três dias? Uma semana? Um mês? - Deu uma risada cínica - Não... um mês seria demais pra você... Na sua ficha consta que você se mudou pra casa dele duas semanas depois do acidente, não foi?
