Comentário da Empresária: Pois é, hoje é TERÇA e eu havia prometido postar aos sábados, mas não deu! XD Sábado eu esqueci, domingo eu sai o dia inteiro e ontem minha internet ficou fora do ar. Então.. espero que me perdoem! O próximo capítulo sai no sábado dia 20/11. Só vai ter mais UM capítulo... vamos rezar para que a Pequena Carol Yui escreva mais logo, né? AH! Ela mandou agradecimentos à todos que escreveram!
B-jins
Goddess-chan n.n
Duo viu que o japonês havia parado de falar. Era isso então. Aquilo acontecera provavelmente apenas um mês depois que ele e Jean ficaram juntos e apenas alguns dias após Duo tomar coragem de dizer que amava o ruivo. Não conseguiu esboçar nenhuma reação ao que ouvira. Nenhuma frase lhe vinha a mente e mesmo que soubesse o que dizer sabia que seria impedido.
Heero desencostou-se da parede e caminhou na direção da porta, abrindo-a e dando a entender que o tempo de Duo se esgotara. Este levantou-se e silenciosamente dirigiu-se a saída sem coragem de encarar o japonês.
Antes que desse dois passos na direção da escada, ouviu seu nome.
- Duo...
Virou-se e o azul e o violeta chocaram-se novamente, mas Heero desviou seu olhar para algum lugar dentro da sala.
-... quanto tempo você esperou? Três dias? Uma semana? Um mês? - deu uma risada cínica - Não... um mês seria demais pra você... Na sua ficha consta que você se mudou pra casa dele duas semanas depois do acidente, não foi?
Duo fechou os olhos e baixou a cabeça. Nada do que dissesse iria fazê-lo acreditar que o que tinha visto não correspondia exatamente ao que parecia. Nunca conseguiria fazê-lo entender que fora o único modo que achara de sobreviver a sua perda.
Quando tomou coragem e levantou os olhos novamente, a porta estava fechada.
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- Então foi isso? - Quatre estava sentado a frente de Duo na cozinha e ambos bebiam café.- Eu imaginei que tivesse sido algo assim.
- Eu não. Nunca pensei que ele viraria as costas sem ao menos falar comigo. Sem me deixar explicar.
- Explicar o quê, Duo? Pra ele ficou bem claro que você não se lembrava mais dele. Que havia refeito sua vida ao lado de outra pessoa, apesar de nós sabermos que não foi bem assim. Já pensou no que vai fazer agora?
- Em relação a isso, nada. Não há nada que eu possa fazer. Ele não quer nem me escutar! Em relação ao trabalho, já voltei a ativa. Terminei os últimos exames médicos que faltavam e Une me garantiu que a partir de amanhã já estarei com status de "agente disponível" no computador central.
- Falando em Une... acha que agora ela também vai colocar Heero de volta a ativa normalmente? Quero dizer, agora não há mais o que esconder...
- Imagino que sim... aliás, não sei nem como ela aceitou perder o "Soldado Perfeito" na maioria das missões mantendo-o como "não disponível"!
- Ele devia estar desesperado mesmo para conseguir convencê-la disso. - Quatre se arrependeu das palavras na hora em que viu a expressão de culpa no rosto do amigo. - Desculpe, não quis dizer isso... É só que ... estive pensando...
- No quê?
- Quanto tempo você acha que HAL vai levar pra juntar vocês dois novamente em uma missão se voltarem a ativa?
Duo não pôde se impedir de rir ao ver Quatre se referir ao computador central dos Preventers como "HAL". Fora o próprio Duo que o chamara assim primeiro, logo que começaram seu trabalho como agentes, e antes dele e Heero ficarem juntos. Estava se referindo ao computador do filme clássico "2001 Uma Odisséia no Espaço". No filme, a máquina "enlouquecia", causando inúmeros problemas e até mortes, e quando Duo descobriu que um dos relatórios do computador central considerava a dupla Yuy-Maxwell como tendo 100 de compatibilidade trabalhando lado a lado, achou que o mesmo havia "enlouquecido" também e o apelidou assim. Todos concordaram, pois os dois brigavam como cão e gato e o apelido ficou.
- Eu... não havia pensado nisso... provavelmente não muito tempo, afinal, "100 de compatibilidade", "talentos complementares" e "100 de sucesso nas missões conjuntas", não acontece com todos os agentes que trabalham juntos... - Duo citava os comentários que haviam em suas fichas. - Acho que só você e Trowa também conseguiram atingir esse índice. Mas sempre há a opção de não aceitar a missão e passá-las aos suplentes. Acho que é exatamente isso que ele vai fazer...
Duo não conseguia esconder a tristeza e o desânimo que o dominavam. Escondeu o rosto nas mãos enquanto tentava dominar as lágrimas que teimavam em voltar.
- Duo... Eu não estou te reconhecendo... acho que você está encarando as coisas pelo ponto de vista errado. - O loirinho como sempre, tinha uma expressão otimista no rosto. - Já parou pra pensar que o que aconteceu foi praticamente um milagre?
O americano levantou o rosto para encarar o amigo sem entender o sorriso no rosto desse.
- Como assim?
- Claro, Duo! Há poucas semanas atrás Heero estava morto! Definitivamente morto! Tudo que você podia fazer era chorar por ele. Agora... tudo mudou... as coisas podem estar muito difíceis, sim, mas não são impossíveis. Não dizem que "só não existe remédio para a morte"? Pois você é o Shinigami não é? Até isso você conseguiu vencer! Ele está aqui, e bem vivo! Lute agora para vencer o resto e ter de volta o que você quer!
Duo olhava espantado para o amigo.
- Você acha? Acha que é possível?
- Acho... não estou dizendo que vai ser fácil, nem mesmo que você vai conseguir... mas não acho certo você desistir sem nem ao menos tentar. Cadê o Duo Maxwell que eu conhecia? O Duo Maxwell que fez o Soldado Perfeito cair de amores por ele? Você fez uma vez, pode fazer de novo.
Será? Será que eu tenho forças pra isso? Antes ele era só indiferente... agora ele me odeia... Mas mesmo enquanto pensava, sentia um calor subindo-lhe pelo peito. Sim... eu posso! O Shinigami não desiste nunca! Luta até o fim! Sua felicidade dependia disso.
- E também acho que você não levou algumas coisas em consideração... - O loirinho podia ver que sua conversa estava surtindo efeito. Trowa iria lhe matar se soubesse o quanto ele estava se intrometendo naquele assunto, mas Duo era seu melhor amigo e Quatre sentia muita falta do Heero de antes, quando estavam os quatro sempre juntos, em qualquer momento de folga. Além do mais, aquele era o seu jeito. Não conseguia ver alguém sofrendo sem tentar ajudar. - Ele pode ter se decepcionado, pode ter começado a odiá-lo, mas não o esqueceu, não acha? Se tivesse, não acha que a reação dele seria ter se tornado... indiferente? Por que se escondeu de você até hoje? Depois de tanto tempo? E por que diabos ele mora na mesma rua que vocês moravam antes? De frente para o antigo apartamento? Por quê eu o vi sentado no banco da quadra em que nós... em que vocês jogavam? Essas não me parecem atitudes de alguém que esqueceu ou quer esquecer o passado!
- É... não parecem... - Duo não pôde reprimir o sorriso.
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Três semanas depois...
Heero estava parado do lado de fora de seu apartamento. Quase havia enfiado a chave na fechadura quando notou a luz saindo por baixo da porta. Deu um passo para trás e imediatamente sacou a arma que sempre levava consigo. Preparou-se para chutar a porta com toda sua força quando ouviu barulho de louça e deu-se conta de que estava sentindo cheiro de... café.
Não conseguiu imaginar nenhum tipo de pessoa que representasse perigo que fosse idiota o suficiente para acender a luz da casa e ainda preparar um café sem tomar cuidado com o barulho enquanto esperava para matá-lo! Ainda com a arma na mão por via das dúvidas, abriu a porta silenciosamente e dirigiu-se a cozinha.
- Ah! Chegou? Desculpe a intromissão na sua cozinha, mas eu já estava esperando há muito tempo e resolvi fazer um café.
- Duo??!! - A visão do americano confortavelmente instalado na mesa da sua cozinha com uma xícara de café na mão era por demais irreal e Heero não teve nenhuma reação a não ser ficar parado na porta tentando entender a cena a sua frente. - O quê?... O que faz aqui?
- Calma! Pode guardar a arma. Estou aqui por motivos estritamente profissionais.
Heero já havia recuperado o sangue frio e após guardar a arma andava na direção do americano com a intenção de arrastá-lo para fora de sua casa. Parou ao ouvir as últimas palavras.
- Motivos profissionais?
- Sim...estamos em missão!
- Como assim "estamos" em missão? - Heero enfatizou a palavra no plural.
- Você vai repetir tudo que eu digo? Eu tirei o som do laptop porque aquele barulho me irrita profundamente, mas vai lá olhar pois você também recebeu o e-mail.
Heero estava tão aturdido que obedeceu sem protestar, mas antes de chegar ao laptop, recobrou um pouco da razão e voltou-se para o americano com a intenção de cobrar mais explicações. Duo não o deixou falar.
- Heero, eu não disse que aceitei a missão... - o ex-piloto do Deathscythe estava mais sério agora e prosseguiu hesitante. - ... é só que no meu e-mail não haviam muitas explicações. Só me disseram para te procurar a fim de receber mais instruções... eu... não sei do que se trata. Deve estar tudo explicado no seu e-mail, e se você não quiser aceitar, passamos a missão para os suplentes. Estou só seguindo as minhas ordens.
O japonês pareceu mais aliviado e sentou-se a frente do laptop para ler o e-mail. Duo sentou-se silencioso numa das poltronas.
- Não acredito! Acharam o livro-código! - Heero exclamou enquanto seguia com a leitura.
- Livro-código? O que é isso? - Duo estava afastado há tanto tempo que só agora se dera conta do quanto estava desatualizado no que se referia a sua antiga função.
Quem virou-se para explicar-lhe era o antigo Soldado Perfeito. Tão interessado estava no que lia, que esquecera-se totalmente de que a última pessoa que queria ter a sua frente era seu antigo amante Duo Maxwell.
- Refere-se ao maior grupo terrorista em atividade no momento. São tão bem equipados que mesmo quando interceptamos mensagens entre as várias facções, não conseguimos decifrar seus códigos. Nem os computadores da matriz conseguiram, são muito sofisticados. Nossos agentes descobriram a existencia de um livro que nos permitiria decifrá-los mas ele está muito bem guardado numa base considerada praticamente inexpugnável. Mas agora... parece que um dos chefões guarda uma cópia num cofre em sua residência... Se conseguíssemos o livro, seria fácil acabar com eles em poucos dias. Deixa eu acabar de ler...
Duo mal podia acreditar que estava ali, conversando com Heero, como antes... mesmo que sobre o trabalho. Aproveitou a distração do japonês para observá-lo melhor. Estava mais magro, mas a beleza continuava a mesma e tirava o fôlego de Duo.
- Humm... o plano é engenhoso... A tal residência fica numa ilha na Europa. Vai haver uma regata comemorativa de alguma data histórica. Seria necessário um barco como os que vão participar para poder atracar e não chamar atenção. Normalmente todas as embarcações que aportam são revistadas e seus ocupantes investigados... mas não os que participarão do evento.Os agentes teriam apenas uma noite para localizar o alvo, roubar o livro e retornar a tempo de zarpar pela madrugada junto com os outros barcos da regata a fim de confundi-los. Somente depois de algumas milhas é que o rumo seria alterado atingindo-se então o porto mais próximo considerado seguro. Isso não deixa margem para nenhum plano de segurança... é uma tentativa só ou nada.
- Heero... isso quer dizer que você aceita a missão? - Duo esperava ansioso a resposta do japonês.
O Soldado Perfeito olhou para ele e pareceu afinal tomar conhecimento de sua presença e da pergunta que fazia. Voltou a olhar para tela.
- Não, claro que não. Vou dar todo suporte necessário aos suplentes... quem sabe até permanecer como apoio no porto de chegada.
Duo sentiu o coração se apertar com aquela resposta fria. Heero localizou o ícone de "suplentes" e levou o cursor até ele a fim de saber quais agentes seriam acionados no caso de recusarem a missão.
Não pode acreditar no que apareceu na tela.
Ao ver a expressão do japonês, Duo levantou-se e se inclinou para ler o que havia perturbado Heero. Também se espantou ao compreender a mensagem:
"Não foram encontrados outros agentes suficientemente capacitados para a referida missão."
- Mas... como? Quatre e Trowa são perfeitamente capazes de... - O japonês foi interrompido por Duo.
- Trowa está de licença médica por pelo menos dois meses. Distendeu um tendão do joelho na última missão. - Duo sorriu ao lembrar da última imagem dos amigos antes de sair da mansão. Trowa sentado no sofá, com um saco de gelo em cima do joelho enfaixado e sorrindo satisfeito enquanto era paparicado como um bebê por um Quatre ainda mais carinhoso que o normal.
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Heero ainda não podia crer que aquilo estava acontecendo. É claro que imaginara que HAL não os deixaria separados por muito tempo, mas achou que poderia recusar qualquer missão que não lhe agradasse. Trabalhar com Duo novamente... estar com ele novamente ... seria uma tortura... impensável!
- Heero, a decisão é sua... Sei que não queria que isso acontecesse... quero dizer, trabalharmos juntos novamente, mas não foi minha culpa nem sua... Se o livro é tão importante, eu estou disposto a tentar... como disse, a decisão é sua. - Duo praticamente suspendeu a respiração esperando pela resposta do japonês.
Após poucos momentos de hesitação, os dedos de Heero correram pelo teclado. Duo inclinou-se novamente para ver o que ele havia escrito:
"Missão aceita".
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Começaram imediatamente. Heero pôs Duo a par dos últimos movimentos do grupo terrorista e ficaram traçando planos e as estratégias que seriam utilizadas na missão. Quando se deram conta já passava das três da manhã e Duo já cabeceava de sono.
- Chega por hoje. Não entra mais nada na minha cabeça. - jogou o relatório que estudava em cima da mesa e deitou a cabeça por cima, entre os braços.
- Acaba de ler esse pelo menos. Já está na metade... se parar agora, amanhã terá que ler tudo de novo.
- Ok, só esse. - Duo não queria mesmo ir embora, só não agüentava mais trabalhar, mas sabia que se parasse não haveria mais desculpas para continuar ali. Levantou-se com o relatório na mão e acomodou-se numa das poltronas para ler.
Heero continuava estudando as especificações do barco que teriam que utilizar como disfarce. No e-mail havia o endereço de um pequeno estaleiro de confiança que deveria ser contactado assim que a missão fosse aceita.
- Amanhã teremos que dividir as tarefas, é muita coisa pra providenciar e cada um... - Heero levantou os olhos do laptop e parou de falar ao constatar que Duo havia dormido na poltrona. O relatório havia escorregado de suas mãos e descansava ainda aberto em seu colo. Seu primeiro pensamento foi sacudi-lo pelos ombros e expulsá-lo de sua casa, mas o jeito com que dormia, mostrava a Heero que ele já estava num sono profundo, e seria perigoso fazê-lo dirigir daquele jeito. Com um suspiro de resignação, começou a arrumar uma cama improvisada no chão do quarto com alguns edredons, quando se lembrou que Duo não poderia dormir ali. O americano tinha alergia a carpetes. Se ele se deitasse ali, ninguém no prédio dormiria com o acesso de espirros que provavelmente aquilo iria causar. Inferno! Olhou em torno tentando encontrar uma solução, mas não havia outro lugar para acomodá-lo. A não ser na cama. Sua cama.
Já havia alugado o apartamento mobiliado e como os moradores anteriores eram casados, restara-lhe aquela enorme cama de casal. Não! Decididamente não iria dormir na mesma cama que ele! Isso era demais! Mas que outra opção teria? Não havia sofá na sala, somente algumas poltronas e se recusava a dormir no chão de "sua" casa pra ceder a cama para o baka americano. Inferno!
- Duo! Duo!! Acorda! - sacudia o ombro dele com violência, mas ele não acordava. - Duo!!!
- Ai, Hee-chan me deixa, vai! - o americano mudou de posição sem parecer ter acordado.
Heero congelou ao ser chamado desse jeito. Há muito tempo não ouvia aquele apelido vindo da única pessoa que o chamava assim. Sentiu a antiga dor se aproximando mas obrigou-se a ignorá-la.
Foi o repentino silêncio que acordou Duo. Mesmo em seu sono, ele teve noção que cometera algum erro, só não sabia qual. Abriu os olhos rapidamente e deparou-se com Heero a sua frente, mas seu olhar parecia frio e firme como sempre.
- Eu dormi? Desculpe... - tentou se levantar ainda cambaleando de sono. - Eu vou embora... não quis incomodar...
- Você não vai a lugar nenhum assim. Vai enfiar o carro no primeiro poste que encontrar. Pode dormir aqui ... hoje. Temos muito o que fazer amanhã pela manhã. É melhor começar cedo.
Duo ainda tonto olhou em volta imaginando aonde poderia dormir.
- Aonde eu vou dorm... - recebeu na cara um short e uma camiseta que Heero lhe atirou.
- No único lugar da casa onde é possível fazer isso.
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Meia hora mais tarde, Heero estava deitado na cama, ouvindo Duo respirando ao seu lado em um sono tranqüilo.
Deu-se conta de que em apenas alguns dias, Duo surgira de volta de seu passado, era novamente seu parceiro e ... pior que tudo, estava dormindo em sua cama. Tentou enxergar o rosto do americano, convencido que de alguma maneira ele tinha armado toda aquela situação. Que estranho poder ele tinha que podia virar sua vida do avesso tão rapidamente e o levar a tomar decisões tão contrárias ao que antes tinha já como certo em sua mente. Inferno! Provavelmente iria passar a noite em claro! Antes mesmo de terminar esse pensamento adormeceu profundamente.
Na manhã seguinte, quando despertou, surpreendeu-se ao olhar o relógio. Já havia passado pelo menos uma hora de sua costumeira hora de acordar. Olhou o americano ainda adormecido ao seu lado, mas seu orgulho impediu-o de reconhecer que havia acordado do sono mais tranqüilo e descansado dos últimos quatro anos.
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Estavam sentados na mesa da cozinha rodeados de papéis e cartas náuticas. Há uma semana não faziam outra coisa a não ser trabalhar. No dia seguinte ao que aceitaram a missão, Duo trouxera suas coisas da casa de Quatre e se instalara no apartamento. Não sem antes ouvir por meia hora o discurso do japonês de que aquilo era pelo bem da missão... que eles trabalhavam melhor a noite e que assim não precisavam interromper nada para que Duo fosse embora e que era bom que alguém sempre ficasse no apartamento para receber os equipamentos e os dados que não paravam de chegar.
Duo concordara com tudo, feliz demais para discordar do que quer que fosse. Mas a verdade, era que agora, depois de uma semana, começava a acreditar que Heero realmente pensava daquela forma e que não iria mudar.
Não o tratava mal, muito pelo contrário... parecia exatamente como Duo menos queria, ou seja, indiferente a ele.
A única coisa que o alegrava eram as noites. Ainda dividiam a cama. Duo tivera certeza que no dia seguinte o japonês apareceria com uma cama desmontável ou algo do tipo, mas ele não fez isso. Não conversaram sobre o assunto, simplesmente quando a noite chegava e Duo demonstrava que estava com sono, e encerrava seu trabalho, o japonês respondia ao seu boa-noite com frieza e ele ia deitar encolhido em seu canto, esperando que mais ou menos meia hora depois Heero viesse para o quarto e finalmente Duo pudesse dormir sentindo a presença dele ao seu lado.
Não sabia mais o que fazer... talvez não houvesse nada a ser feito realmente. Quatre o avisara que se ele o tivesse esquecido, provavelmente agiria com indiferença, e era exatamente isso que estava acontecendo.
Suspirou desanimado. Aquele dia havia sido difícil. Mais cedo discutiram por causa de detalhes acerca da missão e o japonês o estava tratando com mais frieza ainda, se é que isso era possível.
- Fez a lista de mantimentos? - Heero perguntou sem tirar os olhos do laptop.
- Fiz.
- Mandou para a matriz?
- Mandei.
- Já checou se tem todo o equipamento de que vai precisar? Ainda temos algumas semanas antes da regata, mas é melhor deixar tudo pronto.
- Já tenho tudo. Você já tem?
- Não... normalmente eu uso o equipamento enviado pela central, mas dessa vez vou querer comprar algumas coisas. Vou começar a repor a série de equipamentos que eu tinha antes do... há algum tempo atrás.
Duo sabia que ele ia falar "antes do acidente" e havia se calado de propósito.
Não falou nada e ficou por um tempo apenas olhando para o parceiro sentado a sua frente decidindo se contava para ele ou não.
- Algum problema? - Heero notou que ele havia parado de trabalhar e o encarava.
- Ahn... Não, não. Estava só distraído. - Duo voltou seu olhar para os papéis a sua frente, mas passados alguns minutos, olhou para japonês novamente. - Heero...
- Humm...
- O que você vai fazer amanhã de manhã?
O japonês olhou para ele um pouco espantado.
- Como assim? - Heero fez a pergunta num tom de quem responde "você não tem nada a ver com isso". Mas franziu as sobrancelhas ao verificar que o americano o olhava com uma expressão estranha... parecia tenso.
- Não estou te convidando para ir a um shopping ou nada parecido! Só queria saber se você podia ir a ...um lugar comigo amanhã.
- Eu... estava planejando comprar algumas coisas... mas que lugar é esse?
- Não quero falar sobre isso. Você vai ver. Vai levar no máximo duas horas... não vai perder a manhã toda...Você pode ir?
Heero ia responder que não. Não queria fazer nada com o americano que não fosse estritamente ligado ao trabalho e aquele não parecia ser o caso. Mas algo no tom de voz de Duo o fez mudar de idéia. Ele estava nervoso, a voz saia meio trêmula, e de cabeça baixa não o olhava nos olhos.
- Tudo bem... se não for demorar.
- Não vai. Eu... vou dormir. - Duo queria fugir o mais rápido possível da frente de Heero para impedi-lo de fazer mais perguntas. - Boa noite.
- Humm...Boa noite. - Heero o ficou acompanhando com o olhar até que a trança desapareceu com uma chicotada. - O que este baka está escondendo?
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Já estavam rodando de carro há pelo menos meia hora e Heero ainda não tinha noção daonde Duo o estava levando. Estavam já quase no limite da cidade, apenas algumas fábricas e armazéns passavam por eles de tempos em tempos. O japonês já estava perdendo a paciência quando viu o americano sinalizar que ia entrar a esquerda num imenso galpão a beira da estrada.
Por cima dos portões, o letreiro indicava: "Depósito Merk".
Duo parou o carro no grande estacionamento em frente a uma espécie de balcão de atendimento, saltou do carro e seguido pelo japonês, foi em direção ao funcionário parado atrás do vidro.
- Bom dia, gostaria de verificar meu box, por favor. - Duo se dirigiu ao rapaz uniformizado.
- Cartão por favor. - O rapaz estendeu a mão por uma abertura do vidro.
Duo retirou um pequeno cartão com uma tarja magnética do bolso e estendeu-o pela abertura. O funcionário do depósito passou-o por uma pequena máquina com um teclado numérico e estendeu-a a Duo.
- Senha por favor.
Duo digitou alguns números no teclado e após verificar a autenticidade da senha no computador a sua frente, o rapaz devolveu o cartão ao americano e apertou um botão que abria uma porta ao lado do balcão.
- O senhor gostaria que alguém lhe indicasse o caminho do box?
- Não, obrigado, eu já sei onde fica. - Duo e Heero se encaminharam para entrada e a porta se fechou atrás deles.
Era um depósito enorme, fileiras e fileiras de pequenos cômodos fechados com portas parecidas com as de garagens de carros. Depois de caminharem um pouco, Duo parou em frente a um deles, por cima a identificação: BOX 112.
Heero observou que a cada passo que davam o americano parecia mais nervoso, e ainda não conseguia imaginar aonde aquilo os levaria.
Depois de checar o número, Duo passou o cartão por mais uma leitora óptica e as portas deslizaram, luzes se acendendo automaticamente dentro do pequeno cômodo.
Heero levou um tempo para entender o que via. Quando reconheceu o que estava guardado ali dentro, sentiu o coração falhar umas duas batidas mais ou menos.
- Duo... o que é... isso? - Heero olhava chocado para o que parecia ser toda a mobília e todas as coisas que os dois tinham no antigo apartamento que dividiam. Por cima dos sofás e por todos os cantos do depósito, caixas e caixas com etiquetas que indicavam o que havia dentro. "Heero-roupas", "Heero-objetos pessoais", "Cozinha", "Armário da sala".
O americano permanecia de costas para o box e sem coragem de olhar para o ex-piloto do Wing. Respondeu numa voz trêmula.
- Você está vendo o que é. Se precisar carregar alguma coisa, pode usar aqueles carrinhos de metal ali ao lado, eu... estarei no carro. - Sem mais palavras, saiu andando em direção a saída, deixando o japonês perplexo a encarar toda uma vida que achava que havia perdido, encaixotada a sua frente.
Não sabia por onde começar. Não imaginava que aquilo tudo ainda existisse. Entrou no box e passou a mão lentamente pelos objetos empoeirados e empilhados uns sobre os outros.
Os quadros, o tapete da sala, a luminária que usava em sua escrivaninha, seu ... antigo laptop! Heero passou a mão pela tampa fechada, seus dedos deixando uma marca na poeira. Olhou em volta mais uma vez. Localizou seus antigos equipamentos em um dos lados do depósito. E atrás...
Céus! A cama! Desmontada a um canto, a antiga cama que dividiam. Heero sentiu uma pontada no peito e desviou o olhar. Seus olhos pousaram agora em uma caixa onde se lia, "Duo-gavetas". O japonês franziu as sobrancelhas. Por que o americano também deixara suas coisas ali? Por que não as levou com ele?
Sem pensar no que fazia, abriu a caixa e debruçou-se para observar seu conteúdo.
Vários pequenos objetos se espalhavam pela caixa. Heero reconheceu quase todos. Estava claro por que ele não os havia levado consigo. Eram todos pequenos presentes, lembranças e bilhetes trocados entre os dois. Coisas que Heero nem sabia que ele havia guardado, mesmo quando ainda estavam juntos. O japonês pegou um pequeno album de fotos, mas ao abri-lo e deparar-se com um Duo sorridente sendo carregado por ele no colo, saindo do mar, fechou-o rapidamente e jogou-o de volta na caixa.
Se sentiu um pouco tonto e já ia fechar a caixa novamente quando teve o olhar atraído por um pequeno objeto embrulhado para presente. Não sabia o que era e apesar da embalagem já amassada, parecia que nunca fora aberto. Sem cerimônias, Heero rasgou o papel, e deparou-se com uma caixa de veludo, abriu o pequeno fecho e arregalou os olhos ao ver seu conteúdo.
Um fino bracelete de ouro branco descansava na almofada de veludo negro. Pequenas ranhuras formavam um traçado na face externa. Lindo! Heero pode ver que havia uma inscrição na parte interna e aproximou-se da luz para que pudesse ler o que estava escrito.
"For now and forever, Heero Yuy – Duo Maxwell". Na caixa, um pequeno cartão, "Hee-chan, feliz Dia dos Namorados! Eu te amo, Duo".
Oh, Deus! Eu não quero ver isso! Eu não quero nada disso, eu não quero essas lembranças de volta! Baka! Baka! Por que fez isso? Por que você tinha que aparecer de novo para me atormentar! Baka! Baka!
Heero colocou a pulseira em seu lugar e jogou-a na caixa novamente. Lembrou-se que o acidente acontecera apenas uma semana antes do Dia dos Namorados e pelo que parecia, Duo já havia comprado seu presente. Baka!
Rapidamente verificou o estado dos equipamentos que estavam a um canto e virou-se na direção da saída. A mão já estava estendida na direção do botão que fecharia a porta quando ele mudou de idéia e entrou novamente indo em direção a uma das caixas. Hesitou por um momento, mas, sem pensar mais, retirou a pulseira da caixa e enfiou-a no bolso saindo em seguida.
Cena do próximo capítulo:
- Por que você não doa tudo? Dá um jeito naquilo, é tudo seu também... eu sei que é inútil guardar, então por que você não cuida disso?
Heero pensou por alguns segundos e com a voz fria de sempre, respondeu:
- Sem problemas. Amanhã mesmo eu faço isso.
