Nenhum produto aqui mencionado me pertence. Saint Seiya pertence ao tio Kurumada e Cia! Presente de aniversário para Amy! Atenção!É Yaoi, se não gosta do gênero, não continue!


Decepções

– Boa tarde, meu nome é Shun Amamiya e gostaria de falar com o Hyoga. – Shun fala pelo interfone da mansão.

– Não conheço nenhum Amamiya. O senhor marcou hora? – Tatsume pergunta raivosamente de dentro de casa.

– Não. Eu vim ontem com o meu irmão, Ikki Amamiya... Sou o rapaz de cabelos verdes que ficou conversando com o Hyoga.

– Infelizmente o patrão Hyoga está na aula de ballet.

– Ah sei! Que horas ele volta?

– Ele não vai voltar, pois a aula é aqui mesmo, na sala de dança da mansão, mas ele não pode e nem deseja ser interrompido e não vai terminar tão cedo. Portanto, passe outro dia, ou melhor, esqueça que um dia você pisou nessa casa. Tenho certeza que ninguém vai sentir a sua falta!

– Tudo bem, obrigado. – Shun despede-se e volta para casa.

Era bom demais para ser verdade. Desde o primeiro momento, Shun sabia que o menino rico nunca seria seu amigo. Afinal, o que ele poderia a oferecer a Hyoga, que já tem tudo? Certamente o loiro só o convidara por educação, mas Shun nunca deveria ter aceitado. Ele caminhava apressadamente para chegar em casa o mais rápido possível. Naquela região, não tinha muita opção de ônibus e as poucas linhas tinham brechas de uma hora de diferença entre os horários.

Havia gasto o dinheiro do lanche para comprar o passe extra, o que justificava a sua fome. Não comia desde as 5:30h da manhã, hora que sempre terminava o café para poder pegar o metrô, cerca de 40 minutos depois. Olhou o velho e cansado relógio de pulso. Já eram quase 2 horas da tarde e o cheiro dos lanches, salgados, doces eram uma tortura ao rapaz, que sabia que não poderia pagar por nada ali, ainda mais naquele bairro, onde cada produto parecia temperado com pó de ouro devido ao abuso nos preços. Só estava firme graças ao jantar na casa de Camus, que fora inesquecível e único.

Perdido em pensamentos, Shun acabou trombando com um homem de longos cabelos azuis encaracolados. Parecia ter a mesma idade de Camus, talvez um pouco mais jovem. O homem, de camisa e calça social, atrapalhava-se com um pacote volumoso, mas que não parecia ser pesado. Sem esperar retribuições, foi até o homem e com um sorriso simpático, perguntou:

– Precisa de ajuda?

– Se você não se incomodar... – respondeu o homem, sem poder ver o rosto do jovem, graças ao pacote que levava.

Shun prontamente pegou no outro lado do pacote e o ajudou a colocar numa camionete de última geração. Assim que pôde ver o rosto de quem o havia ajudado, o homem se surpreendeu.

– Nossa! Bem que eu tinha estranhado a voz... obrigado pela gentileza, rapaz. Nem sei como lhe pagar.

– Ah, que isso! Não foi nada. Agora se me dá licença, eu estou atrasado.

Shun sorri discretamente como cumprimento, mas seu estômago o trai e reclama de fome ao se aproximar do estranho. Envergonhado, o jovem abaixa a cabeça e decide andar ainda mais rapidamente do que antes. Tinha vontade de correr, se esconder... mas o homem o segura pelo seu fino braço e Shun engole o seco, esperando o pior.

– Pelo que pude perceber, você está com fome...

– Desculpe, eu não quero incomodar, estou indo pra casa.

– Você me fez um favor e eu devo retribuir. Venha, vamos tomar um café, um lanche, você escolhe!

– Desculpe senhor, mas eu realmente estou atrasado. E nem estou com tanta fome assim... – Shun é desmentido pelo forte ronco de sua barriga.

– Percebi que você não está com fome. Eu não vou te machucar... olha, eu me chamo Milo. Você tem um nome, não tem?

– Shun...

– Ah! Vejo que estamos nos entendendo, Shun.

– É que eu não gosto de incomodar.

Essa era só uma desculpa, mas na verdade, Shun estava tremendo por dentro, inseguro pelo contato com um estranho. Seu irmão sempre o alertava quanto a isso e agora temia estar em perigo. Sentia seu coração pular, as pernas fraquejarem, ainda mais diante daquele belo homem que exibia um largo sorriso. Não poderia negar que o maldito era simpático, mas quantos assassinos não se escondem por baixo de uma máscara de requinte, alegria e simpatia?

– Então você me ajuda e eu não posso te pagar um lanche? Oras, deixa disso!

Ouviu a insistência do outro. Sentiu-se encurralado, inseguro! Maldita mania de ajudar os outros... Sabia que se corresse, seria pior e, se entrasse, estaria perdido. Decidiu ser educado e esperar o pior. Se tentasse algo, seu irmão seria vítima também e não queria isso! Sentiu um nó na garganta, uma incontrolável vontade de chorar e respirou fundo. Aceitaria o convite por Ikki e, se sobrevivesse, se pudesse ver seu niisan novamente, esperava sinceramente que ele o perdoasse algum dia.

– Obrigado, senhor Milo.

– Não me chame de senhor! Eu sei que não sou mais nenhum garoto, mas não sou velho... – resmunga Milo.

Shun estava ouvindo direito? Aquele estranho estava realmente sendo simpático com ele? Sentia como se estivesse recebendo uma tortura de um anjo. Por fora, Milo era simpático, alegre, mas e por dentro? Não poderia ofender aquele homem. Seria pior!

– Eu não quis ofender, desculpa. – Shun responde envergonhado.

– Está perdoado. Agora venha!

Shun segue Milo até um café que tinha na frente do lugar onde estavam. Era um lugar muito fino e, certamente, seria muito caro. Novamente o sangue subindo à cabeça, o medo consumindo a sua alma. Por que ele? Sempre fora tão alegre, tão bom... Agora estava com a cabeça na guilhotina e não podia nem sentir ódio de seu carrasco, um homem que não o ameaçou uma única vez e conseguiria conquistar até o mais frio dos homens com aquele sorriso doce! Um anjo desgarrado que estava cada vez mais perto de seu objetivo. Pensou novamente no irmão, na tristeza que ele sentiria se algo lhe acontecesse, na culpa que depositaria em si mesmo por não estar tomando conta de seu irmãozinho e teve que conter a lágrima que insistia em cair. Tinha que sair dali de alguma forma e tentou ser convincente.

– Sen... er Milo, esse lugar deve ser muito caro. Eu não tenho dinheiro...

– Tem graça... Eu te convidei, eu pago! Não se importe com os preços, sirva-se à vontade. Ficarei ofendido se perceber que você está se recusando a comer por causa do preço, ouviu?

Agora começava a duvidar que aquele simpático homem pudesse ser perigoso, mas não cederia facilmente. Por que o mundo tinha que ser tão cruel? Por que somos educados a desconfiar até da mais pura das criaturas? Shun suspirou e deixou que seu destino o conduzisse. Aceitava o que a vida tinha lhe reservado! Afinal, quem era ele para discutir, para exigir algo dos céus? Decidiu ser simpático e fazer o que Milo lhe pedia, sem questioná-lo novamente.

– Já que insiste...

Shun senta-se à mesa para comer com o estranho e acabam tendo uma agradável conversa, fazendo o jovem se esquecer que estava com um estranho que poderia ser perigoso e deixar se envolver, mesmo assim logo percebe que tem que ir embora. Ele se despede do senhor à sua frente, agradece a refeição e parte apressado para sua casa. Como sempre, espera a chegada de Ikki e faz a janta. Enquanto comiam, o mais novo conta o que lhe havia acontecido naquele dia.

– Estranho... Achei que Camus fosse querer que vocês continuassem amigos, mas sabe-se lá o que se passa na cabeça desses milionários... falando nisso, me prometa que nunca mais vai aceitar convite de estranhos. Fiquei muito preocupado quando você me falou desse Milo.

– No início eu também fiquei com medo, mas ele pareceu ser gente fina.

– Shun, você é um rapaz bonito e simpático. Muita gente gosta de se aproveitar de pessoas assim. Eles seduzem e enganam rapazes de boa aparência pra colocar nas ruas, na prostituição, com direito a drogas de todo o tipo e conseqüências. Eu te amo muito e nunca me perdoaria se acontecesse algo de mal acontecesse contigo.

– Desculpe niisan, eu sei disso, mas não sabia o que fazer... fiquei com medo de ofende-lo e ele vir atrás de você. Se ele tocasse em você...

– Eu sei me defender, não se preocupe! Mas já passou e acho melhor esquecer isso. Você é muito inocente e tem muito que aprender. Agora eu preciso ir. Estou atrasado.

– Boa aula!

– Obrigado.

Ikki sai, mas em sua mente não pára de passar uma imagem do tal estranho. Felizmente não havia acontecido nada ao seu irmãozinho, mas ele refletia e temia pela saúde de Shun. Nem ele percebeu quando chegou à faculdade, quando terminou a aula!... Sabia que deveria prestar atenção, mas ficou o tempo todo preocupado com as informações absorvidas naquele dia; remoendo o perigo que seu irmão estava correndo, sentia medo de deixar o rapaz sozinho, por mais que ou outro ele já tivesse acostumado a isso.

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O novo brilho que Hyoga adquirira nos olhos voltou a se apagar com conseqüências catastróficas. Em apenas uma semana o loiro definhara física e mentalmente numa velocidade desesperadora. Nem mesmo as aulas de ballet foram exceção. O rapaz sempre foi considerado um gênio da dança, com um talento nato e porte único graças à sua boa educação. Quando estava no palco, parecia um príncipe encantado e causava muita inveja e admiração em qualquer um que o assistisse. A leveza, a graça, eram seus pontos mais marcantes, mas em nenhum momento deixavam o rapaz menos masculino. Infelizmente, o jovem estava perdendo todo esse encanto!...

Hyoga não entendia o que estava acontecendo, por que o novo amigo não o havia procurado. Começou a lembrar de Shun, da sua alegria e vivacidade e logo obteve a resposta. Por mais rico que fosse nunca poderia comprar a felicidade e agradar um jovem tão especial como aquele. Tinha muitos bens materiais e poderia comprar o que quisesse, mas nunca chegaria aos pés do outro, nunca seria digno da amizade daquele rapaz simpático e energético. Começou a punir-se mentalmente por ter acreditado na promessa do outro e decidiu nunca mais confiar em ninguém, trancando-se definitivamente no quarto.

Camus, vendo a sombra da morte atrás de seu filho, não resistiu àquela tortura e o levou aos melhores médicos do país, mas não havia o que fazer. Não havia doença! Tentou usar sua fortuna para descobrir um meio de salvar a vida de seu menino, mas logo descobriu que não havia cura e já começava a contagem regressiva para o velório de seu único filho. Usou de toda a frieza que tinha para não demonstrar o medo ao rapaz e decidiu conversar com ele, como um verdadeiro amigo.

– Hyoga, meu filho! Diga-me, o que está acontecendo?

– U q-q-que e..eu... f-fi..iz? P-p-p-por que ni-inguém gó…sta dii m-mim?

– Eu te amo, Hyoga! Daria a minha vida por você.

– E-eu.. s-sei. M-mas... n-não te..nho ami-igos.

– Mas e o Shun? Você não gostou dele?

– S-sim... m-mas... e..ele n-não ap-pares-ceu m-mais...

– Pode ter acontecido alguma coisa. Olha, eu prometo conversar com o irmão dele amanhã. Tenho certeza que foi um mal-entendido ou algum problema mais sério.

– S-s-se..rá?

– Confie em mim. Agora por que você não sai um pouco desse quarto, come alguma coisa... não quer que o Shun lhe veja doente, quer?

– N-não qu-ero n-na..da.

– Filho...

Camus abraça Hyoga fraternalmente, tentando passar um pouco de sua esperança ao jovem. Sempre pensou com a razão, mas o seu instinto de pai mostrava que ele devia passar seus bons sentimentos ao garoto. Iria descobrir um meio de trazer o alegre Shun para dentro de sua casa novamente, nem que precisasse pagá-lo para isso!

A Hyoga só restou confiar no pai e tentar manter um pouco de esperança, mas não conseguia! Nos últimos dias andava sonhando com sua mãe, tendo pesadelos e lembrando da forma como ela havia morrido. Suas olheiras e seu cansaço eram mais do que evidentes. Quem o visse, acharia que o loiro estivesse gravemente doente – talvez até canceroso – o que não era de todo mentira. Seu câncer era muito mais grave que qualquer câncer real, pois estava destruindo a alma, o seu eu interior!

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– Me chamou, senhor Camus?

– Sente-se! O que eu quero falar com você não tem nada a ver com o trabalho, mas é muito importante.

– Pode falar.

– Por favor, encoste a porta. Não quero que ninguém ouça!... É algo particular.

Ikki prontamente obedece às ordens e olha o chefe atentamente. Camus pigarreia, numa tentativa de criar coragem e começa a perguntar, de forma impassível.

– Está tudo bem na sua casa?

– Sim! Está tudo normal, por quê?

Nesse momento, um leve desespero abateu sobre Ikki, que achava que daquela conversa resultaria a sua demissão. Não havia feito nada que justificasse tal atitude do patrão e sabia que a empresa estava crescendo muito. Logo se lembrou de Shun e Hyoga, suspirou fundo e ficou nervoso. Sabia que Camus poderia fazer algo por causa da intromissão de seu irmão mais novo e começou a suar frio.

Camus, alheio ao nervosismo do empregado, tentava parecer imparcial e arranjar um meio de descobrir o motivo do desaparecimento de Shun. Suspirou profundamente.

– Por que Shun não voltou à minha casa?

– Ele foi. Um dia depois da nossa reunião, ele voltou à sua casa, mas não pôde entrar. Avisaram que o seu filho estava na aula de ballet e demoraria. Mandaram-no ir embora como se expulsa um cão sarnento!

Ikki estava com isso entalado na sua garganta. Andava muito preocupado com o irmão, que ficara extremamente triste por ser tratado de forma tão cruel. Não lhe ofereceram um único pedaço de pão. Simplesmente haviam maltratado o rapaz, que ficou à mercê de um estranho. Poderia ser demitido por isso, mas não pouparia o patrão de ouvir tudo o que ensaiara dizer e, se preciso, terminaria dando um potente soco no rosto daquele francês maldito.

– Mas Hyoga disse que o Shun não apareceu...

– Olha, eu não sei o que você quer com o meu irmão, mas não vou deixar que o machuquem novamente. Eu estou vendo o quão triste ele anda, marcado pelo preconceito, pela tristeza, pelo egoísmo!... Saiba que ele deixou de almoçar para poder ir à sua casa e, se não fosse por causa de um estranho, sabe-se lá a hora que ele conseguiria sanar a fome.

– Meu Deus! Eu não sabia disso, juro...

– Olha, senhor Camus, você pode fazer o que quiser comigo, mas não quero ver o meu irmão chorar novamente. Eu sei que depois dessa conversa eu estarei demitido, mas saiba que sou capaz de dar a vida pelo meu irmão. – Ikki esbravejava em pé, dando de dedo no patrão.

– E eu pelo meu filho!...

Ikki olhou novamente o homem à sua frente e percebeu uma discreta lágrima percorrer seu rosto. Fazia o impossível para acalmar-se, pois percebeu que Camus estava sendo sincero e talvez não tivesse nada a ver com a história.

– Meu filho está morrendo, Ikki!... Morrendo de tristeza. Ele realmente gostou do seu irmão... ficou tão triste pelo sumiço dele que entrou em depressão profunda e está definhando de forma assustadora.

– Meu irmão também anda depressivo e melancólico, chorando por qualquer coisa!... – falou de forma melancólica, muito mais calmo.

– Vamos passar uma borracha nisso tudo e tentar novamente. Eu darei ordem para que Shun seja recebido em minha casa sempre! Independente da hora e mesmo na minha ausência. Por favor, eu lhe peço! Pagarei os gastos com transporte, mas não faça seu irmão abandonar o meu filho.

– Não posso prometer nada... conversarei com Shun e ele decidirá.

– Obrigado! Seu irmão é a minha única esperança. Pense nisso!

– Certo. E quanto ao meu emprego?

– Não haverá mudanças. Pode continuar tranqüilamente e desculpe pelos transtornos!

– Ok, licença então!

Camus faz um sinal com a cabeça, autorizando a saída de Ikki. Iria descobrir o que estava acontecendo em sua casa. Porque Shun havia sido expulso daquela forma!... Seria capaz de mandar embora o responsável pela desgraça de seu filho, pois admitira a atitude como uma tentativa de homicídio.


Reencontro

– Sh-shun? V-v-vos-cê ve-eio ?

– Nossa, você está bem? Está tão magro, tão... sei lá! Caidinho.

– Eu... n-não qu-ero f-fa..lar ni-isso!

– Entendo! Olha, por que não fazemos um passeio pelo seu jardim? É tão agradável, lindo!... Adoro poder sentir o perfume das flores, ouvir o canto dos pássaros, ver as diferentes formas de vida que alegram e colorem a natureza de um modo geral. Venha, Hyoga, vamos correr e sentir o vento em nossos rostos, em nosso corpo. – Shun fala de forma alegre, estendendo a mão ao amigo.

Hyoga sorri. O menino havia voltado! Como ele sentiu falta daquele sorriso, daquela voz tão doce e infantil. O jeito simples e descontraído do rapaz que estava a seu lado... Sentiu como se a sua vida voltasse ao seu corpo. Todo o seu metabolismo reagia àquele menino tão delicado, vivo, tão alegre! Talvez o estivesse adotando como um irmão que nunca teve, um gêmeo idêntico que completava a si mesmo. Sentiu prazer em acompanhar Shun, mas deixou que ele criasse um monólogo ao qual o loiro prestava atenção a cada detalhe, como se fosse uma melodia agradável.

– T-tá c-com.. f-fome?

– Aceito um lanche sim.

– V-v-ve..enha!

Os dois vão correndo até a cozinha, onde Hyoga pede sanduíches aos dois e manda servir Coca-cola. Enquanto esperam, começam a brincar entre si. Shun logo dispara a falar e o loiro resolve observa-lo atentamente. Parecia uma criança pronta para ouvir uma história! Os olhos brilharam, demonstrando a sua curiosidade, o seu encanto pelo interlocutor e nem percebia o tempo passar. O mesatenista por sua vez, empolgava-se cada vez mais nas histórias e só parou ao perceber que o lanche estava pronto.

Foi com grande prazer que os meninos comeram, não só o sanduíche, como enormes fatias de um bolo sonho de valsa feito pelos cozinheiros da mansão. Passaram o dia andando e brincando nos jardins da enorme residência como verdadeiras crianças. Mal viram o tempo passar, tamanha era a alegria, mas infelizmente havia chegado o momento da despedida, o momento onde Shun voltaria para sua casa, para a sua rotina de gata borralheira.

A amizade só se fortalecia a cada dia. Camus logo descobriu que Tatsume era o culpado por ter maltratado Shun e o despediu, como o prometido. Ao investigar a fundo, constatou, horrorizado, que o mordomo havia feito isso numa tentativa de aproximar Hyoga de sua filha Saori e dar o golpe do baú. O francês contratou Alfred, um mordomo inglês com boas indicações e não se arrependeu nenhum pouco. Para felicidade do empresário, apesar do jeito frio do novo mordomo, Hyoga logo afeiçoou-se ao inglês e sentia-se mais à vontade em ficar ao seu lado do que quando tinha que falar com Tatsume. Outra boa notícia foi a pequena melhora da gaguez do loiro, mas que sempre regredia quando ele ficava nervoso.

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Depois de 2 meses de amizade, Shun já circulava pela mansão como se fosse um dos proprietários da casa. Ainda com o uniforme da escola, que era a combinação de uma camiseta de algodão e uma calça de poliéster, o mesatenista procurava pelo amigo. Alfred informou que Hyoga estava ensaiando na sala de dança que ficava no térreo da casa – lugar onde o visitante ainda não tinha tido a oportunidade de conhecer.

Ao chegar à sala de dança, silenciosamente o rapaz de cabelos verdes retira os sapatos e entra de meia. O loiro estava ao centro do salão com uma malha e alegra-se ao ver a entrada do amigo.

– Ah! Oi.. Sh..shun!

O loiro tira a franja dos olhos e encara Shun com um sorriso aberto. A sua verdadeira vontade era ir abraçar o mesatenista, mas estava muito suado e contentou-se em cumprimentar de longe. Não queria que o amigo tivesse nojo de si.

– Soube que você tava ensaiando, mas acho que cheguei atrasado... É uma pena realmente! Gostaria tanto de vê-lo dançar...

– Sii.. v-você qui-izer, eu... r-rep re..pito. – o bailarino fala com um sorriso encantador.

– Você faria isso por mim? Eu amo assistir espetáculos de dança! – declara Shun alegremente.

– S-seria um p-pra.. prazer!

Shun senta em um canto onde não atrapalharia o espetáculo e exibe um enorme sorriso no rosto. Um sorriso que Hyoga adorava ver. Curioso, o mesatenista pergunta:

– O que você vai dançar?

– A m-mesma va.. varias-ção que t-tava dançando a... antes de vos-cê ch-chegar. – diz de forma sorridente.

Hyoga começa a dançar uma pequena variação masculina de Le Corsaire. Numa tentativa de impressionar Shun, dança divinamente, com uma expressão magnífica, demonstrando toda a sua leveza e segurança. Apesar de o bailarino estar concentrando todos os seus esforços para não errar, o amigo não percebe o sacrifício de Hyoga. Mesmo assim, o mesatenista acompanha os movimentos encantado com cada gesto. Quem vê o garoto, jura que estava hipnotizado pela dança e suavidade do loiro.

Ao perceber a forma que Shun o acompanhava, o bailarino conclui com graciosidade, delicadeza e técnica, fazendo a reverance em seguida. Shun bate palmas, emocionado pela apresentação.

– É lindo, Hyoga! Estou sem palavras... Você tem a suavidade de um anjo. Queria aprender a dançar assim.

Ao ouvir as palavras do amigo, o rubor toma conta das faces afogueadas do dançarino. Sem saber o que falar, Hyoga fica cabisbaixo, procurando algo muito interessante nas pontas de seus pés. Ainda sem encarar Shun, declara nervosamente:

– É... e-eu... eu... eu n-não s-sei se... d-da.. da... daria um b-bom p-po..pro.. p-prof-fessor... m-mas pos...pos.. posso t-tent tent.. tentar.

– Dançando desse jeito e conhecendo todas essas técnicas, é claro que você seria um bom professor. Eu que não seria um bom pupilo... – mostra as mãos – Minhas mãos são calejadas pela vassoura e eu nunca teria a graça e a suavidade que você tem.

– V-você j-já é su..av-ve! É u-um me... me... – Hyoga aperta os olhos e começa a estalar os dedos, demonstrando que não conseguia lembrar a palavra.

– Mesatenista?

– Isso! – Confirma o loiro, que continua alegremente – Da..ria um b-bom a.. a.. aluno s-sim. – Finalmente o dançarino encara o amigo nos olhos, demonstrando um brilho intenso em seus orbes azuis – Qua..Quando co-omes-çamos?

– Eu ainda tenho uma hora antes de voltar para casa. Se você não se importar...

– Ó-ót ótimo! Cla-aro q... n-não me.. i...imp importo...

Shun sorri docemente e fica ao lado de Hyoga.

– Por onde eu começo?

– V-vem pa.. pra b-ba.. ba..barra. – Vai andando em direção à barra com uma postura impecável que Shun tentou copiar, em vão, ao segui-lo.

Hyoga fita o amigo dos pés à cabeça e tenta organizar seus pensamentos. Não sabia exatamente por onde começar, mas sabia que teria muito trabalho pela frente. De um modo gentil e sério, resolve começar a aula.

– V-vam.. vamos c-começar c-c-c... com o pé. T-tan..tan...t-tan-dí (1)!

Shun pisca os olhos e espera pela reação do bailarino, demonstrando claramente que não havia entendido o pedido. Hyoga, por sua vez, percebe o erro que havia cometido. Além do amigo não saber falar francês, não sabia os nomes dos passos e, conseqüentemente, não imaginava o que deveria ser feito – seria muito mais complicado do que o bailarino supunha, ainda mais com um professor gago! Um pouco nervoso e com as faces avermelhadas, tenta uma forma de ensinar-lhe como deveria prosseguir.

– Er...

Sem saber como explicar de forma plausível, o loiro decide mostrar a seqüência que Shun deveria imitar. Hyoga estica o pé à frente do corpo, mostrando a ponta, o pé da base totalmente esticado e as duas pernas e os dois pés devidamente abertos (Não afastados. Apenas abertos). Shun tenta copiar o movimento, mas tem um pouco de dificuldade e rapidamente volta à posição que estava antes, demonstrando todo o seu constrangimento.

– Eu disse que não levava jeito! – abaixa a cabeça e ameaça sair, mas é impedido por Hyoga, que segura seu pulso com firmeza e o encara com certa severidade no olhar.

– E-eu... n-nem c-consegui v-ver di... di..direito. – afirma um pouco envergonhado e sorri confiante – R.. re.. re...rep-pete aí p.. preu... c-co...corri..gir!

– Tem certeza? Eu sou muito desengonçado...

– N-nada! V-você c-con..segue. Vai!

Shun fecha os olhos e tenta copiar o movimento mentalmente, mas muito inseguro de si mesmo. A cada milímetro que se move, tem certeza que está fazendo algo errado e espera pela bronca de Hyoga a qualquer momento. Percebendo que o amigo ainda não havia se manifestado, abre os olhos e espera inquietamente a opinião do bailarino, que lhe dá um sorrisinho de canto de boca.

– V-você tem.. u-um b-belo pe..pe... peito d p-pé. M-mas te..tem... temos c-coi.. coi...sin-nhas pa... pra co..rrigir... C-claro!...

Como Shun havia esticado a perna direita, o loiro se abaixa e segura o pé do amigo, virando de modo que o calcanhar fique para cima, apontando a parede para o lado da perna esquerda. Estava acostumado a ser tocado daquela forma e fazia tudo automaticamente, ao contrário de Shun, que acompanhava tudo com curiosidade. Hyoga pousa a mão sobre o joelho do amigo e depois sobre o outro, para esticá-los. Em seguida, abre a perna de base para ficar igualmente aberta.

– A f-for.. força pa..para ab-abrir o an... an.. ande ór n-não... v-vem do p-pé, Sh-shun. P-por i-isso v..você se... di...di...desequib-bra! T-tem q.. v-vir a.. a... abi.. abrindo d-desde.. a.. a... a vi..rilha...

Inocentemente, o bailarino passa a mão pela parte de dentro da coxa de Shun, abrindo, e depois estica de novo o joelho de base do amigo. O mesatenista sente cada vez mais um grande calor a cada toque mais ousado do loiro e o acompanha cada vez mais arrepiado. Desconhecendo o poder do toque de um estranho, não consegue entender o que estava acontecendo consigo. No fundo, Shun sabe que aquele sentimento é algo novo, que ele nunca havia experimentado anteriormente e não um amor entre irmãos. Tenta lembrar que são apenas amigos, mas perde-se naqueles sorrisos, nos perfeitos olhos azuis!... O toque do loiro parece terrivelmente quente ao mesatenista a tal ponto que o rapaz pensou que a mão de Hyoga fosse feita de brasas, mas Shun gosta da sensação e tenta não demonstrar seu desconforto. Alienado às reações do amigo, o dançarino continua corrigindo, pois era acostumado a ser tocado daquela forma por seus professores e nem imaginava as reações que o outro estava tendo.

– I..isso! Agó.. agó-ora u tronco! Pe..pe... p-prende a.. b-ba..barri..iga i.. e o ta..ta...tras.. traseiro, s-sim? – Encaixa a barriga e o traseiro de Shun para dentro – a... alonga u..u... o pe..esc-coço... a..as có..ostas... isso...

Shun já começava a suar. Constrangido, pergunta:

– Nossa!... É impressão minha ou está quente aqui?

Hyoga sorri, mas não percebia o motivo do amigo já estar suando. Inicialmente acredita ser devido ao nervosismo, o medo de errar e brinca:

– J-já su..ando? Q-quando.. ch-chegar no.. c-cent... centro e..ent-tão... – Segura os ombros de Shun, posicionando-os e percebe o quanto a amigo estava tenso. Preocupado, encara-o nos olhos e continua a falar. – Tu..do bem? Vo..cê n-não.. e..e...stá se... esf esfor-çando di..m-mais?

Shun sabia que aqueles movimentos não eram nada perto do que ele estava acostumado. Sempre foi um rapaz ativo e saudável e não seriam movimentos tão simples que o deixariam naquele estado! Ao perceber o amigo, tentou acalma-lo. Numa tentativa de explicar a sua reação, falou tudo num gatilho só, sem muitas pausas.

– Tudo bem, os nossos treinos na equipe de tênis de mesa também são muito pesados e como você sabe eu tenho mania de varrer a casa, se bem que aquela caixa de fósforos onde eu vivo com o meu irmão nem dá tanto trabalho assim. – sorri nervosamente e confessa – na verdade, fora o Ikki, ninguém mais me toca... sou meio tímido e desacostumado ser tocado...

– Ah... pe.. p-pelo menos e...está aco..ost-tumado a se.. i..i...sfors-çar... e... – começa a ficar vermelho e nervoso – Ti i..inc... inc... incomo-oda u... f-fato di.. e-eu... eu... eu ti to..c-car? N-não... não po...p-posso ti co..rrigir s-sem t-to...toc-car... – põe a mão de Shun na cintura, mesmo por que planeja ensinar os braços depois, jogando o cotovelo para frente, sem deixar que Shun levante os ombros.

– Não sei se incomoda, mas eu me sinto estranho... desculpa, tentarei ser mais esforçado. – respira fundo e tenta deixar a mente vazia – Aliás, eu não sou nenhum menino pra ficar constrangido com o toque de um amigo. Vá em frente e faça o que tem que ser feito!

– Vo..cê até que... e.. stá si.. i... isf isfors-çando de..mais pa... p-pa.. prum i..inic-ciante. E... t-ta.. tu..do b-bem... a..a... agora v-volta o p-pé pru.. pro la-ado du... outro s-sem di... dis... dism-manchar t-tudo.

– Ahn? Vou torcer o meu pé assim!

– Hihihi... N-não, não v-vai. Qua...ando v-você e..stica, tem... que ir pi... pi... primeiro u.. u... c-calc... calcanhar e... dep-pois us de..dos. Q-quando f-fecha, v-voltam pri..imeiro us... dedus i... de..p-pois u.. calc-canhar. Us dedos si.. si... se arrast-tando no ch-chão. Tente!

Timidamente, Shun tenta fazer os movimentos que Hyoga indica. O loiro observa tudo atentamente.

– Não Sh-shun, não... p-podi... re..rebolar... – ri carinhosamente – M-mas... v-você foi.. b-bem.

– Jura? Isso é muito difícil... parecia tão simples quando você dançava... – Shun fala, indignado.

– N-nossa i..i...inten-ção é... es-sa m-mesmo. t-tem q... p-pa.. pa... parecer f-fácil... n-não po.. po... pod-demos d-de..dem-monstrar u... u... sf-forço, t-te..emus qui.. s-ser le-eves... – esclarece de forma gentil e carinhosa.

– Entendi! – O mesatenista se alegra, mas logo volta a ficar sério – Bom, devo estar te incomodando e atrapalhando, né?

– N-não me...esmo! Di... o..onde ti..ti...tirou é... é...ssa i..d-déia?

– Você estava ensaiando e eu vim aqui, interrompi o que estava fazendo e ainda te pedi pra me ensinar a dançar, mesmo sabendo que não levo jeito nenhum. Olha, eu juro que não vou te atrapalhar mais, nunca mais!

– C-calma! É as-sim m-mesmo... ni..ni...ninguém a..ap..apre-ende d-dançar d-da.. da... da n-noite p-pro di-ia.

– Eu sei e nem pretendia isso, mas...

– Não precisa se envergonhar, garoto! Você tem futuro nisso. Olha, eu devo confessar que mesmo depois de quase enlouquecer os meus professores numa inútil e insana tentativa de aprender a dançar, eu não consegui grandes coisas...

Uma grossa voz masculina invadiu o ambiente. Hyoga rapidamente identificou a pessoa e abriu um largo sorriso, indo correndo abraçar o homem que entrava na sala de dança. Shun o olhou e se arrepiou ao ver aquele homem, era Milo! Era o mesmo homem que lhe pagara um lanche no dia que Tatsume o enxotou da mansão de Camus.

Pasmo, sem reação, viu a intimidade entre Hyoga e o estranho. Assustou-se ao ouvir o loiro chamar o homem de tio e ficou imobilizado, temendo a reação de Milo, que se aproximou com o mesmo porte e classe que sempre apresentava, além do seu conhecido sorriso. O homem de cabelos azuis cumprimentou o mesatenista.

– Boa tarde, Shun. É esse o seu nome, não é?

– É-é... – respondia constrangido, temeroso.

– O que foi? Está tudo bem?

– T-ta... – o jovem fechava os olhos e se comprimia contra a barra, como se esperasse algum gesto de violência.

– Sh-shun! E..esse é... m-meu t-t-tio. N-não p-pe... pe...

– Não precisa temer! É isso que você ia falar, não é, Hyoga?

O loiro confirma com um movimento de cabeça e se aproxima de Shun, pegando a mão do amigo e deixando-o mais aliviado. O mesatenista abre os olhos e encara o sorriso maroto do homem. Ensaia um sorriso tímido e cumprimenta.

– Boa tarde, Milo! Desculpa a minha reação... Não devia ter feito isso depois daquele dia que você me ajudou, mas fiquei com medo. Meu niisan me ensinou a nunca confiar em estranhos e... bem, você sabe...

– Sei!... – Milo da uma gargalhada gostosa e começa a mexer nos cabelos de Shun, de forma travessa – Ele tem razão! Você é um menino muito bonito, meigo e deve ser muito cobiçado por aí. Não é difícil encantar-se por você, mas fique bem claro... esse negócio do Hyoga me chamar de tio, não deve ser levado a sério. Eu sou só um amigo do Camus. Nós fomos criados juntos, mas não temos nenhum grau de parentesco. Não tenho culpa se o francês resolveu ter filho antes da hora e o ensinou a me chamar de tio...

Os meninos sorriem. Aquele homem era bem alegre e divertido. Shun apressou-se em contar todos os detalhes de como se conheceram, o que deixou Milo perplexo. O jovem tinha uma memória fotográfica e descrevia tudo com uma riqueza de detalhes impressionante. Nem ele mesmo lembrava de muitas coisas que o jovem havia dito.

Numa tentativa de animar Shun, Milo contou a própria experiência no ballet. Aos 9 anos, ele havia resolvido se juntar a Camus, que já dançava desde os 4. No início brincava muito, mas depois resolver tentar fazer tudo a sério. Infelizmente não tinha talento nenhum e nem depois de muito treino conseguia fazer posições razoáveis. Sabia que era alvo de piadas entre sua turma e, mesmo que o francês não falasse, tinha vergonha de si e o grego não queria decepcioná-lo – motivo pelo qual abandonou a dança. Surpreendentemente, fez grande sucesso nas aulas de Kung Fu e Kendô, o que lhe rendia, ainda hoje, vários títulos de primeiro lugar.

A aula de dança já havia terminado em definitivo, já que as histórias daquele homem estavam despertando grande interesse nos garotos. De forma meteórica, Shun já havia ganho intimidade com Milo e descobriu que o homem era grego, motivo pelo qual tinha um sotaque estranho ao falar o japonês. Hyoga participava animadamente da conversa, sem sentir-se constrangido, mesmo quando o grego terminava as frases por ele. Para evitar que o mesatenista fosse embora tão cedo, Milo se ofereceu para levá-lo em casa e o bailarino empolgou-se para ir junto. Apesar de uma inicial relutância, o garoto de cabelos verdes decidiu aceitar a proposta e continuou com as conversas e as brincadeiras.


Primeiramente quero agradecer ao apoio de todos e revelar que pretendo sim fazer um Milo/Camus. A fic será atualizada semanalmente e a previsão de término é ou 8 ou 15 de julho, pois a Amy viajará no dia 18 de julho pra comemorar seus 15 anos. Por isso, algumas coisas acontecerão meio rápidas. Espero que continuem acompanhando e gostando. Quanto ao Ikki, não terminará sozinho, mas também não vou revelar quem será o parceiro(a) dele agora. Obrigada pelo carinho e pela compreensão. Até a próxima!

Para preservar a gaguez de Hyoga, propositalmente, eu escrevi algumas palavras erroneamente, como deveria ser a pronúncia delas. Os termos de dança, que têm origem francesa, são um exemplo disso. Com a ajuda da Amy, que é a homenageada pela fic, escrevi as palavras e expressões da forma como o nosso bailarino falaria. Aliás, eu fui má e só deixei ela ver a cena da "aula de dança" – cena, aliás, que o nosso bebê fada me ajudou a construir sem saber a utilidade que teria, mas depois acabei falando que pretendia dar a ela esse presente de aniversário. Abaixo, segue o verdadeiro significado e como se escreve: (1) Tandí: (tendu) Esticar, esticado


Próximo capítulo: Shun adoece