Epílogo
– Niisan?
– Oi Shun, tudo bem?
– Tudo. Percebi que você anda meio aéreo... O que foi?
Desde o dia que Emi estivera em seu apartamento, Ikki havia mudado seu comportamento, suas atitudes. Ultimamente ele andava distraído e até um pouco desastrado. Estava passando por algum desafio, algum momento difícil certamente, mas não se abria e, a cada dia, parecia mais triste e depressivo. Mas não incomodaria Shun com os seus problemas!
– Nada. – respondeu o mais velho, virando-se na cama.
Shun, entretanto, sabia que algo incomodava o irmão, pois não o estava reconhecendo. Aquele não era Ikki! Estaria o irmão passando por algum problema? Estaria doente? Preocupa-va-se e muito, por isso decidiu descobrir o que estava acontecendo. Desconfiava ter algo a ver com um amor platônico ou não correspondido, mas preferiu confirmar. Sentou-se ao lado dele e o encarou nos olhos.
– Eu te conheço, niisan! – falou num sorriso terno.
– Ok!... – suspira.
Chegara o momento. Tinha que desabafar com alguém. Sentia que não poderia mais se conter, pois seu coração estava apertado, precisando de apoio e esperança. De uma forma contida e levemente melancólica, continuou falando com o caçula.
– É a Emi. Acho que estou gostando dela.
– Você acha? Pensei que já tivesse se declarado! Percebi o quanto você a ama... Está estampado em sua testa, em letreiros néon. Qualquer um percebe... Niisan, eu sei que sou apenas um adolescente, mas também sou seu irmão e quero muito o seu bem. Por isso acho que deve procurá-la.
– Mas ela gosta de outro...
– E daí? Lute por ela.
– Mas não seria honesto... Eu não devo atrapalhar um romance, uma história de amor...
– E ficará sofrendo? Vivendo de restos? Niisan, você é adulto, bonito, inteligente, responsável e tem todo o direito de ser feliz. Sei que seu passado amoroso não ajuda, mas confie em si mesmo! – põe a mão no ombro do irmão – Pegue o telefone, marque um encontro, declare-se e, se tudo der errado, lembre-se que tem um irmão disposto a ouvi-lo e apoiá-lo.
Ikki não acreditava ser merecedor da felicidade. Foi acostumado às amarguras da vida e só resistia a tudo por causa de seu irmão. Ver o sorriso do Shun lhe dava forças para continuar firme e nunca desejar a morte. Olhou o jovem de cabelos verdes à sua frente e ficou muito feliz ao ouvir o incentivo que este estava lhe dando, via o quanto seu irmãozinho havia crescido e estava muito orgulhoso dele. Sorriu verdadeiramente e sentiu que seus olhos começaram a juntar lágrimas, sua voz trancou-se, embargada pelos sentimentos que imploravam para ser aflorados e exteriorizados.
– Shun...
– Vai lá, niisan! Seja feliz. – sorri.
– Obrigado, Shun. – abraça o caçula.
– Pode contar comigo, sempre! – retribui o gesto, sorri de forma confiante e dá um beijo na bochecha do irmão.
XXXXXXXXXXXXXX
– Boa tarde, a Emi está?
– Sim, está. Quem deseja? – perguntava uma voz feminina desconhecida do outro lado da linha.
– Sou Ikki Amamiya, um colega da faculdade.
– Ikki? Minha filha já falou muito de você! É um prazer conhecer-lhe.
– Verdade? – perguntou surpreso, mas logo tentou ser novamente sério e foi vítima de uma timidez repentina. – Desculpe pela minha reação eu...
– Tudo bem. Vou chamá-la, licença. – respondeu, rindo internamente.
– Obrigado.
Ikki não estava se reconhecendo. Como fora travar numa simples conversa com a mãe de Emi? O que ela pensaria dele? Não teria como voltar atrás e sabia que havia errado e que isso poderia custar-lhe muito caro. Ainda tremia e punia-se mentalmente quando foi desperto pela voz angelical de sua amada.
– Ikki? Vim assim que minha mãe me chamou. Tudo bem?
– Tudo.
Sabia o que teria que fazer, era só convida-la para sair, mas agora estava inseguro! Já havia errado com a mãe da garota e, se errasse com Emi... Não! Não poderia pensar nisso. Visivelmente nervoso, Ikki usou de toda a sua força para continuar a sua sondagem. Decidiu por não convida-la, mas tinha que descobrir as suas chances.
– Eu gostaria de saber... Você tem algum compromisso sábado à tarde?
– Não. Por quê?
– Poderíamos... ir ao cinema... Que tal?
– Mesmo? – pergunta empolgada, mas logo se contém – Bom, eu vou dar uma olhada no que está passando e, se você não se importar, compro os ingressos, para garantir. Depois a gente se acerta.
– Tudo bem. Eu passo na sua casa...
– Eu passo na sua. E sem discussão!
– Ok! Teremos que sair uma hora antes para chegarmos a tempo. Você sabe como são os meios de transportes no fim de semana e pegaremos 2 ônibus e o metrô.
– Desencana! Eu irei de carro...
– De... carro?
– Algum problema? Também é adepto da frase: "Mulher no volante, perigo constante?". Não sou barbeira, pode ficar tranqüilo!
– Não é isso, mas...
– Então está combinado! Eu vejo os horários do cinema e te ligo mais tarde.
– Ok! Até mais.
– Até logo, tchau.
XXXXXXXXXXXXXX
– Adorei o filme.
– Muito cômico mesmo...
– Cômico? Era uma tragédia! Você nem prestou atenção.
– Claro que prestei. Mas é que esses filmes hollywoodianos são cheio de frias e...
– Qual a cor do carro do mocinho?
– Cinza.
– Vermelho, Ikki. Vermelho!
– É, acho que eu estava um pouco distraído então...
– Um pouco? A menos que você seja daltônico, não assistiu nada!
– Desculpe! Estava pensando em outras coisas...
– Tudo bem. – sorri. – Vamos tomar um lanche?
– Vamos. O que você quer?
– Se você pagar a minha refeição ficarei ofendida.
– Mas você já está gastando com gasolina e...
– Escute, cavalheiro! Eu sou uma mulher moderna e odeio depender do dinheiro alheio. Portanto, se for para sair comigo, terá que se acostumar a dividir as despesas.
Ikki não acreditava no que estava ouvindo. Nunca imaginou essa reação de uma mulher, ainda mais por saber que Emi estava acostumada a ser mimada pelos pais. Era a única menina da casa, dançarina, estudiosa e sempre teve tudo o que quis. A máscara de patricinha estava caindo e revelando uma menina cada vez mais espontânea, divertida e irreverente. O rapaz não percebeu o momento em que começou a sorrir, admirando-se das qualidades da jovem.
– Você fica lindo quando sorri...
– Você acha? – responde levemente corado.
– Acho.
Ikki lembrou-se da conversa que tivera com Emi e da confissão que ela havia feito. Depois de um pequeno silêncio, perguntou, sem conseguir encara-la nos olhos:
– Já se declarou ao seu príncipe encantado?
– Ainda não.
– Por quê?
– Tenho medo do que ele vai pensar de mim... Uma mulher não deve ficar se oferecendo.
– E depois diz que é moderna...
– Digamos que tive uma educação tradicional nesse ponto.
– Pode parecer estranho ouvir isso de um homem, mas eu acho que você não deve pensar assim. Sempre tem homens tímidos... Às vezes a pessoa que você ama pode estar correspondendo o amor de forma platônica por medo de levar um fora.
– ...como seria a sua reação se uma menina se declarasse?
– Não sei, depende da menina... e do momento. Mas eu não acharia galinha se uma moça como você se declarasse. Qualquer idiota reconhece uma mulher vulgar de longe e você certamente não corresponde a esse perfil.
– Entendo... E obrigada pelo elogio... Bom, vou pedir uma pizza. O que quer?
– Olhe só a promoção! Podemos pedir o tamanho intermediário e dividir depois. Vem com um refrigerante de 1 litro...
– Boa idéia! Pediremos dois sabores diferentes...
– Alguma preferência?
– O que fizer parte da promoção e uma Coca-cola.
– Eu peço então!
– E eu partirei à caça de uma mesa.
– Ok! – responde sorrindo.
XXXXXXXXXXXXXX
O tempo havia passado e agora estávamos no dia 16 de janeiro, há exatos 7 dias do aniversário de 15 anos de Hyoga e faltando pouco mais de duas semanas para que Milo fosse liberado para ficar novamente em pé. Nos últimos dias ele já não ficava mais tão comportado na cama, mesmo que isso lhe implicasse dores nas costelas e lhe rendesse vários puxões de orelha de Camus. Sentado na cama, olhou pela janela e pôde ver o belo dia de sol que estava fazendo. Não havia uma única nuvem no céu, mas o grego sabia que deveria estar muito frio devido ao inverno e suspirou de tristeza.
A maçaneta moveu-se e logo depois percebeu uma pequena e delicada silhueta adentrar seu quarto. Sorriu ao ver o jovem de cabelos verdes.
– Oi Milo, como está?
– Shun, há quanto tempo!... Estou muito melhor! Ainda sinto dores nas costelas, mas acho que já me acostumei tanto com isso que se tornou irrelevante. Se não fosse pelo fato da minha perna estar praticamente engessada da virilha até os dedos do pé e a certeza de que receberei uma bronca do Camus, já estaria em pé.
Shun sorri da forma com que Milo falava e senta-se numa cadeira, ao lado dele. Fitando o chão, o garoto começa a falar, demonstrando seu constrangimento.
– Desculpe esse sumiço, mas, como você sabe, o aniversário do Hyoga se aproxima e gasto praticamente todo o meu tempo livre rodando a cidade atrás de um presente bom. Infelizmente ainda não achei nada que eu consiga bancar.
– E não achará!
– Como assim? – encara-o.
– Por experiência pessoal, eu sei que você não conseguiria comprar um presente que alguém no nível do Hyoga estaria acostumado a ganhar. Tenha certeza que os mais simples estariam na casa de mil dólares.
– Mas eu não posso deixar a data passar em branco ou entregar algum bibelô, meia dúzia de flores simples e um beijo...
– E não vai... Sei como pode homenageá-lo sem gastar quase nada.
– Nani?
– Confie em mim. Digamos que seja um presente meu também. Afinal, eu não poderia sair pra comprar nada mesmo...
– Ok! Conte o seu plano então.
XXXXXXXXXXXXXX
– Niisan, preciso falar com você!
– Algum problema?
– Dia 23 será aniversário do Hyoga...
– E você quer dinheiro pra comprar um presente?
– Não. Não adiantaria... – fica cabisbaixo e logo volta a encarar o irmão – O Milo me deu uma idéia, mas eu só posso fazer se você aprovar.
– Fale! – responde carinhosamente.
Shun conta toda a idéia de Milo. Ikki fica preocupado, mas começa a refletir sobre o assunto e perceber que seu pequeno irmão já estava se tornando um homem. Suspira e sorri ao caçula, lançando um olhar terno a ele.
– Posso pensar a respeito?
– Desde que responda a tempo...
– Eu respondo, pode ficar tranqüilo. Agora preciso me arrumar, pois combinei de ir jantar na casa da Emi. Ela quer me apresentar oficialmente aos pais...
– Ih! Já estou ouvindo a música... – começa a cantarolar a marcha nupcial.
– Acho que terei que rever meus conceitos de educação infantil... – pega o sapato e finge ameaçar o irmão.
– Ei, eu não sou mais criança!
– É mesmo... Isso nem vai doer tanto. Vamos ver o que eu posso usar... tem cinta, cabo de vassoura, toalha molhada...
– Toalha molhada não! Depois sou eu quem lavo... – fica emburrado – E se usar qualquer outra coisa eu lhe denuncio por agressões ao menor.
– Ah! Agora você é criança...
– Vai tomar banho, vai.
– Vou mesmo. Assim eu me caso e me livro de você!
– Ótimo, vai ser mais tempo livre pro Oga.
– Seu... seu... como pode falar assim comigo? Eu te criei desde o berço... – finge começar a chorar.
– Eu cresci, oras! Mas não se preocupe... Meu coração é grande o suficiente para abrigar os dois.
– Sei... ingrato!
– Não fique assim, niisan. Eu vou acabar chorando...
– Então chore meu bebê!
Shun não agüenta ouvir o tom de voz do irmão e o biquinho que ele havia feito e cai na gargalhada, sendo acompanhado por Ikki, que logo vai ao banheiro.
XXXXXXXXXXXXXX
– E então, como foi?
– Foi incrível! Os pais dela são muito simples e gentis.
– Isso quer dizer...
– Estamos oficialmente namorando. Eles até me elogiaram...
– Que bom, niisan! Fico muito feliz.
– Estou nas nuvens Shun. Ah! Eles pediram pra te conhecer.
– Claro! É só marcar...
– Só tenho um pedido a fazer.
– Faça!
– Não leve o Hyoga e nem fale a respeito... Eles parecem ser um pouco tradicionais demais...
– Fique tranqüilo. Eu sei que nem todo mundo aprova relacionamentos como o meu, mas você sabe que eu não posso ocultar isso por muito tempo. Se você se acertar com a Emi, eles terão que saber...
– Claro!... Lembra aquele pedido que me fez?
– Lembro.
– Pode confirmar com o Milo.
– Posso? Valeu, niisan. Te amo! – o abraça apertadamente.
– Mas veja lá o que você vai fazer... estou confiando no seu bom senso.
– Não irei decepcionar-lhe. – diz levemente emocionado.
– Confio em você!... Mas não confio naquele loiro metido. – sorri.
– Não fale assim do Oga!
– Espero que dê tudo certo para vocês. Agora venha cá, me dê um abraço!
– Niisan... – chorando de alegria, Shun abraça Ikki.
XXXXXXXXXXXXXX
Seis dias depois, na véspera de seu aniversário, Hyoga havia recebido uma missão de Milo: ir a um dos hotéis mais chiques da cidade. Ele sabia que este local pertencia ao grego que pediu que ele entregasse um bilhete a um hóspede muito importante que estava na suíte presidencial. O loiro não imaginava quem seria tal pessoa, mas resolveu ajudar seu amigo que ainda estava de cama e verificou a hora em seu relógio. Eram quasenove horas da noite!
Estava diante da porta onde deveria entrar, ansioso por saber o que poderia ser tão importante assim. Sentiu um frio na espinha e uma vontade de voltar correndo para casa, mas se conteve ao lembrar da conversa que tivera com Milo, antes de sair.
----------# INÍCIO FLASHBACK #----------
– T-tem certeza de que... n-não é um pouco tarde, tio... er... Milo?
– Não se preocupe, Hyoga! Alfred o acompanhará e o meu hotel é seguro... Eu preciso que este bilhete seja entregue ainda hoje.
– Já t-tentou telefonar... m-mandar mensagem de te-exto pelo celular?
– Já... informa que o celular está fora de área ou desligado e o telefone do quarto está ocupado... Do jeito que o conheço, deve ter esquecido de carregar a bateria de novo!
– E quem é?
– Um amigo. Agora vá, antes que ele durma!
–Devo trazer algum recado?
– Saberá quando chegar.
– Quanto mistério!... Boa noite... d-durma com os anjos.
– Posso dormir com um certo francês também?
– P-pode... – responde corado.
– Obrigado. Por causa disso, amanhã deixarei você entrar em meu quarto e ter a honra de receber os meus parabéns pelo seu aniversário de 15 anos.
– Eu que agradeço... tio! – faz uma exagerada reverência.
– Agora vá, antes que seja tarde demais.
Hyoga sorri e despede-se com gestos de mão, que são devidamente correspondidos. Colocou um de seus mais sofisticados trajes e logo partiu ao hotel. Deveria substituir Milo à altura!
----------# FIM FLASHBACK #----------
Com o coração na mão apertou a campainha. Jurou ter ouvido o barulho de algo sendo espatifado no chão. Seria alguma pessoa violenta? Um torturante silêncio fez o tempo perder a continuidade e Hyoga tremia perante o perigo que poderia estar se expondo. Deu um passo para trás quando viu a maçaneta mover-se.
A porta lentamente ia se abrindo, mas o bailarino fitava o chão, temendo o que poderia acontecer e quem poderia encontrar. Sabia que Milo tinha amigos não muito convencionais e, de olhos fechados, estendeu a mão, entregando o bilhete.
– T-toma... é... é... d-do... Mi-ilo!
– Finalmente!... Você demorou... Eu não esperava que fosse regredir tanto em apenas algumas horas...
– E-essa voz...
– Surpreso?
– E muito! – sorri – Shun! Você está lindo.
Shun trajava uma blusa de gola alta de Lacoste num tom verde musgo que realçavaseus olhos e uma calça social branca feita numa alfaiataria. A jaqueta preta dava um ar de mistério à figura do rapaz e o tornava aparentemente mais adulto. O sapato social preto, entretanto, dava um toque refinado e o deixava ainda mais nobre.
– Entre! Fique à vontade...
O menino pobre portava-se com classe e sofisticação, graças às aulas de etiqueta que havia recebido do próprio Hyoga. Quem o visse nesse exato momento, não imaginaria que o rapaz não teria nem onde cair morto.
O loiro entrou no quarto e observou cada detalhe. Era óbvio que haviam mudado a decoração. Tudo fora devidamente planejado! Viu Shun se afastar e não demorou a concluir que era uma armação de Milo. Andou pelo quarto como alguém que anda sobre cascas de ovos e logo ouviu uma valsa tocando. O mesatenista esperava sentado numa cadeira próxima à parede e o bailarino foi até ele.
– Me concede o p-prazer desta... contra-dança?
Ao ouvir o pedido, Shun sorriu largamente e deu a mão ao amante, que o conduzia suavemente pelo recinto. Mesmo não sendo bailarino, o mesatenista não decepcionou seu professor e dançou divinamente durante todo o tempo. Sorriam um ao outro e continuavam no ritmo leve e compenetrado.
– V-você melhorou muito!
– Você também! Já percebeu que não gagueja mais como antes?
– Graças a você...
– Ah, que isso! Se você não tivesse tido força de vontade, não teria conseguido prosperar tanto. – sorri – Eu que devo agradecer-lhe por tudo o que ganhei, tudo o que aprendi e...
Antes que Shun pudesse continuar, Hyoga o abraça mais fortemente e o puxa para um beijo. Com a boca entreaberta, tenta colocar a língua na boca de seu amado que facilmente cede à carícia. Apesar de não serem mais castos, procuram-se num desespero de busca ao desconhecido, descobrindo-se a cada movimento, cada gesto. Sentiam como se dependessem um do outro, eram viciados saciando seu vício depois de algumas horas de abstinência. Só separaram-se quando seus pulmões reclamaram por mais oxigênio.
– Eu te amo!
– Eu também, Hyoga!
Abraçaram-se. Shun deitou a cabeça no peito de Hyoga, enquanto a ponta de seus dedos passeavam pela silhueta do loiro. Afastou-se e sorriu! Encarando o bailarino, perguntou com um voz doce e levemente erótica.
– Já comeu?
– Não. O ti... er... o Milo não deixou...
– Como o combinado! Venha, trouxeram alguns pratos... o cardápio foi idéia dele e do seu pai.
– M-meu pai?
– Ele sabe de tudo... Assim como meu irmão! Este é o meu presente de aniversário. Espero que esteja gostando...
– É o... me-melhor presente da minha vi-ida! – declara emocionado.
Shun o leva até uma mesa com duas cadeiras, devidamente decorada para um jantar romântico. O ambiente era propositalmente mais escuro e o arranjo ajudava a dar um toque mais requintado sem atrapalhar a visão do parceiro.
– Sente-se! – Shun pedia, afastando a cadeira para depois recolocá-la no local.
Assim que o garoto de cabelos verdes está devidamente sentado, sorri para Hyoga e depois vira a cabeça na direção da cozinha, chamando:
– Garçom!
O jantar transcorre da forma mais romântica possível. Em meio à refeição, juras de amor são trocadas, carícias gentis podem ser vistas e até beijos são roubados! Como num refinado hotel, o garçom é sempre discreto e só fica o tempo necessário para servir aos dois adolescentes. Tudo estava correndo perfeitamente!
Ao terminar a sobremesa, Shun retira uma pequena caixa envolta por um veludo bordô do bolso internode sua jaqueta. Hyoga já sabia que aquilo seria alguma espécie de jóia e fitou-o curioso. Levemente corado, estendeu o objeto ao loiro que mal pegou e logo abriu.
– Sei que não é nada perto do que você esteja acostumado a receber, mas é de coração. Mandei gravar as nossas iniciais...
O presente tratava-se de um anel de ouro simples e um pouco rústico. Dentro, havia as letras S e H entrelaçadas. Hyoga pegou o anel e o olhou, admirado.
– Que lindo!... É um p-pedido de.. namoro?
– Se você aceitar...
– Claro que sim!
Emocionado, o bailarino corre abraçar o namorado e lhe enche de beijos. Shun põe a aliança no dedo anelar esquerdo do loiro. Após ver o objeto em seu dedo, o jovem milionário pega as mãos de seu parceiro e constata os dedos nus.
– E a sua?
– Ah que tolo eu fui! – pega um lenço dentro da calça e abre, revelando um delicado anel de bijuteria visivelmente barato.
– E-Essa é a s-sua aliança? – pergunta assustado.
– É!... Só consegui comprar a sua por causa do crediário, mas não se preocupe... – responde timidamente.
– Não fique assim, Shun! Olha, adorei seu presente e estou adorando essa noite, mas amanhã iremos a uma joalheria.
– Pra quê?
– Você passará a usar a aliança que era da minha mãe. Será necessário fazer algumas modificações e talvez eu até tenha que comprar outra, mas...
– Não posso aceitar!
– Acho que você n-não entendeu... Um dos últimos pe... pedidos que a minha m-mãe me fez foi... d-dar a aliança dela à pessoa que.. eu amasse verdadeiramente. Tenho.. s-certeza que ela ficaria... feliz!
– Se é um desejo da sua mãe, então eu aceito. – Da um selinho em Hyoga – Vou dispensar os empregados...
– Ficarei esperando...
Alguns minutos depois, Shun e Hyoga ficavam a sós no quarto. Enquanto o mesatenista dispensava os empregados, o bailarino escolhia um CD romântico para se adequar ao clima. Ligou o aparelho num volume relativamente baixo e esperou que o namorado novamente se aproximasse.
Shun, embargado pelo clima e levemente bêbado pelo vinho que havia tomado, logo estava novamente dançando com o loiro. Nenhum dos dois sentia o chão, tamanha era a leveza com que os movimentos eram feitos. Pouco a pouco os toques foram ficando menos inocentes, mais intensos. Os lábios do mais novo descendo pela alva pele do bailarino e deixando algumas marcas graças à pele sensível.
Hyoga passou a conduzir o namorado em direção à cama e sentou-se na beirada, puxando Shun para cima de si. O jovem de cabelos verdes logo começou a aprofundar o beijo e empurrar o namorado contra o colchão macio. Sentiu um calor percorrer todo o seu corpo, uma necessidade desesperadora de unir-se ao seu amado e tornar-se uma só alma, fundindo-se a ele de alguma forma! Não conseguia evitar que suas lágrimas brotassem de seus olhos ao contemplar o momento, a imagem do loiro entregue aos seus cuidados.
– O que f-foi? Ta chorando...
– Estou muito feliz, meu amor!
– Shun... – sorriu.
Num movimento delicado, Hyoga inverteu as posições e ficou por cima de Shun, acariciando a pele acetinada com as pontas dos dedos. Sorriu, como há muito tempo não sorria e, dizendo 'Eu te amo!' em todas as línguas que conhecia, tomou os lábios de Shun com volúpia, enquanto as mãos passeavam sensualmente pelo frágil corpo do amante. Ambos sentiram um calor intenso e o volume que crescia em suas calças. O mais novo, no entanto, levantou-se bruscamente, interrompendo o momento, com uma expressão de desespero na face.
– Shun?
– Não podemos... Não é certo!
– P-por quê?
– Eu prometi... prometi a meu niisan que iria me comportar! Não posso decepcioná-lo... Desculpe, Hyoga! – dizia em prantos.
– E você acha que... o Ikki v-vai ficar... triste p-por.. você ser feliz?
– Não! Ele quer a minha felicidade, mas disse que confiaria no meu bom senso... Eu não posso continuar, não posso desrespeitar o meu niisan depois de tudo!... Ele é mais que um pai para mim e... – chora copiosamente no peito de Hyoga.
– Shun, se você não tá... preparado, eu entendo... mas sinto que não é isso! V-você também me quer... ou não?
– Eu quero! Nunca duvide o quanto, mas meu niisan...
– Deixe o Ikki por minha conta. Conversarei com ele e... o farei entender que f-foi um... ato de amor. Agora esqueça isso e vamos aproveitar!
Shun sorri e volta a beijar o namorado. Delicadamente, retira o terno preto que o loiro estava vestindo, jogando-o num canto qualquer do quarto. Tira a jaqueta que vestia, deixando-a cair ao lado da cama. Ambos ficaram descalços e se acomodaram no centro da cama.
Moviam-se por instinto, seus corpos governando suas mentes, seus músculos! Hyoga afagava os cabelos de Shun enquanto seus lábios percorriam cada centímetro do rosto de seu namorado. As belas pernas torneadas do bailarino entrelaçaram-se às finas e delicadas pernas do mesatenista, aproximando os corpos numa comunhão bela e graciosa.
O jovem de cabelos verdes foi, aos poucos, abrindo os botões da camisa azul clara que o parceiro trajava, revelando o peito loiro, decididamente esculpido pelos deuses nórdicos. Beijava cada centímetro recém-descoberto, continuando aquela deliciosa tortura, no intuito de melhor contemplar o corpo que tanto desejara em sua mente, em seus sonhos!
Devido ao fato de ainda estar por cima, Hyoga apoiava-se com as mãos na cama. Cerrou os olhos no intuito de melhor aproveitar o momento e seu corpo começou a tremer de alegria e satisfação. Gostava dos gestos de seu amante, mas ao mesmo tempo ansiava desesperadamente por livrar-se de toda a sua roupa, tornando-se livre para seu amado. Sentiu um incômodo desesperador e desconhecido em seu baixo ventre. Nunca suas peças íntimas haviam parecido tão apertadas e moveu a cintura numa tentativa de melhor acomodar-se.
Shun finalmente retirou a camisa do bailarino e seu olhar de compleição era encantador! Sentiu as mãos de Hyoga em sua blusa, numa ousada e frenética tentativa de retirar a peça e ajudou-o. Em alguns segundos, o tórax do mais novo também estava desnudo, revelando uma beleza diferente, delicada, especial. Continuaram naquele ritmo durante toda a noite, entregando-se um ao outro.
XXXXXXXXXXXXXX
– Feliz aniversário!
– Shun... Não foi um sonho...
– Se foi, tivemos o mesmo belo sonho, meu amor!
– Ah!... Bom dia! E obrigado por tudo... V-você gostou?
– Bom dia, Hyoga! Adorei esta noite e espero poder repeti-la mais vezes...
– Iremos. Agora vamos tomar um banho e... tomar café da manhã?
– Claro! Eu posso pedir para que tragam pão, frutas, suco, leite...
– Ótimo, mas não é melhor pedir... depois do banho?
– Como queira, vossa majestade! Afinal, hoje é o seu dia.
– Que feio!... Vou te ensinar a... respeitar os mais velhos...
Hyoga faz uma cara de bad boy e puxa Shun pelo pulso. O mesatenista tenta fingir uma expressão de medo, mas cai na gargalhada e acompanha o parceiro ao banheiro.
XXXXXXXXXXXXXX
– Seu tratante!... Como f-fez isso?
– Boa tarde pra você também, Hyoga!... E feliz aniversário.
– Boa tarde... tio. Obrigado...
– Que bom que gostou do presente. Foi a coisa mais interessante que consegui arranjar preso a esta cama...
– Você é... demais! – o abraça com cuidado.
– Tenho que agradar o meu enteado se quiser continuar meu romance.
– Ah! Que motivo mais nobre...
– Viu como penso em tudo?
– Aham!
– Boa tarde a todos! – Shun chega abraçando Hyoga por trás.
– Boa tarde Shun!
– Oi, meu amor... – Hyoga sorri.
– Como eu sou distraído... Hyoga, é impressão minha ou...
– Nós estamos n-namorando! Olhe... – mostra a mão esquerda, num tom de orgulho – É meu anel de compromisso.
– Já tinha visto, mas só agora me toquei... – sorri – Vê se cuida do meu menino, heim, Shun?
– Pode deixar, eu farei de tudo pra ver o sorriso no rosto do Oga. Prometo fazer com que ele seja o homem mais feliz do mundo!...
– Shun... – Hyoga chama emocionadamente, beijando-o.
– Vocês formam o casal mais lindo que já conheci.
– Obrigado... – respondem os jovens.
– Devemos tudo a você. – Shun declara.
– Falando em dever... temos que ir... ao joalheiro!
– Joalheiro?
– É. O Hyoga insistiu em ajustar a aliança da mãe dele pra mim...
– Ah sim! Ela sempre falava que aquela era uma jóia de família e que teria honra de passar o anel para a futura esposa de seu filho... quer dizer...
– Tudo bem, entendi! Nenhuma mãe imagina que seu filho venha a namorar um rapaz na adolescência... Antes de conhecer o Hyoga, eu imaginava que casaria com uma mulher e teria filhos! Hoje estou muito feliz ao lado dele e eu sei que, se quiséssemos, poderíamos adotar alguma criança. Há tantas em orfanatos!...
– Como você e seu irmão... – Hyoga comenta.
– É... O mais triste era que muitos casais quiseram me adotar, mas deixariam o meu irmão lá, mofando! Eu não gostaria de separar irmãos... Se fosse pra adotar um, adotaria todos.
– Admiro a sua coragem e determinação, Shun!
– Meu namorado não aparenta, mas... é muito forte e corajoso.
– Assim eu fico constrangido!... Vamos logo ao joalheiro, Hyoga!
– Vamos... – sorri – Até mais tarde, Milo.
– Até.
XXXXXXXXXXXXXX
Aos poucos, o romance entre Milo e Camus estava retornando à normalidade, mesmo com o grego impedido de fazer força física. Não haviam agüentado aguardar o findar do tempo de repouso do acidentado e, com certos cuidados, retomavam as noites de luxúria e amor.
Milo fora liberado do castigo – como costumava chamar seu repouso forçado – no dia 2 de fevereiro. Mesmo assim permanecera na mansão, culpando suas dores e a perna engessada pelo fato de ainda ter que depender de Camus. Havia conseguido acordar cedo no dia 7 de fevereiro e tentou, em vão, caminhar silenciosamente até o quarto do francês, mas o gesso não permitiu que o grego concretizasse seu intento devido ao barulho que ele proporcionava ao entrar em contato com o solo.
– Bom dia, Milo, caiu da cama?
Camus tinha sono leve e ouviu a aproximação do grego. Acendeu a luz e esperou que seus olhos se acostumassem à claridade. Sorriu maravilhado ao ver seu amado parado na porta.
– Bom dia Camus... Era pra ser surpresa... Queria acordá-lo com um beijo, mas... – falava num tom de decepção, cabisbaixo.
– Ainda dá tempo, meu pirata!
Milo sorri e caminha até Camus o mais rápido que pode. Com alguma dificuldade pelo fato de não poder dobrar a perna quebrada, o grego senta na cama e beija os lábios do francês. Acariciando o rosto alvo de seu amado, declara carinhosamente:
– Eu não poderia esquecer o dia do aniversário da pessoa que mais amo nesse mundo...
– Não sabia que hoje era seu aniversário...
– O meu cubo de gelo está ficando mais irônico e engraçadinho... Olha que estou armado! – coloca as duas mãos na perna engessada, ameaçando levanta-la.
– Você acha mesmo que vai conseguir me bater com isso?
– Hum... Não sei!
Milo senta-se no colo de Camus e o puxa para um beijo. Ele consegue esconder as dores que ainda sente nas costelas quando faz movimentos mais bruscos. O calor e a vontade de saciar a sua sede falavam mais alto e não resistiu às provocações de seu amado, aprofundando o beijo cada vez mais. Separou-se e foi abraçado pelo francês.
– Feliz aniversário, Camus!
Camus sorriu largamente e puxou Milo prum beijo ardente e luxurioso. Hyoga surgiu na porta, com um imenso sorriso nos lábios. O grego ameaçou sair do colo do francês, mas o loiro não deixou.
– Bom dia aos dois... Vim desejar... f-feliz aniversário, mas... vejo que meu pai t-tá... ocupado. Fico feliz por v-vocês... fecharei a porta ao s-sair. – disse um pouco constrangido.
– Obrigado filho!
– Devemos tudo a você... – Milo disse, piscando ao bailarino.
Hyoga sorriu e deu meia-volta, encostando a porta. O grego recostou-se ao peito de Camus que tornou a abraçá-lo enquanto fazia juras de amor em francês em seu ouvido. Amaram-se, como já haviam feito e ainda fariam muitas vezes. Cada dia era mais intenso, mais sincero e mais emocionante.
XXXXXXXXXXXXXX
Ikki e Emi se aproximavam e descobriam um amor intenso a cada dia. Casaram-se após 3 anos de namoro. Apesar de uma inicial relutância por parte do pai da jovem, logo a família dela aceitou a relação de Shun e Hyoga, que continuaram uma bela história de amor e conseguiram casar-se na Holanda, com direito a uma grande festa.
O casal de filhos que Ikki tivera com Emi serviu como dama de honra e pajem para os jovens noivos. A cerimônia foi emocionante e conseguiu fazer com que os olhos de Camus brilhassem de emoção e Ikki soltasse algumas lágrimas de felicidade. Milo chorou durante quase toda a cerimônia, abraçado ao francês.
Como o prometido, Shun e Hyoga adotaram um par de gêmeas de 4 anos e o irmãozinho delas, um bebê de apenas 5 meses de idade com Síndome de Down. As crianças trouxeram muita alegria à mansão e ajudou no fortalecimento dos laços entre os dois casais que a cada dia enfrentavam o preconceito de cabeça erguida, sempre renovando suas juras de amor, fidelidade e mostrando ao mundo o quanto eram felizes!
FIM
Tardou, mas saiu! Este é o epílogo. Juro que tentei fazer um lemon, mas não consegui... Espero que tenham gostado mesmo assim. Agradeço a todo apoio e espero poder escrever mais fics com esse casal. Um beijo a todos.
