N/A: Para situar todos: Os pensamentos dos personagens estarão em itálico, os Flashbacks estarão em itálico e negrito; e um texto que será lido por um personagem estará apenas em negrito.

4- Consegui. Comemorar?

Todos os cavaleiros estavam em Áries à espera de Kamus. Miro os havia avisado e esperavam ansiosos pelos resultados.

Estavam distraídos na conversa, cada um usando sua Veste Sagrada. O único que não se encontrava no local era Máscara da Morte, pois nunca se entendeu com o francês.

– Alguma reunião que não fui informado? – Kamus surgiu na entrada. Estava sério.

Todos voltaram sua atenção para ele. Estava, assim como seus amigos, usando a Veste Sagrada, que lhe caía muito bem. A armadura dava-lhe uma postura ainda mais bela e elegante, simultaneamente altiva e prepotente. O olhar, como sempre, penetrante, fitou cada um presente, parando brevemente num em especial. Em suas costas estava a urna dourada.

Foram parabenisá-lo.

– Claro que não... – Respondia Shaka com um divertido sorriso.

– Só o estávamos esperando... – Disse Afrodite com um sorriso largo, que desagradou Miro. – Sabia que a Armadura de Aquário lhe caiu muito bem?

– Merci, ami.

– Mas indo ao que interessa. Não está se esquecendo de nos contar nada não? – Aldebaran não podia conter a curiosidade.

– Como assim?

– Você ainda não nos disse como foi para conseguir sua armadura, meu amigo. – Mu completou.

– Fiz com que meu Mestre me reconhecesse como cavaleiro. Nada de mais. – As imagens voltam a sua mente.

(FLASHBACK)

Kamus chegou à arena onde havia marcado de se encontrar com seu mestre. Não havia ninguém por lá senão ele o aguardando sentado sobre a urna de Aquário. Usava uma calça e uma camiseta ambos brancos, contrastando com seus olhos negros e longos cabelos vinho, que se encontravam presos em uma folgada trança, deixada sobre o ombro esquerdo. Shino ficou de pé enquanto observava seu pupilo se aproximar.

– Me atrasei?

– Não Kamus. Eu quem optei por aguardá-lo. – Deu uma breve pausa. – Sabes que é sua ultima chance... Espero que realmente tenha melhorado.

– O senhor vai ver o quanto. – Manteve-se sério o tempo todo. Queria receber o quanto antes sua armadura pra voltar pra casa e descansar e, mesmo respeitando tanto, não queria voltar a ver seu mestre tão cedo.

Com um salto para trás, Shino se afastou de Kamus e armou sua postura de luta, elevando seu cosmo ao máximo. Sabia que em uma luta corpo-a-corpo seu pupilo se sairia bem, mas queria ver as técnicas especiais.

Kamus também se posicionou, elevando seu cosmo rapidamente atingindo o sétimo sentido, se concentrando em cada movimento de seu mestre. O Sol ainda brilhava e as terras da Grécia ardiam com o calor, mas a arena estava extremamente fria com o ar congelante liberado pelos cosmos dos dois. Cristais de gelo surgiam.

– Não quero perder tempo, Kamus, e sei que você também não. – Começou a concentrar o poder em sua mão direita. – Quero acabar com isso em um único golpe. O melhor golpe de cada um. O que acha?

– De acordo. – Falou rispidamente. Concentrando o poder em suas mãos, as ergueu, posicionando sobre a cabeça unindo-as. Afastou um pouco as pernas para um melhor apoio. Uma corrente de ar o envolveu, fazendo os cristais de gelo 'dançarem' em sua volta. – Um único golpe.

Mantiveram suas concentrações por alguns segundos e dispararam seus golpes simultaneamente.

– TROVÃO AURORA!

– EXECUÇÃO AURORA!

Os ataques se colidiram, ficando por um tempo em equilíbrio, mas logo começou a pender para um lado. A melhor técnica decidiu. Shino havia sido superado. O Trovão Aurora estava sendo devolvido com o Execução Aurora de Kamus. Desistindo de manter o ataque, se esquivou com dificuldade - pela pressão que os golpes acumulados exerciam - recebendo o ataque de raspão, sendo atingido no braço esquerdo que ficou completamente congelado.

A temperatura começou a se elevar novamente. Os cosmos já se encontravam no nível normal. Admirado com a potencia da técnica desenvolvida pelo seu pupilo, dirigiu-se calmamente em direção a urna, pegando-a e colocando frente à Kamus.

Bom trabalho Kamus... Ela é sua... – Depois de tantos anos de treinamento, era a primeira vez que sorria para Kamus. Um sorriso que mostrava tanto alegria quanto orgulho.

A urna se abriu, saindo uma forte luz dourada e a Armadura de Aquário, que logo se separou para envolver o corpo do novo Mestre. Kamus.

– Você mostrou que me superou ao desenvolver uma técnica superior a que lhe passei. A sua explora ao máximo a potencia do ar gelado, atingindo quase o zero absoluto. – estendeu a mão para seu pupilo, cumprimentando-o. – Aquário é sua juntamente com o título de Mestre da água e do Gelo.

– Obrigado Mestre. – Kamus apertou a mão em sua frente sem acreditar. Shino sorria e o parabenisava.

– Antes que vá, quero lhe explicar uma coisa. Quando o Grande Mestre Shion me falou de você, admito que não esperava muito, mas ao começar seu treinamento vi que Ele estava certo e que tinhas um grande potencial. Ele pôde sentir seu poder oculto e viu nas estrelas que seu destino era ser um grande cavaleiro. Um Cavaleiro de Ouro. Aquário. Desde que teve essa visão, o procurou e, como já sabe, o guiou até aqui pelo cosmo a esse fim. Eu sabia que seria seu mestre mesmo antes de conhecê-lo, ou melhor, antes que você chegasse aqui no Santuário, pois Ele já havia me prevenido de sua vinda. Queria deixar esse fato bem claro para você, pois nunca pareceu entender.

Kamus mal acreditou. Então aquilo quis dizer que estava em seu destino perder os pais tão cedo? Lembrou-se que todos os cavaleiros que conhecia eram órfãos, tendo como parentes apenas irmãos ou irmãs que, geralmente, também se tornavam cavaleiros e amazonas.

– Mas lembre-se: Você não quis me matar por ser seu mestre. Compreendo. Eu até o testei dando-o inúmeras chances para isso, mas você nunca o fez, passando em mais um teste. Você é humano... e mesmo tendo de esconder o que sente para seu próprio bem, pode-se ver que tem bom coração, dignidade e honra em uma batalha; que é fundamental para um cavaleiro de alto nível de Athena. – Em uma breve pausa, fechou os olhos baixando discretamente a face. – Mas simultaneamente foi um erro. Nunca deve hesitar independente de quem seja seu oponente; amigo ou desconhecido, Mestre ou discípulo, quando se trata de uma luta pela verdade e justiça. Deixei claro?

– Sim...

– Também queria lhe esclarecer que mesmo sabendo o quão forte era, não quis entregar a Armadura pelo fato de querer que, sozinho, desenvolvesse novas técnicas. Técnicas mais poderosas que as que lhe ensinei. Sabia que seria capaz. Tive de ser rigoroso àquele ponto para isso, compreende?

– Sim... – Kamus revelou um pequeno sorriso a Shino. – E... Obrigado por tudo... Mestre Shino.

(FIM DO FLASHBACK)

– Não explicou muito, Kamus... – Kanon indignado.

– Sempre querendo se meter nos assuntos dos outros, não é Kanon? – Saga falou todo irônico. Estava brigado com o irmão e todos sabiam, só não o motivo.

– Deixem ele em paz... Ele realmente merecia. Se esforçou muito para tê-la. – Shaka o cumprimentava mais uma vez, despertando-o das memórias vividas há pouco. – Creio que seu mestre tenha sido o mais rigoroso de todos. Até para a Sibéria o levava para aprender a suportar o frio...

– Talvez tenha sido... Mas gostei da Sibéria. Até aprendi russo...

Todos se surpreendem. Kamus apenas disse que talvez Shino tenha sido rigoroso. E tão novo já falava fluentemente Grego, o seu francês, agora russo e todos tinham conhecimento que ele estava estudando inglês sozinho e que falava fluentemente.

– Daqui a pouco você sai falando Japonês, espanhol... – Aldebaran dava altas risadas.

– Vamos pedir ao Grande Mestre que permita que comemoremos a irmandade dourada que está completa agora! – Afrodite passou o braço pelos ombros de Kamus. Adorava festas e sempre procurava um bom pretexto com ajuda de Shura, Aioria e de vez em quando Kanon. Raramente falava com Miro.

– Isso! Com direito a muita bebida, comida, convidados... – Shura se animou instantaneamente com a idéia.

– Não vejo necessidade de comemorar. Afinal, tornar-nos cavaleiros de ouro foi nossa obrigação... destino... – Kamus fechou a cara instantaneamente, mas manteve o timbre de voz o mesmo de antes.

– Shaka e eu também não gostamos de festas, Kamus, mas essa não só você mas todos nós merecemos. Não tiro sua razão que era nosso dever, mas depois de tantos anos de treino para esse fim... Será a primeira festa que vejo um bom motivo de comemoração, assim, será a primeira que irei. – Shaka balança a cabeça positivamente, concordando com Mu.

Kamus ficou calado. Não queria ir, mas Mu tinha razão. Esse sim era um motivo especial.

– Bem, vamos à comemoração!- Afrodite o largou e se adiantou em direção as escadarias. – Vou perguntar ao Mestre Shion se poderemos comemorar. Em uma hora estejam todos lá em casa que darei a resposta... Até!

– Ei! Espere ai... Porque sua casa? Vamos ter que subir tudo pra depois descer... qualé? – Miro cruzou os braços, indignado. Parecia uma criança.

– E onde seria então? Teria de ser na casa de alguém. – parou e cruzou os braços. Não gostou de perder tempo pra discutir onde se encontrariam para falar da festa.

– Que tal a de libra? Localiza-se basicamente no centro da escadaria e está desabitada. Seria o mais justo. Podemos nos reunir em seu pavilhão de passagem.

– Então todos estão de acordo? – Saga resolve tomar a frente. Parecia mal humorado. Não estava bem, muito menos para ouvir uma discussão por futilidades.

– Sim! – A maioria diz em conjunto.

– Opa! Visinho... aí eu topo. – Miro logo sorriu como uma criança birrenta quando consegue algo que desejava.

– É... Pode ser... – Afrodite estava desanimado pelas escadarias.

– Não! – Kamus pronunciou-se finalmente e secamente. Todos o encararam.

– E porque isso agora? – Saga não entendeu os motivos do francês, mas pouco lhe interessava. Estava diferente.

– Não quero ir à comemoração alguma. Não gosto e não quero... Divirtam-se, mas não contem comigo.

– Kamus. Iremos comemorar a irmandade dourada ao qual você também faz parte. De qualquer forma: Acha que seriamos capazes de nos divertimos sem você? – Miro tentava uma chantagem improvisada, o que não é seu forte.

– Acho. Você então é o especialista para se divertir nestas festas. Façam bom proveito. – Começou a caminhar rumo a saída de Áries. – Vou pra casa. Espero que se divirtam caso tenham permissão. Au revoir!

Afrodite deu uma corridinha para alcançá-lo. Queria acompanhá-lo, já que teria de subir também. Miro olhou calado e revoltado, mas não podia fazer nada. Kamus tinha se chateado com ele de novo.

Kanon desceu as escadarias de Áries, sendo seguido sem que percebesse por Saga, que ninguém viu quando deixou o templo. Os demais olharam para Aquário, que saiu sério, acompanhado do pisciano. Decidiram não se meter, ficando por ali mesmo esperando para dar o tempo pedido por Afrodite, para subirem juntos.

O sueco adorava o francesinho e queria conversar com ele pra descobrir porque sempre agia daquela forma quando o assunto era festas. Kamus sempre foi muito fechado – Em especial após o treino -, nunca falando com ninguém nada que considerasse pessoal, temendo ser ferido emocionalmente.

Já haviam passado de Sagitário quando Afrodite, já cansado de tanto silêncio, resolveu puxar um assunto.

– Kamyu, o que houve?

– Nada, por quê?

– Você não era assim. Lembro claramente o quanto você era animado, se divertia, sempre brincava com Miro... – Percebeu que Kamus fechou ainda mais a cara. – Disse algo errado?

– Não Afrodite, mas não quero pensar no passado nem em mim agora.

– Mas por quê? Me conte tudo... Talvez possa lhe ajudar.

– Não, ninguém pode. – Encarou Afrodite nos olhos. Decidiu se abrir um pouco mais com o pisciano, que sempre se mostrou um bom e fiel amigo. – Mas se quer saber, vou lhe contar. Me transmite confiança. – Mesmo pronunciando tais palavras, parecia inatingível. Permaneceu do mesmo jeito sem demonstrar qualquer sentimento em suas palavras. – Muito pequeno vi meus pais morrerem sem poder fazer nada, fui mandado para um orfanato onde as outras crianças me odiavam, me chamando de metido pelo meu sotaque só faltando quererem me surrar, sem querer problemas e me sentindo mal, fugi, vindo parar num lugar completamente novo e desconhecido para mim que, quando pensei que teria uma vida feliz, vi que tudo não passou de uma ilusão... um sonho... E porque não uma maldição? O destino brinca muito comigo, já não agüento mais!

– Mas você não gosta daqui? Não gosta de nós? Seja sincero.

– Claro que gosto. De tudo isso. Até meu mestre que pensei odiar, vi que na verdade gostava. Ele só queria o meu bem e me preparar para essa vida difícil de cavaleiro.

– Isso tava na cara. Mas então, porque disse que tudo não passava de uma maldição, Kamyu?

– Por dois motivos. Um deles é que nem consigo cumprir completamente o último pedido de meus pais... Estou vivo, mas do que adianta se não me sinto feliz?

– Nossa... Mas porque? E o outro motivo?

– Você não entenderia, mas faz parte do primeiro.

– Diga... Não somos amigos?

Kamus olhou novamente nos olhos do Sueco, que sentiu a profundidade de seus pesares. Estava começando a demonstrar o que realmente sentia. Abaixou a cabeça, fazendo com que a franja ocultasse seus olhos.

– Está bem, mas não comente com ninguém. Se lembra de quando estive muito doente? Quatro anos atrás, quando voltei da Sibéria? – Todas as imagens voltaram a sua mente, dando-o um ar de tristeza.

(FLASHBACK)

– Kamus! Você fica doente e nem dá notícias... Se não tivesse ouvido o Afrodite comentando com o Shaka, eu nem saberia, seu mané! Mas ok, essa eu te perdôo. Como você está?

– Melhor. Mesmo com seus sermões... Mas não me lembro de ter pedido desculpas. – A voz estava fraca e rouca.

– Seu mestre é louco! – Miro se mostrava muito preocupado. – Graças a ele, você está doente de novo e nem pra vim cuidar de você. E nem tente fazer piadas, você nunca foi bom com isso e seu estado piora ainda mais.

Miro sentou-se na beira da cama. Olhava o amigo que estava em repouso com febre e com o corpo todo ferido. Ficou triste com a cena e lembrou-se que Kamus estava sem sua serva, pois esta havia falecido por uma doença que não se recordava. Por ter quatro que cuidavam de sua bagunça e dele mesmo, resolveu falar com o Grande Mestre mais tarde e enviar para o amigo a sua mais nova serva, que deveria ter a mesma idade deles. Assim, poderia cuidar dele e até tornar-se como uma amiga, deixando-o mais a vontade, pois sabia que Kamus não gostava muito de servas cruzando sua casa e mexendo em suas coisas o tempo todo.

– Engraçadinho... E também estou em treinamento. Tenho que suportar o treino e a culpa de eu estar assim foi minha... Não prestava atenção no urso e ele me acertava. Foram deslizes meus e meu mestre não tem nada a ver.

– Certo. Não vou discutir com você. – Saiu de perto do amigo, logo voltando com uma toalhinha, uma pequena bacia e um jarro com água fria. Apoiou a bacia sobre o móvel ao lado da cama, pondo um pouco d'água e umedecia a toalhinha, pousando-a sobre a fronte do francês. – Estão eu fico por aqui e cuido de você até que se recupere. Quando estiver melhor, mandarei uma de minhas servas pra cá. – "vou ter que falar com meu mestre pra me dar um tempo no treino, mas sei que ele entenderá minhas intenções e deixará." Pensou.

– Não... Precisa... – Estava agradável ver o amigo cuidando tão bem de si. – E não quero te incomodar.

– Deixe de frescura! Não é incômodo cuidar de você e a serva; você precisa ter ao menos uma e a que vou te mandar... – Parou de falar.Ficou sério e com olhar distante em segundos.

– O que tem ela?

– Nada. Ela é jovem e bonita e aceitando ela, você estaria se ajudando, no mantimento da casa, e estaria me ajudando também. E quem sabe você não se apaixona por ela? – Miro falou com um sorriso inocente, que convenceu Kamus facilmente.

– Certo, ela pode vir... mas... Como assim também o ajudaria?E que história é essa de me apaixonar? Está louco?

– Não quero falar sobre isso, ok? – Voltou a umedecer a toalhinha e pousa-la sobre a fronte do doente.

– Está bem...Não vou insistir... – Tirou um livro com capa Azul marinho de debaixo do cobertor. Guardou na gaveta do criado mudo.

– Lendo até mesmo doente, não é?

– Ahm... é isso mesmo... Minha mãe me deu...

– Você não muda. É viciado em leitura. – Levantou-se - Vou buscar minhas coisas, falar com meu mestre e já volto pra ficar com você. Cuidarei para que melhore rápido. – Sorriu amavelmente. Saiu correndo para escorpião, deixando um doente corado na cama, mas não da febre, mas pelo que ouvia.

Vendo o reflexo de seu rosto corado no espelho ao lado da cama, percebeu o estado em que o escorpião o deixou com aquelas palavras gentis. Finalmente notou seus verdadeiros sentimentos.

– Acho...que não vou me apaixonar por essa serva... – Sorriu, olhando-se no espelho ficando ainda mais vermelho.

(FIM DO FLASHBACK)

– Sim, me lembro. Miro quando soube ficou em sua casa até que se recuperasse por completo, não foi? Se não me engano, umas duas semanas pelos ferimentos em seu corpo.

– Foi... Ele até dormia desconfortavelmente sentado em uma cadeira ao lado da minha cama, pra caso eu precisasse de algo. Ficava ali, calado. Velando meu sono... Se me mexesse fazendo qualquer ruído, ele acordava pra ver se eu estava bem.

– Lembro de tê-lo ouvido comentar que o deixava resmungando sozinho a maior parte do tempo...

– Era o que deveria ter feito. Teria sido melhor, mas ele não saia do meu lado. Sempre se mostrando... um...grande amigo..

– Sei. Aham. Entendi tudo.

– Afrodite. – Nesse instante, uma fina lágrima escorreu em seu rosto. – Nesse período eu tive a certeza do que sentia e resolvi desistir e resistir. Eu... o entreguei algo muito importante, mesmo que ele não soubesse. Não notasse. Se bem que... – Cerrou os punhos. Sentiu uma forte dor invadir seu peito, fazendo com que mais lágrimas rolassem por seu rosto. – Eu... acho que ele sabe, mas ignora para não atrapalhar a nossa amizade. E também, a prova que não sente nada por mim... é que sempre sai com inúmeras servas e cavaleiros...

– Kamyu...- Abraçou Kamus de lado enquanto subiam. Um abraço amigável para tentar consolá-lo, apoiando a cabeça no ombro do francês, que começou a retomar o controle sobre si, parando de derramar lágrimas. Era orgulhoso e detestava parecer frágil ou emotivo aos olhos de qualquer um. – Sabe, também me encontro numa situação parecida...

– Mesmo? – Olhou pra Afrodite, incrédulo, enxugando as lágrimas que se arrependera de ter derramado.

– Sim, e se bobiar, meu caso pode até ser pior que o seu. Não é de sair com muitos, mas também não gosta de mim, nem de ninguém.

– Não... sabia que...

– É meu segredo. – Abriu um sorriso enigmático – E não se preocupe, Kamyu. Quando se trata de ver o que mais nos interessa, geralmente ficamos cegos. Quando algo que consideramos um sonho se concretiza e pára diante de nossos olhos, costumamos fechá-los temendo ser uma má impressão ou ilusão, recusando a acreditar ou ver o evidente. – Falava todo pensativo, no final, voltando os olhos para os de Kamus – O único mal nisso é que costumamos deixar escapar a oportunidade da felicidade, correndo o risco de perdê-la para sempre.

– Afrodite. O... O que quis me dizer com isso?

– Nada. Falei sem pensar. – Sorriu. – Olha, já chegamos em aquário. Tenho vinte minutos para falar com o Mestre e descer à libra.

– Então é melhor se apressar. Vejo que o atrasei.

– Um amigo nunca nos atrasa. Adoro conversar com você! – sorriu gentilmente, dando um beijo no rosto do aquariano – Realmente tenho que me apressar, mas antes... Você vai à festa, né?

– Não. Já disse isso. Não me interesso em festas.

– Pra mim você tem é receios de ir e ver o que não gosta. – Kamus voltou a ficar tão sério quanto antes de começar a subir as escadarias para Aquário, confirmando o afirmado. – Kamyu, quero que se divirta. Me promete ir nem que seja apenas por alguns minutos?

– ... Está bem. Por insistir tanto, prometo pensar no assunto. Mas acho que essa noite não será das melhores.

– Que pessimismo! O Aguardarei lá! Tchau! – Atravessou Aquário correndo pela falta de tempo.

– Mas ele nem sabe se terá permissão... – Balançou a cabeça em sinal negativo.

Entrando em sua casa, viu que se encontrava impecável. Tudo muito limpo e arrumado, como sempre esteve e tanto adorava. Foi até a cozinha, onde se encontrava uma serva. Sua única serva. A enviada por Miro. Era uma jovem linda, tinha cabelos compridos e dourados que começavam lisos, formando belos cachos nas pontas. Seus olhos pareciam duas esmeraldas. Usava uma túnica branca, até os joelhos e estava descalça. Parecia um anjo.

– Boa tarde, mestre Kamus! Parabéns pela conquista! – A moça se virou e abaixou a cabeça, mostrando respeito.

– Já disse que pode me chamar apenas pelo nome, Karen. Merci.

– Perdão... Kamus. – Deu um pequeno sorriso.

– Tudo bem. Pode me preparar um banho?

– Claro! Não vai querer comer nada também?

– Não, estou sem fome. Obrigado.

A jovem saiu rapidamente indo cumprir o que lhe foi pedido.

Kamus sempre foi muito bom e gentil com Karen e ela adorava trabalhar para alguém assim, mas não queria estar em Aquário. Queria estar em outro lugar. Queria servir a quem amava.

Kamus foi para a sala, pegou um livro e começou a ler, mostrando tristeza em seu olhar. Pegou uma caneta e começou a rabiscar em uma página, até que foi chamado para o banho que já estava pronto.

OoOoOoOoOoOoOoOoOoO

O Mestre liberou a comemoração. Afrodite voltou correndo e mesmo assim se atrasou dez minutos. Os presentes em Libra foram: Aldebaran, Shaka, Mu, Aioria, Miro e Shura, que reclamaram da demora do Pisciano. Entraram numa discussão de onde seria e o horário, chegando a um acordo que deveria ser em Peixes, tendo início às oito da noite.

Pronto. Tudo que Miro queria ouvir. Deixou os amigos discutindo outros fatores como comes e bebes, saindo de fininho para Aquário. Queria muito falar com Kamus, só não sabia bem o que, ou como, ao certo. Desde que acordou só pensava nisso. As longas escadarias que o levariam ao seu destino passaram rapidamente enquanto refletia.

"Será que estou fazendo o certo? Posso por tudo a perder, mas não dá mais para ficar assim... Será hoje! Bem... Ele pareceu por uns segundos sentir algo por mim hoje... POR ZEUS! O QUE ESTOU PENSANDO! Aquilo foi só impressão. Do jeito que ele é, pode me colocar pra fora de lá a pontapés... Aliás, o que é perder um amigo de infância e o que se tem de mais precioso? Naaadaaaa...Que os Deuses me ajudem!"

Em Aquário, Miro entrou sem cerimônias, a procura do francês. Percorreu toda a casa, mas só encontrou Karen na cozinha, terminando de limpar tudo.

– Onde o Kamus está?

– Senhor Miro... Como vai? – Abriu um lindo sorriso – Está no banho a um bom tempo. Acho que chegou tenso e meio desanimado. – Se aproxima do escorpiano, parecendo até que ia abraçá-lo. – Não quer nada enquanto espera? Se desejar, posso lhe fazer companhia.

– Não. Vou pra sala esperar sozinho, não se preocupe. Fique aqui que não quero ser interrompido no que pretendo falar com ele. – Virou-se para a porta, mas foi segurado pela mão.

– Miro! – Parecia triste. Seus olhos brilhavam como se quisessem encher de lágrimas. – Espere! Me diz: Por que o senhor me deixou aqui? O que eu fiz que o desagradou? Anda me tratando sério e friamente desde que...

– NÃO toque nesse assunto. Não quero mais saber disso. – respirou fundo, falando calmamente de novo – Diga-me você: Kamus lhe maltrata? Falta com respeito ou lhe faz qualquer coisa ruim?

– Não... – Os olhos da garota começam a lacrimejar, permitindo que uma lágrima lhe escapasse. – Ele sempre me tratou muito bem... como uma irmã... mas é que...

– Então não tem do que reclamar. Esqueça aquilo. Não vai voltar a acontecer. Lembre-se: Naquele mesmo dia, o assunto e o ocorrido morreram. Apague da sua mente que será o melhor pra você.

– Você o ama?

– Não nos incomode. Dessa vez vim tratar de um assunto sério.

Miro puxou o braço sem quebrar o contato visual com Karen, saindo logo em seguida sem olhar para trás. A garota se apoiou na mesa. Sentia-se mal. As lágrimas caíam soltas enquanto olhava para a porta que Miro tinha acabado de sair. O olhar triste, logo se tornou nervoso. Não aceitaria perder o amor do homem que amava para ninguém, principalmente sem lutar. – "O ama, não é? Mas não será correspondido. Vai ver". – Ficou ali parada um bom tempo, até que se recompôs. Foi para a entrada do templo, limpar o pavilhão de acesso as escadarias. Tinha serviços e não queria reclamações, mas sua mente não parava de pensar em apenas um. Miro.

Na sala, Miro, enquanto esperava o aquariano sair do demorado banho, circulava pensando no que tinha dito à Karen, no que estava prestes a fazer... Sua cabeça girava. Sabia o que queria falar com ele, mas não sabia bem como. Tinha medo de expor o que sentia e ser rejeitado. Jogou-se no sofá pensativo. Notou um livro capa dura Azul-marinho sobre a mesinha de centro. Sentou-se e pegou para olhar a capa. A capa só tinha um 'K' branco, centralizado e bem desenhado.

"O que é isso? Lembro-me desse livro... o vi a quatro anos atrás, quando ele estava doente... Mas do que ele fala? Não sei se devo, mas vou dar uma olhada. Sei que não se importaria, afinal, sempre reclama alegando que eu não leio e que deveria faze-lo mais, ter mais cultura..."

O grego abriu o livro, encontrando na contra capa, três fotos que resolveu olhar. Em uma estava uma mulher de longos e lisos cabelos verdes, linda, sorrindo e agachada abraçando um garotinho que também sorria. Kamus. Abraçando os dois, estava um homem sorrindo. - "devem ser os pais dele... eram uma linda família." – Na outra foto, Miro até sorriu ao ver. Estavam todos os 'futuros' cavaleiros de ouro. Os únicos que não sorriam eram Máscara e Aioria, um em cada extremidade da foto, emburrados, os demais sorrindo e unidos como irmãos. Lembrou do dia. Saga chegou do nada com uma câmera querendo tirar fotos do grupo. Reparou em Kamus que estava centralizado, estando ele de um lado, com um braço apoiado no ombro do francês e Afrodite do outro, fazendo o mesmo. – "Até aqui..." – Ficou sério e foi por as fotos no lugar, quando reparou num envelope aberto com outra foto dentro. Era Ele e Kamus sentados de frente um para o outro como se conversassem distraidamente, quando os chamaram do nada batendo a foto surpresa. Sorriu, guardando e abrindo o livro em uma página próxima ao meio. – "Que letra linda!" – Realmente era feito a mão e tinha uma belíssima caligrafia arredondada, levemente inclinada para a direita. Começou a ler.

(...) É sempre a mesma coisa. Vive ficando com uns e outras, o que me deixa louco. Mas nada posso fazer, senão, me afastar. Não temos nada um com o outro, o que não me permite exigir mais atenção, ou impedir que tais coisas aconteçam. Se tivéssemos algo, seria como um sonho. Teria minha felicidade de volta. Mas o que estou falando? Ele nunca seria capaz de ter algo sério com ninguém. Muito menos com alguém como eu. Como ele, também sou um homem e sei que não sou de chamar muita atenção.

Não sei bem como tudo começou, mas tive certeza do que sentia quando ele passou mais tempo ao meu lado. Nunca pensei que uma febre e ferimentos pudessem me deixar tão feliz. É, foi quando percebi que o sentimento que subestimei achando não ser nada de mais, era algo maior que amizade. Amor. (...)

Parou de ler. Não acreditava no que estava escrito ali. – "O que é isso? Um diário? Tem partes em francês e russo. Esta parte... está falando de mim...? Não acredito! Vou olhar mais a frente." – Passou mais algumas páginas, escritas em francês, parando em uma marcada com uma fita branca, voltando a ler onde estava em grego. Sem que notasse, ficou de pé, lendo tudo incrédulo.

(...) Eu o amo, mas não adianta. Não devia ter tal sentimento, principalmente para com ele. Começo a querer não possuir nenhum agora. Sofro constantemente sem que ninguém perceba, ocultando minha fraqueza demonstrando mal-humor, frieza ou tratando aos outros com indiferença. Não acredito que ele sinta o mesmo por mim. Conformo-me apenas com nossa amizade. Sou forçado a isso. Ao menos posso, assim, vê-lo sempre sorrir e ouvir aquela bela voz que raramente pronuncia algo importante ou útil. (...)

(...) Fui a sua casa hoje e o convidei para um 'aquecimento', na pretensão de no caminho, expor o que eu sentia. Não sabia como começar ou o que ele diria sobre isso, assim, fiz uma pergunta, tentando ganhar um encorajamento. Ele admitiu sentir algo por alguém. Não quis perguntar por quem, meu coração apertou. Provavelmente seria umas das pessoas que ele sempre saía as escondidas para farra. Perdi as pequenas esperanças que tinha. Quero apenas ficar só, evitando contatos com qualquer um. Sei que tem quem goste de mim, que tem quem me ame, mas não ficaria bem, não me sentiria bem se ficasse com outra pessoa senão Miro. Me corrôo por dentro ao vê-lo com outros. Raiva. Mas acima de raiva, dor e tristeza em pensar que aquele Escorpião, conhecido por ser o centro das atenções e dos desejos de muitos, nunca será meu. Dor, por pensar que nunca poderei dizer-lhe... Jet' aime. (...)

– Miro?

Kamus chegou à sala. Usava uma calça cinza claro e uma blusa branca folgada entreaberta no peito. Simples e bonita. Estava descalço. Seus cabelos estavam presos num rabo baixo por uma faixa branca, deixando apenas duas mechas querendo se soltar, caindo-lhe sobre os ombros. Tinha visto Miro lendo seu diário. – "Maldita hora para esquecê-lo sobre a mesa... Mas e agora? Maldita hora que inventei de misturar os idiomas.Deveria ter escrito tudo em francês..." – Já era tarde. O Escorpião já tinha lido algumas coisas que encontrou em grego, e, por sua expressão, algo que tinha escrito sobre ele. Sobre si. Sobre ambos. Ver a estampa da surpresa na face de Miro não o agradou. Via-se sem reação, triste, recuando devagar. Trombou as costas em uma parede. Estava com os olhos bem abertos, olhando nos olhos Dele. Vendo a seriedade na face do grego. Achou logo ter perdido seu amigo. Seu amor.

Miro virou-se, olhando surpreso para o aquariano. O que significava aquilo afinal? Mal podia acreditar. Sem que percebesse, deixou que o diário caísse de sua mão sobre o sofá. Ficou encarando o francês nos olhos por um bom tempo, sério, observando-o recuar lentamente, avançando no mesmo ritmo, enquanto digeria toda a informação recém lida. Estava feliz. Como ainda não havia notado? Nem ele sabia responder.

– Kamus... – Tentou formar alguma frase, mas as palavras lhe fugiram a mente. Já estava bem próximo do francês. – Por que...

– Miro... – Se adiantou. Pela primeira vez estava diante de Miro com os olhos rasos de lágrimas. A seriedade deste lhe perturbava. – Não precisamos deixar de ser ami... – Sentiu dois dedos pousar em seus lábios, calando-o.

O grego, já à sua frente, permanecia parado, olhando-o. Olhos nos olhos. Subitamente revelou um lindo sorriso. Sorriso que Kamus tanto adorava contemplar. Os olhos azuis de Miro revelavam um grande carinho e meiguice, que, em conjunto com o sorriso e seu rosto perfeito, moldurado pelos longos cabelos ondulados pouco mais escuros que os olhos, davam-no um aspecto de anjo. Uma aparência inocente e levemente infantil. – Do que está falando? Deveria era ter me dito antes... – Falou com um sussurro suficientemente alto apenas para que o outro ouvisse.

Vendo que Kamus se calou com seu gesto, levou sua mão que pousava sobre os lábios à nuca, puxando-o para um beijo, pousando a outra mão na cintura. Só os Deuses poderiam imaginar o quanto desejava aquele beijo.

Kamus estremeceu ao sentir a mão do homem que amava acariciar levemente seu rosto indo em direção a nuca, puxando-o. Uma gostosa sensação e um arrepio na coluna ao sentir aqueles lábios tão macios tocando os seus. A respiração quente tocando sua face e a outra mão em sua cintura. Estava prensado contra a parede e sem pensar, passou os braços pela cintura de Miro, abraçando-o. Instintivamente entreabriu os lábios, ao sentir a língua do amado pedindo passagem. Permitiu ter sua boca explorada e logo explorando a do escorpião, sentindo o gosto do veneno que tanto desejou provar.

Miro mal acreditava. Estava beijando-o! Sempre que se imaginava fazendo tal, também via-se sendo empurrado ou atingido por qualquer golpe, mas nada aconteceu. Parecia um sonho, ao qual não queria acordar. A sensação de sentir aqueles lábios macios e rosados nos seus, de poder explorar aquela boca quente que tanto sonhou era única.

Haviam se entregado completamente ao beijo, se afastando para recuperar o ar.

– Sabe Kamus... te amo. Só não sabia os seus sentimentos... Até hoje.

– Miro...

– Que acha de assumirmos um compromisso sério? Hoje logo após a festa, ainda na presença de todos? – falava olhando-o nos olhos.

– Compromisso sério? Você?

– Sim... – Se aproximou novamente – Por que não? – Já colava seus lábios novamente, falando num sussurro extremamente sensual.

– Tem certeza? – Falava no mesmo tom de Miro. Queria beijá-lo novamente. Abraça-lo, mas se manteve firme. Por que o Escorpião malandro iria querer assumir algo sério? – Você quer realmente se prender a mim?

– Sim... só a você, da mesma forma que o quero só pra mim... como sei, agora, que sempre foi. – Começou outro beijo sem deixar que Kamus respondesse, fazendo-o aceitar nos gestos e beijo, mas que foi interrompido por vozes no corredor que levava à sala.

– MIRO! Apareça seu fujão! – Afrodite chamava frustrado. Já o procurava há algum tempo.

Kamus, envergonhado, se afastou. Foi até o sofá pegar seu diário para guardar. Não sabia o que fazer e ao olhar o Escorpião, que não parava de sorrir, se sentiu mais perdido ainda.

Afrodite entrou na sala. Olhou Miro com um sorriso diferente nos lábios, que logo mudou para uma expressão de raiva, num canto da sala, e Kamus do outro lado, sem jeito, guardando um livro na estante.

– Fala o que quer Afrodite! Tava tratando um assunto importante com Kamus. – Olhou para Kamus, que ficou levemente corado.

"Por que tinha que ter falado isso?" – Pensava Kamus, virado para a estante.

– Sei... – olhava para os dois. – Bem, mas agora tenho trabalho pra você, Miro. – Cruzou os braços, ficando sério. – Você ficou encarregado de pegar as músicas junto de Aioria e Aldebaran. Shura, Shaka e Mu ficaram encarregados das bebidas e temos trabalho a fazer se queremos realmente comemorar hoje!

– E você, seu folgado? Só porque vai ceder a casa não faz nada?

– Não, espertinho. Eu vou arrumar tudo e fiquei encarregado da comida. Máscara não vai colaborar por estar terminando o treino de um discípulo... Sim! – Voltou-se para Kamus, sorrindo - Karen está lá em casa, viu? Pedi que ajudasse minhas servas com a preparação, já que ela deve ter tanto bom gosto quanto você, por conviver aqui.

– Tudo bem, mon ami.

Afrodite sorria para Kamus, logo voltando a encarar Miro, sério. – E você? Vai logo que temos pouco tempo! – Empurrando-o para a saída.

– Ei! Pera! – Parou na porta se segurando enquanto era empurrado. Olhou para trás. Para Kamus que via a tudo achando uma graça. – Você vai à festa, né? Lembra do que eu disse?

– Oui, mon cher. Estarei lá com certeza. – Respondeu com um sorriso sem graça.

Miro sorriu ao ouvir a resposta que queria. Iriam surpreender a todos com a notícia de estarem namorando. Afrodite logo conseguiu enxotá-lo pra fora de Aquário, fazendo que Miro resolvesse fazer logo seu trabalho e descesse as escadarias correndo. O Escorpião não alterava seu sorriso de felicidade e satisfação por nada.

– Aquele não muda. – Afrodite resmunga o olhando sair da casa indo para as escadarias. – Kamus... – Voltou a olhar o francês – Vai mesmo à festa? Miro o convenceu a ir?

– Oui, ami. Ele me mostrou um bom motivo para comemorar. Irei à festa. – Revelou um sorriso - Pode me dizer onde será e que horas?

– Claro! Minha casa e as oito. – Parou, pensando um pouco. - Pode me ajudar na cozinha? É muita coisa e eu, mesmo tendo ajuda de seis servas, não posso dar conta de tudo. Três vão limpar e arrumar tudo e Karen e as outras duas vão me ajudar a cozinhar. Pode ajudar também? – Estava com os olhos brilhantes e suplicantes.

– Está bem. Vamos. – Kamus sabia o quanto Afrodite odiava ficar cozinhando e como tinha habilidades, resolveu colaborar.

– Sabia que eu adoro quando você está de bom humor? Pegue sua armadura. Já estão quase todas lá. Só falta a de Gêmeos e Sagitário, fora a sua.

– Certo.

Kamus pegou a Armadura de Aquário e acompanhou Afrodite até Peixes. Podia-se ver que a casa era muito bem arrumada e de extremo bom gosto. Tudo muito claro e o ambiente bem perfumado com o aroma das rosas que vinha do jardim. Deixou a urna na sala, junto às outras, e acompanhou o sueco até a cozinha. Passaram o resto da tarde fazendo os petiscos e conversando. Afrodite tentou fazer com que Kamus dissesse o que estava falando com Miro. O que faziam quando chegou, mas nenhuma resposta lhe foi entregue, apenas "Surpresa. Em breve saberá."

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Sete horas da noite. Kamus já estava de banho tomado e deitado em sua cama. Resolveu descansar um pouco. Fechou os olhos, tendo a mente e o corpo invadidos pela sensação do beijo que recebeu à tarde. Cansado, sem que percebesse rendeu-se ao sono.

Acordou assustado, vendo no relógio quase nove horas. Arrumou-se apressado. Subiu o quanto antes as escadarias.

Ao entrar em Peixes, teve algumas atenções voltadas para si. Como sempre, gostava de andar bem arrumado. Usava calça e sapatos pretos com uma camisa branca de botões, estando dois desabotoados revelando de relance a pele clara do peito, tendo as mangas dobradas à altura dos cotovelos. Os cabelos, bem penteados e lisos, caiam-lhe livremente nas costas. Esse visual acompanhado de seu olhar que mais parecia a imensidão do mar e seu sotaque francês, era arrebatador para muitos.

Observou que tinha como convidados alguns poucos cavaleiros de prata, duas amazonas - Marin e Shina - algumas aspirantes a amazonas e as servas mais próximas, cotadas como amigas. - "Interessante... Onde estará Miro? Ainda não o vi. Karen também não." – Passava pelo salão, em direção a mesa de bebidas, vendo uns pilares que exibiam as urnas douradas. – "Onde estarão as urnas de Aioros e Saga? Será que não vieram?"

A música estava alta, mas não a ponto de incomodar ninguém de conversar ou raciocinar. Chegou à mesa. "Bem que Ele poderia ter me chamado para virmos juntos. Ele não quer assumir? Será que ainda não veio?" – Pegou uma taça, enchendo de vinho tinto. Retirou-se para um lugar mais afastado. Encostou-se numa pilastra observando o movimento, dando vez ou outra pequenas goladas no vinho.

– Kamus! Não esperava encontra-lo aqui. – Shaka abriu um sorriso ao encontrar alguém que poderia conversar algo com mais cultura. Não conhecia ninguém além de Kamus e Mu para ter um assunto útil.

– É, me vi disposto a vir.

– Me parece animado... O que aconteceu?

– SHAKA! – Mu apareceu do nada já puxando o loiro, assustando a ele e Kamus. – Aldebaran e Máscara vão se atacar se não detivermos a discussão besta deles. Você é o mais respeitado, vem logo...

– Ah.. ta... Depois nos falamos Kamus... – Foi puxado pra longe a fim de apartar brigas.

Kamus apenas deu um aceno.

A Música que tocava foi interrompida sob protestos, sendo tocada agora Toxic – Que foi logo aprovada pelo povo - chamando a atenção do francês. Kamus olhou para a pista de dança improvisada. Observava Miro dançando. Sozinho, mas atraindo os olhares de muitos para si. Usava uma calça azul marinho e uma camisa preta meio desabotoada, assim como a que usava. Aproximou-se.

"Exibido. Isso nunca vai mudar. Mas... É lindo vê-lo assim, dançando e esbanjando sensualidade. Ele sabe o quanto é bonito e atraente."

– Mestre Kamus! – Uma doce voz soou aos ouvidos de Kamus, interrompendo seus pensamentos.

– Olá, Karen! Então ficou pra comemorar... Está gostando da festa?

– Sim. – Deu um belo sorriso, costumeiro seu. Estava linda. Os cabelos delicadamente presos, davam-na um ar angelical. Usava uma túnica rosa claro, de um decido fino que ganhou de Afrodite, que media pouco acima dos joelhos e uma delicada sandália branca que cruzava em seu tornozelo. – O Senhor viu o Miro? – Perguntou com inocência na voz.

– Está...dançando. O que tem ele? – Estranhou a pergunta. Era óbvio até para o aquariano distraído que a pergunta não era normal. Tentando despistar, deu outro gole no vinho. A taça ainda estava pela metade. "O que está havendo?"

– É que ele ficou de sairmos ainda hoje. – O coração de Kamus falhou uma batida ao ouvir isso. Seria verdade? - Acho... que ele quer ter algum relacionamento comigo. Estou tão feliz, mestre... Ele tinha falado comigo há pouco. Tinha brigado comigo hoje a tarde, mas parece ter se arrependido. Acho que ele sente algo por mim.

Kamus permaneceu calado. Não queria acreditar no que ouvia. Ficou confuso em seus próprios pensamentos, e Karen, conhecendo bem o mestre, notou.

"Será que Miro quer mesmo ter algo com ela? Mas... Então porque agiu daquela forma comigo? Ele seria capaz? Seria... eu já o vi saindo com tantos que nem é possível contar. O que me dá a segurança de que não sou só mais um da sua lista de conquistas? Que ciúme besta. Antes de tudo, ele é meu melhor amigo. Não seria capaz... deve ser só um mal entendido. Que ridículo... Isso também não faz sentido ser. Lembro que ela sempre o olhava quando ia me visitar em casa e que vez ou outra, ele a encarava também por instantes. Será que estão tendo algo mesmo? Não... Não pode ser."

A música acabou e Kamus nada percebeu. Estava com a mente dispersa em pensamentos confusos e com o olhar vago, na direção da pista de dança. Miro, ao parar de dançar, caminhou em direção ao Kamus, todo sorridente, feliz em vê-lo. Estava lindo.

– Demorou, Kamus! – o francês parecia ter acordado de um transe, encarando-o com olhares interrogativos. Notou a moça ao seu lado e se espantou. Achava que estava começando a entender. – Karen? O que está fazendo aqui?

– Não se lembra do que combinamos? Vim ficar com você, Mirinho! – Sem ter dado tempo para Miro pensar, ela o abraçou, beijando-o. Um selinho apenas, mas o suficiente para estragar a tudo, incluindo, o coração de Kamus.

CONTINUA...

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Aí está mais um capítulo... Acho que dos escrevi, o melhorzinho. Se não conseguir publicar um capítulo por fim de semana, peço desculpas. Para escrever este, já tive de ter paciência com meu irmão e com meu PC dando problemas... Mas superei tudo na raça! Estou agora tentando por a fic no ponto de vista tanto de Kamus, quanto no de Miro. Espero estar conseguindo. Não é fácil. Nessas horas que um pouquinho mais de experiência seria muito, mas muito bom. Podem falar, o primeiro beijo dos dois foi péssimo. Bem, eu tentei. Queria que saísse bonitinho, mas acho que não saiu muito legal. A história do Diário ficou meio "novela mexicana", mas mesmo assim eu quis deixar. Gostei dele.

Como sempre: Direitos autorais à Masami Kurumada, que criou todos estes lindos personagens, com exceção de Shino ( Mestre de Kamus) e Karen, que foram criados por mim para esta fic.

Observações: Gostaria de esclarecer que criei esse mestre para o Kamus por não haver boatos (não que eu tenha visto) dos mestres dos douradinhos, nem em anime, nem em manga, sendo citado apenas Shion como Mestre de Mu.
Li que no original japonês, o nome de Kamus("adaptado" para o português) se escreve Kamyu, mas resolvi usar essa versão apenas como uma forma carinhosa do Afrodite chamar o Aquariano. Podem me apedrejar se desejarem.

No manga, diz que o Grande Mestre tem o poder de olhar nas estrelas o futuro. (Saga G)
A música Toxic pertence a cantora Britney Spears.

Mais uma vez agradeço aos reviews e adoraria continuar recebendo mais. Fico muito feliz por estar agradando. Criticas, sugestões, comentários, se quiserem me apedrejar... Peço que mandem, pois são muito importantes para mim. Incluindo os puxões de orelha XD. Bjão a todos que lerem e mais uma vez, agradeço a quem comentar.

Anushka-chan: A resposta de ficarem juntos, aí está. Tentaram. Quanto a idade, obrigada por comentar, mas é que não gosto muito do fato de terem recebido as Armaduras mais poderosas tão cedo. O Kamus com quatorze anos ensinando dois garotinhos a socar geleiras e enfrentar ursos... é estranho um adolescente cuidar assim de duas crianças. Como solução, atrasei uns anos a história.

Pittychan: Obrigada. Também adoro esses dois. Aí está a continuação e não se preocupe, pois vou terminar essa fic. É só ter um pouquinho de paciência...