5- Um caco de um sonho: a pessoa que eu amo.

A música acabou e Kamus nada percebeu. Estava com a mente dispersa em pensamentos e com o olhar vago, na direção da pista de dança. Miro, ao parar de dançar, o observou. Caminhou em sua direção todo sorridente, feliz em vê-lo. Estava lindo.

-Demorou, Kamus. – o francês parecia ter acordado de um transe, encarando-o com olhares interrogativos. Notou a moça ao seu lado e se espantou. Achava que estava começando a entender. – Karen? O que está fazendo aqui?

-Não se lembra do que combinamos? Vim ficar com você, Mirinho! – Sem dar tempo para que Miro pensasse nada, ela o abraçou beijando-o.

Miro ficou sem reação com tudo.

A garota o envolveu, tocando seus lábios com o dela com muito gosto, em seguida, ficando ao seu lado, agarrada ao seu braço direito sorrindo como se o que fez fosse a coisa mais natural do mundo. Como se já tivessem se beijado várias vezes.

O Escorpiano nem reparou que ela estava do seu lado agora, agarrando folgadamente seu braço. Apenas olhava nos olhos de Kamus, que estavam escuros, mostrando uma grande raiva não expressada em sua face. Ficou hipnotizado por instantes na imagem do homem a sua frente. Ouviu o barulho de algo se partindo. Reparou na mão direita do aquariano que estava cerrada com força, mas logo baixando ao lado do corpo, sangrando, se abrir lentamente, relaxando. Notou que alguns cacos do cristal da taça caíam de sua mão. Ficou em choque. Não conseguia pronunciar uma só palavra naqueles minutos que pareceram uma eternidade. Nunca passou em sua mente que Karen fosse capaz de ir tão longe e agir tão baixo. Kamus estava ferido, mas não só sua mão, mas sabia que também seu espírito. Coração. Tinha noção que o francês o estava odiando e só os Deuses poderiam imaginar o que ele pensava naquele momento. O que Karen o havia dito exatamente. Kamus nunca aceitaria aquilo depois da proposta de Miro.

"Kamus... Não me julgue assim... Eu te amo... Eu... Eu... sou inocente..." – pensava, mas sem conseguir dizer nada, se via enrolado e atrapalhado com todos os pensamentos que invadiam repentinamente sua mente, até que sua voz saiu finalmente, falha e rouca.

-Kamus... espera... – Foi a única coisa que conseguiu pronunciar, vendo a expressão de seu amado. Ele estava rebaixando-o apenas com o olhar. Estava destruindo o coração do escorpião só com sua seriedade e frieza. Kamus cerrou os olhos e caminhou em sua direção.

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Ao ver Karen pular sobre Miro abraçando-o e dando-lhe um beijo, Kamus ficou estático. Esperava qualquer reação do grego, mas este nada fez. Não teve tempo de formular o que se passava. Viu que a garota, sua serva, se agarrou ao braço de Miro como para provar que estavam juntos. Seu sangue ferveu. - "Miro... Como pode? Não esperava que fosse capaz de fazer isso comigo... logo... comigo..." – A taça em sua mão, que ainda estava pela metade de vinho, quebrou-se com a força que lhe era pressionada, cortando-o e sujando o chão e sua mão com o líquido tinto misturado com um pouco de sangue que surgia. Apertava a mão com tanta força que só piorava os cortes, fazendo com que os cacos apenas adentrassem um pouco mais em sua carne, causando um sangramento maior, pingando ao chão. Não sabia o que pensar, afinal, viu uma cena nada agradável. De certa forma já o tinha visto fazer isso antes, trocar de amante na frente da antiga, mas nunca pensou que um dia estaria nessa situação. Estava parado e chocado, ligeiramente irritado com tudo. Como pode acreditar que aquele homem estaria interessado nele e somente nele? Abaixou a mão, que pingava seu sangue, abrindo-a lentamente, permitindo que alguns cacos que nela estavam retidos, caíssem, vermelhos. Alguns ainda estavam dentro de seus cortes, que representavam a dor e a decepção que sentiu no momento. Seus ferimentos queimavam com a bebida em contato, mas nem se importava. Era um cavaleiro de alto nível e aquilo não o atingia, e mesmo que atingisse, não sentiria do mesmo jeito, pois seu coração doía muito mais. Olhava friamente dentro dos olhos de Miro. O queria mostrar o quanto estava irritado e desapontado. Queria que ele se sentisse baixo por tê-lo enganado daquela forma. Por tê-lo iludido de maneira tão baixa e cruel. – " 'Eu te amo'... Pensei que poderia acreditar nessas palavras que me disse... Mas vejo que fui ingênuo...um perfeito idiota!" – Pensava. Estava revoltado.

– Kamus...espera... – Finalmente ouviu miro pronunciar, mas nem deu atenção.

Cerrou os olhos e passou por eles esbarrando no ombro de Miro, lhe dizendo uma única palavra para que apenas este ouvisse.

– Divirtam-se! – E saiu a passos rápidos. Queria sair do templo de Afrodite e chegar o quanto antes em sua casa.

Afrodite tinha ouvido e visto tudo incrédulo. Estava bem perto o tempo todo, mas nada pode fazer. Caso se metesse só pioraria ainda mais as coisas, o que não queria. Apenas sentiu seu coração apertar ao ver como Kamus tinha ficado ao ver Miro com outra. – "Miro... você foi capaz de fazer isso com o Kamyu... Idiota!"

Karen observou todo o tempo os dois se encarando com olhar ingênuo, como se não notasse o que se passava. Kamus a olhou por um breve período de tempo e achou que ela era tão inocente quanto ele mesmo. Ao ver Kamus sair, abriu um grande sorriso. Um sorriso de conquista ao ver que provavelmente não teriam mais nada um com o outro. "Agora tenho o caminho aberto para Miro". Ela ainda o agarrava e olhava em seus olhos, sorrindo. O agarrou com mais força.

Aquilo era de mais para Miro. Seus olhos marejaram. Sua feição estava extremamente triste, mas logo cedera lugar a uma de um ódio profundo, ao notar que ela o agarrava, e agora, com mais força e que sorria para ele, triunfante. Como se tivesse ganho um jogo e ele era o troféu. Teve vontade de matá-la.

-O que você pensa que fez? – Puxou Karem pelo braço bruscamente, jogando-a, de forma que bateu com as costas contra uma pilastra ao lado, fazendo-a solta-lo. Apertou os delicados braços da moça.

Todos, que ainda não tinham percebido nada, voltaram seus olhares para a confusão. Miro olhava para a jovem com olhar furioso, reparando também no chão ali próximo, sujo de vinho e sangue.

-Reservei-o para mim... – Respondeu a garota abrindo um sorriso, mas logo fechando os olhos e soltando um gemido de dor. Miro apertou com mais força seu braço.

- Miro! Pare! Vai ferir a Karen! – Afrodite, que estava praticamente do lado, se adiantou a tentar conter o amigo. – "Então... ele..."

Miro logo a largou, mas não pelo pedido de Afrodite, mas pelo nojo que sentiu daquela mulher.

Afrodite, que se manteve próximo o suficiente para assegurar pela vida da jovem, agora só observava Karen e Miro se encarando, assim como os outros convidados que se encontravam próximos, que observavam discretamente.

Seus olhos azuis se encontravam nos verdes da garota. Karen lentamente mostrava um sorriso, que logo foi contido pelo olhar irritado de Miro, que repreendia cada movimento seu.

-Você está louca. – Falou friamente, como nunca pensou ser capaz de falar e agir.

-Miro...calma... - Afrodite tentava amenizar a situação, mas não lhe davam valor. Um apenas enxergava o outro. Mu e Shaka se aproximaram.

-Miro... Eu te amo... faria tudo por você. – Tentou segurar as mãos do escorpião, mas este a repeliu.

-Eu vi...vi que você faria TUDO por VOCÊ. Não ligaria se fizesse qualquer coisa para me ferir, mas logo a Kamus, que sempre a tratou tão bem... – Os olhos de Karen ficaram rasos de lágrimas.

-Ele é uma pessoa boa, mas não te merece! – Tentou parecer correta, mas só conseguiu um risinho nervoso de Miro, irritando-a. – Ele não é melhor que eu!

-É MELHOR QUE VOCÊ SIM! Você agiu baixo... queria que ele me odiasse? Parabéns, conseguiu! – A olhou nos olhos com tanta raiva quanto desprezo. – Você não presta!

De súbito, Karen o acertou um tapa, fazendo-lhe virar o rosto. voltou a encara-la em seguida. A garota chorava pelo insulto. Estremeceu ao olhar que deixou uma marca rosada o rosto de quem tanto amava, movida pelo impulso.

-Miro... Me perdoe...

-Espero que esteja satisfeita com o que já me causou e com esse tapa. – a interrompeu. Virou-se para a saída com intuito de ir atrás de Kamus, mas antes, voltou a olhar nos olhos verdes de Karen que não paravam de derramar lágrimas. – Deveria ter esquecido como te disse. Deveria se conformar. Agora, só a odeio. – Saiu a passos rápidos sem olhar para trás.

Afrodite pediu para que Shaka e Mu ficassem com a garota enquanto ia falar com Miro. Mu estava sem saber o que fazer.

A garota ajoelhou. Chorava e escondia o rosto nas mãos. Talvez envergonhada pelo que fez a Miro, talvez pelo que ouviu e na presença de tantos. Shaka, ao se aproximar, agachou. Ao tocar nos ombros da menina, se viu abraçado, servindo de consolo para uma jovem que nem conhecia. Permitiu que esta chorasse desesperadamente com o rosto em seu peito.

-Miro! Espere! – Afrodite o alcançou já na saída. Colocou uma mão sobre o ombro direito deste. – É melhor deixar Kamus sozinho... ao menos hoje. Amanhã, com ele mais calmo, você conversa e...

-Não amola Afrodite! – Miro o olhou nos olhos ao interromper. Estava chorando. – Você é outro... não ta nem aí, só quer nos separar também... me deixe em paz! – Saiu a passos rápidos para Aquário.

-Miro... você é cego... – Afrodite disse dando um longo suspiro, voltando ao seu templo. -"Amanhã tento dar um jeito para se entenderem. Isso não pode ficar assim."

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Kamus chegara em sua casa com lágrimas nos olhos. Seu coração não suportou a 'brincadeira' e estava destruído. Sua mão ferida, estava envolta em um lenço rubro, que outrora fora branco, que havia tirado do bolso.

Entrou no banheiro e desenfaixou a mão, olhando o estrago. Não estava nada agradável. Os cortes não eram tão profundos, mas eram vários. Sabia que a mão em dias estaria boa, mas seu coração... Talvez não se recuperasse mais. Encheu a pia com água fria e começou a retirar de dentro dos cortes, os pequenos cacos. Estava chorando, mas não pela dor em sua mão, nem tinha reparado que ela doía, mas pela dor no peito. As lágrimas pingavam sobre o balcão da pia, onde estava apoiando a mão e deixando os caquinhos. – "Meu mestre tinha razão. Não deveria expor meus sentimentos. Não... Não deveria ter sentimentos, não com quem não os merece. Deveria saber que ele faria isso. Se há alguém nesse Santuário que não seria confiável em deixar-se amar, seria Miro... mas sou teimoso... sou...burro... por que não me apaixonei por outra pessoa?Não, não deveria nem me apaixonar! Droga..." – Cada gota salgada que deixava seus olhos e caiam sobre o balcão - misturando-se ao sangue que escorria ao ser retirado um caco da taça dos cortes - deixavam seu rosto mais sério, mais frio, distante... Como se fossem todos os seus sentimentos deixando o corpo, para torná-lo vazio. Era o que queria naquele momento: tornar-se um ser humano sem sentimentos, mesmo sabendo que não conseguiria. Amava demais aquele escorpião irresponsável e isso não tinha como mudar.

Terminou de retirar os cacos. Mergulhou a mão na água, que logo ficou vermelha. Deixou um tempo e retirou, lavando com água corrente. Com a mão limpa, secou-a com cuidado, pegou uma caixinha em uma gaveta e foi para a sala, fazer o curativo. Sentou-se no sofá. Enxugou as lágrimas que, se controlando, conseguiu que parassem de escorrer, e começou a cuidar de sua mão. Viu que não precisaria de pontos, apenas um remédio e cuidados. Seus olhos estavam vermelhos, pouco inchados.

"Se eu conseguir passar um tempo sem vê-lo, seria ótimo. Poderia me recompor... preciso ficar sozinho e pensar... Gostaria que Karen não viesse hoje; se bem que... provavelmente não virá mesmo. Ficará com Ele."

Enfaixava a mão habilmente e já estava quase terminando, quando viu que abriram bruscamente a porta.

-Kamus! Precisamos conversar... – Dizia Miro desesperado. Demorou a chegar em Aquário. Parou várias vezes no meio do caminho se perguntando se deveria mesmo falar com ele agora ou esperar que se acalmasse.

-Sério? Não tenho nada a falar. – Disse friamente, sem nem olhar para o grego. Seu rosto, antes, estava triste, mas perante Miro se fez frio e indiferente.

-Kamus...eu... Eu te amo... acredite, sou inocente... – Começava a pensar que Afrodite estaria certo. Teria sido melhor esperar que se acalmasse.

-Sei... – Disse calmamente enquanto terminava de enfaixar a mão e prendia a atadura – Sei que gosta de ser despreocupado. Sei bem que ama seu título de conquistador. Sei que gosta de saber que possui várias pessoas atrás de você, a modo que possa escolher a dedo. Sei que ama a si mesmo. Isso sim eu sei que você ama e muito. A MIM não. – olhou-o com indiferença – E desde quando o 'grande Miro' é inocente de algo que faz ou participa? Sei de sua reputação e que gosta sempre de estar com pessoas diferentes. Ora Miro, faça-me o favor e suma da minha frente! Saia de minha casa! – olhou um livro que estava sobre a mesa. Pegou-o abrindo na página marcada como se fosse ler - Karen deve estar te esperando. Você não ia se divertir na companhia dela a noite toda? Não perca tempo comigo!

-Eu não estou ouvindo isso... – Falou para si mesmo. Mal acreditou que tudo aquilo saía da boca de Kamus. Uma dolorosa lágrima percorreu seu rosto. - "Kamus não pode estar falando isso... não... meu Kamus...Eu... Não..." - Seu pensamento foi interrompido.

Pôde-se sentir dois cosmos intensos vindo do templo do Grande Mestre e depois um alarme soou no Santuário. Todos os cavaleiros teriam de ficar em alerta com isso.

-E essa agora... Mon Dieu! Hoje é meu dia... – Fechou o livro, colocando-o novamente sobre a mesa. Fez que ia se levantar, mas logo se sentou novamente. – Ótimo! Esqueci minha armadura na casa do Afrodite...

Miro olhou para Kamus, que parecia nem se importar com seu estado. Parecia que tinha deixado de amá-lo de uma hora para a outra. Nem quis ouvir o que tinha pra dizer.

-Kamus, escute o que tenho a lhe dizer. – Um barulho no corredor chamou a atenção de Kamus, fazendo com que Miro parasse o que falava.

Em pouco tempo ouviu-se passos rápidos no corredor, dirigindo-se para a sala. Miro estava de pé e Kamus sentado, mas logo se levantou ao ver Shaka entrando e usando sua armadura, trazendo com sigo duas urnas douradas, deixando estas no chão.

-E essa agora! Não vê que estamos tendo uma conversa séria? – Miro se irritou, mas sabia que era inútil. Mesmo que estivesse sozinho com Kamus, sabia que não teria atenção e que acabaria sendo expulso de lá se insistisse tanto.

O francês era muito orgulhoso e tinha razão pra não acreditar em Miro, pois este sempre fez por onde com sua reputação.

-Não há tempo pra isso. Rápido, vistam suas armaduras e procurem por Aioros. Alarme geral. Ele é um traidor; tentou matar Athena. – Enquanto Shaka pronunciava essas palavras, Kamus vestia sua Armadura. Saiu logo em seguida deixando Miro sozinho em sua casa, pois foi seguido por Shaka.

-Saco! Só precisava disso mesmo... – Resmungou o grego.

Vestiu sua armadura. Queria, agora, encontrar Aioros pra descontar tudo o que sentia. A raiva por ser interrompido numa conversa delicada porque inventou de trair o Santuário numa péssima hora, e a angustia por ter perdido seu melhor amigo e grande amor. Queria Matar alguém. Sentia necessidade disso.

– Aioros, seu maldito, se já não bastasse ter traído o Santuário, foi me escolher logo uma hora como essas? – Saiu correndo pelas escadarias a fora.

OoOoOoOoOoOoOoOoOoO

Na manhã seguinte, Miro estava jogado em seu sofá. Foi para sua casa assim que soube que Shura havia encontrado e assassinado Aioros, por volta de uma da manhã. Não tinha conseguido pregar os olhos. Apenas chorava sem parar. Conter as lágrimas durante a busca pelo traidor foi quase impossível, sempre se flagrando com olhos ou já o rosto úmidos. A verdade, é que nem se concentrou na busca, lembrando de como ficavam juntos, ele e Kamus, quando crianças, como se conheceram... Pensando apenas em como era antes seu relacionamento e como ele o encarou naquela noite. Parecia que da mesma forma que o destino cruzou seus caminhos, parecia não aceitar que ficassem juntos. Estava péssimo e só queria saber de ficar em sua casa sozinho pra pensar em como poderia reverter tudo e ter o coração de seu amado de novo voltado para si, amando e confiando novamente, ou, ao menos, como amigos que sempre foram.

O som estava ligado e tocando uns CD's quaisquer, que ele nem olhou o título pois já estavam dentro do som. Várias músicas passando e ele ali, deprimido. A cabeça baixa. Os cabelos bagunçados, a franja ocultando seus olhos inchados. A sala escura, com as janelas fechadas e cortinas impedindo que a luz do sol adentrassem anunciando mais um dia quente e ensolarado. Sua armadura montada ao seu lado. Sua camisa - a mesma da festa - desabotoada até a metade, revelando seu peitoral definido.

Começou a tocar uma música que chamou sua atenção. Era de um CD que ganhou de Kamus como presente de aniversário. Aniversário que se lembrava bem, pois queria o francês ao seu lado para comemorar, mas este disse que não podia. Que tinha de ir à Sibéria treinar com seu mestre, e que por isso deu o presente adiantado. Brigaram naquele dia. Era um CD de seleções que fez especialmente para o grego. Gostava daquela música melancólica... Gostava do CD, pois foi presente de alguém especial, mas não gostou de lembrar o que aconteceu no dia em que brigaram. As lágrimas que percorreram seu rosto no momento foram enxugadas. Voltou a refletir sobre o que acontecera, sobre aquele dia que foi magnífico e a noite que foi um desastre.

"Maldição... porque não acredita em mim, seu cabeça dura? Porque não me deixa falar?" – deu um longo suspiro. Apenas mais um de tantos que já deu. – "Sei...tem razão pra não confiar em mim. Eu também não confiaria em seu lugar... "

"Karen ainda está com ele. Agora é só ela jogar mais um pouco de seu veneno que, em conjunto com seu rostinho meigo e angelical, certamente terminaria de vez com qualquer possibilidade ou chance remota que eu teria de me aproximar ou fazê-lo me ouvir...Ele não vê que ela é a culpada? Eu já errei sim, mas nada tão grave..." – Cerrou os punhos – " por Athena! Eu preferia perde-lo pra morte do que dessa forma..."

"Eu já o fiz sofrer muito não foi? Com esse meu jeito... Por sempre sair com várias mulheres na sua frente... Por... nunca perceber que me amava mais que como amigo... por quando percebi, tive receios de ser minha imaginação... por estar vivo e ter feito você me conhecer e ter te aproximado tanto de mim... Queria estar ao seu lado para afagar sua dor. Queria ser capaz de lhe mostrar a felicidade novamente..."

"Queria...que entendesse o quanto é importante pra mim e que também estou sofrendo por estar tão longe de você e ao mesmo tempo tão perto. Sofro por imaginar não poder ver mais aquele seu olhar... aquele que só eu tinha acesso... Como eu queria consola-lo...Eu... Queria que você me consolasse... Eu te amo mais que minha própria vida..."

"Se me ouvisse e acreditasse no que pronunciaria, eu... o contaria porque sempre tentei andar com tantas pessoas, ter tantos relacionamentos e nenhum duradouro, na verdade, nenhum durando mais que um dia ou algumas horas, e... quem sabe... lhe falasse o que aconteceu entre Karen e eu."

"Não sei se ele compreenderia... mas... só o que quero é deixar tudo bem claro e acima de tudo, se possível, tê-lo novamente para mim. Poder sentir seus lábios novamente nos meus... Seu corpo próximo ao meu... seu calor..." - Suspirou profundamente –" Sou inocente, Kamus..."

–Me perdoe... – Disse com voz rouca, cerrando os olhos marejados de lágrimas. Seu coração doía de uma forma inexplicável. Apoiou a mão direita sobre seu peito, como se quisesse confortar seu coração. A música trocou, agora, tocando uma melodia mais triste.

-Senhor Miro, desculpe minha intromissão. – Entrou uma mulher já com considerável idade. Fez uma breve reverência. - A urna de sua armadura já foi trazida. – Dizia uma de suas servas. Tinha cabelos grisalhos e belos olhos negros.

-Obrigado. – Dizia sem levantar o rosto, mas em um tom doce. – Pode chamar as outras e tirar o dia de folga. Descanse hoje, minha amiga.

-Mesmo, senhor Miro? Seu estado me preocupa…Não quer mesmo que eu fique aqui pra cuidar do senhor?

-Não! Vocês também merecem descansar de vez em quando. – Miro tinha um carinho com suas servas, em especial com a mais velha, que era como uma mãe para ele. – Obrigado por tudo, Tânia, mas não quero que se preocupe comigo. Pode ir e se divirta na vila. Visite sua família…

-Sim, Miro. Se insiste, o deixarei só. Com licença. – A senhora se retirou, mas o olhando com preocupação. Gostava daquele grego como um filho. Cuidava dele desde menino, ajudando ao mestre deste, mas não deixava em hipótese alguma de tratá-lo como seu mestre.

Miro se viu sozinho em casa. Era o que precisava para pensar no que fazer. Não era muito bom em planejar coisas, pois sempre deixava tudo correr espontaneamente, mas essa situação era delicada.

O som foi desligado, fazendo com que Miro resmungasse algo inaudível, logo soltando das suas.

- O que você quer? Deixe-me em paz! Vá embora e me deixe só!

- Miro? Você está bem? – Dizia uma voz preocupada. Um homem enorme abriu as cortinas e as janelas, permitindo que entrasse o sol e ar fresco. Miro rapidamente secou as novas lágrimas que haviam escorrido, para que este não as visse. – Vi suas servas descendo as escadarias… Quando chamei ouvi o som ligado, mas ninguém atendeu... e como a porta estava aberta, resolvi entrar.

- Dei o dia de folga para as servas. E mesmo a porta aberta, não lhe dava o direito de entrar aqui assim. Já não bastou minha péssima noite? Acha que estou bem, Aldebaran?

- Não meu amigo, mas não é motivo pra me tratar assim com tanta ignorância. O que houve exatamente ontem a noite, na festa? Uma hora você, Karen e Kamus estavam juntos, e em outra já vi você brigando com Karen e nem sinal do Kamus... – Queria saber exatamente o que se passava. Tudo parecia muito estranho e repentino.

-Oh fofoqueiro... Assuntos pessoais, mas não deve ter sido difícil imaginar o que tenha sido, não acha? – Falou com sarcasmo - De qualquer forma, não quero que ninguém se meta em minha vida!

-Só queria te ajudar... – Pensou um pouco – Por que não vamos ao refeitório conversar com os outros? Todos devem estar lá uma hora dessas. Já passam das oito.

-Não quero. Vá embora que é melhor.

-Não. Anda, de um jeito nessa sua cara, roupas e vamos subir. Você também tem de se alimentar.

-Como por aqui mesmo.

-Eu sei que você não vai comer se ficar aqui assim, então vamos... – Aldebaran puxou Miro pelo braço e o empurrou até o quarto.

Miro desistiu de resistir. Aldebaran poderia estar certo e ele poderia tentar se distrair. Entrou, pegou uma calça e foi para o banheiro.

– Rápido, se arrume e vamos. Hoje é dia em que sempre nos reunimos para conversar. – Aldebaran havia reparado nos olhos inchados e vermelhos do amigo, mas não quis tocar novamente no assunto.

-Conversar sobre o que? – Miro voltou do banheiro estando apenas com a toalha enrolada na cintura - Sobre o Show que forneci ontem a noite ou sobre o traidor e seu irmão estúpido? Pode esquecer! – Entrou novamente no banheiro e encostou a porta. Podia-se ouvir o barulho do chuveiro sendo ligado.

-Deixe de frescura! Aioria é irmão de Aioros, mas nada fez contra o Santuário até agora, e seu 'Show' – Frisou com ironia a última palavra – ninguém tem nada haver com isso. Esqueça tudo e vamos. Tem de se distrair... – Sentou na cama do escorpiano, o esperando. Ouviu que, em pouco tempo, o chuveiro foi fechado.

-Não duvido que eu vire fofoca – Minutos depois Miro saiu do banheiro usando apenas uma calça preta, jogando as roupas que usava antes e a toalha úmida sobre a cama. Estava com o rosto limpo agora, aparentando estar um pouco melhor por estar com os olhos menos inchados. – mas quanto a Aioria, ele tem o mesmo sangue do traidor, e isso basta para mim. – Virou a cara, emburrado. Foi até uma gaveta pegar uma blusa – Quem não garante que ele nos trairá também?

-Miro... você nunca muda. Está assim porque alem de Aioros ter feito aquela loucura de ter se rebelado contra o Santuário, te atrapalhou na conversa de ontem a noite, não é? Só quer descontar em Aioria...

-Não se meta na vida dos outros. E só vou ficar alguns minutos, já aviso.

-Sim... como quiser... – Deu-se por vencido.

O escorpiano pegou uma blusa também preta e vestiu. Era uma regata bem justa, que definia seu corpo. Passou os dedos nos longos cabelos ondulados, para arrumá-los, vestiu sua armadura e saiu ao lado de Aldebaran sem nem conferir como estava no espelho ou se perfumar, coisa que nunca deixou de fazer. Não trocaram nenhuma palavra durante a subida.

Aldebaran apenas queria que seu amigo confiasse um pouco nele para tentar ajudar. Queria distraí-lo, anima-lo, mas Miro, diferentemente, não estava nem aí. Não percebeu o quanto o brasileiro queria que confiasse nele. Apenas pensava numa coisa:

"Kamus pode estar lá... e mais calmo...talvez ele me escute hoje. Com um pouco de sorte e calma, talvez ele entenda tudo."

Chegaram finalmente ao refeitório. Na gigantesca mesa se encontravam Máscara da Morte, Shaka, Shura, Afrodite conversando tranquilamente e Aioria, afastado de todos e com olhar triste. Shura também não estava muito animado. Havia matado alguém que considerava um grande amigo. Os demais tentavam descontrair, tentando evitar que um clima mais pesado pairasse. Aldebaran já chegou cumprimentando todos e se sentando na ponta da mesa. Miro, logo lançou um olhar de raiva para Aioria, enquanto se aproximava da mesa. O escorpiano se conteve e sentou ao lado de Shaka, ficando de frente para Máscara e Afrodite, que sentavam lado a lado. As servas logo o serviram com o café da manhã e se retiraram. Antes que tocasse na comida, seus companheiros de mesa lançaram seus olhares para ele.

-Que foi? Nunca me viram não? Que saco!

-Miro...Ontem a noite... – Shura, que também era um bom amigo de Miro, criara coragem de perguntar, mas foi interrompido.

-Não se metam no que não lhes dizem respeito! Mas que droga!– Miro se levantou e bateu com as mãos na mesa. Todos o olham, calados. Voltou a se sentar. Começou a cutucar os sanduíches, como uma criança irritada que não quer comer. Estava sem fome.

-Só ficamos preocupados... Você e Kamus... – Shaka ia começar a falar, mas parou ao receber um olhar ameaçador de Miro.

-Vamos respeitar a privacidade dele, se ele não quer tocar no assunto. – Dizia Afrodite.

-De acordo... – Shaka reparou que Mu não estava lá ainda. – Aldebaran, onde está Mu? Ele não costuma subir com você?

-Sim, mas ontem mesmo ele saiu do Santuário. Acredito que tenha ido para Jamiel, agora se foi mesmo, e fazer o que tão importante, não sei...

-E Saga e Kanon? – Shaka continuou.

-Não faço idéia, não os vejo desde que fomos receber Kamus na casa de Áries... – Miro estremeceu ao ouvir aquele nome. – Mas porque pergunta pra mim?

-Porque você é visinho dos dois. Ninguém melhor que você para saber, oras...

-E Kamus? Onde ele está? – Perguntou Aldebaran

-Com o Grande Mestre. Foi convocado logo cedo. – Respondeu Afrodite.

-Sempre sabe onde Kamus está, não é Afrodite? – Miro não conseguiu se conter, falando com ironia.

-Não Miro, mas é que ele teve de passar por minha casa, ou se esqueceu desse pequeno detalhe?

-Hump! – Miro virou a cara. Olhou para o suco e começou a mexer com uma colher pra dissolver o açúcar que acabou de por.

-Agora que reparei. Que cara é essa, Miro? Você está péssimo... – Afrodite se horrorizou ao reparar no estado do amigo.

-Tenha um dia cheio e cansativo, uma noite horrível, perca quem você mais ama, persiga um traidor se sentindo péssimo, não consiga dormir o resto da noite e logo cedo se junte com um bando de fofoqueiros que vai ver como estou me sentindo.

-Por isso está azedo... – Shaka se meteu, sendo cortado pelo olhar de Miro mais uma vez.

-Bonjour! – Kamus apareceu com seu porte altivo. Usava a armadura e trazia seu elmo sob o braço. Miro logo o observa se aproximar. Estremeceu ao vê-lo.

Estava lindo, mas uma coisa não passou despercebido por Miro. Estava extremamente sério, mais que o normal, e o seu 'bom dia' havia sido completamente desprovido de sentimentos ou emoções. Não aparentava estar nem desanimado, triste, com raiva ou magoado. Apenas vazio e frio. Seu olhar fitou cada um com um brilho diferente, ou deveria dizer quase sem brilho, sem vida?

-Bom dia. – Todos respondem, menos Miro.

-Bom...dia...Kamus. – Miro respondeu atrasado. O olhar de Kamus o incomodava, mas sabia ter sido, de certa forma, o culpado. Mesmo sendo inocente.

-Acho que não para você Escorpião. Seu estado é deplorável. – Kamus sentou ao lado de Afrodite. Nunca o havia chamado assim, apenas pelo nome de sua constelação. – Depois da missão se divertiu muito, não foi? Deve estar cansado, coitado. – Na noite anterior, Kamus nem havia reparado que o grego estava com os olhos chorosos. O pouco tempo que o observou, não o via, via apenas a lembrança do Beijo que trocaram e Karen o beijando. Se via muito confuso, mas decidiu tentar esquecer Miro.

As palavras do francês o atingiram como uma punhalada no coração e ainda vê-lo ao lado do pisciano... quase chorou com tamanha revolta. Kamus, sempre que se chateava com Miro, o Máximo que já o chamou foi por 'Miro de Escorpião', mas por tê-lo chamado só pela constelação, certamente é porque estava ainda com extrema raiva.

Todos fitaram os dois. Um clima pesado começou a pairar, deixando Miro extremamente desconfortável.

-Kamyu... Como está o Grande Mestre? Soube que Aioros o atacou ontem à noite... – Afrodite estava desesperado para mudar de assunto. Viu o quanto Miro estava passando mal com aquele olhar frio sobre ele.

-O Grande Mestre, Shion, foi fatalmente ferido por Aioros e veio a falecer. Quem está no seu lugar agora é seu irmão mais novo, Ares. Isso será anunciado logo.

-Nossa... É lamentável... E o que o Grande Mestre queria? – Afrodite continuou.

–Só queria me avisar que irei treinar um garotinho na Sibéria. Posso ficar com isso, Afrodite?- Pegou o copo de suco de Afrodite, que ainda estava cheio, e provou.

-Tá certo... – Diz Afrodite, deixando seu suco com Kamus enquanto uma serva ficou de pegar seu café da manhã e outro suco para o pisciano. Estava surpreso com tantas notícias. - Até agora, só você e Shaka que têm discípulos... – Diz todo animado, para mudar de assunto. Não gostou da idéia de ter outro Grande Mestre no Santuário – Mas quando você parte?

-Em três dias.

-Tão cedo? – Se espanta. "Só três dias pra tentar juntar os dois? Como farei esse milagre?"

-Oui...Pedi que antecipasse ao máximo. Iria ser em duas semanas.

-E quanto ao Mestre Ares agora... Ele já sabe da saída de Mu? – Perguntou Shaka.

-Provavelmente. Estou sabendo agora que ele saiu repentinamente do Santuário... Também adoraria saber onde Foram parar Saga e Kanon.

-Esses dois são um mistério. Estavam andando estranhos a um tempinho e agora, esse desaparecimento. – Shaka pensou alto.

-Fora a surpresa de Aioros ter nos traído sem justificativas... – Máscara falou pela primeira vez. Aioria se retirou, voltando pra sua casa. – Mais nada me surpreende agora... – riu.

-Prefiro deixar quieto. Não vou me meter na vida de ninguém. Tenho muito mais o que fazer. – Kamus voltou a beber 'seu' suco, terminando num só gole. Estava a esperar sua comida.

Fez-se um silêncio perturbador. – ao menos para Miro.

-Kamus... – Miro reuniu coragem para encarar aqueles olhos novamente. Deu um gole em seu suco e apoiou o copo sobre a mesa novamente. Estava visivelmente nervoso e hesitante. – Preciso conversar com você mais tarde... Preciso que escute o que tenho pra lhe dizer...

-Não tenho nada pra ouvir de ou sobre você, Escorpião. – Se levantou, lançando sobre Miro um olhar frio e de superioridade. – O que poderia me dizer que seria importante, lógico ou verdade? – com ênfase na ultima palavra, deu as costas para os amigos. Caminhou para a saída, deixando a serva que se aproximou com a bandeja nas mãos. – Perdi o apetite. Tenham um bom dia! – Deu um breve aceno sem olhar pra trás e saiu. Todos ficaram olhando chocados o 'novo' Kamus que surgiu da noite pro dia.

Miro olhou a cena sem saber bem como agir. O odiava tanto assim? Empurrou seu prato e cruzou seus braços sobre a mesa, abaixando a cabeça.

-Não deveria ter brincado com os sentimentos dele, Miro... – Shura pronunciou, mas logo se arrependeu ao ver o olhar de censura de todos para si.

Olharam para o grego, mas nada pronunciaram. Apenas ficaram calados, terminando cada um sua refeição e se retirando. Ficou apenas Afrodite como companhia.

-Miro... – Afrodite falou após um tempo sozinho com ele, só o observando de cabeça baixa.

-O que você quer?

-Fazer uma pergunta. – Fingiu não ligar para a rispidez da resposta. – Você sente algo por Karen? Seja atração ou...

-Não ouse mencionar este nome! – Miro finalmente ergueu o rosto. Mostrava fúria por ter ouvido aquele nome. O nome de quem provocou tudo.

-E seus sentimentos por Kamyu são realmente puros?

-Porque me pergunta isso? O que você quer com o Kamus? Você o ama? Aproveite o caminho aberto e que ele gosta de você e te respeita... – Seus olhos voltam a marejar.

-Seu estúpido ignorante... eu gosto muito sim de Kamyu, mas como amigo e nada mais. E saiba que posso tentar fazer algo para que voltem a pelo menos a se entenderem.

-E o que ganharia com isso?

-Nada, só quero tentar devolver a alegria a um amigo querido, ou você pensa que faço por você? – Cruzou os braços. Falava agora com o escorpiano no mesmo tom que este o falava – Ontem a tarde, enquanto me ajudava com os aperitivos, estava visivelmente feliz, mesmo que tentasse não demonstrar... Lembro até que ele disse que eu teria uma surpresa ao final da festa, mas duvido que tenha sido sobre Aioros ou você com a Karen que ele tenha mencionado... Você pode imaginar como me sinto em tê-lo visto daquela forma e depois dessa em que se encontra?

Miro fez uma cara feia.

– E como você pensa que estou me sentindo por saber que ele está assim por minha causa? E ainda por cima, me acusando de algo que não fiz. Eu o vi feliz, Afrodite. Compartilhei desse momento com ele e sei de qual surpresa que ele mencionou. Naquele dia, eu descobri que ele sentia por mim o mesmo que eu sentia por ele. Tive certeza e me declarei. Iríamos assumir um compromisso... um compromisso sério.

-Você? Um compromisso sério? – Afrodite não pode conter a surpresa.

-Sim, porque não? Eu o amo. Karen que teve de estragar tudo... - mantendo a cara feia, fitou-o com curiosidade - Mas o que você poderia fazer pra tentar remediar tudo?

-Conversar. Ao menos a mim ele escuta...

Miro se levantou e caminhou para a saída do refeitório. Sua cabeça baixa, fazia com que sua franja farta ocultasse seus olhos. – Faça o que quiser. Agradeço que tente, indiretamente, me ajudar, mas eu mesmo vou tentar falar com ele.

-Miro espere... – Afrodite se levantou – mas isso pode acabar piorando... – Miro já havia saído. – Ele nunca muda... ­- "Farei o que puder Miro e mesmo que não goste de mim, nunca tive nada contra você." Pegou o elmo de sua armadura sobre a mesa e segura sob o braço, enquanto se retirava a passos lentos. "Mas temo que só uma pessoa possa reverter isso..."

Miro decidiu ir para Aquário. Queria tentar ter uma conversa com Kamus de forma mais calma. Queria ser ouvido. Mesmo que não adiantasse nada, queria explicar muitas coisas. Caminhava a passos rápidos, mas estava hesitante.

OoOoOoOoOoOoOoOoOoO

Kamus entra em sua casa. Estava extremamente triste, mas sua face permanecia a mesma, sem demonstrar nada. Fechou a porta e se encostou nesta, fitando o teto.

"Seu estado estava horrível. Não deveria ficar assim... Como posso me deixar levar? É fingimento... É o que ele quer que eu pense e sinta pena. Quer que eu finja que está tudo normal e que nada aconteceu..." – Colocou a mão direita sobre o coração. – "maldito sejas, Miro...Porque me enganou daquela forma?Você não tem coração?" – Olhou sua casa. Estava arrumada e limpa. O livro e a caixa de medicamentos que estavam largados sobre a mesinha de centro não estavam mais lá, assim como os CD's que estavam sobre o som, que haviam sido deixados largados.

- Está tudo em ordem novamente...

Kamus nunca foi desorganizado. Mantinha tudo sempre em seu devido lugar, mas quando voltou da busca por Aioros, custou a pregar os olhos. Recusava-se a perder o sono por quem não merecesse e, mesmo conseguindo dormir, logo acordou com um pesadelo. As imagens do passado ao lado de quem tanto amava, daquela festa, seu beijo com Miro, Karen com Miro... Ficou o resto da noite ouvindo músicas leves, com os olhos fechados. Inúmeras vezes enxugando as lágrimas mais teimosas que lhe escapavam. Jamais perdoaria o fato de Miro tê-lo enganado e brincado com seus sentimentos daquela forma. Arrependeu-se de manter aquele diário que ganhou quando pequeno de sua mãe. Amaldiçoou-se por tê-lo esquecido sobre a mesa àquela tarde, dando ao grego uma chance de ler e ter coragem e ousadia de se aproximar... de brincar com sigo.

Caminhava em direção ao seu quarto quando viu uma pessoa sair da cozinha e fita-lo.

-Já veio? Vejo que arrumou tudo... Merci.

-Desculpa não ter voltado ontem, Senhor.

-Não tem problema, mas acho que sua diversão foi interrompida, não?

-Foi um caso urgente e antes, Miro disse para que eu o esperasse que ia ver se o senhor estava bem, pois aparentava estar passando mal lá e machucou a mão… - Olhou para as mãos do mestre e abaixou a cabeça. "Pena ser preciso enganá-lo para ficar com meu amor... O senhor sempre foi muito bom para mim...". Kamus fez menção de se retirar, parando ao ouvir a garota falar mais uma vez.

- O senhor me odeia? – Falou com uma expressão triste, ligeiramente melancólica. – Está me tratando com tanta frieza…

Foi pego de surpresa. Virou-se para a jovem que mirava em seus olhos. Ainda não tinha parado pra pensar sobre ela. Com um gesto suave pousou sua mão sobre a bela face da moça. Sua expressão não mudou, mas seu olhar ficara mais doce.

-Não, Karen. Teria motivos para odiá-la? – Falou docemente.

O coração da jovem serva falhou uma batida. Qualquer outro a odiaria mesmo que pensasse que ela era inocente pelo simples fato de estar com o outro, mas Kamus não. Ainda a tratava com ternura.

–Vi que você o ama e deve ser correspondida, afinal, quando o beijou ele nem reagiu… mas cabe a você julgar se deve ou não ficar com ele. Julgar se ele a merece e se você o merece...

-Senhor... – Não conseguia acreditar no que ouviu. Se sentiu mal, mas fez aquilo por amor. Se foi por amor, então é perdoável, pensava. Agora, teria caminho aberto.

-Karen, quero pensar agora e descansar um pouco. Não me incomode, sim? – Deu alguns passos em direção ao quarto. Logo parou, falando sem encará-la. – Karen... sei que não tem pra onde ir e que depende de dormir na casa quem trabalha, mas poderia voltar a trabalhar em escorpião? Você se importaria?

-Não... não senhor... mas meu trabalho não o agrada? – Não acreditava… seria verdade que voltaria a passar o dia na casa de seu amor?

-Não é isso. Não tenho nada contra você, mas não me sentiria a vontade tendo você aqui comigo agora.

-Mas porquê? O senhor... o... – Falou com um olhar ingênuo, mas sabia da resposta.

-Amanhã de manhã você irá, então. Escreverei um bilhete explicando tudo a Miro e você mesma o entregará, quando for. – Se retirou sem permitir que nada lhe fosse pronunciado. Karen ficou ali, parada, espantada por um tempo. Surpresa por seu mestre indiretamente ter-lhe assumido o que sentia. Sorriu.

"Miro... Logo estarei novamente ao seu lado... Em fim, tudo o que fiz não foi em vão...feri uma pessoa boa, mas foi por amor... meu amor..." – Foi para a cozinha com um grande sorriso nos lábios.

Kamus estava desanimado e foi para o quarto. Fechou a porta e dirigiu-se para sua suíte. Despiu-se e entrou na banheira para tomar um banho frio de demorado. Era uma banheira grande e com boa profundidade, sendo branca com detalhes prateados, mostrando muito bom gosto. Manteve sua mão, ainda enfaixada, fora da água. Molhou o cabelo e recostou sua cabeça no encosto da banheira para refletir de sua decisão sobre Karen. Estaria fazendo a coisa certa? Ao sair, se secou e desenfaixou a mão para lavá-la na pia e refazer os curativos, voltando a passar a pomada e a enfaixar sua mão ferida. Vestiu apenas uma calça azul marinho de seda, levemente folgada, que contrastava com sua pele alva. Penteava seus longos cabelos úmidos enquanto se olhava no espelho.

Na sala, ocultando o cosmo, Miro entrou tempestivamente. Sentiu o cosmo de Kamus no quarto e se dirigiu para lá sem nem reparar que Karen o observava da cozinha.

"Pobre Miro... Não entende que só vai piorar as coisas? Se deixa-lo quieto, um dia poderão voltar a ser amigos, mas assim..." – Pensava a garota, logo voltando aos seus afazeres. Não parava de sorrir. "Só terá a mim…"

Kamus deixou a escova sobre o balcão, só agora reparando que ele não mais tinha manchas de sangue. "Karen é rápida no trabalho. Sentirei falta dela aqui tanto pra me ajudar quanto daquele sorriso que sempre exibe. Ela é como uma irmã pra mim."

Saiu da suíte e ao olhar para o quarto, é surpreendido por uma imagem sentada em sua cama. Seu olhar, que era triste, logo ficou frio ao olhar aquele homem. Perante Miro, tinha de repor sua máscara de frieza.

-Você! – Disse com indiferença. – Karen está na cozinha...

Miro estava apoiado nos braços, jogando o peso pra trás. Olhou calado para Kamus, admirando a beleza do francês. De fato estava lindo com aquela calça escura que dava contraste com sua pele clara. Seu corpo definido, porem não muito musculoso, chamava a atenção de Miro. Sua mão enfaixada, dava-lhe até um charme, pois foi vista ao lado do rosto delicado, pondo alguns fios rebeldes do cabelo atrás da orelha. Olhou aqueles lábios rosados ao qual só provara uma única vez. Teve vontade de beijá-lo novamente. Abraça-lo... Mas sabia que não seria possível. Parou seu olhar nos olhos de Kamus, que mais pareciam a imensidão do mar. Misteriosos, vazios... Frios.

-Não comece. Dessa vez você vai me ouvir, Kamus.

CONTINUA...

OoOoOoOoOoOoOoOoOoO

Oi Gente! Está difícil arranjar tempo pra continuar a escrever, mas to me virando. Ao menos meu pc já está bom. Estudar é o que mais me tira o tempo, mas como diz um bom amigo meu: Pra tudo dá-se um jeito. Espero do fundo do meu coração que estejam gostando dessa fic. To me empenhando nela. Nesse capítulo não aconteceu muita coisa, mas quis mostrar como cada um ficou naquele dia após o acontecido, focando principalmente em Miro. Como podem notar, estou seguindo (um pouco) o anime, mas não estou sendo tão fiel. Uma prova é a idade que os douradinhos ganham suas armaduras... Athena aí ainda é um bebê... e por aí vai, mas são só detalhes.

Como sempre: Direitos autorais à Masami Kurumada e cia, com exceção de Karen e Tânia, que foram criadas por mim para essa fic.

Também gostaria de Agradecer a todos os Reviews. Eles me incentivam a continuar e a arrumar tempo não sei de onde. E peço também que continuem a mandar. Não parem! Quero saber como estou me saindo pra melhorar meu trabalho. Criticas, sugestões, dicas... tudo será muito bem aceito: Chibiusa-chan: Obrigada por elogiar o diário do Kamus. Não sabia que eu tinha talento pra diários. Quem sabe um dia eu não compre um pra mim e escreva, né? Rss. Espero que esteja gostando, miga.Kitsune Youko: Bom, eu soube que no Brasil que o nome dele é Camus com "C", No Japão se escreve com "K" e fala Kamus, mas se escrevendo Kamyu… Que eu saiba, não tem nada de francês… mas agora você me confundiu… óò? E entendo que esteja contra Karen. Quem não está?

Agradeço aos elogios e a todos os reviews. Bjos a todos. Até o próximo capítulo!