9- Sonho e…Despedida?

Miro estava em seu quarto, sentado em sua cama. Vestia apenas uma calça e uma camiseta e tinha Kamus encostado em si, com a cabeça tombada para trás. Conversavam. Miro, alegre, sentia as suas mãos que envolviam o francês serem apertadas como se Kamus não quisesse nunca sair dali, daquele abraço quente que o envolvia.

– Vou indo... Eu... Tenho que ir... – A voz de Kamus estava visivelmente triste.

– Mas ainda é cedo... Anoiteceu à pouco... – Miro ergueu Kamus, virando-o para si, iniciando um beijo.

Kamus retribuiu o beijo inicialmente, mas virou o rosto com uma expressão triste.

– Vou indo. É preciso... Adeus! – O aquariano se levantou, tentando sair, mas foi segurado pelo pulso.

– Ei! Adeus? – Miro perguntou. Kamus nunca disse adeus a ninguém. Por que estaria dizendo repentinamente agora e para ele?

Kamus pegou seu elmo sobre a cama e fechou os olhos, puxando o braço bruscamente e saíndo do quarto de Miro sem olhar para trás. Saía sério e com expressão melancólica, fechando a porta atrás de si.

Miro levantou de supetão, indo atrás de Kamus para saber porque agia tão estranho. Sentiu a presença de Kamus já desaparecendo.

Correu desesperado.

Chegou ao pavilhão de acesso vendo seu amado no chão extremamente pálido. Caído sem vida.

– Kamus! – Gritou Miro. Acordou trêmulo, sentando na cama, revirando o quarto com os olhos. Via-se nu, sozinho, na cama bagunçada e as cortinas fechadas escurecendo mais o quarto bagunçado. – De novo esse sonho! Ai... – pôs a mão na cabeça. Latejava. Miro estava tonto. – Onde ele está? Era pra estar aqui...

– Senhor Miro? – Tânia bateu forte na porta do quarto do grego. Sua voz parecia preocupada. – O senhor está bem?

– Tânia! Espere, já vou abrir a porta... – Levantou zonzo, vestindo uma cueca e uma calça preta. Caminhou até a porta, abrindo-a, notando que não mais estava trancada. – O que foi, Tânia?

– Ouvi um grito do senhor e me preocupei! O que houve?

– Aquele sonho de novo... Mas agora acompanhado de uma terrível dor de cabeça... Estou tonto e com um pouco de frio... O tempo está fechado hoje?

– Não senhor... – Tânia pôs uma mão na fronte de Miro e a outra na própria. – O senhor está febril... – falou preocupada. – Vista uma camisa e deite-se, senhor! Logo lhe trarei algo para comer; o senhor precisa descansar...

– Não tenho tempo pra isso... Onde Kamus está?

– Ele deve ter saído cedo, senhor. Todos provavelmente ainda dormiam quando ele partiu. – Miro levantou uma sobrancelha. Como ele ousou sair e deixá-lo sozinho na cama depois de uma noite daquelas? Voltou para o quarto e abriu as cortinas para clarear o ambiente. Procurou de algum bilhete, qualquer pedaço de papel que fosse. Sem sucesso.

– Não acredito que nem um bilhete ele deixou! Ai... – Falou bufando mais para si que para Tânia, sentindo a cabeça latejar mais forte. Sentando na cama com uma mão na testa.

– Ele deixou uma coisa sobre a mesa da cozinha. Acredito que seja para o senhor tomar...

– E o que é? – Olhou para Tânia com os olhos brilhando.

– Parecia-me suco de rabanete. (1)

– Eca! Por que ele me deixaria isso? – Fez uma cara de horror ao ouvir o sabor do suco.

– Dizem que é bom para gripes. Ele deve ter visto que ficou pior durante a noite e antes de sair, preparou.

Miro levantou-se, indo para a cozinha, sendo seguido por Tânia. Viu uma pequena jarra de suco sobre a mesa. Realmente Kamus o deixou um "maravilhoso" presente.

– E como devo tomar esse troço?

– Três vezes ao dia, Senhor.

– Quis dizer no sentido de conseguir engolir, mas... – Miro pegou uma xícara no armário e foi para a mesa, sentando-se. – Prepara-me um sanduíche?

– Claro, Senhor! – Tânia fez uma reverência, indo pegar o pão e recheios.

Miro pôs a xícara pela metade com o suco, encarando-o por um tempo. Por fim, quando viu os sanduíches ao seu lado, tomou coragem e entornou todo o líquido de uma só vez. Fez uma grande careta ao terminar, pegando o sanduíche e dando-lhe uma grande bocada.

– O senhor nunca gostou de remédios, não é?

– Não, e muito menos os naturais... – Tânia sorriu. Miro deu mais algumas bocadas no lanche, tentando melhorar o gosto em sua boca, e largou o outro sanduíche no prato. Levantou-se.

– O senhor não vai terminar de comer?

– Não estou com muito apetite... – Miro pensou um pouco e soltou umas risadas. – Parece até que estou de dieta, não? Atchim!

– Sim, e não me agrada. O senhor está doente e tem de se alimentar!

– Ah... Depois conversamos isso, sim? Vou para Aquário procurar notícias de Kamus! – Deu um beijo estalado no rosto de Tânia.

– Deveria passar o dia descansando para amanhã estar melhor, senhor! – viu Miro dar-lhe as costas – Escute-me!

– Eu sei me cuidar! Não se preocupe! Logo estarei de volta. – Saiu sem dar tempo para que a velha serva o repreendesse.

Miro voltou para o quarto. Pôs uma camisa branca, vestiu sua armadura, penteou os cabelos e escovou os dentes. Sairia impecável de sua casa se não fosse a expressão doente e o lenço em sua mão. Passou por Capricórnio, cumprimentando Shura, e chegou pouco tempo depois em Aquário. Bateu à porta.

– Senhor Miro! – Falou, timidamente, com sua voz baixa e suave. – Desculpe a demora. Entre, por favor! – A nova serva de Kamus abriu a porta para a entrada do cavaleiro.

– Obrigado! – Miro entrou, olhando o ambiente que estava extremamente organizado e exalava cheiro de limpeza.

– Desculpa, estava limpando a casa... – falou de cabeça baixa.

– Nem ligo! – Miro mostrou simplicidade. Vendo aquela garota falar, parecia até que a casa estava um caos, porém via-se o contrário. Estava melhor até do que a sua, que Tânia e as outras servas não paravam de tentar organizar. – E Kamus? Que horas ele voltou?

– Acho que meia noite ou uma hora, senhor...

– Como assim? – Cruzou os braços.

– Eu o esperava, mas acabei dormindo sentada à mesa... – A garota ficou visivelmente corada. – Ele me acordou, pedindo que lhe preparasse um banho enquanto ia arrumar a mala. Quando fiz o que me pediu, ele disse que eu já poderia ir me deitar...

Miro fez uma cara de desânimo, pronto para ir embora, quando foi chamado novamente.

– Senhor Miro! Perdão, quase me esqueço... – A garota correu até uma gaveta da estante, pegando um envelope branco, e o entregou ao escorpiano. – O senhor Kamus pediu que lhe entregasse isso hoje, mas disse que o senhor não costumava acordar antes das onze... Assim, não o procurei!

"Como ele me julga preguiçoso..." Pensava Miro enquanto olhava o envelope, decidindo por lê-lo em casa. – E por acaso, que horas são?

– Oito e meia, senhor.

Miro teve de olhar o relógio para acreditar. Por que seu sonho tinha de ter estragado mais uma noite de sono? Praguejou-se por isso. Pensava o que faria para passar o tempo perturbadoramente chato. Pacato.

– Oh Garota! Sabe me dizer que horas ele viajou?

– Não, senhor. Desculpa.

– Obrigado! – Miro desistiu. Provavelmente ninguém viu seu francês partir. Esperou que a serva abrisse a porta e saiu a fim de voltar para sua casa.

Descia as escadarias. Sua garganta queimava e iniciou algumas tosses, o que não ajudava com sua cabeça latejante. "Ótimo! Uma gripe forte!" – Pensava Miro. Encontrava-se sozinho, gripado e com muito tempo sem nada para fazer nem ninguém para amolar. "Terei muito tempo para praticar minha criatividade e ver como farei o tempo passar sem que seja dormindo."

Chegou a Escorpião. Sentia frio e viu as maçãs de seu rosto coradas num espelho grande de seu quarto.

– Senhor Miro? – Chegou Tânia. – Chegastes cedo... – Notou o estado do grego. - ... E não me pareces nada bem! Não deveria ter saído...

– Não se preocupe comigo! Precisas de algo?

– Vim perguntar o que desejava almoçar hoje...

– Não vou almoçar... Mais tarde como alguma fruta...

– Não senhor! – Pôs a mão no pescoço de Miro, vendo que ele se encontrava com a febre mais alta. – Por favor, tome um banho frio e deite-se. Vou ver algo mais apropriado para o senhor comer. – Miro abriu a boca para falar, mas foi censurado pelo olhar de Tânia. Como iria desobedecer a quem considerava uma mãe? Cedeu, confirmando com um sorriso e num aceno com a cabeça.

Tânia se retirou, fechando a porta para Miro ficar à vontade. Miro tirou a armadura e sentou na cama, abrindo o envelope que segurava, e leu a carta que lhe fora deixada.

Miro

Espero que esteja melhor. Admito que acordei mais por você. Estavas quente, febril, mas não quis acordá-lo. Tomei a liberdade de lhe preparar algo para o resfriado, imagino que já terás visto antes mesmo de receber este bilhete. É para tomar e não enrolar! Eu iria deixar este bilhete sobre seu criado mudo, mas em seu quarto fui incapaz de encontrar um pedaço sequer de papel e uma caneta, seu bagunceiro!

Peço desculpas por ter saído sem mais nem menos, mas havia esquecido completamente da serva novata que estaria, provavelmente, a me esperar. De qualquer forma, você já é um adulto e sei que compreenderá!

Perdão por não poder ficar e cuidar de sua saúde – já que fui o responsável por tê-la perdido – mas lhe informei que havia uma série de fatores que insistiam para que eu voltasse para casa, incluindo, também, que eu deveria estar no aeroporto antes das cinco. Tinhas conhecimento de minhas novas responsabilidades. Desejo melhoras e espero que se cuide. Siga o que Tânia lhe recomendar.

Kamus

– Palhaço! Chama a minha atenção, me chama de bagunceiro, indiretamente de teimoso, me deixa sem sequer se despedir decentemente e no bilhete não tem nem um "beijos" ou "Eu te amo"... Até mesmo "Um abraço!" seria bem aceito... – Guardou o papel dentro do envelope e pôs na gaveta do criado mudo, levantando-se para tomar seu banho frio. – É típico dele. Tenho de me acostumar! Eu mudo fácil de humor e ele de atitudes!

Miro encheu a banheira de sua suíte com água fria enquanto se olhava no espelho, despindo-se. O espelho revelava seu corpo até o abdômen. Aproximou-se, olhando fixamente o reflexo de seu rosto. Sentiu arrepios pelo vento que circulava no ambiente. A febre deveria mesmo estar alta. Voltou até a banheira, fechando a torneira, e entrou na água todo arrepiado, se sentando bruscamente para ver se amenizava um pouco sua situação.

"Kamus é louco! Onde já se viu gostar de banho frio?" Miro estava tremendo, todo encolhido em sua larga banheira, abraçando os próprios joelhos, enquanto sua pele quente se acostumava com a temperatura da água. "É mesmo... Ele ficou tanto tempo em ambientes de temperaturas extremamente baixas que até passou a gostar... Ele é maluco mesmo!"

Miro ainda sentia a água desconfortavelmente gelada, mas se acostumava, esticando as pernas e apoiando a cabeça na borda fria. Estava quase deitado, se apoiando nos cotovelos, mantendo fora da água o rosto até o nariz. Seus cachos estavam espalhados, flutuando na água límpida que acompanhava cada movimento que Miro fazia. Seu olhar estava distante e sua mente vagava completamente perdida. Pensava. Achava que finalmente estaria com ele, mas foram separados novamente. Imaginava quando o veria novamente.

"Seu idiota! Kamus nem vai ter tempo de lembrar de você e você fica parado se lamentando... Patético, Miro. Patético!" Miro colocou seu corpo mais para frente e mergulhou completamente seu rosto, deitando-se debaixo da água com os olhos abertos, fitando o teto através desta. "Eu vou me distrair também. Depois de estar melhor, claro. Acho que poderei infernizar um pouco a vida do Shaka, ajudar Aldebaran a bagunçar mais sua casa e implicar com Máscara nesse tempo. Um cada dia pra não virar rotina e quando não tiver afim de nenhum dos três, tem o Afrodite!" Levantou até voltar a posição anterior, agora com a franja lhe caindo pelo rosto. "Vou inferniza-los, está decidido!" Sentou-se e começou a se lavar. Terminou o banho e saiu da banheira, se secando e tendo vez ou outra arrepios. Enrolou uma toalha na cintura e pegou outra para secar os cabelos, se olhando no espelho. Penteou-os e lhes deu todos os cuidados que mereciam. Queria se manter impecável para quando seu francês retornasse.

Voltou para o quarto e vestiu um short vinho, desbotado, e uma camiseta vermelha. Deitou na cama e se cobriu, pondo os braços atrás da cabeça. "Que ridículo! Eu, um cavaleiro de ouro, um dos doze mais poderosos na hierarquia, de cama por um resfriado ridículo que foi conquistado numa noite de ouro..." Começou a tossir. Sua garganta arranhava, sua cabeça doía, seu corpo estava dolorido, tinha febre e se sentia só. Tudo o que não precisava. Bateram à porta.

– Senhor Miro? – chamou Tânia.

– Entre!

A serva obedeceu. Com uma bandeja nas mãos, fez uma leve reverência e se aproximou de Miro, parando na beira da cama e colocando o que levava sobre o criado mudo.

– Trouxe um remédio que o ajudará a passar a dor de cabeça e a febre. – Mostrou um comprimido e um copo de água que levava.

– Obrigado! – Miro se sentou, pegando o que lhe foi oferecido, e engoliu sem questionar. Queria melhorar logo e sair daquela situação frustrante e humilhante. Deitou-se novamente.

– O cavaleiro de Virgem veio vê-lo. O que digo?

– Mande-o entrar aqui, sim? Estou com uma preguiça tão grande de me levantar... – Miro se espreguiçou como uma criança e permitiu que seu corpo tombasse na cama novamente, se cobrindo. Sua cama estava bem quentinha para ele querer sair e resolver algum assunto com Shaka. Claro que só poderia ser algo relacionado ao Santuário, pois Shaka sempre achou Miro sem cultura e nunca foram de papear muito.

– Sim senhor! – Tânia sorriu. Fez uma reverência, retirando-se.

– Miro de Escorpião de cama? – Pouco tempo depois entrou Shaka, com sua costumeira expressão gentil.

– Não amola! – Fechou a cara. Shaka se sentou num poltrona preta no quarto de Miro. – Diga-me, o que o traz a Escorpião?

– Vim ver como estava. Kamus me falou antes de ir que estavas doente.

– Falou com Kamus antes de ele viajar? – Miro parecia surpreso. Mais com o fato do francês ter encontrado com alguém de madrugada do que por Shaka estar lá por ele e não por assuntos do Santuário. – Kamus não saiu ainda de madrugada? Desembucha! O que falava com ele?

– Então se entenderam mesmo... Calma, seu ciumento possessivo. Quando ele passou por Virgem, eu já estava acordado. Ia meditar quando o vi passar, ocultando o cosmo. Ele ia mesmo para a Sibéria?

– Sim, por quê?

– Ele usava apenas uma camisa preta justa, gola alta e de mangas compridas e uma calça azul marinho, levando uma mala média. Estava apressado e ainda eram quatro da manhã!

– Não se esqueça que ele é o cubo de gelo! O frio não o atinge mais, só o calor. – Miro riu, porém parou ao sentir sua cabeça latejar. – Não sabia que madrugava para começar suas meditações...

– Nem todos são irresponsáveis ou têm tanto tempo para dormir como você, Miro. Acordo cedo para meditar, pois tenho pupilos a concluir o treino também! Meus pupilos almejam as armaduras de Lótus e de Pavão e tenho que torna-los merecedores, dignos de proteger Athena!

– Você e seus sermões... Pode guardá-los que não quero ouvir... Atchim!

– Concordo com ele, Shaka. Nem todos podem dar sermões no escorpiano. – Chegou Afrodite.

– Sei. Ele só escuta os de uma pessoa...

– Vão começar a discutir minha vida pessoal sem que eu possa me meter ou poderei dar palpites? – Falou sarcasticamente.

– Não, Miro, já vou. Meus pupilos me aguardam. – O virginiano se levantou, cumprimentou Afrodite e saiu.

Afrodite se sentou na beira da cama e ficou conversando com Miro o resto da manhã. Dois cavaleiros que não tinham mais o que fazer, claramente se entenderiam. Miro até almoçou com a companhia do pisciano.

OoOoOoOoOoOoOoOoOoO

Kamus andava em passos lentos, se aproximando e contemplando o vilarejo humilde que morou quando treinava com seu mestre. A paisagem branca, as casinhas simples... Nunca imaginou que sentiria falta daquele lugar. Um forte vento soprava, agitando seus longos cabelos soltos. Via algumas pessoas transitando de um lugar para outro com roupas pesadas e quentes e se via apenas com uma roupa leve. Seu mestre o acostumou a temperaturas baixas. Ficara imune.

Passou por algumas pessoas que o reconheceram com alegria, cumprimentando-as até chegar à antiga casa em que vivia. Entrou e se lembrou da primeira vez que esteve ali. Pôs a mala num canto do chão e rodou a casa, relembrando cada pedaço que não via há alguns anos e procurou seu pupilo. Ouviu baterem à porta e foi atender.

– Kamus! Nem acreditei quando me contaram que você estava aqui! – Falou animada uma garota ruiva de cabelos longos e cacheados de olhos verdes. Ela tinha a pele rosada, assim como os lábios. Belíssima. Em seus braços estava uma criança de aparentemente um ano de idade.

– Natasha?Quase não a reconheço, estás diferente! Já faz algum tempo que não nos vemos... Entre! – Abriu passagem. A jovem entrou, timidamente.

– Já você não mudou nada, Kamus... Continua o mesmo de sempre... A mesma aparência – A garota ficou rosada. – O mesmo olhar, seriedade...

– Acredite: neste mundo, você é uma das poucas pessoas que não mostro meu lado sério e indiferente.

– Fico feliz por ver o quanto me considera... – Natasha sorriu tímida.

– É... – Olhou com curiosidade para a criança que ela segurava. – Quem é este pequeno? Seu filho?

– Não! Este é Yakoff, meu irmãozinho. Cuido dele como irmã e mãe também... Nem casada sou para ter filhos...

– E seus pais? – Kamus estranhou. Conhecia-a e a sua família e estranhou as palavras da garota.

– Meu pai morreu. Um urso polar o atacou... Ele tinha ido sozinho visitar o túmulo de nossa mãe que faleceu ao dar a luz ao Yakoff.

– Meus pêsames...

– Tudo bem, já superei isso. O Yakoff me faz companhia. – O garotinho olhou para Kamus e sorriu, estendendo os bracinhos, pedindo colo. – Acho que ele gostou de você, Kamus... Segure-o um pouco! Vou buscar Isaak. – Natasha o entregou Yakoff, saindo em seguida.

Kamus, sem jeito, segurou o garotinho que lhe sorria abertamente. Viu que sua antiga amiga havia saído.

– Kamyu... – Yakoff tentou falar o nome do homem que o segurava.

– Você é bem simpático! – Kamus sorriu para o garotinho. Geralmente uma criança tão nova teria medo de sua expressão séria, mas Yakoff parecia não se importar, mesmo sendo a primeira vez que via Kamus.

– Isaak... – Kamus ouviu Yakoff falar quando a porta abriu novamente. Natasha entrava com um garotinho ao seu lado. Ela pegou Yacoff novamente nos braços, mas não podia negar que achou uma graça o Kamus com cara de pai.

– Boa tarde! – O garoto fez uma reverência – O senhor é meu mestre Kamus, não é? – Isaak parecia animado com a presença de Kamus.

– Boa tarde, Isaak! Sim, serei seu mestre. – Olhou bem o garoto que trajava uma roupa tão leve quanto a sua. Uma camisa verde escuro e uma calça marrom igualmente escura.

– Bom, não quero atrapalhar a conversa de vocês. Até mais! – Natasha deu um abraço em Kamus, sem que este esperasse, e bagunçou os cabelos de Isaak. – Nos vemos amanhã; tenho que cuidar de Yakoff. – Saiu, fechando a porta atrás de si.

– Bom... – Kamus havia sido pego de surpresa. Desde quando Natasha era de abraçá-lo? – Diga Isaak, por que pretende se tornar um cavaleiro de Athena?

Decidiu por ignorar o ocorrido e sentar-se no sofá, indicando para que Isaak fizesse o mesmo. O garoto obedeceu, sentando ao seu lado.

– Quero lutar para proteger a paz e a justiça!

– Deseja realizar atos nobres... Isso é muito bom!

– Quando iniciará meu treino, senhor?

– Amanhã bem cedo! A viagem foi longa e cansativa; de qualquer forma, aproveitar apenas o fim do dia não seria bom. Mas não pense que os treinos serão leves. Serão extremamente rigorosos e exigirei o máximo de você.

– Como o senhor preferir! Não me importarei. Serei o melhor e darei orgulho ao senhor!

Kamus sorriu. Como aquele garoto podia ficar tão animado sabendo que passaria por treinos tão penosos? Sabia que ele tinha tudo para se tornar um grande cavaleiro.

– Vou preparar nosso jantar e depois iremos descansar. Amanhã, às cinco, irei acordá-lo para começarmos.

– Sim senhor! – Isaak se levantou. – Mas permita que eu prepare o jantar! O senhor está cansado! Eu cozinhava para mim, posso cozinhar para dois!

– Se assim desejar... – Kamus se apegou ao garoto. Era animado, disposto e sorridente, parecendo ter muita garra e dedicação; também o lembrava muito uma outra pessoa quando criança. Isaak sorriu e correu para a cozinha.

Kamus se levantou, acendeu a lareira e voltou a se sentar, fitando fixamente os movimentos das chamas. Sua mente viajava de encontro ao Santuário e a quem deixou lá, doente. "Miro..." Passou assim alguns minutos. Olhou para sua mala no canto da sala e foi até ela. Pegou-a e foi para o quarto arrumar suas coisas. Nem sabia ao certo o que tinha levado; havia arrumado o que faltava às pressas para tomar um banho e tirar um cochilo com o despertador do lado. Tudo o que lembrava é que assim que o bendito tocou às três e quarenta da manhã, apenas o desligou e o colocou dentro da mala, vestindo suas roupas já deixadas prontas anteriormente e saiu para o aeroporto se sentindo um Miro da vida, "atrasado".

Terminando de por tudo em suas gavetas, guardou a mala e foi para a cozinha, auxiliando o jovem. Jantaram em silêncio e foram descansar para o dia que viria a seguir. Kamus demorou a dormir. Um nome e um rosto não saiam de sua mente. Sentia muita falta de Miro.

OoOoOoOoOoOoOoOoOoO

(Casa de Virgem)

– Miro, não! Se não se importa, quero meditar! Hoje resolvi dar descanso aos meus pupilos para que todos, inclusive eu, descansássemos e você não me permite!

– Ah, Shaka... Vamos treinar! Só um pouquinho! Não tenho nada para fazer... Já faz um ano que só faço sentir tédio... Colabore! Faça um escorpiãozinho feliz!

– Já faz um ano que você inferniza todos os cavaleiros de ouro, em especial a mim! Isso já não o faz feliz? O que eu tenho que você não consegue me deixar em paz? – Shaka estava se irritando com as insistências de Miro. – E já disse que vou meditar. Não quero treinar hoje!

– Me lembra outra pessoa que eu nunca deixei em paz! Credo, como você é chato!

– Tem vezes que sinto pena do Kamus... – Shaka se sentou no chão de sua sala para tentar se concentrar e começar sua meditação, mesmo com Miro no seu pé. Sabia que o grego não desistiria até conseguir o que queria, assim, optou por ignorá-lo.

Miro flexionou os joelhos, apoiando as mãos no chão (3), olhando fixamente para Shaka que mantinha um semblante impassível. Ficou assim por um tempo e nenhuma mudança na feição do virginiano foi notada.

"Shaka passa tanto tempo assim... Será que isso ajuda mesmo a relaxar? Ai... to desesperado! Preciso de algo novo!" Miro sentou-se igual a Shaka, ainda o fitando centradamente. "Acho que vou tentar... Se isso acalma ou relaxa, talvez me faça bem. Estou a ponto de enlouquecer!" Fechou os olhos e empinou o rosto.

Shaka franziu as sobrancelhas e apertou os olhos. "O que esse escorpiano maluco está fazendo? Me remedando? Não acredito que ele vai tentar me tirar do sério outra vez...Por Buda!"

Miro abriu apenas um olho, fitando o virginiano. "Não me sinto melhor... Que graça tem em ficar parado nessa posição desconfortável e quietinho? Shaka não medita, ele dorme!"

– Miro, poderia sair de minha casa? Não me faça ser rude... – Shaka falou finalmente.

– Poderia me dar mais atenção? É o único do que está em casa! Não sei onde os outros estão!

– Provavelmente o evitando! – Shaka relaxou mais. Seria impossível fazer algo com Miro por perto. – Aioria está em casa... Por que não vai visita-lo?

– Não quero saber de traidores! – Miro cruzou os braços, ainda com as pernas em posição de lótus. Shaka o estava chateando, mas dois podem jogar o mesmo jogo. Quem irritaria mais?

– Com licença... – A serva de Shaka se aproximou, fazendo uma reverência. – Desculpe-me por interrompê-los, senhor Shaka, mas a serva do senhor Miro está aí com uma mensagem.

– Por favor, mande-a entrar. – A serva fez outra reverência, saindo para seguir as ordens de seu mestre.

– Com licença... – A serva mais nova de Miro se aproximou, fazendo uma reverência. – Senhor Miro, o Grande Mestre lhe enviou esta carta. – A garota estendeu o envelope lacrado.

Miro pegou o envelope. – Obrigado, pode se retirar.

A serva fez uma reverência. – Sim. Com licença, senhor Miro; senhor Shaka... – Retirou-se.

Miro abriu o envelope, fazendo uma cara de "E o que é dessa vez?" . Começou a ler para si mesmo, ficando sério.

Cavaleiro Miro de Escorpião

Convoco-te para que venhas ao meu Templo imediatamente. Tenho afazeres para ti.

Grande Mestre

– Vou indo. Arranjei o que fazer! – Miro se levantou animado. – Até mais, loiro!

– Hum... Até, escorpião! – Shaka voltou a se concentrar em sua meditação.

OoOoOoOoOoOoOoOoOoO

– O que está fazendo, Isaak? Já está treinando há um ano! Vamos, ainda faltam cem flexões e quinhentas abdominais antes de irmos almoçar! Vamos acelerar! – Kamus estava com uma camiseta roxa escura, calças cinza e usava polainas da mesma cor de sua camisa (2), parado próximo ao pupilo, de pé com os braços cruzados.

– Sim... Senhor... – Isaak estava trêmulo. Usava uma roupa verde parecida com a de Kamus.

Sentia na pele que seu mestre realmente era rigoroso. Quando começava a se acostumar com uma quantidade de exercícios, seu mestre dobrava a intensidade e quantidade, mas estava decidido a conseguir se tornar cavaleiro. Cumpriu com as exigências de seu mestre, deitando na neve logo em seguida, e achou que não conseguiria se levantar para voltar para casa. Estava em treino intenso desde às cinco da manhã e já passavam das onze numa temperatura extremamente baixa. Não queria nem almoçar, apenas dormir.

– Levante-se! Vamos almoçar... – Kamus, sério, estendeu sua mão ao garoto que sorriu e aceitou, segurando e sendo puxado por seu mestre. – Nunca se renda ao cansaço após seus exercícios nessas terras. Estamos afastados do vilarejo e a morte pode alcançá-lo facilmente se estiver só.

– Sim senhor.

Caminharam de volta para casa. Kamus lhe ensinava e explicava a parte teórica e como deveria agir com inimigos, dizendo que um guerreiro frio e impassível é quase imprevisível para o adversário e que deveria ser assim. Dizia que iria começar com combates leves. Isaak, que prestava atenção em cada palavra, parou olhando uma grande parede de gelo que se destacava ao longe. Kamus notou.

– É a parede de gelo eterno. Ela nunca derrete. Quando for capaz de quebrá-la com um soco, poderá receber sua armadura e se tornar cavaleiro.

– E eu vou conseguir, Mestre... – Sorriu, voltando a acompanhar Kamus.

Chegaram na vila quase meio dia. Kamus havia se afastado mais que de costume com seu pupilo para um lugar mais amplo. Sabiam que ainda teriam de fazer o almoço para depois voltarem a treinar.

Kamus se comoveu com o jovem. Estava visivelmente esgotado, mas não pedia de forma alguma que aliviasse seu treino. Não podia evitar. Kamus queria ser como seu mestre, mas não conseguia; nunca conseguiria. Queria ser rigoroso, mas não exagerar.

– Kamus, Isaak. Eu os aguardava... Fiz o almoço para nós! – Natasha sorriu, mas começou a tossir. Uma tosse seca.

– Naty, Não precisava se incomodar! – Kamus a chamou pelo apelido carinhoso de quando eram pequenos. Não gostava que Natasha ficasse se preocupando com ele e Isaak. Sabia que ela ainda cuidava sozinha de Yakoff e que sua saúde estava frágil.

– Não foi incomodo algum. – Conseguiu se recompor. – Fiz com o maior prazer! Não vão lá em casa comer? – Isaak olhou para seu mestre interrogativo, esperando uma resposta.

– Certo, dessa vez aceitamos o convite... – Kamus sorriu. Isaak foi correndo para a casa de Natasha, que era vizinha da casa que estavam, olhar Yakoff e se esquentar.

Kamus pediu licença, pegando roupas secas para Isaak que havia se esquecido.

– Pronto, Naty. Podemos ir. – Kamus lhe sorriu, a abraçando pelos ombros.

A garota abaixou a cabeça para que Kamus não visse o quanto ficou vermelha, pronunciando com voz trêmula e baixa. – Sim... Vamos...

Ao entrarem na casa da garota, viram Isaak e Yakoff brincando. Uma cena linda onde as crianças pareciam irmãos. Kamus se aproximou, entregando as roupas secas a Isaak, que saiu para se trocar. Abaixou-se para alisar a cabeça do pequeno Yakoff. O garotinho ficou de pé e pegou algumas mexas do liso cabelo de Kamus, se distraindo. Kamus sorriu para a criança.

– Ele a trata como se você fosse a mãe dele, non? – Olhou para Natasha que arrumava a mesa e voltou depois a sua atenção para a criança que brincava com seus cabelos compridos.

– Sim... E acho que ele o vê como um pai! – Ficou rosada com o comentário. Kamus a olhou enigmático. – Ham...

– Vamos comer? – Voltou Isaak, olhando a mesa pronta.

– Sim, Isaak! Kamus, venha! Yakoff já comeu. Deixe-o aí brincando.

Kamus assentiu com a cabeça. Sentaram-se e almoçaram em silêncio. Natasha estava sentada de frente para o francês e não tinha como evitar fitá-lo. Em uma dessas ocasiões, o francês a lançou um olhar e um sorriso, elogiando a refeição. Não teve como evitar o rubor em sua face.

A mesa foi retirada por Isaak, que se ofereceu. Kamus e Natasha, que pegou Yakoff e o pôs sentado no colo, sentaram-se nos sofás da sala para conversar. Mesmo estando lá há tanto tempo, Kamus mal falava com ela ou com as outras pessoas por falta de tempo. A garota, mesmo tímida, tentava parecer descontraída e Kamus não perdia em momento algum sua postura altiva. Não estava 'sério', mas não esboçava nenhum sorriso explícito.

– Algum problema, Kamus? Há um tempo me pareces distante...

– Lembranças... Não é nada importante!

– Conhecendo-o, para ser capaz de distraí-lo é algo muito importante.

– Senhor! Terminei.

Isaak voltou para a sala. Seu treino tinha que continuar.

Kamus o olhou. A conversa estava pendendo para algo que não queria mencionar e Isaak não poderia ter aparecido em melhor hora.

– Sim, temos que continuar com o treino. – Levantou-se. – Desculpe-me, Naty, mas tenho que continuar com minhas obrigações. Agradeço pela refeição!

– Entendo... Então nos vemos mais tarde! – Sorriu. Yakoff acenava um tchau quando foi colocado no tapete por sua irmã.

– Até mais! – Isaak se despediu. Kamus revelou um discreto sorriso e voltou ao lugar de antes com seu pupilo.

Kamus tentava refletir qual treinamento seria mais leve para seu esgotado discípulo, tentando retirar de sua mente as saudades que cresciam em seu peito. A manhã fora muito pesada em atividades físicas. Decidiu por um combate leve e um treinamento para Isaak aprender a controlar o cosmo.

O dia transcorreu lentamente. Quando começava a escurecer, Kamus indicou que já era hora de voltar. Chegaram já à noite. Por sorte, sua casa era pouco mais afastada do resto da vila, sendo a casa de Natasha a mais próxima. O único som que se podia escutar era o vento forte se chocando contra as casas e as muralhas de gelo que estavam mais afastadas.

Mentor e pupilo entraram em casa. Isaak preparou um banho enquanto Kamus foi preparar algo que aquecesse para o jantar. Quando Isaak voltou, Kamus quem foi se banhar. Um banho rápido, para que pudessem fazer o quanto antes a refeição e descansar. Chegando à sala, viu a mesa já posta por seu pupilo. Sorriu.

– Sente-se Isaak. Eu pego a sopa.

– Sim! – O garoto sorriu. Kamus ficava a maior parte do tempo sério e demonstrava grande frieza, mas o menino sabia que seu mestre era bom.

Kamus voltou com a sopa quente. Comeu um pouco e a deixou de lado. Não sentia fome. Isaak, pelo contrário, atacava a comida, faminto. Quando o garoto terminou, retiraram a mesa juntos. Isaak foi se deitar em seguida. Kamus acendeu a lareira e saiu.

Afastou-se um pouco da casa, se sentando em uma pedra de gelo. Tinha uma perna esticada e outra com o joelho flexionado, abraçando-o. Olhava a paisagem, permitindo se perder em pensamentos. O vento forte e frio soprava, esvoaçando seu cabelo, seu olhar perdido mirando o branco e o manto negro sobre ele com uma linda lua solitária e milhares estrelas reluzentes. Lembrou de sua primeira vez e que a mesma lua contemplou os dois em pleno ato de amor. A lua... Já havia se comparado a ela uma vez quando pequeno. Sempre solitária... mas o atraía por nunca perder seu esplendor e se comparava ainda mais ao lembrar que a beleza da lua era fornecida pela luz da estrela Mor, o Sol. Sim, o sol tinha seu brilho próprio, assim como Miro. E ele era como a lua, que só conseguia brilhar pela luz de outro. Como sentia falta daquele grego! Sua mente vagava, quando foi trazida à realidade por uma voz suave, sentindo um cobertor sobre si.

– Kamus... Não deveria ficar aqui fora nesse frio vestido assim!

Kamus usava apenas uma camiseta branca, justa ao corpo, uma calça azul marinho e polainas.

– Não deveria se preocupar com isso, Naty. O que você faz aqui? E Yakoff?

– Ele está dormindo e vim lhe trazer essa carta que deixaram hoje à tarde. É da Grécia! – Natasha estava agasalhada e encolhida parada ao lado de Kamus. Por debaixo do cobertor grosso que se enrolou, estendeu a mão com um envelope.

– Obrigado! – Tentou mostrar indiferença pela correspondência, mas por dentro sorria largamente. Olhava o envelope ansioso. Iria ler ao entrar, com a luz da lareira. Ouviu tosses fortes e secas de Natasha. Levantou-se e retirou o cobertor de seus ombros, envolvendo sua amiga. – Vamos entrar? Está muito frio aqui para você.

Ao conter as tosses, Natasha sorriu rosada, afirmando com a cabeça. Seguiu Kamus até a casa simples que o francês estava, sentando-se no sofá, aliviando os agasalhos.

– Desculpa, mas pode ser urgente... - Kamus se sentou numa cadeira próxima a lareira, abrindo o envelope. Queria saber do que se tratava antes de qualquer coisa.

– Sim, eu entendo. – Reparou que Kamus deixou escapar um sorriso discreto e animado. Nunca o viu com um sorriso assim.

Kamus retirou o conteúdo do envelope. Havia duas passagens e um papel bem dobrado. Abriu e leu para si.

Cavaleiro Kamus de Aquário

Solicito sua presença em minha sala. Em anexo à carta se encontram duas passagens.

Grande Mestre

Kamus conferiu a data e o horário do vôo, ansioso por voltar à Grécia. O avião sairia de sete da manhã. Tentou imaginar porque o Grande Mestre só escolhia esses horários inoportunos, mas preferiu assim. Quanto mais cedo partisse, mais cedo chegaria a Grécia, resolveria tudo e veria Miro. O triste é que teria de voltar no dia seguinte. Não poderia deixar o treinamento de Isaak assim.

– Naty, terei de fazer uma viagem de última hora. Partirei essa madrugada. Poderia cuidar de Isaak neste meio tempo? Voltarei logo.

– Não se preocupe... – Tossiu algumas vezes, voltando a se conter. – Eu cuidarei dele por você.

– Muito obrigado! Você sempre me ajuda, non?

– Faço por gosto. – Sorriu. – Agora, me retiro. Você tem que arrumar suas coisas e descansar e eu também tenho que voltar. Yakoff está sozinho e pode acordar.

Natasha se levantou e se envolveu novamente nos cobertores. Kamus a acompanhou até a porta.

– Boa viagem, Kamus! – abraçou-o sorrindo, indo em seguida para sua casa.

Kamus fechou a porta, voltando à sala, pensativo. Natasha nunca foi de abraçá-lo, mesmo demonstrando grande carinho e respeito. Eram como irmãos e ele, claro, o mais velho e protetor. Lembrou-se de quando era pequeno e de que, mesmo sem muita experiência e doente, antes de voltar para a Grécia para se recuperar, encarou um urso polar para ajudar Natasha. Sorriu quando lhe veio à mente a cara frustrada de seu mestre, dizendo-lhe que não cuidaria dele para aprender a não desobedecer e que graças a tudo, foi recompensado em Aquário sendo cuidado por Miro.

Agradaram-lhe as lembranças que guardava. Entrou no quarto que dividia com o pupilo, silenciosamente, e pegou a mala, algumas roupas e o despertador, indo para a sala. Forrou uma colcha sobre o tapete, pegou uma almofada e se deitou ali para descansar um pouco. Não queria que Issak acordasse de madrugada por nada. Não seria capaz de tal ato. Dormiu tranquilamente.

Logo cedo seu despertador tocou. Desligou o quanto antes e se levantou procurando comer algo e se arrumar. Deixou um bilhete para Issak, avisando de sua ausência. Vestiu uma roupa básica e partiu. Natasha sabia de sua partida e cuidaria do garoto.

Algumas horas depois estava no avião. Kamus ansiava por pôr os pés novamente no Santuário para ver o que o Grande Mestre queria consigo, que pela urgência deveria ser importante, e para rever aquele grego maluco, único que conseguia lhe arrancar sonoras risadas. Sentia falta de seus amigos... em especial de Shaka e sua tranqüilidade e de Afrodite, com sua falação e carisma. Só não agradava lembrar do calor que deveria estar fazendo naquela época do ano, mas valeria a pena por ver Miro.

Horas mais tarde, a cansativa viagem de Kamus se encerrava. O sol já ameaçava se pôr quando parou frente as Doze Casas Zodiacais. Seu coração batia animado, ansioso por ver um jovem que lhe fazia muita falta.

CONTINUA...

OoOoOoOoOoOoOoOoOoO

1 – Realmente dizem que suco de Rabanete é bom para resfriados, mas como diz Miro, o difícil é engolir. É diluído em água e o sabor não é muito agradável.

2- Polainas são aquelas peles que Hyoga usa por cima da calça. Bom, geralmente não são de pele, mas Hyoga quis ser o diferente nesse assunto.

3- Depois que escrevi e reli que me dei conta. Miro aí mais parece o Inuyasha. XD

Direitos autorais a Masami Kurumada e cia. Saint Seiya não me pertence. A mim, pertencem apenas os sem graça do Shino, Tânia, Karen e Natasha.

Olá! Mais um capítulo... Estou conseguindo! ( Comemora) Achava que todos os meus neurônios tinham ido para o espaço, mas vejo que ainda me sobraram alguns. Incompetentes, mas sobraram. Não me estenderei muito por aqui por conta dos surtos do . Farei o possível para não atrasar muito com os capítulos e peço que continuem a mandar Reviews dizendo o que acharam do fic (sendo bom ou péssimo). Agradecimentos farei por e-mail e os que não o deixar ou eu o tiver, farei em meu novo blog: persefone-sama(ponto)weblogger(ponto)com(ponto)br

Bjos a todos!