10- Reencontros e Perdas.
Kamus subiu as longas escadarias sem fazer a menor questão de ocultar seu cosmo, enquanto admirava o crepúsculo. Estava ansioso, mas nem os mais atentos a expressões perceberia isso no aquariano. Sua aparência fria e impassível não alterava.
Todas as casas pelo qual passou pareciam vazias, notando presença apenas em Leão e Virgem, onde parou cumprimentando o amigo que surgiu no pavilhão.
– Bonsoir, Shaka!
– Kamus! Não esperava vê-lo tão cedo... O que houve para que voltasse em apenas um ano? – Saldou o amigo animadamente.
– Não voltei definitivo. Esquece de meu pupilo? Vim por ter sido solicitado pelo Grande Mestre. – Falou sério. Não queria se demorar. Tinha de ver o Grande Mestre, queria rever Miro e tudo o quanto antes, pois não passaria muitos dias. Na verdade, teria de voltar no dia seguinte.
– Não perdeu a frieza e porte altivo... Nem nos amigos pensa...
– E você, mesmo aparentando ser quieto, continua o curioso de sempre! – Viu que Shaka ficou sério. – Estou cansado, Shaka! Quero descansar...
– De acordo. A viagem é longa e deves mesmo querer repouso. Só espero que prefira descansar sozinho, pois se pensas em ver Miro agora, ele não se encontra. – Shaka falou com um sorrisinho discreto que Kamus detestou. Com quem Shaka estaria aprendendo a ser tão irritante?
– Vim ver apenas o Grande Mestre, Shaka. Se me der licença... – Kamus saiu assim como entrou, sem dar tempo de respostas. Shaka não se agradou por ter sido chamado de 'intrometido', mas relevou. Na conversa ficaram quites e pode demonstrar um pouco das frustrações que Miro o causou.
Kamus passou apressadamente por Libra e parou em Escorpião. Não sentiu a presença de Miro, assim, nem entrou. O que faria naquele templo se o dono não estava lá? Perguntou-se por onde aquele grego andaria. Seguiu para Aquário, aparentemente mais cansado. Desistiu de tudo, agora. Queria apenas resolver os problemas com o Grande Mestre e ver uma cama.
Chegou ao seu templo, abriu a porta e pôs sua mala no canto, sentando-se despojadamente no sofá da sala abrindo alguns botões de sua camisa negra de mangas curtas, puxando-a para fora da calça. O calor era sufocante. Havia desacostumado.
– Senhor Kamus! Não esperava vê-lo tão cedo... – A serva, que ao passar pela sala viu seu mestre, se assustou. Fez uma reverência.
– Sim, vim de ultima hora. Alguma novidade no Santuário? – Seu ar sério e sua postura, agora elegante, contradiziam com sua roupa que dava um ar mais largado.
– Não senhor. Nada de interessante!
– Vou tomar um banho para ver o Grande Mestre. Pode ir preparando o jantar enquanto isso? – Kamus se levantou, ajeitando os cabelos bagunçados pelo vento com as pontas dos dedos, caminhando para seu quarto.
– Sim senhor! Farei um belo banquete!
– Merci. – A serva fez uma reverência e dirigiu-se para a cozinha.
Kamus foi para seu quarto. Abriu as cortinas e janelas permitindo que o resto da claridade do crepúsculo adentrasse no recinto assim como a brisa leve numa tentativa de refrescar mais o ambiente. Buscou por uma toalha e roupas ainda mais leves. O mês de julho era o pior sem dúvidas. O mais quente.
Foi até sua suíte, pondo a banheira para encher com água fria enquanto desembaraçava seus cabelos de frente para o espelho. Contemplava sua expressão cansada com um olhar sarcástico, achando-se patético. Seus cabelos devidamente desembaraçados foram presos em um coque, com algumas mechas caindo, não passando da altura dos ombros. Fechou a torneira, despiu-se, ligou um Microsystems com um CD orquestral num volume considerável, e entrou na banheira se acomodando, apoiando a nuca na borda, fechando os olhos. Aquela água fria e as suaves melodias o ajudavam a relaxar e esquecer do calor. Sabia que não poderia se demorar tanto quanto desejava.
Lavou-se rapidamente, mantendo os olhos fechados.
Ao terminar seu banho, buscou a toalha que havia sido largada num banquinho ali perto e secou-se. Deixou o som ligado enquanto ia para o quarto, se trocar. Pôs roupas claras. Uma camiseta marfim e uma calça branca. Soltou os cabelos, os ajeitando e vestiu sua armadura. Quando ia fechar apenas as cortinas, ouviu os acordes iniciais de uma música que não desejava que fosse iniciada. Memories. Rapidamente foi para o banheiro desligar o aparelho. Aquela musica o incomodava, o lembrava despedidas. Despedidas permanentes. Nem recordou das cortinas depois, saindo para ver o Grande Mestre o quanto antes.
Chegando ao templo, rapidamente foi avisado pelos soldados que o Grande Mestre não queria ser perturbado naquele instante. Que ele meditava e logo sairia. Kamus sem pronunciar qualquer palavra se retirou à fim de voltar ao seu templo. Foi ótimo ter aperfeiçoado sua paciência na Sibéria, caso contrário, teria chamado aqueles soldados de todos os 'bons' nomes conhecidos tanto no grego quanto em russo e francês. Como Ele o chamou tão repentinamente ao Santuário e nem para atendê-lo! Pensava se o assunto deveria ser urgente, mas pelo que houve, não deveria ser tanto assim. Não seria possível que o fizessem sair tão apressado em vão!
Kamus voltou para seu templo mais frio que o normal. Seu olhar era capaz de congelar só de ser desferido contra alguém. Melhorou um pouco ao ver o banquete que lhe foi servido.
Sentou à mesa e começou a se servir. Estava faminto. A serva o serviu uma taça de um bom vinho branco e se afastou, ficando de pé no fim da sala esperando por qualquer ordem. Kamus até pensou em convidá-la para o jantar, afinal, havia muita comida – e por mais faminto que estivesse, não daria conta de tudo -. Estremeceu ao lembrar de Karen. A serva que havia dado liberdade e o traiu. Com essa não cometeria tal erro. Seria apenas o Senhor e não amigo.
Terminou a refeição e fez sinal para a serva arrumar tudo. Seguiu para seu quarto. Tirou a armadura, fez uma trança folgada em seu cabelo e escovou os dentes indo se deitar em seguida.
– É... Acho que voltarei sem vê-lo, mon amour...
Fechou os olhos demorando a embalar num sono sem sonhos. O clima quente o incomodou, juntando-se ao cansaço. Ficou se remexendo a noite inteira, acordando a cada dez minutos. Talvez não ter encontrado com Miro tivesse sido até melhor para seu descanso - se é que apenas passar a noite seria descansar.
A noite passou rapidamente, mais do que o aquariano desejava. O Sol batendo em sua cama anunciava mais um dia de calor infernal para enfrentar. Kamus levantou-se, caminhando para seu banheiro. Soltou os cabelos, desembaraçou-os.
Terminou de se arrumar, vestiu sua armadura e seguiu para a sala, encontrando com sua serva.
– Devo servir o café da manhã agora, Senhor? – Perguntou timidamente.
– Non, verei o Grande Mestre primeiro. Quando eu voltar você serve, sim? – Estava irritadiço. Ainda se sentia cansado, o calor estava quase insuportável e o Grande Mestre parecia querer fazê-lo de besta.
– Sim senhor. Com licença! – A jovem se retirou.
Kamus subiu até a sala do Grande Mestre, o aguardando. Provavelmente era um dos únicos acordados no Santuário, sendo acompanhado, provavelmente, apenas pelos soldados e pelas servas. Depois de uma hora – irritantes para Kamus - o Grande Mestre entra em seu recinto com toda sua elegância e porte altivo, sentando em seu trono enquanto fitava o cavaleiro de Aquário.
– Bom dia, Grande mestre. – Kamus fez uma reverência, ocultando seu mau humor. – O que desejas com minha pessoa?
– Cavaleiro Kamus de Aquário, como andam os treinamentos com seu pupilo? – Sua voz soava grave e levemente irritada.
Kamus ergueu uma sobrancelha. Não foi convocado de última hora apenas para isso... não poderia ser!
– Muito bem, Senhor. Isaak é um garoto dedicado e esforçado, tem um grande potencial! Ele se desenvolve com facilidade, rapidamente.
– Tens algum problema para instruí-lo?
– Não senhor.
– É satisfatória a notícia! – Fez uma breve pausa. – Cavaleiro Kamus, eu o convoquei para informá-lo de que receberás mais um pupilo.
– Como senhor? Mas e Isaak? – Kamus espantou-se, mesmo não aparentando.
– Treinará os dois. O melhor será o merecedor da armadura de bronze de Cisne. O nome de seu novo pupilo é Hyoga. Órfão. Perdeu a mãe num naufrágio que ocorreu a alguns anos no mar do extremo norte da Sibéria. Deves ter ouvido falar de tal incidente por lá.
– Ouvi boatos de que apenas uma mulher morreu neste incidente.
– Pois bem, ele chegará em três dias. Um rico Japonês o está enviando para o treinamento de cavaleiro, assim como a muitos outros garotos.
– E qual seria a pretensão deste homem, senhor?
– Ainda é desconhecido. É tudo, Cavaleiro.
– Com vossa licença... – Kamus fez uma nova reverência e saiu. Mal podia acreditar. Apenas isso? Poderia ter lhe informado pela carta, mas não... Teve de atrapalhá-lo na Sibéria, teve de apressa-lo para dizer duas palavrinhas e encerrar a audiência. Começou a achar o Grande Mestre estranho.
Descendo as escadarias que levavam à Peixes, veio em sua mente Hyoga. Em partes, seu futuro pupilo perdeu sua mãe assim como ele perdeu seus pais, num naufrágio.
– Kamus! De passagem por quantos dias? – Perguntou Afrodite vendo seu amigo passando por sua casa, pensativo.
– Por algumas horas. Parto ao entardecer. – Falou sério. Seu mau humor retornou ao lembrar do motivo banal que foi solicitado, que o calor era sufocante e que não viu quem mais sentiu falta. Queria voltar para sua casa, que considerava mais fresca. Sabia de seu mau humor por conta dos fatores.
– Credo! Você leva muito a sério essas coisas. Deveria relaxar mais...
– Isso não me é permitido, Afrodite. Se me der licença, ainda não comi nada e quero descansar mais um pouco antes de partir. Tive uma péssima noite de sono com esse calor. – Kamus fez menção de se retirar.
– E não vai ver Miro? Sabia que ele infernizou a vida de muitos por aqui na sua ausência?
– Afrodite, não quero conversar, sim? Aurevoir! – Kamus saiu a passos largos deixando um Afrodite irritado para trás. Não queria correr o risco de descontar suas frustrações no grego, nem em mais ninguém.
Chegou ao seu templo dando quase um graças a Deus por não ter cruzado com mais ninguém. A serva, ao vê-lo entrar, foi até a sala de jantar. Kamus se livrou de sua armadura e dirigiu-se para o recinto. Sentou à mesa, já arrumada. Tinha torradas, geléias, bolinhos, suco de limão bem gelado, queijos e uma cesta com frutas. Pegou um bolinho, experimentando, e serviu-se de um copo de suco, dando uma grande golada.
– Safado! Nem foi me ver! – Kamus engoliu com tudo o líquido, quase engasgando. Virou sério para a pessoa parada atrás de si.
– Bonsoir para você também, Miro. Quando cheguei você não estava em seu templo, então vim para minha casa descansar. Algum mal nisso, Senhor? – voltou a contemplar a mesa e a comer seu bolinho.
– Boa desculpa... Quem fofocou de minha ausência? – Miro puxou uma cadeira para si e começou a se servir.
– Onde estava? – Kamus perguntou sério.
– Com umas gatinhas por ai... – Sorriu sádico.
– Espero que tenha feito bom proveito. – Falou friamente, tomando mais um pouco do suco, sem olhá-lo.
– Ei! Eu só brinquei... calma...
– Sei... E não tomou café da manhã?
– Tomei, mas deu fome de novo e resolvi passar o dia com você. – abriu um largo sorriso. – Como andam as coisas lá na Sibéria?
– Bem.
– Bem como? – Insistiu. Notou que Kamus não estava muito bem humorado e que sua entrada repentina, com sua piada sem graça, não colaboraram muito.
– Lá o sol não é tão torturante, receberei outro pupilo e... Ah! Tem a Natasha que me ajuda com tudo. – Olhou nos olhos de Miro para mencionar sua amiga.
Miro se irritou. Como assim 'Tem a Natasha' ? O grego largou tudo que comia na mesa e se encostou na cadeira, cruzando os braços enquanto fitava seriamente Kamus.
– Então é assim! Você faz seu trabalho ou fica de papinho com essa tal de Natasha?
– As duas coisas. Moramos perto e ela é uma moça inteligente e bonita. Muito agradável. – Deu um meio sorriso. Miro não quis provocá-lo primeiro?
– Bom saber, cretino! – Bateu na mesa olhando diretamente nos olhos do francês. Até a serva, que nada entendia dali, se assustou. Kamus fez um sinal para que ela se retirasse.
Ela obedeceu.
– Tolo! Ela é uma amiga de infância. – Kamus segurou a mão de miro que estava sobre a mesa. O grego a recolheu.
– Nós também fomos amigos de infância. – Cruzou novamente os braços fazendo cara de criança contrariada.
– Ela é apenas minha amiga. Não confunda as coisas.
– Certo, seu Chato que adora abandonar enfermos... Não pense que me esqueci!
– E nem eu me esqueci que não me disse onde estava ontem!
Miro sorriu. Não gostou nada da brincadeira de Kamus nem da tal Natasha, mas valeria a pena continuar a discussão por isso? Estava até começando a se divertir, mas certamente Kamus só poderia se irritar.
– Fui encarregado de ir ao aeroporto a ao porto receber umas crianças e traze-las para o Santuário. Pense o tédio! Ainda por cima teve alguns vôos e navios atrasaram horas, cada! A molecada não parava quieta... Foi um inferno! Depois dei de babá até o entardecer... Esperando a boa vontade do Grande Mestre em aparecer e encaminhar cada um aos seus respectivos mestres. Um dos mais atentados foi um tal de Seiya... – Miro fez uma careta ao lembrar.
– Ao menos um se divertiu! – Deu um singelo sorriso.
Terminando de tomar café, foram para o quarto do francês. Assim que Kamus fechou a porta, Miro o agarrou pela cintura puxando para um beijo. O beijo que desejava há tempos. Kamus passou seus braços pelos ombros de Miro aprofundando o contato. Suas línguas se massageavam num ritmo quente e sôfrego até que lhes faltou ar.
Miro abraçou Kamus forte e carinhosamente, sentindo o corpo de seu amado amolecer em seus braços e um abraço leve o envolvendo em retribuição. O francês pousou a cabeça no ombro direito do grego.
– Senti sua falta... – Por fim Miro falou, vendo Kamus levantar a cabeça para fita-lo. – É tão bom vê-lo novamente...
Kamus nada falou, apenas o abraçando pouco mais forte revelando um sorriso. Estava se sentindo cansado, mas não seria capaz de pedir a Miro que o deixasse descansar, principalmente depois de tanto tempo. Pensou bem. Depois que partisse, quando que voltaria a ver o grego? Não... Queria aproveitar suas poucas horas. Descansaria quando retornasse a Sibéria, em um dia qualquer.
Miro sentiu uma pontada no peito por não ter ouvido um 'Eu também' ou um 'Digo o mesmo'. Conformou-se com o abraço mais apertado de Kamus. Entendia que tanto seu francês poderia demonstrar o que sentia quanto nada demonstrar. Era dele essa característica e tinha de aceitar. Afastou Kamus, pousando a mão direita em seu queixo enquanto analisava seu semblante. Ele parecia ainda mais belo que quando partira, se é que isso seria possível. Não pode deixar de notar a expressão cansada naquele rosto tão delicado. Puxou o aquariano pela mão esquerda até a cama. Apoiou um travesseiro na cabeceira de cor marfim e sentou-se, recostando, puxando-o para que deitasse em seu colo.
Kamus deitou apoiando a cabeça nas coxas do grego sem pestanejar. O que mais poderia querer? Até havia se esquecido do mau humor. Inconscientemente fechou os olhos ao sentir os dedos de Miro afagando-lhe o cabelo e uma suave e "mágica" brisa adentrar no recinto.
– Diga-me como é seu pupilo! – A voz de Miro soava-lhe tão suave, meiga... e curiosa.
– Muito bem... Isaak é um garoto bom, dedicado e muito responsável. Tem grande potencial e me lembra um pouco você quando pequeno com o jeito agitado que possui... – Falou calmamente ainda de olhos fechados.
Miro riu alto. – Então você deve ter muita dor de cabeça...
– E você, o que tem feito? – Perguntou em seguida.
Miro começou a falar tudo com detalhes explorando mais suas amolações a Shaka e Afrodite. Num instante que olhou para Kamus, pode perceber que esse já ressonava, embalado num sono confortável e tranqüilo. Não querendo correr o risco de incomodar, tomou cuidado ao sair da cama e apoiar a cabeça do aquariano em um macio travesseiro. Agachou-se ao lado da cama dando um leve e tímido beijo na testa do adormecido.
– Descanse, mon chér! – Miro falou baixo, próximo ao ouvido de Kamus, imitando o jeito do francês falar. Saiu sem fazer qualquer barulho, fechando a porta atrás de si. Procurou pela serva, avisando que Kamus havia adormecido. Pediu para que ela cuidasse de não acorda-lo.
Kamus dormia com um sorriso satisfeito no rosto.
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Miro chegou ao seu templo animado, se jogando no sofá. Tânia, que passava pelo local, não pode deixar de observar o sorriso que há tempos não via naquele belo rosto.
– Encontrou-o, Senhor? – Sorriu ao perguntar.
– Sim! – Miro levantou-se para abraçar a velha serva. – Obrigado por ter me impedido de ter ido lá ontem à noite... Ele estava mesmo muito cansado.
– Suponho que ele estivesse melhor hoje... Porque veio sozinho e tão cedo? Não pretendia passar o dia em sua companhia?
– Ele deve ter dormido mal essa noite. – Miro a soltou do abraço, fitando. – Deixei-o dormindo agora. É melhor que descanse.
– Sim, fez bem. – Sorriu passando a mão pelo rosto de Miro. – Agora me diga: O que desejas para o almoço?
– O que tiver de mais suculento! – Miro se animou. Foi para o quarto aguardar que fosse chamado.
Era chato passar o dia sem Kamus, mas já não havia esperado um ano? Decidiu que mais tarde falaria com ele, novamente.
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Kamus abriu lentamente os olhos. Viu-se sozinho no quarto. Chateou-se ao ver que não mais descansava no colo de Miro, mas em seu travesseiro branco. Pensou se não havia apenas sonhado. Não... ainda podia sentir de leve o perfume do grego. Sentou-se e olhou a janela. Aparentemente não era tão cedo. Recompôs-se e levantou, olhando seu relógio despertador que marcava quatro da tarde. "Eu devia mesmo estar cansado... Dormi demais! Nem ouvi o que Miro tinha a me dizer...". Seguiu para sala, onde encontrou a serva ajoelhada no chão limpando o rack.
– Por favor, sirva um lanche, sim? – Kamus pediu educadamente.
– Sim senhor! – A serva se levantou, fazendo uma reverência. Foi para a cozinha.
Kamus conferiu sua mala e as passagens. Banhou-se demoradamente, como gostava. Saiu de sua banheira, secou-se e vestiu uma calça preta e uma camisa manga longa vinho, que ficava justa ao corpo. Desembaraçou os cabelos, prendendo-os com uma discreta fita negra num rabo baixo, com algumas mexas soltas, lhe caindo sobre a face. Foi à sala de jantar servir-se de bolos e suco de frutas. Voltou para o quarto, pegando a mala e as passagens, saindo de seu templo às cinco e meia da tarde. Sabia que seu vôo só sairia de sete, mas preferiu por aguardar no aeroporto.
Desceu Capricórnio e Sagitário pela passagem secreta. Se deparando com Escorpião, pensou em entrar e se despedir, mas não sabia se seria boa idéia. Detestava despedidas. Parado próximo à entrada em seu conflito interno, Tânia, que varria o templo, o avistou e cumprimentou. Kamus disse ter pressa e apenas pediu para que ela desse um abraço em Miro por ele. – Coisa que o escorpiano detestou. Mais uma vez Kamus partira sem se despedir!
Na manhã seguinte Kamus já chegava ao vilarejo. Foi direto para sua casa, onde foi bem recebido por Isaak, Natasha e o pequeno Yakoff.
– Mestre Kamus! – Falava Isaak exaltado. – Pensei que demoraria mais alguns dias na Grécia!
– Não, Isaak. Temos seu treinamento pela frente, não poderia me demorar por motivos fúteis.
– Por mais fúteis que fossem, não me engana que foram agradáveis. Você parece mais leve! – Natasha sorria. Foi ao encontro de Kamus abraça-lo.
– Um pouco, admito, mas nada de mais. – Retribuiu o abraço e voltou a fitar Isaak. – E você se arrume após o almoço. Iremos treinar.
– Kamus! Você deve estar cansado dessa longa viagem! – Natasha se adiantou.
– Mas tenho que repor o tempo perdido. Não se preocupe comigo.
– Não adianta discutir... Você é um cabeça dura! Vou começar a fazer o almoço. – Foi para a cozinha balançando a cabeça em reprovação.
Kamus sentou-se no sofá, indicando para que Isaak fizesse o mesmo. Yacoff lentamente chegou até Isaak, pelo qual foi pego no colo.
– Isaak, tenho uma notícia para você do Santuário. – Kamus começou a falar calmamente.
– Qual, senhor? – Mostrou-se imensamente curioso, como Kamus esperava.
– Em três dias receberás um companheiro de treino.
– Legal! Não treinarei mais sozinho!
– Mas ambos disputarão pela armadura de Cisne. – O que Kamus mais temia seria conflitos e desentendimentos entre seus pupilos.
– Que o melhor a receba! Não é assim segundo as leis do Santuário?
– Sim, é... - Kamus sorriu com a boa aceitação de seu discípulo. Conversaram por algum tempo, Natasha vez ou outra aparecendo e se juntando, até que o almoço ficou pronto e foram comer.
Os dias transcorreram normalmente e finalmente chegou o que conheceriam Hyoga. Kamus e Isaak o aguardava no porto. Os passageiros do navio esperado logo desembarcaram. Kamus observou um garotinho loiro de olhos azuis caminhando com uma pequena bolsa, timidamente, sozinho. Usava uma camiseta azul e uma calça peta, com polainas marrom claro, de pele. Aproximou-se, acompanhado de Isaak.
– Hyoga? – Kamus o chamou.
– Sim. – O garoto respondeu timidamente.
– Bem vindo, novamente. Soube que eras daqui. Me chamo Kamus e serei seu Mestre. – O loiro o observou, olhando em seguida para o sorridente Isaak.
– E meu nome é Isaak. – Estendeu uma mão a Hyoga e este a apertou num cumprimento. – Treinaremos juntos para o mesmo fim. Espero que não desista no meio do treinamento e me deixe sozinho nessa. Mestre Kamus é rigoroso, mas é bonzinho. – Começou a rir.
Hyoga sorriu pouco melhor. Achava que se daria bem com eles. Olhou para Kamus e viu que ele não estava mais tão sério quanto quando chegou e foi recebido. Agora ele sorria.
Voltaram para casa. Isaak se responsabilizou de mostrar a casa, a cama dele e onde poderia guardar suas coisas. Agora o quarto seria apenas dele e de Isaak. Um quarto pouco maior e inacabado que havia naquela casa, Natasha providenciou para que fosse terminado na ausência Kamus e nos três dias seguintes. Achava que assim mestre e pupilo teriam mais privacidade, mas Isaak teria de dividir novamente, com Hyoga.
Hyoga já havia terminado de arrumar suas coisas nas gavetas. Estava no quarto com seu companheiro de treino conversando. Isaak o explicava algumas exigências de Kamus e os horários de treino. O loiro parecia surpreso e até chocado com algumas coisas. Bateram à porta.
– Entre! – Gritou Isaak.
A porta se abriu, adentrando Kamus, cruzando os braços, fintando seus discípulos.
– Vejo que já se entrosaram. Bom, terão mais tempo para isso a noite. Isaak, treinarás sozinho por um tempo. Repasse tudo o que lhe ensinei. Ficarei um tempo apenas com Hyoga para fazer com que alcance seu nível. Assim poderei treinar os dois juntos.
– Sim senhor! – Respondeu animado.
– Então se arrume e comece hoje! Hyoga, quero conversar com você. – Kamus saiu, esperando pelo garoto fora da casa.
Hyoga foi ao seu encontro. Kamus os conduziu para um lugar afastado. Vestidos de forma parecida e com roupas leves, sentiam o vento forte e frio se chocar contra seus corpos. Hyoga tremia um pouco pelo frio.
– Diga-me... Qual sua pretensão para se tornar um cavaleiro.
– Quero ser forte. – Respondeu simplesmente. Ficou surpreso ao ver onde seu mestre o havia levado. Para o mar congelado onde sua mãe descansava no navio afundado.
– Forte? - Kamus mais afirmou que perguntou.
– Sim... Minha mãe dorme no fundo deste mar congelado e quero ser capaz de quebrar essa crosta de gelo e mergulhar até ela. Quero ser forte para conseguir vê-la...
– Morreria. – Kamus virou-se, caminhando apara outro lugar.
Hyoga olhou para o gelo abaixo de seus pés. Adiantou-se para acompanhar seu mestre.
– Como assim, Senhor? – Hyoga estremeceu com as palavras de Kamus.
– Três motivos básicos e importantes. Primeiro que um cavaleiro que luta por lutar, sem amor pela paz, justiça e sabedoria dificilmente sobreviveria a uma luta contra um cavaleiro com tais características. Segundo que és muito emotivo o que lhe daria grande desvantagem em uma luta. Jamais pode-se ter pena ou compaixão independente de quem seja o inimigo, seja um desconhecido, um amigo ou o próprio mestre, se viesse a ocorrer. Sem contar que sentimentos tornam você mais previsível. E terceiro, mesmo que adquira força para quebrar aquela camada de gelo, nunca se atreva a mergulhar ali. Naquelas águas há correntezas fortes que mudam abruptamente de sentido, em especial no inverno. Se fosse apanhado por ela, dificilmente escaparia. Compreende?
– Sim... Senhor... – Respondeu desapontado. "Mesmo assim não desistirei de vê-la, mamãe..." Pensou ele.
Kamus, após um tempo de caminhada, parou frente a um extenso muro de gelo.
– Começaremos agora seu treino. Resistência física. Quero que dê cem voltas nessa muralha de gelo correndo sem interrupções. Ela não é tão longa nem tão curta. - Sentou-se numa pedra de frente para o muro. – Decidi que começaríamos com algo prático e leve. Comece!
Hyoga obedeceu. Corria em velocidade considerável. Kamus sempre o repreendia quanto tentava diminuir o ritmo inicial ou pensava em parar. Na septuagésima volta não agüentou e caiu no chão. Resistiu bem por se exercitar com afinco no Japão, na mansão do renomado milionário Mitsumasa Kido.
– Levante, Hyoga! Seu treino mal começou! – Kamus falava alto, repreendendo o garoto. – Pensa em desistir assim, logo cedo? Se não pensa sem seguir por ser apenas um cavaleiro, lembre-se de seu sonho! – Sabia que teria problemas.
Hyoga se esforçou e pôs-se de pé novamente. Num ritmo bem mais lento, continuou o que lhe fora pedido, completando as cem voltas, se escorando no rochedo. Kamus deu cinco minutos de descanso, voltando em seguida com abdominais e flexões.
Hyoga voltara nos braços de Kamus para casa.
Kamus colocou o jovem, desacordado, na cama e o cobriu com um grosso cobertor para que descansasse. Foi à procura de Isaak.
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Mais um ano se passou. Hyoga havia feito um grande avanço, porém, nunca conseguiu alcançar o nível de Isaak. Kamus já os treinava juntos há dois meses. A Saúde de Natasha havia melhorado um pouco.
Após um dia comum de treinamento, Kamus e seus pupilos retornaram para casa. Os três banharam-se, se arrumaram e foram para a casa de Natasha. Ela os aguardava para o jantar.
– Enfim chegaram! – Ela abriu a porta animada.
– Perdemos a hora, perdão. – Respondeu Kamus parando ao lado da moça. Hyoga já estava com Yakoff, ambos rindo e brincando e Isaak os olhando com um sorriso.
– Não têm de se desculpar. Vamos, o jantar vai esfriar... – Foi até a mesa. Os garotos a acompanharam e Kamus em seguida.
– Yakoff prefere o Hyoga a mim... – Comentou Isaak. Hyoga e Natasha riram. Kamus apenas sorriu.
– Sim, Isaak. Fomos abandonados pelo irmãozinho da Naty. – Completou Kamus.
O jantar transcorreu tranquilamente. Ao término, Natasha retirou os pratos com a ajuda de Kamus, enquanto os garotos foram brincar com o pequeno Yakoff no quarto. Tudo arrumado, Kamus foi para sala, acompanhado pela amiga.
– Kamus, chegou outra carta para você. Da Grécia novamente. – A garota buscou por um envelope lacrado e o entregou.
Kamus abriu sua carta lendo para si o que havia nela. Sorriu e pegou as passagens, conferindo.
– Tenho de ir novamente. – Kamus guardou tudo no envelope novamente. A encarou pensativo.
– Eu cuido de tudo por aqui, Kamus. Cuidarei de Isaak e Hyoga em sua ausência!
– Você não anda muito bem... e...
– Esqueça um pouco os outros e pense um pouco mais em você! – Natasha o interrompeu. – Vá e fique o tempo que for preciso. – Sorriu.
Kamus assentiu com a cabeça. Era inútil discutir com ela.
Natasha sempre insistia para tentar descobrir o que fazia com que sentisse tanta falta da Grécia, apesar de já imaginar do que se tratasse. Era triste saber que era apaixonada por ele, mas que ele provavelmente havia deixado alguém especial por lá e que sentia falta. Conversou mais um pouco antes de chamar os meninos para irem.
Antes que fossem deitar, Kamus os informou que partiria e que talvez demorasse alguns dias.
Isaak se prontificou em cuidar de tudo e de Hyoga.
Kamus sorriu deixando-os sozinhos, discutindo. Foi para seu quarto. Pegou sua mala, guardando alguns objetos pessoais, arrumou a roupa que viajaria e deitou-se com o despertador do lado.
No dia seguinte embarcou rumo à Grécia. Trajava uma camisa verde-oliva e uma calça preta. Sentado na cadeira ao lado do corredor, sentia-se entediado para qualquer coisa. Acabou dormindo.
Finalmente em Atenas, dirigiu-se para o Santuário. Sem pensar, subiu todas as escadarias pela passagem secreta, até sua casa, onde entrou, dando algumas instruções à serva.
Foi para seu quarto. Pôs sua mala ao lado da cama e deitou-se de bruços, admirando o crepúsculo pela sua janela. Queria ficar daquela forma por um bom tempo, porém, sabia que tinha de fazer o relatório sobre os treinos ao Grande Mestre. Levantou-se, vestiu sua armadura e saiu.
Meia hora depois, Kamus abria novamente a porta de seu templo. Tomou cuidado para não cruzar com ninguém em seu percurso. "Amanhã eu falo com todos, mas hoje..." Encontrou com sua serva na sala.
– Senhor! O jantar está quase pronto! – Falou simplesmente, com um sorriso no rosto.
– Quando por a mesa, chama-me no quarto. – Saiu rapidamente, sem esperar qualquer resposta. Na verdade, sem ouvir o que mais a serva tinha a lhe dizer.
Entrou em seu quarto pensativo, de olhos cerrados. Fechou a porta e retirou sua armadura, ainda de costas para sua cama e a porta de sua suíte. Virou para contemplar sua macia cama e surpreendeu-se com a imagem que nela estava, mesmo sem demonstrar qualquer alteração em seu semblante.
– Pensei que não me notaria mais... – Aquela voz, aquele tom brincalhão, como Kamus sentia falta daquilo! – Porque você tem sempre a mania ridícula de sair sem se despedir e de chegar sem cumprimentar? Sabia que é falta de educação, francesinho? – Cruzou os braços, se fazendo de sério.
– Se eu o cumprimentasse assim que chego, automaticamente seria obrigado a cumprimentar os outros, como diz a boa educação e me encontrava indisposto para tal. Quanto a despedias, eu as odeio! Mais alguma pergunta, grego? – Respondeu no mesmo tom de Miro. Não pode deixar de notar como estava lindo aquele homem a sua frente.
Miro trajava uma camiseta vermelha, que definia seu belo físico, uma calça azul marinho – Quase negra – ambos simples. Estava sentado na cama, com as pernas esticadas sobre o colchão, cruzadas e recostado na cabeceira, de braços cruzados. As ondulações de seu belo cabelo azul, solto, emolduravam seu rosto moreno. Os olhos de Miro observavam Kamus de cima a baixo, como se o examinasse, o despisse.
– Não, Senhor espertinho. Acontece que você se despediu da Tânia e nem falou um 'Até mais!' para mim... Magoou... – Miro fez uma carinha de criança chorona que Kamus achou uma graça.
– Ela apenas apareceu em meu aminho e eu fui educado. – aproximou-se, sentando na cama, próximo a Miro. – Não pretendia falar com ninguém! – Miro nada pronunciou. Kamus prosseguiu. – Agora me responda. Que história é essa de entrar em minha casa sorrateiramente?
– Não entrei sorrateiro. Muito pelo contrário. Eu o vi chegar... Assim, tratei de me arrumar e vim. Entrei, como pode-se dizer... Como um furacão. Acontece que você não estava e eu me decidi por esperar. – Falou com um sorriso maroto nos lábios.
– Então porque minha serva não me disse nada?
– Simples! – Se ajoelhou na cama, sentando sobre os pés. – Provavelmente você não deu tempo que ela lhe pronunciasse tudo o que deveria. Você anda muito arredio. – Miro o abraçou carinhosamente pelas costas, prendendo seus braços.
– Atrevido! – Kamus deu um meio sorriso.
Miro rapidamente deu um jeito de puxá-lo mais para cima da cama, deitando-o de bruços. Sentou sobre as nádegas do francês prendendo deus braços para baixo, com os joelhos. Kamus inicialmente não reagiu, surpreso. Em segundos tentava se livrar da situação em que estava. Inutilmente. A posição era terrível para sair e não queria usar o cosmo, pois estaria sendo ridículo, fora que chamaria a atenção. Miro se inclinou sobre o corpo imóvel, sussurrando em seu ouvido.
– Isso sim é atrevimento, francês! – Sussurrou encostando levemente os lábios no ouvido de Kamus, com um sorriso travesso nos lábios.
– Percebi. E o que pretende? – Kamus arrepiou com aquele leve toque em seu ouvido e ao sentir aquele hálito quente afagar sua pele.
– Você está tenso... Quero fazer uma massagem... – Falou da mesma forma da frase anterior.
Miro ergueu o corpo. Suas mãos começaram a vagar pelas costas e ombros de seu amado, numa massagem leve e prazerosa para ambos. Kamus, que sentia seu corpo amolecer e relaxar, e Miro, que explorava aquelas costas. Sentia falta de poder tocá-lo, de sentir seu cheiro... Sua pele. O grego não se conteve.
– Promete que não sairá? – A voz de Miro saia leve, marota, distraída... Kamus afirmou com a cabeça. Estava adorando a massagem. Nunca havia recebido nenhuma e sua primeira foi bastante satisfatória.
Miro libertou os braços de Kamus e puxou a camisa do francês, com a ajuda deste, para tirá-la pela cabeça. O grego afastou os lisos fios escuros de cabelo, contemplando a pele alva e macia das costas de Kamus. Apoiou suas mãos frias sobre ela, inclinando novamente.
– Você me parece mais alvo que antes... – sussurrou em seu ouvido – mas sua pele continua tão macia quanto antes... – distribuiu alguns beijos e mordidas pelos ombros do francês antes de retomar a massagem.
Kamus apenas murmurava gemidos baixos... Estava adorando a massagem e sentir Miro tão próximo. Pode perceber que a massagem gradativamente ia se tornando apenas carícias suaves.
– Você não me escapa hoje... – Miro novamente se inclinou, falando em seu ouvido. Na nuca deu um beijo e sugou a pele, arrepiando o francês que apertou os olhos, soltando um gemido abafado.
Miro ergueu seu corpo, fazendo seu amante virar de frente. Sentou novamente sobre o quadril de Kamus o acariciando a barriga e peitoral. Inclinou, roçando os lábios. Fez sua língua quente tocar os lábios de Kamus, forçando passagem. O francês permitiu ter sua boca invadida e explorada. Miro já estava praticamente deitado com todo o peso sobre Kamus, deliciando-se com o sabor do beijo.
– Senhor Kamus! – A serva bate forte na porta. – O jantar está pronto!
Kamus afasta o beijo o quanto antes para responder. Miro torce o nariz, contrariado.
– Já vou. Arrume para dois. Miro também jantará aqui. – virou para o grego perguntando baixo. – ou non?
– Sim, claro que irei. – Respondeu no mesmo tom baixo.
– Então deixe-me levantar e vamos! – Kamus rebateu. Miro ainda estava deitado sobre si.
Miro saiu de cima do seu amante e sentou na cama a contragosto. Olhou para Kamus sem camisa, liberando um suspiro. "paciência Miro... paciência..." pensava com sigo mesmo. O aquariano sorriu ao ver a expressão contrariada do grego. Pegou sua camisa, vestindo-a novamente. Levantou, caminhando até a porta enquanto arrumava os fios de seu cabelo, pondo a mão na maçaneta.
– Vamos logo ou vai esfriar! – Abriu a porta, permanecendo parado esperando o grego.
– Já esfriou! – Rebateu no outro sentido.
Miro levantou-se. Passou por Kamus dando língua e foi na frente para a sala de jantar. Kamus, ao ver a cena, balançou a cabeça em forma reprovadora. Miro parecia uma criança quando queria. Juntou-se ao grego, servindo-se das iguarias postas à mesa. Para maior privacidade, gesticulou para que a serva se retirasse do recinto.
– Kamus, você tem de por mais ordem em sua casa... – Falou Miro após ter dado um gole no vinho branco que fora servido.
– Comment? – Kamus não entendeu onde ele queria chegar.
– Que diabos! Não reparou que sempre tem alguém para nos interromper em momentos importantes? – Mostrava suas frustrações, lembrando de todas as vezes que tinha algo importante para falar ou fazer com Kamus.
– Isso é o Santuário, Miro. Nunca pára e as notícias se espalham espantosamente rápidas. – Deu um gole de seu vinho e encarou Miro com um sorriso. – E nós não estávamos fazendo nada importante.
Miro recusou-se a continuar aquela conversa. Sabia que seria inútil. O resto da refeição foi no mais puro silêncio e troca de olhares, devassos por parte de Miro, tranqüilos por parte do francês. Kamus terminou primeiro a refeição e pediu licença, retirando-se da mesa. Queria tomar um bom banho e se arrumar. Miro nada falou ou reclamou.
Kamus entrou novamente eu seu quarto, pegou duas toalhas seguindo para sua bela suíte. Pôs sua grande banheira a encher enquanto escovava os dentes. Fechou a porta sem trancá-la. Despiu-se, fechando a torneira e entrando. A água, em temperatura ambiente, entrava em contato com sua pele. Recostou na borda, sentando de frente para a porta, com os cotovelos para fora, mantendo os olhos fechados. Ficou assim por alguns minutos, até que sentiu a água da banheira agitar. Abriu os olhos surpreso, contemplando Miro completamente nu se abaixando à sua frente, engatinhando em sua direção. Olhou para a porta notando que estava apenas encostada. Ia argumentar algo quando sentiu o dedo indicador do grego tocar-lhe os lábios num pedido de silêncio.
– A porta do quarto está trancada e sei que ordenou a serva que após arrumar a mesa que poderia se deitar... – Miro sentou-se, de frente para ele. – Agora você não me escapa...
Retirou seu dedo dos lábios rosados do francês tocando com os seus próprios lábios, enquanto envolvia-o pela cintura trazendo-o pare que se sentasse em seu colo, de frente para si.
Kamus deixou-se guiar. Um forte arrepio correu-lhe a coluna ao sentir a língua ávida de Miro forçar passagem por seus lábios. Kamus cedeu, sentindo sua boca ser explorada com volúpia. Tentava corresponder ao beijo com igual intensidade, sua língua se esfregando na do grego. Pode sentir o membro de Miro aumentar, roçando contra o seu, num desejo evidente.
Miro mal acreditava que poderia matar suas saudades. Essa noite seria sua, assim como aquele francês tão desejável.
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Kamus despertara, mantendo os olhos fechados. Estava deitado de bruços, abraçado a um corpo. Sorriu ao sentir o calor do corpo que apoiava sua cabeça, um forte braço o envolver possessivamente pela cintura, o delicioso perfume que aquela pele morena e macia exalava. Abriu lentamente os olhos, erguendo sua face com cuidado para não acordar seu amante. As cortinas grossas estavam fechadas, escurecendo o quarto. Pode contemplar o lindo rosto moreno com a luz emanada pelo abajur que fora deixado aceso. Os olhos estavam cerrados, os lábios entreabertos e seu cabelo azul, ondulado, espalhado pala cama misturado com o seu liso, com alguns fios mais rebeldes sobre seu rosto. "Sempre belo..." pensou. Ergueu um braço, pegando um cacho de Miro, o alisando e 'brincando'.
Miro sentiu um movimento mais brusco e uma mecha de seu cabelo repuxar. Abriu os olhos e permaneceu em silêncio, mantendo a mesma respiração lenta. Deslumbrou-se ao ver Kamus mexendo distraidamente em uma mecha de seu cabelo. Um ato simples, belo e meigo, adorável de se ver aos olhos do grego. Abriu um sorriso divertido.
– Bom dia, Kamus... – Adorou ver a surpresa estampada nos olhos do francês.
– Bonjour. – Kamus largou o que fazia, erguendo mais o corpo, se apoiando com os cotovelos ao lado, na cama. – Dormiu bem?
– Sim. Como há muito não dormia... – Vendo que Kamus saiu de cima, sentou na cama, recostando na cabeceira. – E você?
– Dormi bem. – respondeu simplesmente olhando nos olhos de Miro.
Miro pousou a mão direita na face de Kamus com delicadeza, a acariciando com o polegar. Abaixou, dando-lhe um beijo no rosto. Levantou buscando por suas roupas, que havia deixado no sofá do quarto. Não se preocupou de desfilar nu pelo quarto, sob o olhar do francês. Pelo contrário. Kamus que se sentiu, em partes, tímido com o ato.
– Me empresta uma cueca sua? – Pediu Miro.
– Pode pegar. – Kamus sentou-se na cama, puxando os lençóis para que melhor cobrissem suas pernas e quadris.
Miro o olhou e sorriu. Não aceitava que Kamus, seu melhor amigo, seu amante, aquele que melhor o conhecia, sentia vergonha de se levantar e caminhar nu pelo quarto em sua presença.
– Pegue pra mim. Senão eu bagunço tudo. – Sentou no sofá despojadamente.
As maçãs da face de Kamus ficaram instantaneamente róseas. Entendeu onde Miro queria chegar, não era ingênuo a esse ponto. Igualmente, não daria a ele o gostinho de vê-lo tão tímido. Miro adorava vê-lo sem graça e não aceitaria realizar esse capricho do grego.
– Está bem. – Jogou os lençóis para o lado, levantando majestosamente, indo em direção ao armário. Deixou a timidez de lado sendo agora apenas o altivo Kamus.
Miro o admirava com os olhos bem abertos, não perdendo cada movimento, cada gesto, compenetrado no corpo alvo, na expressão impassível, no olhar distante. Havia se surpreendido com tal ato. Sempre achou que o que mais o atraia no francês era a dificuldade de imaginar o que se passava em sua mente. A prepotência, altivez, a frieza aparente... ver tudo isso ser desmanchado com seus esforços cada vez que se aproximava do reconhecido Mestre da Água e do Gelo.
Kamus olhou seu armário. Pegou uma cueca boxer branca, jogando para o grego, vestindo uma do mesmo estilo, preta. Abriu outras gavetas pegando uma calça negra e uma camiseta azul escuro. Fechou as gavetas. Apoiou as roupas na cama, vestindo-se despreocupadamente.
Miro fazia o mesmo.
Logo estavam devidamente vestidos e impecáveis, com os cabelos bem penteados e dentes escovados. Miro deu sorte de Kamus ter uma escova de dentes reserva.
– Já são dez horas! – Kamus espantou-se ao olhar o relógio sobre o móvel. – Vamos pedir que sirva o café da manhã. Depois veremos o que fazer. – Disse prático.
– Está bem. – Acompanhou o francês, que saía do quarto.
Na cozinha, Kamus pediu a sua serva que servisse o café. Enquanto esperavam, foram para a sala conversar. Kamus sentou-se de forma elegante e Miro, largada. O grego encarou o chão por alguns minutos, refletindo. Kamus o olhava sem compreender. Miro decidiu por acabar com suas dúvidas.
– Kamus... Quando você vai voltar para a Sibéria? Hoje? – Sua voz saíra baixa. Olhou nos olhos do francês.
– Acredito que sim, Miro... – Olhava sério para o grego. Não podia evitar. Queria ficar ali ao lado dele, mas tinha responsabilidades. Simultaneamente preocupava-se com Miro, seus pupilos e a Natasha, com o pequeno Yakoff.
Miro ficou chateado. Por instantes demonstrou, mas logo disfarçou com um pequeno sorriso. Não que isso enganasse Kamus, mas valia a pena tentar.
– Senhor Kamus, o café está servido. – A serva foi comunicá-los.
Levantaram-se, seguindo para a mesa. Bem arrumada, tinha suco de laranja, torradas, geléias e frutas muito bem selecionadas. Sentaram-se de frente, contemplando a mesa.
– Pode se retirar. Está tudo ótimo. – Kamus falou calmamente com a serva.
– Sim senhor. – Fez uma reverência, saindo.
Começaram a se servir. Vez ou outra trocavam olhares, porém, nenhuma palavra era proferida. Miro levava uma torrada à boca quando ouviram uma agitação na sala. Kamus fechou a cara imediatamente. Odiava bagunças em sua morada. Ambos dirigiram seus olhares para a porta que dava à sala, onde apareceu uma garota trêmula, com os olhos rasos em lágrimas. A serva de Kamus apareceu ao seu lado, nervosa por não saber o que fazer.
– Perdão por entrar aqui assim senhor Kamus, mas é a Tânia... – Falava a serva mais nova de Miro.
Miro não pensou duas vezes, pelo estado de sua serva, havia acontecido algo. Levantou bruscamente, quase derrubando a cadeira. Olhou triste para os olhos de Kamus e saiu correndo para seu templo. Não queria esperar o que a jovem tinha a lhe dizer. A serva foi logo atrás. Kamus ficou sem ação por segundos. Olhou para sua serva parada na entrada, estava completamente confusa. Achou melhor deixar tudo e ir para Escorpião ver qual o problema e tentar ajudar.
– Arrume tudo, vou sair! – Falou já deixando o ambiente. Foi ao quarto vestir sua armadura, afinal não devia em hipótese alguma andar pelo Santuário sem ela, e saiu a passos largos para a oitava casa.
Entrou sem cerimônias na casa, buscando pelo grego nos quartos. Viu uma porta aberta. Foi até ela, encontrando a jovem serva em pé observando o grego, que estava parado de pé ao lado de uma cama simples de solteiro, olhando para a pessoa que nela descansava, levemente iluminada pela claridade que vinha da janela.
Miro olhou para a porta assim que Kamus chegou, em seguida olhando novamente para a cama em sua frente, trêmulo. Kamus se aproximou, parando ao lado do grego, igualmente olhando a velha senhora que estava deitada.
– Estranharam que ela não havia levantado cedo, mas achavam que ela apenas havia perdido a hora... A outra foi às compras e ela deixava Tânia descansar. Viu que Tânia não acordava e decidiu por vir chamá-la... Mas... Não conseguiu acordá-la. – Miro falava baixinho, como se temesse acordar a velha senhora que parecia estar apenas dormindo. Olhou para Kamus, nos olhos, permitindo que os seus marejassem. – Por favor, me diga que ela apenas dorme... – Não queria acreditar na possibilidade de perder aquela que cuidou de si como uma mãe. Tinha receio de tocá-la e sentir a pele sem vida.
– Miro... – Kamus o encarou por segundos. Voltou seu olhar para Tânia, que estava deitada. Ergueu um pouco o pulso da velha senhora por alguns segundos, segurando com delicadeza. Voltou a pousar o braço dela na cama, em repouso olhando nos olhos de Miro, que já estava com uma lágrima escorrendo no rosto. – Sinto Muito... – Foi tudo o que podia dizer ao grego.
Miro ajoelhou ao lado da cama, tomando a mão esquerda de sua velha serva nas mãos. Chorava sem se importar que a outra serva visse. Seu coração doía sentindo aquela pele sem vida em contato com a sua. Era difícil acreditar que Tânia estivesse morta. Ela aparentava apenas dormir a quem a visse. Uma morte natural e repentina, que abalou o grego. Apoiou a fronte na fria mão que segurava firme, derramando mais lágrimas.
Kamus apenas acompanhava com o olhar. Nada poderia fazer senão estar ali para auxiliar no que pudesse. Sentia também por aquela morte, afinal, como sempre que podia estava com Miro, igualmente estava com Ela. Tânia cuidava tanto de si quanto do grego. Ela o incentivou na noite em que reconciliaram e isso Kamus não esqueceria. Mesmo triste, não queria demonstrar. Tinha de ser forte e se mostrar perfeitamente assim para o grego agora. Sentia-se na obrigação de apoiar Miro, mas como? E seus pupilos? Teria de tomar uma decisão o quanto antes.
O aquariano virou-se para a outra serva, que também chorava, pedindo educadamente que lhe trouxesse papel e uma caneta. Ela saiu, logo voltando com o que lhe fora pedido, entregando-o. Kamus foi até uma mesinha de madeira escura, que ficava na lateral do quarto. Escreveu uma mensagem e dobrou com cuidado o papel, voltando a falar com a serva.
– Por favor, entregue isto ao Grande Mestre e espere a resposta, sim? – Entregou o papel.
A garota afirmou com a cabeça, saindo em seguida, apressadamente.
Kamus voltou a ficar ao lado de Miro, com a mão em seu ombro como para encoraja-lo. A casa de Escorpião, geralmente tão cheia de vida, animada, encontrava-se em profunda tristeza.
Minutos depois a serva retornou com outro papel em mãos, entregando a Kamus, que parecia ser o único que pensava no que deveria ser feito. O francês abriu e leu, ficando aliviado com a resposta. Foi até Miro novamente, abaixando ao seu lado.
– Enviei uma carta ao Grande Mestre informando sobre Tânia e ele consentiu que ela, mesmo sendo uma serva, fosse enterrada no cemitério dos cavaleiros, no espaço reservado às amazonas. As providências já foram tomadas... – Depositou novamente uma mão sobre o ombro do grego e a outra sobre uma das mãos que seguravam a da mulher. Levantou.
– Obrigado... – Miro livrou sua mão da de Kamus, pondo as Mãos de Tânia sobre o peito. O encarou. Os olhos vermelhos e tristes aparentemente não derramavam mais lágrimas. Levantou. Ao ver que Shura, Afrodite e Shaka apareceram.
– Desculpe-nos por entrar assim, mas notamos que algo não estava bem, Miro. Vi sua serva passar a choros por Capricórnio... Afrodite o mesmo... – Shura e Afrodite estavam visivelmente preocupados. Viram o corpo sobre a cama. – Sentimos muito...
– Pude sentir a tristeza em sua casa... Meus pêsames... – Disse Shaka, sincero.
Todos os amigos de Miro sabiam do carinho que ele mantinha por aquela senhora.
– Obrigado a todos... Por terem vindo. – O grego enxugou as lágrimas que molhavam seu rosto. Caminhou até a janela, que estava aberta, parando para fitar a paisagem que ela exibia. Queria poder fazer algo, mas o que? Sua mente girava. Nunca havia tido uma perda tão grande. Outra lágrima, fina, escorreu por seu rosto. Estava de costas para todos, com o olhar perdido e completamente triste.
As pessoas encarregadas pelo velório e enterro da mulher não demoraram. Logo arrumaram tudo e levaram o corpo ao cemitério. Aldebaran logo compareceu, juntando-se aos amigos para apoiar ao grego que estava melancólico. Todos trajavam suas armaduras, com exceção de Miro que estava sem cabeça para isso.
Após a cerimônia e a acompanhar o caixão ser enterrado, os outros cavaleiros tinham de seguir com suas obrigações. Despediram-se de Miro. Kamus permanecia ao seu lado, olhando a lápide, assim como o grego.
Miro depositou no túmulo uma rosa branca, que havia recebido de Afrodite. Saiu cabisbaixo, voltando para sua casa. Kamus permaneceu no cemitério por mais alguns minutos. Estava preocupado. Miro estava visivelmente abalado. Era triste o que aconteceu, mas seu coração apertava ainda mais ao ver aquele rosto tão belo expressando apenas tristeza e dor.
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Miro encontrava-se na janela de seu quarto, observando o céu, os pássaros voarem, as nuvens passarem... O tempo não parava. Já passavam das quatro da tarde. Suas servas haviam sido liberadas. Detestava movimento em sua casa quando não se sentia bem. Ouviu batidas na porta e ela logo se abrindo.
– Miro... – Kamus falou baixo, entrando no quarto, vendo como ele estava. Fechou a porta atrás de si e caminhou até metade do quarto, parando e o encarando.
– Pensei que já tivesse ido para a Sibéria. Você sempre sai sem se despedir... – Olhou para Kamus com os olhos chorosos. Kamus estava com uma camisa pólo e uma calça cinza. Seu olhar estava sereno, reconfortante. – Ou você veio apenas para se despedir?
– Non. Apenas arrumei algumas coisas em casa e dei instruções à serva. Decidi... Passar essa semana com você, Miro. – Falou calmamente.
Os olhos de Miro brilharam. Sentiu seu coração pouco mais leve. Caminhou até Kamus, o abraçando e voltando a chorar. O francês afagava-lhe os cabelos e não pronunciava nada. Miro poderia ser um cavaleiro de ouro e ter um físico forte, mas sua alma era sensível às grandes perdas. Era emotivo. Apenas as lágrimas fariam com que se sentisse melhor. Puxou o grego até a cama, afastando-o do abraço. Sentou próximo ao meio de cama, recostando na cabeceira. Abriu as pernas e fez com que Miro se deitasse entre elas, com a cabeça apoiada em uma de suas coxas. O escorpiano fechou os olhos ao sentir as mãos de Kamus afagar-lhe novamente, gentilmente, seus cabelos. Chorava e soluçava, umedecendo a calça escura do aquariano com as lágrimas que não cessavam. Ficaram assim por horas, até que Miro adormeceu.
Kamus ficou acordado, velando seu sono. Sequer se mexia temendo acorda-lo. Alisava o couro cabeludo de Miro, próximo à nuca, com as pontas dos dedos, numa carícia suave, quase imperceptível.
Na manhã seguinte, Miro abriu os olhos lentamente. Sua primeira visão foi o céu começando a se iluminar, através da janela. Sentiu o familiar perfume de Kamus, quando se deu conta de que dormiu em sua perna. As lembranças vinham-lhe atormentar novamente. Virou a cabeça, queria admirar o rosto do francês. Não acreditou quando sentiu a mão dele cair de sua cabeça, o que anunciava que passou bom tempo alisando-o. Arregalou os olhos ao ver a cabeça de Kamus pouco inclinada para frente, os olhos cerrados e os lábios rosados entreabertos. Kamus havia dormido desconfortavelmente! Contemplou o aquariano abrir os olhos revelando as belas orbes azul-escuras.
– Está melhor? – Kamus falou quase num sussurro.
Miro se levantou rapidamente, sentando na cama. O francês o acompanhando com o olhar.
– Desculpa... não queria fazer com que dormisse tão mal... Poderia ter saído... – Sabia que o interior de Kamus era gentil e doce, mas nunca passou em sua mente que o aquariano faria tal demonstração de carinho e atenção.
– Non poderia. Se o fizesse, lhe acordaria e eu não queria isso. Parecia dormir bem. Estar mais tranqüilo... – Falava calmamente. – Não me peça desculpas por mais nada.
– Mas... – Tentou questionar. O dedo indicador de Kamus pousou sobre seus lábios num pedido de silêncio.
– Non quero ouvir mais nada. – Falava serenamente. Olhou para a janela e voltou a atenção ao grego. – Vamos para o jardim? Poderíamos contemplar o nascer do sol...
Miro aceitou o convite. Foram aos jardins juntos e deitaram sobre a grama verde. Acompanhavam o nascer majestoso do sol sem trocarem uma palavra sequer. O escorpiano não podia evitar a felicidade em sentir o quanto Kamus se preocupava com ele. O quanto o amava. Mas essa felicidade misturava-se a tristeza do dia anterior. Via que Kamus estava tentando distrai-lo, faze-lo esquecer a tristeza e estava disposto a tentar. Tânia não iria querer que sofresse sempre dizia que só o queria ver sorrir.
Entraram e tomaram um café da manhã reforçado, preparado por Kamus. Passariam o tempo que fosse possível juntos naquela semana.
Treinaram juntos naquele dia, no segundo e terceiro, querendo passar o tempo e esquecer qualquer coisa. Não se separavam. Miro, obviamente, não havia esquecido Tânia, mas sentia-se muito melhor, agindo quase como antes.
Em Aquário, no quarto dia, ainda pela manhã, a serva de Kamus o entrega uma correspondência assim que ele e Miro saíram da mesa. Acompanhado pelo grego, foi para o quarto. Olhou o remetente e estranhou, abrindo o quanto antes a carta. Miro apenas o observava.
– Quem a mandou? – Perguntou curioso.
– Natasha. É da Sibéria! – Falou tentando controlar a voz sem sucesso. Ainda soava preocupada.
CONTINUA...
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Direitos autorais a Masami Kuromada e cia.
A mim pertence apenas Shino, Karen, Tânia e Natasha.
Olá! Antes de tudo peço que não me apedrejem pelo fato de eu ter matado Tânia, mas foi preciso. Eu senti também por ter de ter feito isso. Meu coração é mole com essas coisas. Adoro histórias felizes, mas também não posso negar que gosto de uma boa tragédia. Peço que deixem os reviews dizendo o que acharam. Irei responde-los em meu blog: persefone-sama(ponto)weblogger(ponto)com(ponto)br , já que esse site não permite mais.
Beijos a todos!
