Capítulo 36

Nos seguintes dias, Ginny passou cada minuto do seu dia em companhia de outras pessoas porque ela sabia que rumores começariam logo se ela desaparecesse por algumas horas. Iriam pensar que estava com ele e onde estavam. Isso teve um impacto negativo nos negócios, pois ela não podia coletar informações ou espionar outras pessoas.

Ela não tinha visto ou falado com Draco depois daquela noite no quarto dele e sentia muita falta dele. O remédio agora era feito pela Madame Pomfrey e ele tinha que ir à Ala Hospitalar toda noite pegá-lo. Ginny sabia que ela realmente quisesse vê-lo, ela poderia fazê-lo sem ninguém saber, mas este incidente com a foto a despertou do sonho de uma amizade com Draco. Ele iria embora logo e ela ia ter que se acostumar com a ausência dele. Ela também tinha de deixá-lo agora enquanto podia e antes que ficasse muito ligada a ele. As fotos e Ron sabendo sobre eles foram só uma desculpa para acabar tudo mais cedo.

Ginny estava sentada na sala comunal num lugar onde poderia ser vista, mas era longe o bastante no canto para poder ter um pouco de privacidade. Ela parecia estar lendo um livro, mas de fato estava lendo a mesma página há dez minutos pensando em Draco e imaginando o que ele estaria fazendo. Estava agora uma semana inteira atrasada com as novidades e especialmente agora que não podia ver Draco e também não podia espionar, ela não sabia como ele estava e isso realmente a incomodava.

Você está sendo estúpida, Ginny – criticou a si mesma – Ele vai embora ano que vem mesmo e daí você não vai saber nada mais sobre ele. Deixe essa mania e esqueça ele!

Ginny fechou o livro e se levantou indo em direção ao retrato. Ela lembrou que não devia estar sozinha, então arrastou Colin junto com ela. Amy não ligava que ele estivesse indo com Ginny, ela sabia que eles eram melhores amigos e que Ginny não estava interessada nele.

Ginny só andava quieta enquanto Colin a seguia. Ela estava indo pra cozinha pra pegar alguma coisa pra comer e Colin não reclamou. Eles entraram na cozinha e alguns elfos começaram a bajulá-los.

- O que você quer, srta? – uma elfa perguntou.

Ginny sorriu pra ela – Só um pouco do seu maravilhoso e delicioso cheese cake, por favor.

A elfa foi até uma mesa, pegou e levou até onde Ginny estava, mas tropeçou e a torta caiu no chão.

Ginny foi até a elfa e a ajudou a levantar – Você está bem? – perguntou.

- Desculpe, srta. – disse e começou a bater a cabeça no chão.

O comportamento da elfa incomodava Ginny, então ela segurou a cabeça da elfa e pensou rápido – Tudo bem. – disse – Eu não gosto muito de cheese cake mesmo, que tal um pouco de bolo de chocolate. Pode pegar pra mim?

A elfa parou de bater na cabeça imediatamente e saiu rápido para pegar o bolo. Ginny suspirou em alívio e sentou na mesa ao lado de Colin com uma cara triste.

- Frustrada por não comer o cheese cake que você ama? – perguntou Colin.

Ginny sorriu fracamente e balançou a cabeça – Vivo numa família com seis irmãos, Colin; estou acostumada a não ter o que eu quero. Não conseguir um pedaço de torta não é nada comparado a outras coisas que quis mas nunca tive.

A elfa voltou e colocou o bolo na mesa junto com dois pratos, dois garfos, uma faca e um pote com cobertura.

Ginny cortou o bolo e deu a Colin e a ela um pedaço, cada um cheio de cobertura.

- Bolo de chocolate também é bom. – comentou e comeu seu bolo com o máximo de satisfação que conseguia.

Colin comeu seu bolo não se importando muito, pois observava Ginny. Ele podia dizer que ela estava forçando uma cara feliz, não por causa do bolo, mas por causa de alguém em particular.

- Existe alguém que possa substituir o Malfoy? – perguntou.

Ginny parou por um segundo, mas continuou a comer.

- Responda, Ginny – continuou – Quem vai ser a segunda opção se você não puder ter o Malfoy?

- Não sei do que você está falando, Colin. – disse fria.

Colin estava se irritando – Fala comigo, Ginny. Por que você está fazendo isso com você mesma? O que tem entre você e o Malfoy?

- Não há nada entre nós. – disse firme.

- Se realmente não houvesse nada, então você não agiria desse jeito. – disse – Por que não me diz o que aconteceu?

Houve um momento de silêncio antes de Ginny responder.

- Você não sabe como é. – disse com tremor na voz e olhou pra Colin com os olhos cheios d'água.

- Então me explique. – disse desesperado.

Ginny respirou profundamente – Sabe aquela loja de brinquedos na esquina do Beco Diagonal? – perguntou.

- Sei. – disse ao assentir e imaginando onde isso daria.

- Quando eu tinha sete anos, minha mãe me levou para o Beco Diagonal pra comprar material pros meus irmãos e nós passamos pela loja de brinquedos. Na vitrine estava o mais lindo globo de neve que eu já vi, tinha uma fadinha nele e purpurina caindo em volta dela, era maravilhoso e eu tinha que tê-lo. Pedi a minha mãe pra comprar, mas fiquei arrasada quando ela me disse que não tinha dinheiro e me arrastou pra longe da loja, mas isto não me deteve. Voltava todo ano naquela loja para que eu pudesse pelo menos olhar o globo, e depois de três anos guardando dinheiro da minha mesada, finalmente tive dinheiro suficiente para comprá-lo. Fui até lá na véspera de Natal num ano, excitada e feliz por ser capaz de comprar o globo de neve, eu o tirei da prateleira sorrindo e levei ao caixa. Havia outra família no caixa pagando pelas suas compras, então esperei pacientemente minha vez, mas a filhinha do casal viu o globo de neve que eu segurava e disse ao pai que queria um também. O pai perguntou ao dono se poderia pegar um pra ele, mas o que eu segurava era o último. O pai não parecia muito feliz e o dono da loja estava com medo que ele não fosse mais comprar lá, então ele pegou o globo das minhas mãos. Perguntei a ele o que estava fazendo e ele me disse "garotinhas sujinhas não merecem ter coisas tão bonitas" e vendeu o globo ao homem. Eu corri da loja pra minha mãe e chorei em seu colo. Sabia que não havia nada que ela poderia fazer sobre isso e eu nunca a culpei pelo ocorrido. – Ginny desviou o olhar de Colin e se abraçou.

- Esperança é uma coisa muito dolorosa, sabia? – continuou falando com a voz trêmula – Ter grandes expectativas por algo e depois sofrer uma desilusão é a pior sensação que uma pessoa pode ter. Tem um provérbio que diz quanto mais alto você vai, maior é a queda. Como isso é verdade!

Colin se sentiu muito mal por Ginny e a abraçou, para assim ela poder saber que ele estava ali pra ela. Ginny deitou a cabeça no ombro de Colin e chorou baixinho.

- Não quero ter esperanças, Colin. – disse entre soluços – Não quero ter esses sentimentos por ele.

Colin sabia que a história de Ginny era a explicação para a estranha relação que ela tinha com Draco.

Ela fungou e olhou pra Colin – Não cometerei o mesmo erro de novo, Colin. Não vou ficar com esperanças só pra depois sofrer uma desilusão. Abdicar de algo antes é melhor que ter esse algo arrancado de você quando você pensou que era seu.

Ginny respirou fundo e controlou o choro. Deu a Colin um sorriso fraco e bateu de leve em sua mão.

- Obrigada – disse – Precisa desabafar.

- Sempre que quiser, Ginny. – disse e ambos saíram da cozinha em silêncio.

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Depois que Ginny saiu, Draco ficou com raiva pelo fato dela sequer de dar ao trabalho de tentar ficar com ele. Então começou a se questionar. Por que era tão importante pra ele tê-la por perto? Draco se recusou a acreditar que era amor, então seu subconsciente apagou essa possibilidade instantaneamente, o que o tornou mais confuso ainda.

Acho que é porque ela é a única pessoa que realmente me conhece. – concluiu.

Os alunos de Hogwarts conheciam o lado poderoso de Draco, seus amigos na Itália conheciam seu lado amigável, sua mãe seu lado gentil. Ginny era como uma combinação de todos e confortava a ele saber que não tinha que ficar mudando de máscaras com ela.

A raiva de Draco rapidamente desapareceu e a solidão substituiu. Todas as noites sem vê-la, todas as coisas que ele não podia discutir com ela e todos os sorrisos que ele não podia dar a ela. Ele sentia muita falta dela, mas não havia nada que pudesse fazer, então ficou em negação.

Sou Draco Malfoy – pensou – Não preciso de ninguém, eu nunca preciso.

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As responsabilidades médicas de Draco foram transferidas para Madame Pomfrey e ele tinha que ir até a enfermaria todas as noites para pegar o remédio.

Já havia passado uma semana desde o incidente com a foto e as pessoas começavam a esquecer o assunto, apesar de Ron ainda manter o olho em Ginny. Os negócios voltaram ao normal para Ginny, agora ela não via necessidade de ter alguém com ela cada minuto para provar onde estava.

Foi num desses dias normais que Ginny recebeu uma coruja de sua Fonte externa. A carta dele explicava que havia demorado muito a coletar informações pois aparentemente Felicity Lateris não existe.

Querida V.

Não pude achar Felicity Lateris em toda a Inglaterra, Escócia e até Irlanda, então refiz seus passos e usei a foto que você me deu para descobrir que seu passado está na Bulgária. Seu nome verdadeiro é Felicity Caruso e ela era órfã, mas foi adotada por um homem desconhecido há 7 anos atrás.

Ela viveu na Bulgária por 15 anos até se mudar para Inglaterra com seu pai adotivo há 2 anos atrás. Foi nesse mesmo tempo que ela foi iniciada pelo Lorde das Trevas a tornando uma Comensal da Morte.

Não há outra informação sobre ela depois de sua iniciação foi encontrada e parece que propositalmente foi armado para que ela não existisse depois disso. Ninguém da Inglaterra ouviu sobre ela, nem os Comensais, e esse homem misterioso também é desconhecido.

De X.

X era um espião/informante o que você quiser chamar, mas foi contratado para encontrar informações sobre pessoas, exceto que se especializou no lado negro do mundo mágico e era amigo de muitos comensais. Ginny não sabia se X era um comensal, mas ela não ligava porque X era uma pessoa legal. Ginny nunca conheceu X, mas ele sabia quem ela era.

O primeiro encontro de Ginny com X foi quando um garoto rico da escola queria saber quem era a Fonte e contratou X para descobrir. Já que o pai deste garoto era um dos amigos de X, ele tinha que fazê-lo. X descobriu quem era Ginny muito fácil, mas ficou impressionado em como ela era boa, mesmo sendo muito jovem. Enviou uma carta a ela dizendo que havia um garoto na escola que a estava investigando e até a ensinou como se proteger. Ginny terminou por ameaçar o garoto com um dos seus mais escuros segredos, então o garoto pediu a X para parar com a investigação. Depois do incidente, X enviou uma carta parabenizando Ginny pelo seu talento e a partir deste dia, sempre que Ginny precisava uma informação de fora, ela pedia ajuda para X e ele a ajudava feliz.

- Preciso contar a Dumbledore – Ginny sussurrou consigo mesma, guardou o papel no bolso e desceu as escadas do dormitório.

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Felicity estava em seu quarto lendo uma carta de seu guardião.

Sua identidade foi descoberta. Venha até mim agora, com ou sem o item.

Felicity amassou a carta e a jogou no lixo. – Vou voltar assim que terminar meus assuntos com a Weasley.

Pegou sua varinha e saiu do quarto. Foi até a Ala Hospitalar pois sabia que Ginny passava a maior parte de seu tempo lá.

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No caminho para a sala de Dumbledore, Ginny bateu em alguém, o que fez ambos caírem. Ginny estava se desculpando, mas foi nocauteada, ficando inconsciente e arrastada para fora do castelo.

Abriu os olhos devagar e se encolheu com a dor atrás da cabeça. Tentou mover as mãos para massagear a cabeça, mas viu que não podia, então abriu os olhos completamente para ver o que estava acontecendo. Viu que estava amarrada e pendurada num galho de árvore acima do lago. Se debateu para se libertar, mas não adiantou. A última coisa que se lembrava era de dar um encontrão em alguém e tudo ficou preto.

- Apreciando a paisagem? – disse uma voz embaixo dela.

Ginny olhou pra baixo e viu Felicity sorrindo cinicamente – O que você está fazendo, Lateris? – gritou.

Felicity sorriu mais ainda e montou sua vassoura para poder voar até Ginny a falar com ela cara a cara. Voava agora ao lado de uma Ginny que se debatia.

- Não adianta tentar – murmurou – Sou muito boa em amarrar pessoas.

- Deve ser muita experiência, suponho. – rebateu.

- Muito inteligente você. – disse Felicity – Nunca cheguei ao ponto de matar uma garota para que ela parasse de perseguir meu homem.

Os olhos de Ginny se arregalaram, mas ela se conteve logo. Não demonstraria medo a Felicity.

- Isso mesmo. – continuou – Vou te matar Weasley, porque você não deixa meu Draco em paz.

- Ele não é seu Draco. – Ginny ralhou.

- E ele não vai ser seu também quando eu acabar – disse sorrindo malevolamente. Então pegou uma faca e a encostou na corda que segurava Ginny na árvore. – Você vai morrer bem devagar por roubar ele de mim.

Felicity começou a movimentar a faca devagar para cortar a corda pouco a pouco. Observou animada Ginny se debatendo para se soltar, ver suas vítimas em pânico sempre era divertido.

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Draco estava sentado durante uma reunião chata de monitores quando sentiu uma fisgada de dor no dedo anelar de sua mão direita. Levantou a mão e viu o anel que usava no dedo com um brilho vermelho. Levantou-se rapidamente da cadeira fazendo esta cair pra trás resultando na interrupção da reunião.

- O que está fazendo, Malfoy? – Hermione perguntou irritada.

Todos na sala olhavam pra Draco estranhamente e se perguntavam o que estava acontecendo. Draco sentia o anel queimar seu dedo ainda mais e fechou o punho. – Ginny deve estar com problemas.

Draco correu pra for a da sala logo e tirou o anel do dedo enquanto corria. Parou depois de um tempo e olhou para o anel, se concentrou muito e pôde ver, meio borrado, uma árvore e uma área brilhante – O lago – Draco começou a correr pra fora do castelo o mais rápido que podia.

O anel que usava fazia conjunto com a pulseira que Draco havia dado a Ginny de aniversário. A pulseira era um rastreador e o anel de Draco era o localizador. A pulseira enviava uma mensagem para o anel quando havia situação de perigo e o anel reagiria e diria a seu dono que alguma coisa estava errada. Draco nunca o tinha utilizado antes, então não sabia muito bem o que significava quando o anel começasse a queimar seu dedo, e foi por isso que ele não podia ver claramente onde Ginny estava pelo anel. Mas ele sabia que ela estava em algum lugar perto do lago e que estava em perigo.

Ele saiu pela porta da frente do castelo e correu até o lago. Assim que estava perto, viu Ginny amarrada numa árvore enquanto Felicity voava sobre ela numa vassoura. Draco logo concluiu que Felicity iria fazer Ginny cair na água e se afogar.

- Pára, Lateris. – Draco gritou enquanto corria até o lago.

Felicity parou de cortar a corda e virou a cabeça para ver quem falou. Ela sorriu cínica pra Draco antes de falar.

- Se eu não posso ter você, ninguém pode. – disse antes de cortar totalmente a corda e Ginny cair no lago ainda amarrada.

Ginny gritou, mas parou assim que atingiu a água. Draco tirou a capa imediatamente e mergulhou na água ignorando Felicity que voava pra longe de volta pro seu guardião.

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