Terminei rapidamente o meu banho e quando sai, a vi sentada na cama, apoiando os braços atrás de si, deixando aquela barriguinha fofa bem na minha frente.

"Demorei?"- eu pergunto para testar o humor dela.

"Ate que não..."- ela sorriu. Ótimo! Bom humor por mais alguns minutos.

Eu fui pro armário e peguei uma calça de moletom e uma camiseta limpa. Enrolei a toalha na cintura e subi para a gaveta das cuecas, pegando um preta.

"Sabe o que dizem sobre peças íntimas prestas?"- ela disse e eu olhei para ela. Com certeza ela fez referencia ao dia em que voltamos e eu disse a mesma coisa a ela.

"Ei, isso só vale pra mulheres!"- eu sorrio, indo mais perto dela, deixando a roupa sobre a cama.

"Que nada! Direitos iguais, meu amor..."- realmente o bom humor tinha se estabilizado. Quem sabe o chocolate não fora o causador, não é mesmo?

Respondo todo aquele bom humor com um sorriso. Estendo minha mão para pegar a cueca, mas ela é mais rápida pegando-a em suas mãos. Eu olho pra ela intrigado e ela sorri com uma carinha de criança.. alí tinha coisa.

"Você quer que eu te ajude a colocar?" – ela disse me encarando mais seria.

"Não precisa... eu sei fazer isso.. mamãe me ensinou direitinho.. "

Ela faz um bico enorme e coloca a cueca na cama. Eu sabia o que ela queria.. eu queira tanto quanto ela, ou talvez mas.. mas agora não era certo fazer aquilo. Ela se levanta da cama com certa dificuldade e eu termino de me vestir rapidamente.

"Não vá deixar toalha molhada em cima da cama.." – ela fala saindo pela porta do quarto. Pronto.. era só contraria-la um pouquinho que o mau humor voltava com toda força.

Desço as escadas e pego a sacola que tinha chocolate dentro. Olho para os lados e vejo todas as luzes acesas. Sigo primeiro pra sala e vejo a televisão ligada para as paredes. Dou meia volta e vou a cozinha vendo que ela estava esquentando alguma coisa no microondas.

"Com fome?" – eu pergunto intrigado. Pelo menos ela afirmava até poucos minutos atrás que não estava com fome.

"Coloquei pra você.." – ela fala sem me encarar sentando na mesa da cozinha.

"Ei"- eu tento chamar a atenção dela mas ela continua encarando o microondas, com o prato girando lá dentro- "dá pra olhar pra mim?"- assim que terminei de falar o apito soou sinalizando a comida quente o suficiente.

"Pronto..."- ela disse, tirando o prato do aparelho e colocando sobre a mesa. Eu a olho por completo mas ela permanecia sem me encarar.

"Nós precisamos resolver isso, Abby"- eu disse sentando a mesa.

"Isso o que?"- ela disse séria, começando a lavar a louça de costas pra mim.

"Não se faça de boba..."- eu comecei a comer- "eu sei que tá sendo difícil, pode acreditar que pra mim também está.."- ela continuava de costas, lavando- "mas tenta entender que eu não posso fazer muita coisa...eu só tento me controlar...e você sabe que é difícil"

Nesse momento eu vi que ela parou de lavar, mas ainda estava de costas, imóvel.

"Eu pelo menos estou tentando fazer com que levemos isso numa boa... espera mais um pouco.. nós ainda temos uma vida inteira pra isso."

Ela continuava imóvel e eu decidi me levantar ficando ao seu lado e começo o novo.

"E eu não quero que você fique assim por causa disso.. eu faço o que você quiser para te animar.. se quiser atravesso o pais para comprar um bola de sorvete de sabor exótico.. compro o que você quiser, faço o que você quiser.. se você quiser eu ando com uma almofada na barriga para me sentir mais com você.. mas por favor... mantenha o otimismo.. ela esta chegando.."

"Será?" - ela olha pra mim. – "Eu não sei porque, tenho a impressão de que vou passar o resto da minha vida nessa situação..."

Eu sorrio abraçando-a com cuidado e dou um beijo de leve no seu cabelo.

"E quanto a idéia do travesseiro.." - ela olha pra mim sorrindo.

"Ei- eu já fico assustado- eu só estava te animando...- Sai dessa!"

"Ahhhhh então era só pra me agradar?"- ela começa a fazer um bico enorme.

"Biquinho igual ao da sua filha..."- eu digo, dando um selinho nela e colocando a mão na barriga dela também.

"É?"- ela começa a beijar meu pescoço- "você já viu?"- ela sorriu começando a me provocar. Poxa, será que ela não tinha entendido?

"Posso imaginar..."- eu digo, tentando me manter neutro àquele ataque.

"É..."- ela se vira completamente pra mim e começa a me dar um beijo mais profundo. As mãos são rápidas pelo meu corpo. Droga, eu não sou de ferro!

"Abby..."- eu tento repeli-la de mim- "pára com isso vai... A gente não conversou?"

"Aham..."- ela disse, ignorando totalmente o meu comentário. Continuou a me agarrar indo pra trás, e quando eu dei por mim já estávamos na sala e eu também não controlava minhas mãos. Nem outras partes do meu corpo, diga-se de passagem.

Ela me joga para cima do sofá e ali eu já havia perdido a noção do que é certo e do que é errado. Imediatamente ela começou a beijar o meu pescoço sem pudor, colocando suas mãos por toda parte. Quando eu desci minhas mãos tocando sua barriga, me toquei da besteira que estávamos fazendo.

"Abby.." - eu sussurrei no meio de um beijo.

"Hum!" - ela diz tirando a minha camisa.

"Não podemos fazer isso.. não agora. isso não seria certo..." - ela não liga para os meus comentários e coloca uma mão por dentro da minha cueca me acariciando. Eu suspiro forte e tiro minhas mãos do seu corpo. – "Abby.." - eu insisti – "eu não quero te machucar..."

Ela ainda usava suas mãos pelo meu corpo, quando um beijo é interrompido. Ela me encara e eu balanço minha cabeça tentando parecer o mais sensato possível. Ela se afasta com uma cara não muito boa e se senta no sofá encarando a parede. Eu visto a minha camisa e sento ao seu lado sem saber o que fazer ou falar.

De repente ela se levanta e eu olho para trás vendo aonde ela ia Será que ela estava magoada mais uma vez? Rapidamente ela volta com as mãos no bolsa e volta a sentar ao meu lado.

"Quer um pouco?" - ela fala mordendo o chocolate.

Eu começo a rir e ela ainda séria, devora quase todo o chocolate.

"Não, não..."- eu paro de rir- "sou um cavalheiro...Mulheres e crianças primeiro...como vocês são uma só, pode comer tudo. A necessidade é mais forte..."- eu dou um sorriso pequeno e ela continua séria, comendo o chocolate.

"Tá gostoso?"- eu continuo provocando e ela só confirma com a cabeça.

"Poxa! Você não faz sexo, não come chocolate...Eu não quero nem pensar o que você tem feito esses meses..."- ela me olha com uma cara de "nojo".

"Ei..."- eu fui me defendendo- "não diz o que você não sabe.."

"E eu espero que você não utilize dos momentos que eu estou num estado profundo de sono para se aproveitar de mim" – ela sorri e me estendo a ultima barrinha do chocolate.

"Eu nunca faria isso.. – eu sorrio comendo o chocolate. – mas bem que poderia ter feito.. como eu fui tolo de usar só fotos suas..."

Ela se virou me encarando piscando os olhos. Será que ela tinha acreditado naquilo!

"Como?" – ela diz em descrença.

"Brincadeira linda.." – eu me aproximo e lhe dou um beijo. Ela apóia sua mãos no meu peito e eu olho para baixo vendo a sujeira que ela havia feito. – "Você pelo menos deveria ter lambido os dedos antes de fazer isso.." – eu me aproximo beijando-a novamente e ela coloca a mão na barriga pulando pra trás.

"O que foi?" – eu pergunto já com a "antena" ligada pensando no que estava prestes a poder acontecer.

"Acho que ela chutou..." – ela diz passando a mão pela barriga.

"É?"- eu disse todo empolgado, colocando a mão em cima também, mas não sentia nada.

"Ela só chuta pra mamãe, John..."- ela disse, me mostrando a língua.

"É..."- eu disse desanimado, tirando a mão da barriga dela, mas ela puxa minha mão rapidamente de novo. Eu abri um enorme sorriso quando senti uma pequena pressão.

"Ou não..."- ela disse sorrindo mais um pouco- "deixa eu lavar as mãos..."

"Não, peraí"- eu a segurei- "deixa eu sentir mais um pouquinho..."-eu sorri e ela me virou os olhos.

"Carter, também não é assim... A menina não é lutadora...ela só chuta pra dizer que está viva...Não porque o paizinho dela quer que ela chute toda hora, se não a mamãe morre..."- ela apoiou a mão no sofá e levantou com certa dificuldade.

"O que nós vamos fazer pra aproveitar o tempo a mais que temos hoje?"- eu disse sentado no sofá, com a T.V muda enquanto ela estava lá atrás, na pia.

Ela ficou em silêncio e eu repeti a pergunta.

"Hein?"- eu disse, vendo-a chegar de novo com "aquela" cara desanimada- "tá, isso não. Não pode ser outra coisa?"- ela continuava emburrada- "que tal uma massagem?"- eu disse, tentando anima-la.

"Ah, lindo..."- ela disse num tom sarcástico- "considerando que eu não posso nem virar de bruços e o estado que as suas massagens me deixam, ia ser muito útil..."- ela continua hostil.

"E que tal eu fazer uma massagem nos seus pés! Aposto que eles pedem isso há tempos..." – eu sorrio e fico na expectativa de sua resposta.

"Tudo bem.. vou aceitar.. pior do que estão, com certeza não vão ficar.." – ela largou o pano de prato de lado e eu me levantei seguindo-a pelas escadas. Entrando no quarto, a abracei por trás segurando sua barriga e a soltei quando ela tirou a chinela e sentou na cama.

Eu sorri pra ela e fui ao banheiro e pego algumas coisas necessitarias para aliviar. Aproveito e pego um óleo de amêndoas, caso ela resolvesse deixar eu passar na sua barriga. Lavo minhas mãos e volto para o quarto onde ela estava sentada na cama com os pés pendurados.

"Onde você quer que eu fique?" – ela fala olhando pros pés.

"Na cama mesmo.. só vai um pouco mais pra trás, pra eu poder sentar.. "

Ela se arrasta na cama e se senta colocando alguns travesseiros nas suas costas. Eu me sento a sua frente colocando o que havia pegado ao meu lado colocando um pé dela perto de mim.

Passei um pouco de creme na mão para deslizar melhor e comecei a massagem. Ela sempre me disse que eu fazia um massagem muito boa. Não sei se é verdade, ms eu gostava de fazer. É um jeito de sentir o corpo da outra pessoa relaxado de uma outra forma. Eu massageio o centro com força e depois faço o mesmo com todo ele. A vejo fechar os olhos, se eu bem conheço a mulher que tenho, daqui a pouco ela estaria dormindo. Faço mais um pouco e troco de perna, colocando a já massageada em cima da cama com cuidado. Repito o processo com o outro pé, vendo-a ela se fecher um pouco. Ela ainda não estava dormindo.

Terminei, colocando agora a outra perna do lado daquela. Ela abre os olhos pesadamente me olhando colocar o creme no chão.

"Brigada..."- ela diz bocejando e caindo deitada na cama.

"De nada.."- eu digo, sentando na cama também. Ela vira de lado, de costas pra mim, se espreguiçando um pouco.

"Tira a blusa um pouco..."- eu peço, já com os dedos por debaixo dela pra ajuda-la.

"Pra que?"- ela me olhava desconfiada. Eu sorrio explicando.

"Calminha...Só quero passar aqui também..."- eu digo tocando suas costas nuas, com a camiseta dela já perto do pescoço. Ajudo-a tirar e ela permanece de costas, agora um pouco mais encostada em mim.

Ponho um pouco de creme na mão direita e coloco nas suas costas.

"Ai...tá gelado, Carter!"- ela começa a reclamar.

"Deixa de ser chorona..." – eu falo passando minhas mãos levemente em movimentos circulares pelas suas costas. – "estou querendo ajuda-las..."

Ela permanece em silêncio durante todo o tempo que eu fico passando o óleo nas suas costas. Massageio os seus ombros e como um toque final dou um beijo nos seus ombros. Olho pra ela que parecia estar dormindo um sono pesado. Me levanto da cama com cuidado para não acorda-la, guardo as coisas no banheiro e volto para cobri-la. Quando eu estou levantando o lençol ela abre os olhos.

"Porque parou?" – ela sorri e eu me sento ao seu lado na cama.

"Você deveria estar dormindo.. essa também era a intenção.." – eu disse sorrindo.

"Dormir a tarde toda.. – ela fala sentando-se na cama. – e.. peraí... você esta querendo se livrar de mim porque!"

"Não estou querendo me livrar de você.. só pensava que estava cansada..."

"Pois não estou... estou sem sono.. eu também esperava que isso me ajudasse a dormir... mas se você quiser dormir.. não tem problema.. eu vou ver algum filme.. mexer um pouco no computador.." – ela diz ja se levantando da cama.

"E perder de ficar com a minha linda esposa? Nem por todo sono do mundo..." – ela se vira sorrindo e eu a puxo com cuidado, sentando-a no meu colo.

"Isso não é uma boa idéia.." – ela diz sorrindo, vendo a minha dificuldade em respirar.

"Eu agüento você, fica tranqüila..."- eu disse sorrindo, sentindo o peso dela sobre mim.

Eu a abracei pela cintura e nós ficamos longos minutos em silêncio, olhando para o nada. Eu sabia que ela estava pensando no bebê, no parto, enfim, nas próximas semanas que mudariam a nossa vida pra sempre.

"Que foi?"- eu disse, beijando as costas dela, depois de ouvir um longo suspiro vindo dali.

"Nada, por que?"- ela tentou disfarçar. Hum, como se conseguisse mentir pra mim...

"No que você ta pensando?"- eu coloquei a mão na barriga dela pra ela saber que eu já tinha capitado a mensagem.

"Não sei, acho que ta me batendo o medo..."- ela disse, deslizando no meio das minhas pernas, se aconchegando melhor. Meus braços cruzaram o colo dela, e ela estava deitada sobre a minha coxa.

"Medo?"- eu percebi que tinha chegado o momento do pânico. O meu papel agora era não só agir como marido e pai, mas como o bom médico que eu era, e já tinha feito isso centenas de vezes.

"Humrum.." – ela mexe com a cabeça e eu seguro a sua mão.

"É normal sentir isso.. eu também estou com a mesma sensação..." – ela levantou o olhar e eu sorrio tentando passar alguma confiança nas minhas palavras.

"Será que vamos ser bons pais!" – ela diz olhando de novo para baixo.

"Nós! Não tem nem como não ser.. nascemos para isso... você é uma mulher maravilhosa Abby.. nossa filha vai ter orgulho da mãe que tem.. e eu vou tentar seguir seus passos.. a gente chega lá..." – eu fico em silêncio passando as mãos pelo seu cabelo e ela solta minha mão.

"Sabe o que estava pensando um dia desses?" – ela diz quebrando o silêncio.

"Não.." – eu tiro as mãos dos seus cabelos – "o que?"

"Se eu não tivesse casado com você... como seria a minha vida..."

"Provavelmente um tédio.." – eu falo rapidamente e ela se levanta sorrindo.

"Você se acha grande coisa né?"

"Quem mais iria lhe dar tudo o que eu estou lhe proporcionando agora...? Hein?" – eu seguros suas mãos, beijando-as vendo o seu sorriso.

"Você sabia que eu sempre sonhei em ter um filho com você..?" – ela diz sem me encarar. Pela primeira vez na vida, eu acho que ela me faz uma revelação desse gênero.

"É?" - eu perguntei sem olhá-la. Era estranho. Nós estávamos tão acostumados a nos amar sem demonstrar que quando um de nós o fazia soava como...Como... Bem, não sei explicar. Soava estranho. A gente tinha vergonha. Não sei se vergonha seria um termo bom, mas era estranho, muito estranho.

Ela continuou em silêncio e foi indo até o banheiro. Escutei a torneira abrir e dentro de poucos minutos se fechar. Eu continuei sentado na cama, sentado, esperando por ela. Eu sei que aquelas coisas eram comuns na gravidez, mas se tratando dela, não queria que nada a chateasse.

Vi-a voltar logo depois. Deitou na cama de lado de novo, olhando pra mim. Eu não sabia direito o que falar ou o que fazer. Eu tinha tanto medo enquanto ela, mas o meu eu não podia demonstrar. Tinha de ser o apoio dela.

Eu me deitei apagando as luzes. Eu acho que estava na hora de dormir. Nada do que uma boa noite de sono para que colocássemos os nossos pensamentos em ordem.

Continua..