Já se passaram quatro dias desde que tivemos aquela conversinha. Parece que depois de esclarecermos algumas coisas ela se sentia melhor. Mas o nervosismo porque o dia se aproximava cada dia mais tomou conta do nossos dia-a-dia. Eu praticamente já não dava mais plantões. Susan entendeu bem aminha situação e eu não queria deixar Abby só em casa. Hoje era o meu dia de folga e decidi leva-la ao shopping para vermos umas ultimas coisinhas pra Julie. Saímos de casa e eu coloquei no carro uma malinha para Abby e outra pra bebê, caso ela decidisse nascer antes da hora. Afinal, sendo filha de quem é.. eu só espero surpresas vindo da parte dela.
Entramos em uma loja e prontamente uma vendedora ofereceu cadeira, chá, comida, tudo para que Abby se sentisse mais confortável. Mas como sempre, ela dava uma de durona e recusava a ajuda dos outros.
"Pra quando é?" – a vendedora pergunta enquanto nós escolhíamos uns vestidinhos.
"Se ela vir no dia certo.. daqui a umas duas semanas..." – eu disse sorrindo e me voltando para Abby.
"Você prefere rosa ou amarelo?"– ela fala colocando os dois na frente dela.
"Os dois.. ?"
"Não perde essa mania, hein, Carter?"- ela foi rindo e ainda olhava pros dois indecisa- "vai, escolhe! Um só!"
"Nãaaaaao, que miséria! Leva os dois...um é do papai e outro da mãe"- eu disse com uma voz engraçada, arrancando um sorriso alto da vendedora.
"Desculpe"- a moça disse quando Abby olhou pra ela mais seriamente.
"Imagina..."- eu disse sorrindo a moça, tentando amenizar o clima, mas só o piorei. Abby fez uma cara feia e foi andando sozinha pra outra prateleira.
Eu sorri a moça novamente e corri atrás dela, que além de colocar os dois vestidos no carrinho, tinha pego tudo quanto era coisa. Nem se quer olhava, pro produto, só colocava no carrinho, sem olhar pra trás.
"Ei, espera aí..."- eu fui, dando dois passas mais rápido pra alcançá-la.
"Eu não, vai lá com a mocinha..."- ela disse sem olhar na minha cara e foi para a 3a fileira, pegando de tudo um pouco. Acho que já tinham pelo menos 6 mamadeiras repetidas naquele carrinho.
"Abby...não começa, vai!"- eu disse, com toda calma do mundo. Hoje eu não iria brigar,.
Ela não olhou pra mim e só me mostrou o dedo do meio. Só o que eu podia fazer era rir, ela tava toda estressadinha com o mínimo de coisa. Que fofo!
Ela me viu rir e pareceu ficar ainda mais irritada. Quando eu dei por mim, ela estava na porta da loja, indo em direção a área de alimentação. Eu comecei a rir sozinho. Pedi a moça que embrulhasse tudo, paguei com o cartão de credito rapidamente e fui atrás dela que já quase se perdia na multidão das filas.
Rapidamente a alcancei. Ela não conseguia andar muito rápido mesmo e eu as vezes tirava proveito disso. Fiquei na sua frente e ela deu aquele olhar matador com os olhos já cheios d´água. Eu acenei negativamente com a cabeça e peguei no seu braço sorrindo. Ela virou o olhar e eu a puxei para um canto mais calmo.
"Abby.." – eu falo pegando no seu rosto. – "eu nem preciso repetir que eu nunca olharia para uma outra mulher sabendo que eu tenho você..."
Ela funga engolindo o seu choro e eu passo meu dedo pelos seus olhos evitando que as lagrimas caíssem. A puxei em um abraço e ela repousou o seu rosto no meu peito deixando as lagrimas correrem pelo seu rosto, limpando-as rapidamente.
"Me desculpa.." – ela fala olhando pra mim e eu seco o seu rosto com minhas mãos. – "eu não sei o que dá a mim... eu simplesmente explodo por motivos que eu sei que são totalmente estúpidos."
"Por incrível que pareça.. eu te entendo Abby..." – ela sorri e eu me aproximo beijando-a. – "Vamos pegar nossas compras? Ainda queria comer alguma coisinha antes de ir embora..."
"Que compras?"- ela pergunta meio assustada.
"Ué...você não fez uma pequena compra lá na loja?"- eu começo a sorrir.
"Você não..."- eu a interrompo.
"Claro que sim, pensei que você quisesse..."- eu digo, sorrindo pela sua reação.
"Mas John..."-e começa a rir também, descrente. Eu pego em sua mão e começo a nos conduzir para a loja- "eu estava te provocando! Você vai dar o seu salário naquela loja..."- nós chegamos bem perto da entrada e antes de seguirmos eu resolvo provoca-la mais um pouco.
"É que realmente a moça é muito bonita e eu quero dar uma comissão alta a ela..."- o tapa é instantâneo. Eu rio, me doendo e ela começa a rir depois de me chamar de "chorão". Entramos na loja e eu logo vejo a grande quantidade de sacolas em cima do balcão.
"Devem ser estas..."- eu digo pra ela que acena negativamente pra mim.
"Você é louco..."- eu pego rapidamente todas as sacolas e agradeço a moça quem mal olha pra mim. O olhar matador de Abby realmente funcionava.
Como o carro estava perto da loja, primeiro eu guardo as nossas compras e depois voltamos ao shopping aproveitar aquelas comidas cheias de calorias que todas as praças de alimentação ofertam. Paramos bem no meio das mesas e vejo Abby olhando para os lados decidindo o que vai comer.
"E aí?" – ela olha pra mim e puxa uma cadeira para sentar.
"E ai o que?" – eu sento ao seu lado encarando-a.
"O que você acha que eu deveria comer?"
"Me diga você.. o que você tem vontade? Sem poupar gosto e dinheiro.. pode falar..."
"Hum..." – ela se vira na cadeira olhando para os lados. – "queria uma pizza.. mas um sanduíche também seria uma boa.. mas tem um crepe ali que... ai.. não.. acho que vou comer um franguinho grelhado.. ou quem sabe um sorvete..."
"Só isso?" – eu enrugo minha testa e ela sorri.
"Ah.. me ajuda.. é serio... eu como qualquer coisa.. o que você tem em mente?"
"Bom... poderíamos tomar sorvete depois.. mas antes da porcaria, que tal algo mais saudável? Poderiamos ir de sanduíches naturais.. com pão integral..."
A medida que eu vou falando ela vai fazendo careta. Eu acho que ela não estava gostando muito da minha idéia.
"Topa?"- eu disse sorrindo pra ver se a animava. Ela não parece apreciar muito mas acabou concordando. Eu pedi que ela esperasse enquanto eu atravessava a praça e comprava os lanches. Não queria que ela ficasse andando pra lá e pra cá, ainda mais com aquele shopping lotado do jeito que estava.
Voltei com uma bandeja com os dois sanduíches e dois sucos. O de maracujá pra ela e laranja pra mim. Um sucinho para acalmar seus nervos não iria nada mal.
Sentei na frente dela que olhou por cima dos lanches.
"Você não vai me fazer comer beterraba, né?"- eu sorri, dando o outro lanche pra ela.
"Não, senhora. Só cenoura..."- eu sorri, vendo-a pegar o lanche com vontade e dar um gole no suco.
"Maracujá? Tá me chamando de estressada?"- ela disse, levantando uma sobrancelha.
"Não, só acho melhor prevenir"- eu disse, começando a comer meu lanche também. Demoramos um pouco a comer, conversando sobre assuntos amenos.
A medida que fomos acabando, ela parecia um pouco cansada. Eu joguei tudo no lixo e voltei a mesa, ajudando-a se levantar.
"Que sorvete você quer?"- eu disse, enquanto íamos indo pra frente de mãos dadas.
"Deixa..vamos deixar o sorvete pra outro dia..."- ela disse e eu estranhei. Abby recusando sorvete?
"Nem se for de chocolate?"- eu provoquei, tendo a certeza de que agora assim ela iria aceitar.
"Não...vamos pra casa, vai..."- ela foi me puxando pra porta do estacionamento. Estranho, muito estranho.
Eu a ajudei a entrar no carro enquanto e fui dirigindo calmamente para casa. Ela parecia tão cansada que nem o som ela fez questão de ligar. Quando paramos no sinal eu segurei sua mão e ela olhou pra mim sorrindo. Com certeza não deveria ser nada demais.. só cansaço mesmo. Dirigi com cuidado até em casa e entramos pela porta da sala subindo imediatamente para o quarto. Sem falar nada, ela trocou de roupa, vestiu uma camisola e se deitou na cama caindo no sono quase que instantaneamente. Eu fechei as cortinas e deixei a porta aberta, descendo as escadas para não incomoda-la mais ainda.
Continua..
