"Eu não sei se ela tem estrutura para agüentar um parto normal.." – ele disse olhando pra mim.

Ele só poderia estar de brincadeira né! Era uma pegadinha... é isso.. só pode..

"Bom... eu espero que as contração sigam um rumo certo.. vamos ligar um monitor cardíaco a ela e ao bebê... você ja sabe os procedimentos.. volto dentro de pouco tempo para ver se teremos que recorrer a uma cesárea ou não..".

A minha vontade ali era de xingar aquele medica inútil de todos os palavrões existentes na face da terra, mas naquele momento isso não ajudaria nada a nossa situação. Me aproximei de novo dela, puxando uma cadeira, segurando a sua mão. Vendo a sua cara de apavorada, fiz um afago nos seus cabelos e ela deu um sorriso nervoso.

"Quer que eu chame alguém!" – eu disse olhando a enfermeira ligar o aparelho que checava os batimentos cardíacos de Julie.

"Não.. – a voz dela quase não sai. – eu só quero que você fique aqui ao meu lado.."

Ela aperta ainda mais forte a minha mão e eu aceno olhando para o lado, vendo que a enfermeira começava a espeta-la, colocando soro e algum medicamente pra dor.

Ela fechava os olhos lentamente quando mais um contração chegava. Deus, aquilo deveria doer demais! A enfermeira saiu de perto e logo ela já quis saber o que estava acontecendo. Elas não era besta, sabia que ali tinha algo.

"Que é que tá acontecendo, hein?"- ela perguntou, impaciente. Eu achei melhor não preocupa-la com algo que nem sabíamos se ia realmente acontecer.

"Nada...o anestesista já vem..."- eu arrumei os fios de cabelos dela, já molhados pelo suor.

"Carter"- ela me olhou brava- "diga logo, po!"- ela disse, começando a respirar com dificuldade de novo. Ok, ela era médica, eu nunca poderia esquecer desse detalhe.

"Olha"- eu estava disposto a explicar tudo com a maior calma do mundo quando a porta abriu rapidamente.

Um homem alto, moreno claro trazendo a anestesia. Ótimo, Dr Kyle deveria ter mudado de idéia e percebido que ela agüentaria muito bem um parto normal.

Ele se aproximou, se apresentando e pediu que Abby se sentasse olhando pra mim pra que ele pudesse aplicar a injeção na coluna.

Eu vi a carinha dela de assustada. Realmente ela não ia muito com a cara das agulhas... pelo menos quando a paciente era ela.

Eu ajudei a puxar a sua bata e a segurei enquanto o medico aplicava a anestesia. Quando finalmente ele havia feito, ela abaixou sua cabeça nos meus braços e eu a beijei mostrando que eu estava ali pro que desse e viesse.

Ajudamos a deita-la de novo e a enfermeira voltou para o quarto checando os sinais vitais. Eu olhei por trás dela a ficha e vi que tudo estava indo bem. Me apoiei ao seu lado na cama e beijei a sua testa vendo-a me encarar por um certo tempo.

"John..." – ela diz quando eu me sento em uma cadeira. – "será que tudo vai dar mesmo certo?"

"Esta tudo correndo bem Abby... não há com o que se preocupar.. você sabe como são essas coisas... são demoradas e doem mais do que deveriam.. mas vai valer a pena... daqui a uns anos recordaremos com carinho cada momento que passamos antes que Julie nascesse..." – eu beijo suas mãos e ela sorri timidamente olhando para a porta do quarto. – "Quer que eu chame o medico para ele checar de novo?"

Ela acenou com a cabeça e eu apertei o botão que chamava o medico para qualquer urgência. Em poucos segundos ele estava lá e eu pedi que ele visse novamente. Quando ele colocou a mão vi Abby olhar pra cima meio incomodada com aquela situação.

"Quase 8 cm´s...está quase na hora..."- ele sorriu, tentando anima-la sem sucesso, que pelo contrário, só ficou mais e mais ansiosa.

Ele foi até a porta e chamou mais duas enfermeiras. A hora tinha chegado. Não tinha como fugir. O medo e a emoção tomaram conta de mim quando eu percebi que dali a poucos minutos eu ia conhecer a minha filhinha.

As contrações delas foram tendo um espaço menor e ela já gritava baixinho de dor, apertando a minha mão e agarrando o lençol. Eu não sei porque, mas naquela hora me deu uma vontade enorme de ligar pra Maggie. Eu era o marido, a amava mais do que tudo mas eu não sei porque, eu queria muito que Maggie estivesse lá. Talvez que não queria pra Abby o que eu sentia. A distancia da minha família.

Mas diante daquela situação, o pensamento foi tão rápido quando veio. O médico se aproximou mais, se posicionando na frente dela. Ia ser agora...ele mediu de novo e disse.

"9 cm´s, Abby"- ele sorriu pra mim também- "pode começar a empurrar..."

Eu apertei ainda mais forte a sua mão e uma enfermeira se localizou ao seu lado colocando uma mãos nas suas costas e segurando a sua outra mão, para ajuda-la no processo. Eu ainda beijei a sua cabeça e disse que tudo daria certo, antes que finalmente entrássemos em ação.

"Na contagem.." – o medico diz a postos. – "Um, dois, três.. empurra...!"

Conforme aquelas contagens aumentavam, a dor dela também. Ela evitava gritar alto para não demonstrar o que estava sentindo para não me preocupar, mas em compensação segurava a minha mão com uma força que parecia que ia quebrá-la. A enfermeira ajudou empurrando suas costas mais uma vez quando o medico pediu para ela respirar um pouco, pois dessa vez seria um pouco mais forte.

"Não vai demorar mais.." – ele fala tentando manter o clima agradável na sala. – "Mais três vezes e ela nasce..."

Eu sorri nervoso com aquela afirmação. Estava ainda mais perto do nosso sonho se realizar. Abby respirava fundo e eu acompanha a sua respiração. Parecia que eu que estava ali tentando por no mundo a nossa filhinha. O medico mandou empurrar mais forte e dessa vez ela gritou alto fazendo com que eu pulasse no susto. Olho para baixo e vejo o medico ja vendo alguma coisa e sinto o meu estomago começar a embrulhar. Ahh não.. seria que isso seria igual ao sonho!

Me seguro na maca, me apoiando. Não, não aconteceria de novo.

"O último, Abby, eu promete"- vejo o médico falar, se inclinando ao máximo pra pegar o neném. Abby dá um suspiro e em seguida um grito enorme. Acho que foi aquele grito que não me deixou cair duro mais uma vez. Vejo-o que o bebê tinha saído, mas a expressão do Dr. Kyle não era nada boa. Assim que deu o último suspiro, caiu deitada pesadamente na maca. Eu não sabia se via como estava Julie ou ficava com Abby. Foi então que eu percebi o silêncio na sala. Nenhum grito de Abby...nenhum choro de Julie! Eu não tinha escutado-a chorar ainda. O desespero tomou conta de mim. Não, não podia ser! Essa parte do sonho eu queria que fosse pulada.

"Carter!" - ela ainda teve forças pra gritar comigo, percebendo também o silêncio- "que aconteceu? Cadê ela, Carter? Faz alguma coisa!"- ela começou a chorar e eu logo fui pra perto do médico, que depois de cortar o cordão, começou a dar um tapinha nela.

Alguns segundos depois, que pareceram diversos séculos para nós, nós já a podíamos ouvir berrar a plenos pulmões.

A enfermeira logo trouxe o pano e a embrulhou, levando até Abby que lutava para manter os olhos abertos. Olhei pra Abby que a segurava bem perto do peito. Ela sorria e chorava, num misto de emoção que eu podia imaginar. Fiquei sorrindo de longe, enquanto Abby olhava pra ela encantada. Vi Julie subir a mãozinha e colocar um dedinho perto da boca de Abby que começou a beija-lo. Quando eu vi, o dedo dela estava dentro da boca dela e Abby começou a chorar ainda mais. Eu fiquei babando ali naquela cena e nem ouvi quando a enfermeira me chamou.

"Dr!"- ela disse agora mais alto e eu acordei do "sonho"- "não vai ver sua filha?"- eu sorri, caminhando pro lado de Abby, que já tinha Julie nos braços.

"Era o que você esperava?" – Abby pergunta beijando a cabecinha de Julie.

"Sim.." – eu falo meio abobalhado. Me aproximo mais um pouco e coloco a minha mão com cuidado no seu rostinho. Era impressão minha ou ela sorria pra mim? Analiso cada detalhezinho.. ela era perfeita, igual ao sonho. Me abaixo, beijando com cuidado a sua cabeça e olho pra Abby vendo que ela não parava de sorrir. Passo meus dedos nos seus dedinhos contando-os e constatando que tinham dez ali, a conta certa.

"Com licença?" – a enfermeira se aproxima roubando Julie de nós. – "mas eu preciso leva-la para o pediatra.. daqui a pouco ela volta para os papais..."

Eu e Abby sorrimos e eu vi a enfermeira levar para longe o meu bem mais precioso. Volto minha atenção para Abby que evidentemente estava morta de cansaço, lhe dou um beijo e ela sorri segurando a minha mão.

"Conseguimos.." – eu disse vendo-a relaxar no travesseiro.

"Sim.." – ela sorri. – "Agora você pode chamar quem quiser.. missão cumprida..."

"Agora descanse.." – eu falo vendo-a piscar pesadamente. – "Quando Julie voltar eu te acordo.. vou ligar para Susan e nossos pais para avisar que tudo saiu bem.. qualquer coisa é só me chamar..."

Ela acenou e eu fui indo até a porta. Sai, não tirando o sorriso do rosto. Não me cabia de tanta felicidade. Não sabia nem pra onde ir, qualquer um diria que eu estava perdido e não que trabalha ali há 10 anos.

Continua..