Acordei não sei bem quanto tempo mais tarde. Escutei o barulho na porta e em seguida o choro vindo do berço. Logo pude ver Maggie que entrava no quarto. Eu já podia ver o comecinho da noite pela janela e me levantei rapidamente assim que a vi pegar Julie no colo.

- John...- ela sorriu me passando a menina- pronto, ela acordou. Pode mima-la o quanto quiser- eu sorri meio envergonhado- bem, eu estou indo embora amanhã de manhã. Queria ficar até você voltar do hospital pra não deixar Abby sozinha mas vai ser impossível. Meu chefe já me ligou duas vezes no celular e eu não posso arriscar meu emprego- ela estrava extramamente penalisada com a situação.

- Eu entendo, Maggie. Pode ficar tranquilo, vou tentar deixa-la o menos possivel sozinha...- eu olhava para Julie, que ainda resmugava um pouquinho.

- Sim...E creio também que Eric deve vir até o fim de semana. Sei que ele não vai ficar poder ficar muito, mas eu sei o quanto ela quer a presença dele aqui. Vou fazer de tudo para que ele possa vir o quanto antes.

- Aham..- Julie finalmente ficou quieta e eu pude olhar para Maggie completamente- realmente, ela quer muito ve-lo, sim.

- Ele é o filhinho dela...- Maggie sorriu, enquanto ia indo pra porta do quarto. Tratei de cortar aquele clima nostálgico e perguntar algo mais util.

- Ela já acordou?

- Creio que não...Subi já faz um tempo, mas não ouvi nada...- ela disse, enquanto eu ia fechando a porta, saindo atrás dela com Julie no colo

- Será que ela já esta com fome? – eu pergunto a Maggie enquanto íamos descendo as escadas.

- Dê pra ela uns dez minutos que já já ela começa a resmungar de estômago vazio...

Vou até a sala e me aproximo lentamente vendo que Abby ainda dormia. Maggie sorriu e saiu indo para a cozinha. Será que ela também iria fazer o jantar? Me sentei na poltrona ao lado, com Julie nos braços e a recostei um pouco no meu peito. Comecei a tentar acompanhar o seu olhar (mesmo sabendo que ela não vinha nada direito), sorria eu vê-la picar lutando contra a luz, segurava sua mãozinha tocando nos seus dedinhos.. afinal, esse era realmente o nosso primeiro contato entre pai e filha.

- Essa quando crescer vai dar um trabalho ai pai.. – Maggie se aproxima com uma xícara nas mãos sentando na outra poltrona.

Eu sorrio e pisco olhando pra baixo ainda observando ela babar a roupinha toda.

- Abby dava trabalho quando era deste tamanho!

- Abby! – Maggie sorri tomando um gole do que havia na xícara. – até que não.. meus dois filhos foram bebês relativamente calmos.. nunca me deram muito trabalho...

- Ah.. – eu sorrio tornando observar Julie.

- E você? – ela me encara. – sabe dizer se era de dar trabalhos aos seus pais!

- Um pouco...- eu digo, olhando para ela- mas sou uma pessoa muito sossegada, acho que na infancia era também- eu recoloco a chupeta que Julie deixara cair antes que ela começasse a chorar e acordasse Abby.

- Mas o que acontece é realmente ao contrário- ela toma mais um gole- não vê sua esposa?- ela ri com a palavra - era tão calminha e hoje se transformou...- ela olha Abby dormindo- nisso.

Eu sorrio vendo que nós falávamos dela enquanto ela nem em sonho, sabia disso.

Conversamos mais um pouco na sala e assim que Maggie saiu, Julie começou a chorar de novo.

Quase que instantaneamente, vi Abby se mexer e logo depois acordar, olhando pra mim, com os olhos cansados.

- Que houve?- ela parecia meio apavorada, como sempre que era acordada por alguém.

- Nada...só tem alguém com fome...- eu sorri, indo sentar ao lado dela.

- Mas já! – Abby me olha pra Julie que chorava pegando-a nos braços.

- É claro.. quem mandou me tirar de onde eu estava feliz! – eu falo imitando voz de criança e Abby começa a rir.

- Eu não sei se é melhor ela aqui dentro ou aqui fora me dando trabalho... – Abby por mais uma vez começou os seus preparativos para dar de mamar;. – Temos que programas direito essas mamadas.. só hoje vai ser assim.. – Abby fala ajeitando-a no seu peito – eu é que não vou ficar o dia inteiro a sua disposição esperando para quando você estiver com fome.. certo!

- Garanto que é bem melhor ela aqui fora viu.. – eu disse vendo-a me encarar. Isto é.. se é que você me entende...

- Retiro a minha duvida – ela sorri se recostando melhor no sofá.

Por mais uma vez Abby deu de mamar para Julie e dessa vez eu a peguei nos braços andando pela casa esperando que ela arrotasse. Fiquei dando tapinhas de leve nas suas costas até que ela finalmente o fez.

- Essa é saudável.. – Abby se levanta limpando o seio com uma fralda de pano.

- Tá com fome?- eu pergunto, vendo-a colocar a fralda de lado.

- Eu não...-ela sorri, olhando pra cozinha- ela tá fazendo comida?- ela pergunta num tom mais baixo.

- Acho que sim...Ela deve pensar que eu não sei cozinhar...- eu digo rindo, ajeitando Julie no colo.

- Ou que a minha comida é horrível...- ela completa, sentando mais uma vez no sofá.

Fomos até a cozinha, onde Maggie se realizava com os temperos e comidas.

- Mãe...- Abby chamou, fazendo MAggie se virar em seguida.

- Acordou? Que bom...o jantar sai já já- ela voltou a olhar para as panelas.

- Assim eu nunca vou emagrecer, mãe!- Abby olhou pra mim, que ainda segurava Julie.

- Pára com isso, vai menina...- era tão engraçado quando ela chamava Abby de "menina".

- Eu mesma não.. – ela sorri olhando pra mim - eu não quero perder o meu maridinho...

- Quem vê pensa né! – eu me aproximo colocando uma mão na sua cintura. – Nunca mais eu vou me afastar de vocês duas... – eu toco o pezinho de Julie.

- E se por acaso isso acontecer, - eu me surpreendo vendo Maggie se virar e começar a falar - eu ajudo elas a te matarem!

Abby me encara seria e eu tono a olhar pra Maggie que começava a rir. Para não deixa-la no vácuo, eu acompanho a risada, cutucando Abby para que ela me ajudasse naquilo.

- Tem gente que não esta gostando nada dessa conversa.. – Maggie para de rir instantaneamente e u olho par ao lado vendo Julie com o olho aberto "encarando" Abby.

- Nossa. – Abby sorri – e desde quando um recém nascido abre um olho deste tamanho?

- Ela quer mostrar seus olhos verdes pra nos.. – eu sorrio me aproximando de novo delas.

- Verdes? – Abby abaixa o olhar tentando ver os olhos de Julie.

- Ah.. – eu sorrio – ainda pode ficar verde.. tem bebê que depois de um certo tempo a cor do cabelo muda e dos olhos também...

- Aham...só nos seus sonhos mesmo, Carter...- ela parece não acreditar na possibilidade.

- Ei, não ria- Maggie entra na conversa- seu pai tinha olhos claros, lembra?- Abby levanta as sobrancelhas, me olhando daquele jeito estranho.

- Na verdade, não!- ela ri e Maggie a acompanha.

Um silêncio passa por ali até que Maggie o quebra.

- Eu estava falando com o John...- ela recomeça os preparativos par ao jantar- vou ter que ir embora amanhã cedinho- Abby não parecia estar feliz com a noticia.

- Mas por quê?- bem, essa definitivamente não era a reação que eu esperava dela.

- Trabalho, filha...- ela começa a por a comida na mesa.

- Ah- Abby parecia bem decepcionada- poxa...pensei que fosse ficar mais.

- Se eu pudesse... – ela sorri e fica seria, sorrindo novamente – Bom.. mas eu prometo voltar logo.. não quero perder uma só fase da vidinha da minha netinha..

- Qualquer coisa a gente manda sempre que der fotos pela internet.. – eu falo olhando pra Abby que sorria - para acompanhar melhor tudo...

- Ele já comprou uma câmera digital para fazer isso.. disse que vai fazer um book com todas as caras e bocas da filha dele.. ow papai babão, ne! – Abby fala segurando a mão de Julie e fazendo graça.

O resto da noite passou tranqüila. Maggie foi dormir cedo pois tinha que ir embora às 5 horas da manhã. Eu arrumei nosso quarto para dormirmos, liguei a babá eletrônica e sai do quarto indo atrás de Abby que dava a ultima mamada antes dela dormir de vez.

- Pronto? – eu entro no quarto vendo Abby que já se afastava do berço vindo em minha direção.

- Sim.. – ela sorri e eu me afasto da porta, tento o cuidado para não fazer barulho. Caminhamos até o quarto em silêncio e foi assim que nos deitamos na cama.

- E aí, o que achou do nosso primeiro dia como pais em casa?- eu pergunto, vendo-a se ajeitar na cama.

- É...estamos saindo bem...- ela sorri, se virando um pouco pra mim. Mas amanhã é que "o bicho vai pegar"...- ela sorri, enquanto eu tiro a camisa e desligo a luz do quarto, deixando apenas o abajur ligado.

- Uhum...A vovó vai embora- eu faço um bico e ela sorri grande.

- Mas foi bom ela ter vindo... - ela começa a olhar pro teto- ela está bem, ficou feliz por Julie e isso é uma grande vitória pra ela.

- E pra você... - eu a olho de esgueio, mas ela não me encara.

- É, talvez...

Eu me aproximo um pouco mais abraçando-a pela cintura e ela se encosta no meu peito, bocejando.

- Ainda com sono?- eu pergunto, indo apagar a luz do abajur.

- Um pouquinho...- ela boceja outra vez - nada que uma boa noite de sono não melhore. Boa noite...- ela me da um selinho e se vira, ainda abraçada a mim, recostando a cabeça no travesseiro.

Eu a olhei cair no sono segundos depois. Eu só esperava que aquela felicidade de dormir tranqüila durasse. Nem que fosse uma hora.

Não demoro muito para dormir, eu também tinha que aproveitar ao máximo os minutos de sono que teria naquela primeira noite.

Alguns minutos, horas... não sei, se passaram até que "finalmente" eu ouço um choro vindo da babá eletrônica. Me viro abrindo os olhos e vejo que na verdade dormimos quase duas horas.

- Ai.. tava demorando.. – Abby falou já levantando da cama se enrolando com um hobby.

- Humrum.. – eu resmungo ainda lutando para não dormir de novo. Eu a vejo sair do quarto e decido me levantar da cama para ajudá-la no que fosse.

Me levanto indo em seguido diretamente ao quarto de Julie. Paro na porta e vejo que a choradeira continuava.

- O que foi? – eu pergunto me aproximando delas.

- Eu que pergunto.. o que foi!

Abby não a tira do berço e fica tentando adivinhar o que ela estava "sentindo".

- Fome.. não pode ser.. xixi.. eu a troquei a pouco tempo atrás.. ficam que opções?

- Ah.. – eu me aproximo para pega-la nos braços. – manha, cocô, cólica, soluço.. são tantas...

- É...- ela olha Julie no meu colo com uma feição estranha- ela podia vir com um detector de choro. Isso é muito difícil...- ela coça a cabeça, olhando ainda para a neném.

- Mas essa é a graça de ser mãe - eu sorrio, tentando anima-la - tem coisas que só você vai saber...só você e ela...- eu sorrio, vendo sua expressão mudar aos poucos.

- É...- ela diz, esticando os braços para pegar Julie. Fica encarando-a por alguns segundos, até voltar a atenção pra mim - será que você tem algum idéia?- ela volta a rir, vendo Julie ainda chorar.

- Eu aposto em cólica...- eu digo, me encostando na cômoda. Vejo rapidamente virar Julie de bruços no colo e começar a passar a mão na barriguinha dela, em movimentos circulares. Ela sabia exatamente o que fazer, só tinha medo de arriscar.

- Será que ela está pagando pelo 8 meses que eu fiquei sem ter cólica?- ela diz rindo, vendo o choro de Julie cessar aos poucos.

- Talvez – eu sorrio – você já imaginou quando ela tiver a primeira menstruação! – eu falo observando Abby fazer aquilo tendo cuidado com o umbiguinho dela.

- Já ta viajando John! Isso vai demorar no mínimo uns 11 anos... daqui pra la tem muito o que se pensar.. pelo que se passar.. o que se falar.. quero ver quando ela vier perguntar como se fazem bebês...

- Há.. – eu sorrio me lembrando perfeitamente dessa cena – o que você falaria!

- Euuu? – ela fala ajeitando Julie que graças a Deus havia parado de chorar – não sei.. truque do repolho, sementinha ou cegonha... – ela sorri e eu balanço minha cabeça. – E você?

- Eu! – enquanto eu falo Abby andada de um lado par ao outro tentando fazer com que Julie dormisse de novo - Iria ao ponto certo e direto... minha filha não vai engolir historia de plantar a semente na florzinha não...

- Ta bom.. - ela sorri - então você conta e eu dou o apoio moral...

- Tudo bem...não terei problemas com isso. Deixa comigo...- eu pisquei pra ela que logo em seguida pos Julie no berço de novo.

- Sabe, se toda vez que ela chorar nós dois acordarmos e ficarmos nesse bate-papo, vamos perder o emprego e morrer de sono...- ela disse, quando já saíamos do quarto.

Eu sorri, vendo que ela ia até o final do corredor, onde ficava o quarto de hóspedes. Ela abriu a porta e entrou, ficando lá apenas alguns segundos. Eu a esperei no corredor, e assim que ela retornou, fomos pro quarto.

- Ainda está viva?- eu perguntei, brincando, enquanto deitávamos na cama.

- Han?- ela me olhou confusa.

- Sua mãe...- eu expliquei, enquanto ela ajeitava o travesseiro e vinha mais perto de mim.

- Ah, sim - ela sorriu - ta roncando lá...

Eu sorri e a abracei. Tornamos a dormir mais um pouco.

Continua...