Milagrosamente eu consegui acordar quando o sol já estava alto no céu. A manhã correu tranqüila e eu já estava me arrumando para deixar Maggie no aeroporto. Ouço a campainha e desço as escadas correndo. Provavelmente era Susan.
- Olá! – ela entra sorrindo e me abraçando – onde estão suas senhoras?
- Lá em cima... – eu fecho a porta e ela pendura a sua bolsa no corredor – muito obrigado por ter vindo. Eu não queria deixar Abby sozinha..
- Ah.. é um prazer... afinal, eu sei que ela vai ser minha afilhada...
- Vai! – eu sorrio acompanhando-a pelas escadas.
- Eu sou a primeira da lista desde que vocês nem imaginavam ter filhos...
- Humrum.. – eu sorrio e ela para no meio do corredor tentando adivinhar onde elas estavam. – Estão ali.. – eu aponto par ao quarto de Julie e ela se vira andando lentamente até a porta do quarto.
- Oi.. – ela fala baixinho da porta do quarto, vendo Abby se virar.
- Entra.. – Abby sussurra e eu fico na porta vendo-a se aproximar para abraçar Abby.
- Bebê...- Susan sorri grande quando vê Julie- minha afilhada lidinnha!- ela logo estica os braços pra pegar Julie. Abby a da pra ela, me olhando de esgueio.
- Afilhada?- ela levanta as sobrancelhas- que negócio é esse?- ela sorri pra mim, piscando.
- Ah, fala sério?- ela desvia o olhar de Julie por um único instante e olha pra nós - vocês não vão me deixar ser madrinha da pimpolha?- ela parecia não acreditar.
Nós dois sorrimos alto.
- Brincadeirinha...- eu digo, vendo-a sorrir pra Julie.
- Seu pais ainda me matam do coração...- ela sorri quando eu ouço um barulho na porta. Era Maggie.
- Abby...Preciso ir, vou perder o vôo...- nós sorrimos e Susan vai até ela cumprimenta-la. Susan sempre descontraia as situações.
Eu fui até a cômoda pegar as chaves do carro e Abby me deu o casaco.
- Vê se veste, hein? Tá um frio danado...- eu sorri pra ela e Susan concordou, chamando atenção parar as roupas de frio que ela vestia.
- Vem aqui um pouco...- Escutei Maggie chamar Abby, que prontamente saiu do quarto com ela.
- Uma despedida mãe-filha pra pessoas fechadas, apenas isso. Maggie mudou muito, e isso fez com que Abby mudasse também em relação a ela...- eu filosofei e Susan compreendeu, voltando a olhar pra Julie, tentando arrancar também um sorriso dela. Será que os médicos esqueciam toda a teoria quando se depravam com um bebê "familiar"?
- Olhaaaaa... – Susan fala toda orgulhosa quando pensa ter visto um sorriso. – ela me adora já... aposto que ela não conseguir viver sem mim.
- Menos Susan.. – eu me aproximo delas e Susan começa a fazer palhaçada para Julie.
- Papai mau humorado.. seja igual a ele não viu.. ele é um chato.. aposto que vai te proibir de namorar. Mas eu deixo.. alias, meu filho.. ele é um gato.. já estou planejando o casamento de vocês...
Eu balanço minha cabeça e Susan se vira sorrindo.
- Mas falando serio agora... caprichou hein! – ela sorriu..
- Fazer o que né? Minha beleza é natural.. não preciso de muito esforço para transmitir isso a minha filha.
- To falando com a Abby – eu me viro e vejo Abby sorrindo recostada a porta. – Que homenzinho mais convencido hein!
- Deixa ele Susan.. – Abby se aproxima me abraçando por trás.
Eu me viro, beijo Abby e olho para a porta vendo Maggie passar pelo corredor.
- Bom.. já vou indo.. não demoro... cuide bem delas, ok!
- Pode deixar patrão!- escutei Susan dizer, enquanto eu ia dar um beijo antes de sair.
Peguei a mala de Maggie e desci as escadas. Ela ainda estava dando um beijo em Julie e se despedindo de Susan quando eu fui pro carro. Coloquei tudo no porta-malas e fui pra dentro do carro. Realmente o frio não estava pra brincadeira.
Em pouco tempo ela veio correndo pra o carro e entrou sorrindo.
- Nossa, que frio!- ela se encolheu toda depois de colocar o cinto.
- Quanto tempo nós temos?-eu pergunto, sentindo que estávamos em cima da hora.
- 30 minutos, é melhor você correr - ela sorriu, procurando algo na bolsa.
- Correr?- eu sorrio - poxa, faz tempo que eu não corro. Desde que casei com sua filha. Você podia pedir pra deixar eu correr...- eu sorri, vendo-a finalmente sossegar.
Ainda bem que as ruas estavam sem trânsito. Fui dirigindo devagar, pegando sinais verdes e aceitando a todas as sinalizações. Não demorei muito a chegar ao aeroporto e ajuda-la a pegar suas mala
- John... – ela fala quando eu estou abrindo o porta malas – eu queria te agradecer.. eu nunca vi minha filha tão feliz, tão de bem com a vida...
Eu sorrio e ela se aproxima pra me abraçar.
- E nunca duvide que ela o ama.. Eu sei que ela não gosta de falar muito sobre o que sente.. mas aposto que ela o ama mais que a própria vida dela.. e você deu a ela o sonho que ela sempre teve..
- Demorou mas nós conseguimos.. – eu falo trancando o carro. – Mas qual sonho você se refere? Ser mãe?
- Sim.. – Maggie sorri – ela foi a mãe de Eric, ela sempre brincou com suas bonecas, cuidou das suas coisas, da nossa casa como um perfeita dona de casa. Com o Ex dela não deu certo porque ele talvez não fosse proporcionar a ela todos os seus sonhos.. e já você.. desde que ela o conheceu.. ela sabia que você iria ser aquele que poderia lhe dar a família que ela nunca teve.
Eu fiquei olhando-a desenrolar aquele texto todo. Na bem da verdade eu não tinha duvidas de nada daquilo. Eu sabia que ela me amava assim como eu a amava. A gente não precisava ficar falando, se agarrando toda hora. Tínhamos os "nossos momentos" e isso era mais forte do que tudo.
Eu sorri a ela. Sabia que eu tinha que dizer algo. Eu não sentiria essa necessidade se não fosse a cara dela esperando por uma resposta.
- Então você sabe que esse sentimento é mais do que recíproco, não é mesmo?- eu perguntei, sem olha-la, colocando as malas no chão e fechando o carro, andando pra dentro do aeroporto.
Ela acenou sorrindo, ajeitando a mala de mão.
- Não tenho duvidas...- ela disse enquanto procurávamos a área de embarques. Dei uma checada no quadro de horários do vôos e percebi que estava tudo dentro do horário. Ótimo, sem atrasos.
Assim que chegamos bem em frente ao portão, ela foi tirando a passagem da bolsa e eu coloquei a mala ao lado dela. Ela virou pra mim, ainda um pouco perdida naquela multidão de gente.
- Bom...- eu escutei a moça fazer a última chamada para o vôo dela. Ela me olhou nos olhos e me puxou pra um abraço. Eu respondi, vendo ela me apertar com um sentido que eu não sabia traduzir. Mas aquilo não era preciso. Eu senti naquele abraço o que nunca senti da minha própria mãe e aquilo só me fez ter mais certeza de que eu estava no caminho certo. Se na minha outra vida eu nem sabia de Maggie, nessa eu sabia e não deixaria que ela ficasse ausente - cuide bem delas, John. Eu confio em você - ela sorriu grande e se soltou de mim, pegando na mala, colocando as rodinhas da mala para rodar.
Eu fiquei acenando vendo-a sair pela porta de embarque. Respirei fundo me reajustando aquelas idéias e dei meia volta indo com pressa rumo a minha casa.
Durante todo o caminho avaliei tudo o que foi dito. Cada palavra, cada gesto, tudo significava demais para mim e par aminha família. Minha filha iria ter uma família feliz, a qual eu e Abby não conseguimos ter na nossa infância. Cheguei em casa sem demora e fui diretamente a procura de Abby.
- John.. – eu ouço Abby gritar ao ouvir o meu barulho de chaves. – aqui!
Eu olho para o lado e vejo-a na cozinha. Caminho lentamente e vejo Susan se virar mastigando alguma coisa.
- Onde esta ela? – eu pergunto sentindo a ausência de Julie.
- Onde mais ela poderia estar! – Abby sorri mordendo um pedaço de pão.
Eu sorrio e puxo uma cadeira sentando a mesa com elas.
- Isso não é hambúrguer com maionese não ne Abby? – eu pergunto vendo um pacotinho de maionese no canto do seu prato.
- Sim.. - ela sorri lambendo os dedos. - a Susan deixou... - ela fala e eu viro o meu olhar para Susan.
- Ops!- Susan me dá aquele olhar de criança flagrada fazendo arte- só um pouquinho, vai, John.Não mata não...- ela sorri e eu permanece sério.
- Já vai começar, Abby- eu vou até lá e pego uma faca, tirando o excesso de maionese, deixando só um "cheiro".
- Pombas!- Tira tudo então...- ela olha meio indignada e eu vejo o olhar de Susan acompanhar os movimentos.
- Criançãs, não briguem por minha culpa, vai!- ela diz num sorriso meio sem graça.
- Não é isso, é que ela é a rainha da teimosia. É só saber que não deve fazer alguma coisa que ela vai lá e faz...- eu digo sentando na cadeira, encarando-a que me olhava ironicamente.
- E você é o Dono da Verdade...- eu não sabia se ela estava brava ou só me apurrinhando- somos três médicos aqui...por que sua opinião vale mais?- ela esboçou um sorriso não muito convincente e eu fiquei sem saber o que falar.
- Porque eu sou homem.. - eu sorri e me levanto antes que ouvisse alguma exaltação vinda delas.
- Grande bosta.. - ainda ouço Abby resmungar e eu subo as escadar rindo do que poderiam vir a comentar na minha ausência.
Subo as escadas e vou ao meu quarto trocar de roupa. Visto algo confortavel e aproveito que tinha duas pessoas acordadas para poder tirar um cochilo.
Me deito na cama e caio em um sono. Eu definitivamente estava precisando disso.
- Hey... - eu acordo vendo Abby sentada na cama. Pisco e olho para o relogio, bom, eu dormi mais do que o planejado. - Eu ja estava ficando preocupada.. você subiu e não desceu mais..
- Cadê a Susan! - eu pergunto me lentando da cama.
- Já foi embora.. tinha que ir perga ro filho dela na creche...
- Hum.. - eu resmungo indo ao banheiro lavar meu rosto - e cade Julie?
- Na paz.. - Abby sorri.
- Graças a Deus... - eu volto para onde Abby estava e me sento ao seu lado da cama ligando a televisão em um volume baixo. - Você quer dormir? - eu pergunto puxando-a para mais perto de mim. Ela coloca sua cabeça sobre o meu peito e se ajusta ao meu lado na cama.
- Querer eu quero...- ela me olhou, enquanto eu ainda grudava meus olhos na TV- mas se eu dormir mais, não vou ter sono a noite- eu sorri,olhando-a e entendo-a- aí já viu, né?- ela piscou pra mim.
- Minha taradinha volta a atacar..- eu completei, entrelaçando a minha mão com a dela.
Ela sorriu pra mim, passando a mão no meu peito como há tempos não fazia.
- Minha bebê tá nanando?- ela pergunta, durante um bocejo. Eu aceno com a cabeça, vendo-a a sorrir e colocar a cabeça no travesseiro.
- Aham...e já que a minha outra bebê vai pro mesmo caminho, né?- eu sorri, abaixando mais ainda o volume da TV.
Ela se aconchega nos meus braços e eu fico curtindo-a por alguns instantes ate que rapidamente ela caiu no sono. A deixo só no quarto e desço para comer algo. Resolvo algumas coisas, separo algumas contas a pagar e me sento vendo um pouco de tv. Assim que ligo a tv ouço um choro. Disparo a correr pelas escadas levando uma queda, me levantando rapidamente, e vou ao quarto de Julie evitando que ela fizesse com que Abby acordasse.
- O que acontece? – eu entro no quarto fechando a porta e colocando Julie nos meus braços.
Eu balanço-a imitando tudo o que Abby fazia mas de nada adianta. Levanto a camisa que ela usava e verifico a fralda que estava encharcada.
- Ah moça... – eu sorrio vendo que havia achado a fonte do choro. – acho que vamos ter a nossa primeira experiência "real" entre pai e filha..
A carrego ate o trocador de fraldas e a deito com cuidado, ajeitando-a em uma posição boa para ambas as partes. Tiro as fitas adesivas da fralda e vejo-a mexer as pernas de leve, fechando os olhos e parando de chorar. Eu sorrio com o meu feito e coloco a fralda velha de lado pegando a nova.
- E agora? – eu olho para o lado vendo qual seria aproxima etapa.
Vou colocando a fralda por debaixo das perninhas dela, agora do lado certo. Nunca mais esqueceria. Quando vou abrindo o adesivo para coloca-lo, bato o olho nos lencinhos umedecidos.
- Opa!- eu sorrio pra ela - não podemos esquecer, né? Papai é meio porquinho, mas tem que limpar, né?
Ela continua com a mesma feição, logicamente.
Passei, na falta de um, dois lencinhos dela que parecia gostar da sensação de frescor. Olhei pra ela, que parecia atenta a tudo ao que eu fazia. Ou não. Olhei mais uma vez para as coisas dela, localizando a pomada. Eu não gostava muito dessa pomada, era muita meleca pra pouco corpo. Fiquei pensando mais um pouquinho até lembrar de um santo remédio: talco.
Peguei o tubo e li. Nada de contra-indicações. Girei a tampa abrindo-o totalmente. Virei um pouco e nada saiu. Dei uma pequena tapinha no fundo do tubo. Ooooops! Talvez um pouco demais. Vi aquele pó subir e tirei Julie dali antes que ela começasse a espirrar, assim como eu estava morto de vontade de fazer. Olhei pra ela toda branquinha e não pude deixar de rir.
Era incrível. Ela não fazia nenhum ruído. Só me olhava com aqueles olhos arregalados.
A levei para cima do berço e resolvi terminar o que estava fazendo ali. Passei uma fralda de pano, tirando o excesso de pó e voltei pegando a fralda e alguma fita adesiva que em ajudasse ali. Peguei a fralda descartável e olhei o lado que havia os desenhos, com uma mão levantei suas pernas com cuidado e com a outra coloquei a fralda por baixo do seu corpo.
- Não me venha fazer obra de arte na cara do papai... – eu sorrio ao meu comentário e volto ao que estava fazendo.
Ajeito a fralda e ajusto no corpo de Julie. Nossa, era impressão minha ou ela estava emagrecendo? Ela se perdia dentro dessa fralda enorme. Fixei a fralda com as fitas adesivas e tive a impressão de que estava tudo torto. Levantei Julie e vi a fralda folgada. Coloquei-a de volta na cama e tentei ajeitar a fralda, para que ela não ficasse tão folgada. Depois de uns dez minutos naquela luta toda, enfim havia conseguido o que queria. Aproveito e pego uma camisa limpa e visto nela, colocando-a de volta no berço.
Quando estava ajeitando a sujeira que fiz, ouço o telefone tocar. Saio correndo até o corredor e pego o telefone sem fio atedendo-o sem demora.
- Carter?
- Oi? – eu falo sem convicção de quem seria no outro lado da linha.
- Tudo bem?- a voz menina do outro lado da linha, simpática como nunca vi. E eu..."boiando".
- Tudo certo e você?- alguma hora eu tinha que descobrir quem era. Me soava tão familiar...
- Bem, Weaver quer falar com você - lógico! Era Sam!- manda um beijo pra Abby, meu e do Luka...
- Obrig..- eu agradecia quando a voz mais rude me cortou.
- Carter, quando você pode vir trabalhar? - nossa! Assim é que se fala: direta e reta.
- Bom dia pra senhora também...- eu respondo meio baixo.
- Carter! Isso está uma confusão. Todos os meus residentes resolveram se tirar licença e meus estudantes, tirar folga. Isso aquilo está uma lucura... - era sempre a mesma história. Ela não se dava ao trabalho nem de mudar o discurso.
- Ok, Weaver...amanha eu vou...- eu disse, calmo, olhando pra Julie que me encarava.
- Amanhã?- ela pareceu surpresa e irritada.
- Hoje não dá...a mãe de Abby foi embora...não quero deixa-la sozinha com Julie por muito tempo...
- Ok...venha o quanto antes, ok?- ela disse, rapidamente desligando o telefone.
Eu ia desligando o telefone quando senti Abby entrar pela porta.
- Weaver?- ela perguntou esfregando os olhos.
- Exatamente...- eu sorri, pegando Julie - está tendo um chilique sozinha - eu sorri grande.
- Hum...- ela disse, vindo até nós. Pegou Julie e deu uma checada na fralda - vou dar um banho nela?- ela perguntou, olhando pra Julie.
- Você dar banho nela?- eu perguntei indignado. Não sei se ficava pior por ter tido tanto trabalho e ela querer estragar, ou ela se propor a dar banho, mesmo com todos os meus protestos a ela fazer esforços.
- Sim... – ela fala ajeitando Julie nos seus braços. – já esta mais que na hora dela tomar um banho...
- É... – eu falo coçando a cabeça. - A gente pode tentar dar o banho...
- A gente? – Abby fala passando a mão na cabecinha de Julie. – você tem certeza de que quer fazer isso?
- E porque não iria querer? – eu me aproximo já entrando no banheiro indo pegar a banheirinha que havíamos comprado.
- Tudo bem.. eu também não sei se faria isso direito.. – ela fala devolvendo Julie ao berço.
- Ah meu Deus.. minha filha entregue a pais de primeira viagem, desastrados e desajeitados..
Eu sorrio vejo Abby entrando no banheiro.
Continua..
