Exato. Primeiro de muitos. Acho que nunca trabalhei tanto em tão pouco tempo. Os piores casos ficaram pra mim, já que Susan estava tão atarefada, tentando manter seu posto de Chefe do E.R. Eram quase 16 horas quando eu me vi mais atolado de trabalho do que o dia todo. Estava com 3 casos mais graves, comandando 2 estudantes e dois caras me amolando não sei nem bem o por que. Eu olhava no relógio de 4 em 4 minutos não vendo a hora dos ponteiros se separarem no horário perfeito Eu olhava no relógio de 4 em 4 minutos não vendo a hora dos ponteiros se separarem no horário perfeito. Ótimo, os vi sem separarem, se juntarem de novo. Era pra lá de 17:30 e eu não tinha a mínima da hora que poderia sumir dali. Logicamente toda aquela preocupação de Kerry era apenas pra me deixar tranqüilo. Eu ia pastar, e muito.
Quando eu estava finalmente terminando todos os meus casos me surge mais um trauma pela frente.
- Carter... homem, 16 anos... atingido no peito.. com...
- Ah não.. – eu grito alto e largo meu estetoscópio no chão - eu não vou atender mais nada hoje.. sinto muito minha gente.. mas eu devia estar em casa desde as 16 horas – nesse momento eu me dei conta que todo o hospital havia parado pra me ouvir – estou com uma mulher e uma filha recém nascida em casa.. sinto muito, eu sei que estamos sofrendo com ausência de atendentes mas eu já fiz o que podia.. hoje encerro minha cota e quem me pedir para atender mais um caso eu juro que parto pra grosseria
Eu olhei de novo para os lados e todo mundo estava boquiaberto e assustado com a minha reação. Eu, feliz pelo meu feito, apanhei meu estetoscópio e fui a SDM pegar minhas coisas para poder voltar pra casa. Tiro o meu jaleco e apanho meu celular conferindo se Abby havia me ligado. Ufa, ainda bem que não. Disco o seu numero e vou fechando o armário saindo da SDM.
- Alo? – ela fala do outro lado da linha.
- Abby, desculpa - ela não parece mal-humorada. Que milagre é esse?
- Hã? Por que?- que houve? Tinham abduzido minha mulher e colocado uma bem calminha no lugar?
- Estou atrasado, Abby- eu a lembrei.
- Ah, sim - ela parecia até sorridente. Que diabos estava acontecendo? - tudo bem... Está cheio aí? - ela continua a perguntar na maior naturalidade até que escuto a voz de Eric. Ah, tava explicado.
- Muito.. agora que consegui me livrar.. quer que leve algo para jantar?
- Claro... e algo bem gostoso, por favor...
- Eu não demoro.. – eu ia desligando e ela me chamou.
- John... espera... – eu sai andando até o estacionamento abri a porta do carro e ainda continuei na espera. – pronto.. Julie quer falar com você ao telefone.
- Quer? – eu sorrio todo orgulhoso do outro lado da linha.
- Aham.. – o telefone fica mudo e ouço a risada deles ao fundo. Ah meu Deus.. dois irmãos juntos não deveria estar prestando. – alô papai.. – Abby volta ao telefone e eu começo a rir sentado pronto para ligar o carro.
Eu fico ali escutando toda aquela alegria. Deus, Eric devia vir morar com a gente. Se era toda aquela felicidade com ele aí, que ele nunca fosse embora. Porque ela não podia ficar 24hs de bom humor quando estava só comigo! Ok, vamos parar por aqui antes que isso soe como ciúmes.
- Pronto- Abby volta ao telefone ainda rindo.
- Lindo...nossa filha é um avanço natural...- eu rio também- está falando com apenas alguns dias...- eu entro naquele joguinho até ela me dizer o que queria que eu levasse: pizza. Não que ela fosse comer, é claro.
Parei em um lugar e comprei a tal pizza. Ok, talvez um único pedaço não fosse matar Julie, mas mataria Abby se não comece, se bem eu a conhecia. Entrei com o carro na garagem assim que cheguei. Peguei os relatórios na pasta e na outra mão, a pizza. Entro em casa que estava toda apagada. Apesar do comecinho da tarde, o calor tinha feito o tempo mudar e os jornais prometiam um temporal.
Sala, vazia. Cozinha, vazia. Dei uma olhada no jardim que também estava vazio. Só uma luz lá em cima era o que eu via. Ótimo, vamos subir. Subi as escadas devagar, sem fazer muito barulho. O quarto de hospedes estava apagado e apenas o nosso quarto tinha luz.
- Abby?- eu chamei antes de entrar. Vi os dois deitados na nossa cama, Julie estava deitadinha no meio da cama.
- John...- ela parecia assusta em me ver. Cristo! Como ela mudava na presença de Eric.
- Oi...- eu fui pra mais perto e deixei as coisas em cima da mesa do computador.
Ela imediatamente se levantou da cama se ajeitando e Eric permaneceu deitado prestando atenção em Julie.
- O que você trouxe para comer? – ela pergunta vindo em minha direção.
- Esta em cima da mesa.. é surpresa.. – ela sorri e eu me aproximo para beijá-la. – Só vou tomar banho.. se tiver com muita fome pode ir comendo..
- Não.. eu espero... – ela sorri e eu aceno me afastando, vendo que Eric continuava de olho em Julie.
Eu peguei uma roupa na gaveta e vi Abby calada na cama esperando que eu entrasse no banho. Rapidamente eu entrei no banheiro e me tranquei tentando tomar um banho rápido. Bom.. eu tinha que pensar no que fazer para que ela não mudasse tanto quando Eric estava presente. Será que ela ainda é receosa com tudo aquilo que ocorreu no enterro da minha avó?
Parei de pensar e tomei meu banho rápido. Sai do banheiro e vi que eles não estavam mais no meu quarto. Aproveitei para terminar de me ajeitar e fui pelo corredor vendo que a luz do quarto de Julie estava acesa.
- Onde esta Eric? – eu entro no quanto vendo Abby recostada ao berço.
- Também foi tomar banho...
- Hum...- eu resmungo, vendo Abby balançar Julie tentando fazê-la dormir- está tudo bem?- eu pergunto, vendo-a ainda neutra.
- Tá, por quê?- ela parece incomodada com a pergunta.
- Que está havendo?- já passavam milhões de coisas pela minha cabeça.
- Nada- ela sorri pra mim- deixa de ser encanado, homem...- vi que Julie fechava os olhos à medida que Abby abaixava pra coloca-la no berço.
- Tá bom...- eu não quis discutir. Até o fim da noite ia tirar aquilo a limpo.
Fui pra cozinha novamente enquanto Abby estava ainda no quarto de Julie. Abri as pizzas e coloquei sobre a mesa. Estava indo para a sala pra ver um pouco de TV enquanto os dois não desciam, até que vejo um movimento estranho no jardim. Pulei do sofá e procurei por algo para me defender. O que poderia ser? Será que era um ladrão? Pelo menos Eric estava em casa para me ajudar! Corro para a cozinha sem fazer muito alarde e pego uma faca andando com cuidado até a porta que dava para o jardim. Acho que eu vou precisar colocar cerca elétrica ao redor da casa ou contratar um segurança. Respiro fundo e abro a porta lentamente colocando minha cabeça do lado de fora e a faca atrás das minhas costas.
- Quem esta ai? –eu grito na tentativa de que fosse pura imaginação minha.
Nada. Puro silêncio. Acendo as luz do jardim e olho para os lados tentando achar algo. Bom.. pelo visto talvez seja só imaginação minha, quando ia fechar a porta olho para baixo e sinto que tem "alguém" lambendo os meus pés.
- Você esta aqui desde quando? – eu me abaixo encarando-o, analisando que aquele cachorro não me era estranho.
Era um filhotinho caramelo, bem pequenino. Ele olhava pra mim, sustentando o peso da cabeça com certa dificuldade.
- E aí?- eu sorri pra ele que continuou me lambendo. Afinal, de onde tinha vindo aquele cão? Será que estava perdido na rua? Bom, de qualquer forma, falaria com Abby. Não acharia legal ele ficar por muito tempo, tendo uma recém-nascida em casa.
Passei um pouco a mão nele, fazendo algum carinho. Na verdade ele era bem bonitinho. Seria uma pena ter que deixá-lo. A raça eu não poderia afirmar, porque não tinha conhecimento nessa área, mas era algo parecido com Cocker Spaniel.
Entrei em casa, lavando imediatamente as mãos. Logo que ajeitei toda a comida na mesa, assim como o azeite, suco, guardanapos, escutei um barulhos na ponta da escada. Finalmente eles desceriam.
Assim vieram os dois juntos. Pelo o que eu via, Eric estava com uma camiseta minha. Opa, o short também era meu. Só espero que Abby não tenha tido a mesma idéia com relação as "roupas de baixo".
Assim que eles entrarem pela cozinha, eu já fui interrogando.
- Quem é o novo visitante?- eu perguntei até que com um sorriso amigável, não suficiente para impedir o olhar assustado de Abby.
- O que? Quem? – ela fala puxando uma cadeira sentando-se a mesa.
- Lá fora.. – eu apontei par ao jardim.
- Ah... – Abby sorri e Eric faz o mesmo sentando ao seu lado.
- Gostou do presente? – Eric fala começando a cortar a pizza e eu olho pra Abby que me sorria tentando me convencer de que era um bom presente. – Eu não sabia ao certo o que trazer.. pensei em varias coisas que vocês não deveriam ter ganho, ai lembrei do cachorro que nós tínhamos quando éramos criança e comprei pensando que Julie iria adora-lo.
- Ele é tão bonitinho... – ela sorri tomando um gole de suco e eu aproveito e me sento também. – e quando ela crescer ela vai mesmo adorar brincar com ele.
Eu permaneço calado pegando minha pizza quando sinto que ela ainda me encarava. Eu viro o meu olhar para ela que fazia biquinho enquanto acariciava o meu braço.
- Então...ele é permanente?- eu só confirmava o que havia entendido.
- É, por que?- Eric sorriu e disse de boca cheia.
- Nada..-eu sorri neutro. Roupa suja se lava em casa, no quarto, neste caso. Depois falaria com Abby sobre isso,
Continuamos a comer, mas agora o clima estava um pouco pesado. Eu e Abby trocávamos olhares receosos enquanto Eric se deliciava com o quarto pedaço de pizza. Abby tinha comido um inteiro, e comeu a borda da minha. Ela começou a olhar o último pedaço de pizza e eu já podia prever o que seguiria.
- Posso?-ela pediu a mim depois de quase secar a pizza toda.
- Meio...- eu disse, pegando meus talheres e cortando o último pedaço em dois iguais.
Ela devorou rapidamente e Eric terminou com a sobra.
Todos terminaram e quando levantávamos da cadeira, ouvimos o choro estridente.
- Posso ir?- Eric perguntou, já no meio da escada.
- Por favor...- Abby retribuiu o sorriso, pegando as coisas da mesa enquanto ele ia pro quarto de Julie acudi-la.
Eu permaneci no meu silêncio. Se fosse para falar algo a respeito, ela que puxasse assunto. Fui até a pia e comecei a lavar a louça, enquanto ela limpava a mesa. Quando já estava colocando o ultimo copo no escorredor de louças, ela se aproximou pegando um pano de prato secando algumas coisas.
- A intenção dele foi boa... – ela fala enquanto enxugava um copo. – foi uma surpresa ele ter aparecido aqui.. eu não esperava...
- Humrum.. – eu aceno me virando paga pegar um pano para enxugar a pia – pelo menos ele aparenta estar sob controle...
- É... – ela fala um pouco mais empolgada do que eu esperava. – e você vai deixar ele.. – ela apontou par ao jardim – ficar com a gente?
- Não sei.. – eu evito olhar para ela. Pois eu sei que se olhasse ela faria chantagem emocional. – temos que manter a higiene na casa.. temos agora uma filha recém nascido.. talvez seja melhor devolve-lo.. ou colocar ele sob o cuidados de alguém enquanto Julie não completa pelo menos um ano...
- Sério?- ela não controla o olhar desapontado- mas o Eric vai ficar chateado...
- É pro bem dela, Abby- eu disse ainda sério.
- Mas ele vai ficar no jardim, Carter- ela já começava apelar com o joguinho emocional- não vai atrapalhar...
- Temos que ver isso como calma...- eu respirei calmamente, terminando na cozinha e indo para a sala-não quero fazer nada precipitado- nossa, como eu me fazia de durão. Na verdade, a idéia de um cachorrinho não era nada mal e me fazia lembrar da outra vida. Mas tudo o que me preocupava era a saúde de Julie.
Deitei no sofá maior. Não se escutava nenhum ruído de lá de cima. Eu olhei pela escada, não vendo nenhum movimento também. Senti Abby ir para o jardim com uma sacola. Provavelmente daria comida ao cachorro.
- Ele tem nome?- eu perguntei, assim que a vir entrar de novo.
- Não.. – ela olha pra mim e se dirige ate a escada – eu vou ver se estuda tudo bem la em cima...
- Hey.. – eu me levanto do sofá e vou em sua direção. – você não vai ficar chateada por causa disso né?
- Eu! – ela nem se vira para me olhar. – claro que não.. deveria?
- Certo.. – eu falo agarrando o seu braço virando-a pra mim. – eu concordo com uma única condição..
- Qual? – ela fala se virando com empolgação na voz.
- Uma empregada para ajudar nos afazeres da casa..
Ela fica pensativa por alguns instantes, faz bico, passa as mãos pelo cabelo e se apóia no corrimão da escada me encarando.
- Certo.. você venceu.. mas só para a casa.. não para a bebê.. ok?
- Abby...- eu viro os olhos- ok, depois eu chantagio você de novo- eu sorrio e a deixo subir, afinal, vai saber o que se passava lá em cima entre minha bebezinha e meu cunhado maluquinho.
Voltei para a minha TV e fiquei lá até que os dois descerem de novo. Parece que era só manha de Julie mais uma vez. Ficamos os três assistindo a um filme de suspense até Abby começar a reclamar sono.
- Vamos deitar?- ela pergunta, já se levantando assim que os créditos começam a passar.
- Tá..- eu levo e a abraço por trás- boa noite, Eric- eu digo,olhando pra ele que nos encarava com um olhar malicioso.
- Pra vocês também- ele começou a rir e logo Abby o encarou. Será que ele estava insinuando o que eu estava entendendo?
Eu afastei aqueles pensamentos pra longe e nós nos dirigimos as escadas quando somos interpelados d enovo por Eric.
- Ah.. e quanto a Julie.. não se preocupem.. eu fico de olho nela...
Abby olha pra mim e eu levanto minha sobrancelha, fazendo-a sorrir. Eu balanço minha cabeça e me viro voltando a subir as escadas.
- Ok Eric.. - eu grito do alto da escada. - só nos chame em caso de urgêncio.
Eu começo a rir andando até o quarto e Abby entra depois de mim. Me sento na cama pegando o meu pijama e ela fica recostada a porta de braços cruzados.
- Caso de urgência né? - ela fala enquanto eu começo a tirar minha roupa.
- Claro...se temos a oportunidade de dormir uma noite em paz, porque não aproveitarmos?
- É...- ela continua na porta- que droga, isso já está sendo um problema pra mim..
- O que?- eu me faço de desentendido, segurando o riso.
- O que? Oras, não faça de conta que você não está se importando, porque eu sei que está...- ela finalmente saiu da posição inicial e veio até mim.
- Eu sei me controlar...- eu digo sorrindo um pouco, enquanto ia até o banheiro escovar os dentes.
- Controlar ou...- eu a cortei antes que ficasse em maus lençóis.
- Quieta você...- eu sorri envergonhado pelo comentário que viria se eu não a tivesse parado.
Eu voltei pra cama e agora era a hora dela ir. Ela fechou a porta e voltou minutos depois, e eu percebi que ela tinha passado uma "água no corpo".
- Tá com medo que eu te ataque, é?- eu sorri, vendo-a só de toalha.
- Não é medo de você, é de mim mesmo...- ela sorriu, enquanto pegava a camisola debaixo do travesseiro.
Ah se ela soubesse.. Me virei na cama para evitar qualquer contato com o seu corpo. É claro que eu não ia falar que estava precisando do mesmo que ela, quem sabe muito mais para não deixa-la ainda mais chateada. Fechei os meus olhos e percebi que ela se trancou de novo no banheiro. Abro meus olhos e me viro de novo olhando para a porta do banheiro. ajeito os travesseiros na minha cabeça quando a vejo sair vestida do banheiro.
- Felicidade é vestir uma camisola que não pareça uma capinha de botijão de gás..
Eu sorrio e ela entra por baixo das cobertas, se ajeitando na cama. Eu me viro beijando-a e espero ela fazer todos os seus rituais para apagar a luz.
- Quanto custa uma esteira? - ela pergunta enquanto passava um creme no seu rosto.
- Não sei.. porque!
- Estava pensando em pedir uma aniversario de casamento
- Pra que?- lá vou eu mais uma vez tirar a paranóia da cabeça dela.
- Pra acabar com tudo isso, Carter!- ela se levantou, e puxou um pouco a blusa pra cima, me mostrando o abdome - e é bom eu fazer isso rápido, se não, mesmo quando eu tiver liberada, vamos continuar no zero a zero- eu sorri a ela.
- Que exagero!- eu disse, me deitando olhando pra ela. Ela abaixa a blusa e se deita de novo e deixa seu rosto bem perto do meu. Eu a olho, sorrindo.
Não pude deixar de reparar o sorriso enorme dela. Era boa a sensação de fazê-la feliz. Quis isso por tanto tempo, e a satisfação pessoal que isso me proporcionava era fantástica. Não me contive e dei um beijo demorado e sedento nela. Ela nos separou, momentos depois, ainda sorrindo pra mim.
- Então... – ela me encara por um instante virando de lado na cama. – Boa noite...
Eu coço minha cabeça e não me contenho começando a rir da ceninha que acabei de presenciar.
- O que? – ela se vira abrindo só um olho.
- Eu já falei que não vou te atacar...
- Aham.. eu sei... – ela sorri. – Boa noite de qualquer forma..
Eu a envolvi por trás em um abraço e beijei sua nuca. Ela se moveu um pouco na cama e logo eu deixei o meu corpo se levar pelo cansaço. Mas não por muito tempo.
Continua…
