- Tudo bem. Agora não dá pra eu voltar, Kerry - eu escutava a voz dela vindo de algum lugar. Abri um olho de cada vez pra achá-la falando no celular com um sussurrar.
Fiquei quieto na cama ouvindo-a discutir com Weaver. Quando essas duas pegavam pra discutir... E olha que Abby nem estava trabalhando. Sua licença terminava no final do mês mas Kerry já tinha começado a amolar.
- O que foi? – eu pergunto já vendo que ela entrou bufando de raiva no quarto.
- Você conhece a Weaver.. querendo que eu trabalhe amanha... vou nem se me pagasse o triplo do meu salário... – ela senta na cama tirando seu sapato.
- Hum.. se quiser ir eu posso cuidar de Julie por você...
Ela se vira me encarando e eu sorrio olhando pra baixo vendo que Julie ainda dormia. Abby se levantou da cama, foi ao banheiro, lavou as mãos e logo voltou ao quarto
- Como ela se comportou? – ela senta ao meu lado querendo pegar Julie.
- Opa.. – ela bato na sua mão – so falo quando você me falar como foi no medico...
Ela sorri e passa as mãos no cabelo deitando de lado na cama e me encarando.
- O que VOCÊ acha que ele falou?
- Olha...- eu penso um pouco- isso é uma coisa muito subjetiva, sabe?- eu sorrio.
- Sim..- ela acompanha meu pensamento.
- Eu poderia dizer várias coisas...Coisas muito ruins, coisas muito boas..- eu enrolo mais um pouco, pensando que ela logo diria.
- Prossiga...- ela joga aquele charme em mim me fazendo perder a paciência.
- Fala logo!- eu rio, a vendo rir de mim e da minha falta de controle.
- Quase eu não consigo...- ela se debruça em um dos braços me olhando bem de perto- ele não ia liberar não..Mas eu usei meus artifícios...
- Me diga que nesses artifícios você estava vestida...- eu sorrio, vendo ela se chocar com a brincadeira.
- Lógico bobinho... eu só usei a boca...- aiaiai. Ela adorava ficar provocando pra eu falar besteira. Eu olhei assustado, fazendo com que ela risse - pra falar, malicioso...- ela vem do meu lado e beija minha de leve - acho que vamos ter um aniversário razoável...- ela olha pro teto com aquele olhar sacana que me encantava.
- Razoável?- eu questiono, não poupando minha cara de dúvida.
- É...- ela faz um bico e eu não me contenho em rir novamente.
- Seja mais clara...
- Não.. – ela sorri – vou deixar suspense no ar.. eu também tenho meus segredinhos...
Ela pega Julie nos braços e evita com que eu fosse la e tirasse satisfações daquilo. Bom.. se ela esta toda sorrisos é porque a noticia é boa. Olho par ao meu relógio e vejo que já estava atrasadíssimo para ir trabalhar.
- Você não vai trabalhar não? – Abby pergunta também se tocando da hora.
- Agora mesmo...
Ela faz uma careta e eu me levanto indo diretamente acabar de me trocar. Hoje eu iria trabalhar muito mais feliz e com disposição do que nos últimos dias.
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- Que horas você vai deixar a pequenininha la em casa? – Susan pergunta me vendo preencher o quadro.
- Bom.. cedo... tem algum problema?
- Claro que não.. eu entendo a situação de vocês dois... vou cuidar dela como se fosse minha própria filha.. não precisam se incomodar com nada nem ligar.. esqueçam que tem filha e comemorem..
- Seguirei seu conselho.. – eu sorri e ela faz o mesmo e continua andando pegando algumas fichas de pacientes.
– Ah.. – ela se aproxima de novo – não inventem de encomendar outro bebê agora.. Abby não agüentaria..
- Pode deixar...- eu pisquei pra ela e segui pelo corredor entrando no Trauma 3. Mas um caso, uma vida salva. Nada poderia estar melhor. Minha noite começava bem e a promessa do dia seguinte enchia minha cabeça de expectativa.
Entrei em casa de madrugada. Nada como um plantão de 10 horas para de deixar mortinho novamente. Apesar de serem 2h das madrugada, ainda vi Abby acordada assim que entrei pela sala.
- Que milagre...- eu disse, passando a chave na porta- a mocinha tá acordada ainda!- elsa não parecia com uma cara lá muito feliz.
- É- ela resmungou- se Julie tivesse me deixado dormir...- ela boceja, desligando a T.V e pegando na minha mão para subirmos- ah, e outra...- ela me olha- e esse cachorro não fechou a boca nem por 2 minutos.
- Tá vendo!- eu sorrio, entrando quarto- não me escutou...Carby vai te deixar louquinha.
- Carby - ela diz com desdenho- ainda não me acostumei com esse nome bizarro mesmo...Só o Eric pra me inventar uma coisa dessas...
Eu estava muito cansado para implicar com ela dizendo que era o nome mais lindo do mundo. Ri do seu comentário e imediatamente fui ao banheiro vendo-a me seguir.
- Hey.. – eu falo quando percebo ela dentro do banheiro.
- O que? – ela me olha pegando a escova de dente.
- Eu poderia ter mais privacidade, por favor?
Ela coloca a pasta na escova e permanece no banheiro. Eu acho que eu não tinha muita moral sobre minha esposa. Esperei ela terminar para que eu a expulsasse do banheiro. Eu também estou guardando meu ouro para mais tarde.
Ela cospe a pasta na pia e fica encarando os dentes na frente do espelho.
- Abby – ela se vira e eu indico pra ela sair. Ela torce a sobrancelha e eu não me controlo e começo a rir.
- Que homem mais misterioso.. – ela sorri e sai do banheiro fechando a porta.
Tomo um banho breve, so para tirar o suor do corpo. Me preparo e saio do banheiro indo diretamente para cama.
- Boa Noite.. – eu falo mas ela não responde. Bom.. acho que ela já havia caído no sono. Verifico se tudo estava ok e também me entrego ao cansaço mal esperando para acordar par ao próximo dia.
Acordo no meio da noite ouvindo um chore diferente de Julie. Um choro forte e sem descanso. Vi Abby sair da cama imediatamente. Até quis ir com ela, mas o sono me dominava.
- Carter?- escuto ela me chamar, entrando no quarto. O choro aumentou de volume, significando que Julie viera junto.
Abro os olhos lentamente vendo Abby sentada na cama, acendendo o abajur. A cara não estava das melhores. Só me faltava essa...
- Acho que ela está com febre...- Abby disse, passando a mão sobre o rostinho dela.
- Ótimo, maravilha..- eu me levanto. Não queria ser egoísta, é claro que a saúde dela me preocupava mais do que tudo, mas... Justo hoje!
- Deixa eu ver...- eu disse pegando-a no colo. Coloquei-a perto do meu rosto e, de fato, ela estava quentinha.
- Pega o remédio que a pediatra indicou...- eu disse, vendo Abby sair do quarto- e reza bastante- completei o pensamento, já frustrado com a possibilidade de meus planos irem por água baixo.
- Trouxe o termômetro também... melhor ter certeza...- Abby me passou e logo eu medi a febre. Bingo.
Demos o remédio conforme foi indicado. Ela resmungou mais um pouco até que dormiu novamente. Eu quase não consegui dormir a noite. O medo corria todas as minhas veias, músculos e órgãos.
Acordamos cedo, por vontade própria. Julie não chiou mas era melhor ter certeza de que estava tudo bem. De prontidão, fui até o quarto da neném e verifiquei. Oh Meus Deus, obrigada! Minhas rezas, apelos e súplicas deram certo. Julie não seria capaz de fazer isso com o papai. Estava mais saudável do que eu e Abby juntos.
A manha passou devagar e eu e Abby mal nos falamos. Ambos estávamos apreensivos se era mesmo certo deixar Julie com Susan pelo que ela teve na noite anterior. Almoçamos rapidamente e logo Abby subiu para ficar com Julie. Vendo que era hora de toma ruma decisão subia as escadas alcançando-a no quarto.
- Ela teve mais febre? – pergunto me aproximando de Abby que conferia se Julie estava bem.
- Graças a Deus não...
Sentei na cama e fiquei observando Abby terminar de ajeitar Julie. Ela percebeu que eu ainda estava ali e seguiu sentando ao meu lado.
- Nem te dei parabéns hoje... – ela falou e eu a puxei para mais perto de mim.
- Mais tarde a gente tira o atraso..
Ela de repente se levanta e passa as mãos no cabeço me encarnado. Vinha bomba por aí...
- Carter.. você não prefere comemorar aqui em casa? Eu ainda estou com medo que essa febre volte...
- Mas não vai voltar Abby – eu respirei fundo antes de continuar – e se por acaso voltasse nossa filha vai ficar com uma medica responsável e competente como ... e que acima de tudo ela é nossa amiga.. madrinha da nossa filha..
- Uhum..- ela parou e encarou a cortina do quarto por um instante- mas mesmo assim Carter. Não quero ser irresponsável e egoísta...- ela sentou na cama mais pensativa do que nunca.
- Ah Deus...- eu disse a mim mesmo. Me sentia como se estivesse convidando minha primeira namorada a ir a um motel- Abby esquece isso. Julie está bem e se algo dar errado, Susan liga pra gente...
- Ela não vai ligar e você sabe disso..- ela me encarou como a pessoa que bem conhece Susan quando torce por alguma coisa.
- Liga Abby, se eu pedir ela liga...- eu toquei os cabelos dela, pedindo aos céus que a convencesse por mim.
- Certo- eu me animei, mas sabia que veria um "se" pela frente- se ela ficar bonitinha, sem febre, sem choro nem nada nós saímos, ok?
Eu sorri a possibilidade remota. Julie não chorar? Onde nós estamos?
Ela tentou me animar me dando um selinho mais nem isso conseguiu. Eu já estava me conformando e cancelar meus planos pra uma noite inesquecível e ter uma noite também inesquecível, ouvindo Julie chorar e Abby reclamar.
Encerrei o assunto deixando como estava. Algum milagre aconteceria, tinha de acontecer.
Permaneci de plantão no quarto o resto do dia. Abby se levantou para dormir um pouco e eu fiquei atento a qualquer movimento de Julie. Brinquei com ela, verifiquei fralda, fiz massagem, carinho e corria cada vez que ela ameaçava chorar. Por uma graça divina, ela não teve mais febre. Talvez tenha sido emocional por ter ouvido que os pais iriam deixá-la sozinha com a tia Sue. Me deitei na cama do seu quarto e peguei o meu livro para ler. Li pouquíssimo mas estava tão cansado que acabei caindo no sono ali mesmo.
- John.. – eu acordo com alguém me cutucando.
- Hum... – eu resmungo virando pro outro lado da cama.
- Você vai querer ou não sair? Já esta anoitecendo e você esta ai ainda dormindo...
De repente eu pulei da cama e vi Abby segurando Julie em seus braços. Me espreguicei e Abby sorriu colocando Julie no berço e vindo na minha direção, sentando no meu colo.
- Matou quem te matava? – ela passa a mão no meu cabelo que deveria estar todo desarrumado.
Acenei ainda acordando e ela sorri se levantando do meu colo.
- Marquei com a Susan pra deixar Julie as 19:30.. passei as instruções e falei que caso ela não me ligasse ela iria perder a vaga como madrinha da minha filha...
- Deixar de pensar nisso...- eu fui até o banheiro do meu quarto vendo meu rosto todo amassado no espelho.
- Eu tomo banho primeiro ou você?- ela me pergunta, mas eu já estava a meio caminho do chuveiro- certo, você. Eu vou descer e tirar um pouco de leite pra deixar com Susan...Nunca se sabe quando ela vai ter fome...- ela diz, me vendo entra no box.
- A Julie ou a Susan?- eu sorrio, ligando o chuveiro.
- As duas...- ela ri, saindo do banheiro.
Continua...
