Carro estacionado, desço primeiro e as ajudo a sair. Sigo atrás e logo corro para abrir porta. Abby mal entra em casa e sobre as escadas para dar de mamar à Julie.
- Volto já.. – ela fala sem olhar pra trás mas mesmo assim eu não deixo de piscar e sorrir em sua direção.
Entro na cozinha e recorro ao que estivesse mais fácil de fazer naquele momento. Pizza? Não.. nada romântico. Lasanha? Talvez.. mas mesmo assim muito sem graça... macarrão era uma boa.. mas eu estou sem paciência de esperar a água ferver. O jeito seria fritar uns files de peito de peru e fazer um sanduíche rápido para nós. Tudo bem, também não é nada romântico, mas pelo menos vou levar os méritos por ter feito.
Comecei a ajeitar tudo para um gosto de sanduíche. Agrada-la não faria nada mal para completar a noite da nossa "volta". Resolvi liberar algumas coisinhas que ela estava evitando. Maionese, ketchup e mostarda. Tenho certeza de que ela ficaria feliz.
Empilhei os lanches e pus de lado, preparando o suco de maracujá em seguida. Maracujá, acalmar os nervos. Dormir feito um anjinho até amanhã. Nada mal. Coloquei tudo numa bandeja. Ok, a ordem agora era paparicar. Juntei com os guardanapos e subi as escadas não antes de ir até o jardim e dar comida pro Car... Bom, pro cachorro!
Ia subindo as escadas, equilibrando a bandeja para apagando todas as luzes. Dei uma última olhada até entrar no nosso quarto, vazio. Olhei pro corredor e vi a luz do abajur do quarto de Julie ligada. Abby ainda devia estar dando de mamar ou fazendo-a dormir.
Eu sinceramente espero que Susan tenha mentido para Abby no fato de Julie ter dormido o tempo todo. Se assim fosse, estávamos ferrados. Ela não dormiria a noite toda nem com muitos milagres.
Deixei a bandeja sobre a cama e corri no banho, só pra tirar o "cheiro de motel". Quando voltei já vestido pra dormir, ela já tinha devorado um sanduíche, meio copo de suco e estava de olho no meu lanche.
- Ei!- eu corri até la pegando o pão do prato - esse é meu...
- E quem disse que eu queria? – ela faz cara feia e se levanta da cama indo ao banheiro.
- Onde você vai? – eu pergunto pegando o meu sanduíche dando a primeira mordida.
- Eu também sou filha de Deus e mereço tomar um banho antes de me deitar... – eu sorrio pegando o meu copo de suco bebendo um gole e eu vejo-a se aproximar de mim pegando o seu copo para terminar de beber. Ela da o ultimo gole, devolver a bandeja e vai andando de volta pro banheiro. Eu me distraio por um segundo observando que lado do sanduíche iria morder agora e de repente vejo seu bocão abocanhar um pedaço enorme do meu sanduíche. Logo eu faço cara feia e ela sorri lambendo a boca e correndo pra dentro do banheiro.
Sem poder nem reclamar torno a terminar o meu lanche. Realmente.. só um sanduichezinho desses não dava pra nada.
Coloco o que estava sujo de volta a bandeja e desço as escadas aproveitando para verificar se a posta estava fechada, luzes apagas para enfim poder pensar em dormir.
Subo as escadas e de repente ouço um barulho vindo da sala. Será que a televisão estava ligada? Dou meia-volta e vou a sala ligando as luzes para ver se achava algo de anormal. Nada.. deve ser só loucura minha.
Torno a subir as escadas indo diretamente ao meu quarto. Entro sem fazer barulho, mas ela ainda estava no banho. Vou para o meu lado da cama e me deito colocando os braços por baixo da minha cabeça encarando o teto por alguns segundos.
Um ano havia se passado desde que nós passamos. É tão incrível como o tempo passa voando e quando a gente se dá conta tudo passou tão rápido na sua frente.
Quase adormeço no pensamento mais sou desperto pela porta e os passos dela.
- Comeu, fominha?- ela sorri, enrolada na tolha, indo até ao armário. Eu aceno e me coloco de lado para vê-la se trocar. Ela abre a porta da esquerda e eu vejo aquela bagunça. Desde que Julie nasceu, e até mesmo antes de ela nascer, não tínhamos mais tempo pra nada. Nem pra nós mesmo, imagine a casa.
Ela abriu a gaveta e pegou uma camisola preta.
- Não adianta querer me seduzir... duas vezes não tá bom?- eu digo pra ver a reação dela. Ótima, como sempre - você deveria ter me dito que era tão insaciável assim...
- Se ferrar, Carter...- ela disse, vestindo a camisola e se deitando na cama- ai, to morta...- ela bocejou.
- Desculpa...- eu sorri, fazendo-a entender mais essa piadinha.
Ela nem dar aquela olhada reprovadora ela deu. Desligou a luz do seu lado e logo se virou para tentar dormir. Eu até que a entendo. Logo logo Julie podia querer alguma coisa.
- Boa noite.. – eu falo e me viro para desligar minha luz.
Mas, não sei o que me dá..
Me levanto e vou ao banheiro e lavo o meu rosto retornando ao quarto. Olho ao redor e vejo as roupas "saltando" do armário. Vou ate ele e me abaixo ajeitando alguma coisa. Amanha mesmo eu daria um jeito nisso aqui.
Começo a colocar tudo pra dentro e vou ajeitando o montinho para que tudo coubesse alo. De repente sinto algo duro naquela pilha e reviro as roupas que havia ajeitado e tento pegar para ver o que era.
- O que é..– eu penso alto e logo consigo tirar a caixinha daquele bolo todo. – "isso aqui.." – eu finalmente encaro bem a caixinha que não me era nada estranha. Mas o que ela estava fazendo aqui!
Que eu saiba isso deveria estar guardado em um lugar especial e seguro. Olho para ela na penumbra, mas ela já estava, aparentemente, dormindo. Encaro mais uma vez a caixa de madeira que por tanto e tanto tempo eu guardei. Me levantei, deixando a minha arrumação mal feita no chão mesmo. Passo pelo corredor e procuro um lugar onde tenha uma. Vejo que o abajur do quarto de Julie ainda estava ligado.
É pra lá que eu ia! Não perturbaria ninguém e reveria essa caixa, que eu amava ficar por horas encarando. Às vezes achava que era louco de admirar uma coisa tão banal... Banal? Banal pros outros que não conheciam o verdadeiro significado daquilo, ali dentro. Passei a mão pela caixa com cuidado, antes de finalmente abri-la.
- O que?- eu digo surpreso, num tom tão alto que até tive medo de ter acordado Julie. Ali tinha tudo, menos o que eu mais queria encontrar. Na hora fiquei meio nervoso, onde estava o que eu queria! Com calma, eu fui tirando tudo de dentro da caixa quase abarrotada de coisas. Eu sorri vendo tudo o que ali continha. Uma foto minha, com uns 10 ou 11 anos. Uma foto dela, aos...7? É, talvez 8 ou 9.
Uma, duas, três... Muitas e muitas fotos nossas. Na bem da verdade, nem eu lembrava que nós tínhamos tantas fotos. Abby sempre odiou tirar foto e as poucas que eu me lembrava, recordava de minutos antes da foto ser batida, eu praticamente obrigando-a a tirar.
Eram mais de dez fotos nossas, em diversos lugares, poses e sentimentos. Como eu não sabia dessas fotos? Bem, talvez ela tivesse pegado para ela na vez em que nos separados, no tempo da África.
Olhei todas atentamente, mas uma me chamou mais a atenção. Era uma foto que eu não lembro de ter tirado, foi inesperada. Estávamos no hospital, porque eu via alguns equipamentos e passando, ao fundo da fotos, estavam Chunny e Jerry. Eu poderia jurar que nunca tinha visto uma foto tão bonita. Natural, simples...eu e ela sorrindo, olhando um para o outro, com cara de paisagem. De primeira, separei aquela. Oficialmente eu a estava roubando para andar na minha carteira de hoje em diante.
Tirei todas as fotos dali. FINALMENTE! Ali estava o que eu tanto procurava! Tirei o papel estreito do fundo da caixa. Estava todo amassado, um pedacinho rasgado e talvez o amarelado já estivesse dominando. Tanto tempo...Tantas coisas. Tanta dor e sofrimento depois daquilo.
"Café e torta: 7 doláres e 50". Esse número eu nunca soube esquecer. Foi esse o preço que eu paguei. Paguei pela felicidade de estar junto dela por longos meses. Paguei e fui feliz com a paixão por ela, todos os dias que ali seguiram.
Encarei ainda o papel sorrindo, olhando pra cima um pouco, percebendo o berço de Julie. Deixei a caixa em cima da cômoda e fui até lá, olhando Julie dormir.
- É, bebê...- eu sorri, me apoiando no berço- você é resultado de um "café e torta"- tornei a sorrir. Será que existia na Terra alguém que pudesse estar mais feliz do que eu nesse exato momento? Eu acho que não...
Desci meu rosto, e dei um beijo em Julie. Logo em seguida, virei de costas para o berço, ainda apoiado, de frente para a luz. Olhei uma última vez para a conta e só naquele instante percebi que havia um clipe da parte de trás. Virei o papel e achei o bilhete anexo.
"Eu te amo...Feliz aniversário. Primeiro ano de muitos. Você é único"
Ok, não existia nenhum ser mais feliz do que eu. Sorri para o papel novamente, segurando algo que temia que viesse dos meus olhos. Felicidade, só isso.
Segurei com mais força os papéis. Aqueles que faziam parte da minha felicidade. A causa e a conseqüência. O que iniciou e o que matinha meu casamento. Aliás, mais do que o meu casamento, o meu amor por ela.
Senti a presença de alguém na porta. Levantei o olhar de vagar, percebendo-a com meio corpo aparecendo na porta. O cabelo solto, sorrindo pra mim. Me encarou de uma maneira que eu não saberia explicar com palavras. Eu a encarei também, escutando a única frase que poderia ser dita agora.
- Te amo, Carter... " Coffee and Pie, anytime"…
FIM continua na proxima FIC!
