Santa Madalena – II
Capítulo Dez
Boa leitura! )
Special Thanks... ÀCom o passar dos dias, Marguerite e os outros foram se conformando com aparente situação: John havia fugido com aquela mulher sem deixar rastros.
"Por que quer informar a polícia sobre este desaparecimento?" Dizia uma das secretárias da delegacia da cidade.
"Porque quero que pelo menos um, o homem, seja encontrado para o enterro".
"Vou ver o que posso fazer" A mulher levantou-se e entrou um uma sala ao lado do balcão, fechando a porta atrás de si.
"Enterro?" Soledad sussurrou assustada.
"Se ele não morreu eu o mato junto com aquela vagabunda". Marguerite segurava a bolsa com certa pressão entre os dedos e não respirava facilmente, tentando transparecer serenidade.
Soledad voltou-se à posição e continuou até que a mulher voltasse com alguns papéis. "Tem que preencher este formulário e depois me dar os nomes de quem quer encontrar".
De lugar algum para lugar nenhum, o grupo não mais parecia tão perdido.John estava exausto, mas ainda sim conseguiu manter seus sentidos aguçados o suficiente para mantê-lo ciente.Ouviu alguns urubus lá no céu, saudando mais um dia que se foi.
O sol se punha e duas tendas começaram a ser montadas ao pé de uma grande pedra, ainda no deserto.
"Senhorita Taiza..." John chamou pela mulher que parecia estar desmaiada.Era carregada para uma das tendas que quase estavam prontas por Salvador e George.
"Ela está desidratada, dêem água, rápido". Ouviu muito vagamente uma voz dizer a frase perto de si.
"...Essa não, ele vai desmaiar também!". A mesma voz disse então, segundos depois.
"E aí Madge?".
"Eles disseram que vão procurar..".
"Tomaram que os achem!".
Marguerite não se animou tanto como estava sua um olhar pensativo ao longe deu um leve suspiro antes de responder. "Tomara".
Depois de alguns minutos, lá estava Marguerite preparando o jantar com sua mãe.
"Precisa de mais alguma coisa meu anjo?".
"Não madre, acho que agora é só comer".
"Tudo bem, eu já vou indo... meus outros netinhos estão fazendo dever de casa, tenho medo de que eles acabem por não fazerem nada e só brincar!".
"Não vai ficar pra jantar com a gente?".
"Não minha filha, obrigado... as crianças estão sozinhas, amanhã prometo a você que venho para a janta".
"Ué onde estão Vera e o Zé?". Soledad estendia a toalha na mesa enquanto Marguerite pegava os talheres.
"Não soube ainda?".
"O que houve desta vez?".
"Lembra que a assistente veio a casa deles pra checar a situação em que as crianças se encontram?".
"Sim.. mas o que houve?".
"Parece que a moça fez um relatório meio sem sal sobre eles, não em relação às crianças, mas parece que alguma coisa que eles conversaram a deixou meio confusa... acredita que ela sugeriu que eles tomassem aulas?".
"Aulas? Mas de que?".
"Simplesmente aulas!".
"Já até imagino o porquê... com as abobrinhas que os dois falam, imagina juntos!".
Dona Soledad sorriu.Marguerite acompanhou a mãe até o portão.Estava se sentindo tão solitária naquela noite, mas não podia ser tão egoísta a ponto de não deixar sua mãe ir.
"Tem certeza de que precisa ir madre?".
Soledad voltou-se à filha.Via a carência em seu olhar, mas não podia ajudar muito naquele momento.Sorriu um sorriso doce e gentil, segurando o rosto dela de modo que a olhasse bem.Deu uma pequena analisada em suas feições ainda sim abatidas, sentindo uma pena daquela situação toda.
"Isso vai passar meu anjo.Logo você vai retomar o rumo da sua vida, e vai esquecer o...".
".. Por favor madre, não diga nem o nome... Agora não sei se o que sinto é saudade ou é ódio".
Soledad olhou mais uma vez para a filha e sentiu que precisava deixa-la naquele momento, ou iria fraquejar diante dela.
Deu-lhe um beijo terno no rosto e a abençoou. "Coma em paz com sua princesa minha filha. Que Guadalupe cuide de você e que Madalena a proteja e conforte o seu coração".
Marguerite deu um sorriso meio despedaçado e abaixou a cabeça. "Buenas noches madre".
"Buenas mi dulce".
Uma fogueira havia sido feita.Apesar do calor que tinha feito o dia todo, o relento da noite era traiçoeiro.
"Quando vão nos soltar?".
"Quando conseguirmos o que queremos".
"E o que querem?".
John foi encarado com certa ironia. "Já fez perguntas demais rapaz...". George se levantou e entrou em sua cabana.
Como acontecia todas as noites, Salvador começava com a vigília.
"O que você estaria fazendo agora se não estivesse aqui?". Puxou conversa com John, que olhou meio surpreso.Taiza ultimamente estava muito calada. "Por exemplo eu..." Respirou fundo "Estaria na casa de meus pais, no quarto assistindo a velhas séries de TV, com o meu telefone desligado para que meu namorado não pertube.." Ela sorriu fazendo John rir. "Com certeza estaria comendo uma deliciosa sobremesa de domingo preparada por meu pai... Sabe, ele é cozinheiro".
Quando ela acabou de contar olhou para John meio distraído, olhando para o infinito deserto às suas frente. "Vamos John Cortez, conte agora você".
John pensou um pouco, e olhando pro céu sabia mais ou menos a hora pela posição da lua. "Agora eu estaria chegando em minha casa... o cheirinho da janta estaria por toda à parte..." John sorriu como a muito não sorria quando lembrou.
Taiza pôde ver um brilho diferente, cheio de vida no olhar daquele pobre homem.John continuou a contar a uma boa ouvinte. "Minha princesinha, Maribel, vindo correndo para contar como foi o dia na pré-escola... os desenhos que fez... Marguerite estaria descendo para arrumar a mesa..." Nesse instante John pausou pensativo, estava com uma serena expressão no olhar quando tocou no nome dela.
Imaginou-a com sua camisola de linho cor vinho com bordados simples, os cabelos soltos, quase secos e o perfume de seu corpo quando saia do banho.
Lembrou-se dos vários momentos de prazer que tivera com ela ao banho, na cama, no sofá, no chão...
Lembrou-se também de seu calor e seu toque tão caloroso, de seu abraço e sua boca tão quente e carente de beijos, esses que nunca cessavam.
Depois de um bom tempo em silêncio, Taiza resolver interromper os pensamentos dele. "Posso lhe fazer uma pergunta? Mas primeiro prometa que vai responder".
"Pode". Respondeu tranqüilamente.
"Alguns dias atrás... você me chamou por um outro nome, acho que... Luzia..." John ficou levemente nervoso e meneou a cabeça positivamente.Amulher continuou "... por acaso, sua mulher não desconfia de nada?".
"Desconfiar do quê?".
"Que possui outra mulher além dela".
Uma inexplicável revolta invadiu o peito de John Cortez.Ela com um pouco de rubor ainda assim não parou de falar.
"Ouça.. você e eu estamos aqui, e você sabe que não vai sair daqui o que contar pra mim... eu sei como são essas coisas, e sei também que.."
"..Você não sabe de nada, quem é você para dizer um absurdo desses?" Ele se aproximou já com seus nervos a flor da pele, controlando-os, como sempre. "NADA, ouviu bem?" Reafirmou pausadamente fazendo Taiza ver claramente a cólera em seu olhar.
John viu que a mulher a sua frente havia entendido o recado, e estava de certa forma assustada. Ele voltou para onde estava atordoado.
"Eu sou completamente louco por ela... não houve e não haverá a mínima possibilidade de outra em minha vida" Ela a olhou por um momento, vendo-a de cabeça baixa.Nem por isso sentiu vontade de parar.
"Você com certeza não sabe o que é amar... todos os dias, antes de me levantar, eu a olho dormindo... sinto que a cada manhã meu coração bate mais forte por Marguerite, eu me apaixono por ela a cada manhã, ela é a minha força pra continuar o dia".
Depois de uma breve pausa suspirou. "Se não a vejo, todas as manhãs, ao meu lado... se não sinto seu cheiro e seu calor.. não vejo motivos para continuar".
"Bel.. cadê você?". Marguerite vinha procurando a filha algum tempo. "Maribel!"
Procurava em todos os cantos, não sabia mais onde olhar. "Isso não é hora de brincar de esconde-esconde princesa, vamos, têm que comer!"
Enquanto falava ia procurando pela casa. "Olha.. eu sei que você não gosta de legumes mas tem que comer pra ficar inteligente, esperta e.." Parou quando viu algo se mexer de baixo da pia da cozinha.
"Oh meu Deus, onde será que minha filhinha se escondeu! Ela anda tão esperta que eu não consigo acha-la mais... Espere, espere um pouco deixe me ver por aqui... não está aqui... e aqui... já sei! Acho melhor eu perguntar... Será que o senhor viu a Maribel senhor fogão?..." E Marguerite engrossou a voz " Não, não senhora... pergunte à dona pia" E novamente fez a mesma pergunta e a pia respondeu que não tinha visto nenhuma garotinha chamada Maribel mas que estava sentindo cócegas no seu bumbum.
"Oh... então eu acho que vou perguntar para as panelas debaixo da pia...AHÁ!"
"BU!"
"OH! Que susto você me deu ai ai ai !". Maribel ria divertida. "Vamos mocinha, hora de comer"
"Não quero mama".
"Oh mais têm que comer pra ficar forte". Marguerite teve que puxa-la pra fora e pegá-la no colo para leva-la até a mesa. "Pare de reclamar, você não está doente, e só os doentes não têm vontade de comer!".
"To dodoi mama".
"Dodói você? Quem ta dodói não brinca de esconde-esconde!".
"Brinca sim" A garotinha ficou meio emburrada e Marguerite a botou na cadeira.
"Conta pra mim porque você não quer comer a comida que a mamãe fez pra você?".
A menina ficou olhando-a meio tristonha, mas não respondeu.Marguerite respirou fundo e se agachou. "Belzinha, escute... mesmo que você não esteja com fome, você precisa comer, nem que seja um pouquinho só..Fiz umas coisinhas tão gostosas pra gente comer, duvido que não goste!". Piscou o olho.
"Bel ta dodói mama...".
"Dodói? Onde? Aqui?" A fez cécegas de baixo do braço. "Aqui?" lhe cutucou a barriga. "Você não tem nada filha... você se machucou?".
A menina balançou a cabeça negativamente. "Então o que há, Maribel?".
A menina pegou a mão de Marguerite e levou até seu coração. "Aqui mama... quero que papa volte".
Marguerite fechou os olhos e conteve as lágrimas. "Ouça bem o que vou te dizer... Se papa estivesse aqui, ele ia querer que você comesse um pouco, não ia?".
"Ia..".
"Então, não vai querer desobedece-lo, vai?".
Ela balançou a cabeça novamente. "Eu quero que papa volte logo".
"Eu também quero que papa volte logo... Mas você só vai comer quando ele voltar?".
"Sim!".
"Não!".
"Não? Papa não vai demorar...".
"Eu não sei Maribel, eu não sei". Marguerite começava a ficar sem saídas. "O que você acha de não comer nada até ele voltar?".
"Você deixa mama?". A menina se alegrou.
"Deixo... aí você vai ficar tão magrinha que quando ele te abraçar você vai desmontar... e vai ficar tão branquinha que quando ele te ver vai levar um susto pensando que é uma Gasparzinha... e vai ficar tão fraquinha que quando ele te chamar para brincar, você vai perder em todas as brincadeiras"
Marguerite parou de falar porque percebeu que a menina estava entendendo seu pensamento. "E então?".
A menina olhava pra ela convencida de que tinha que comer. "Você fez sobremesa?".
"Hmmm... não, mas... podemos fazer uma juntas, que tal?".
"Eu como... mas um pouquino só...".
Marguerite deu graças a Deus e sentou-se para comer também.A menina estava ficando esperta demais e qualquer dia ela iria temer por não ter mais desculpas a dar sobre o seu pai. "Cresci sem um pai, e não quero que com minha filha seja assim também".
CONTINUA...
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