Capítulo 11: lágrimas de dor, lágrimas de alegria.
02 de Abril de 1977
Quem diz que não é fácil a vida de um adolescente, provavelmente não chegou à sua maturidade. Sim, quando adolescentes todos temos nossos problemas, enfrentamos as mudanças, recebemos doses diárias de novos hormônios e nos deparamos com o inicio daquilo que chamamos de responsabilidade. É um ciclo inevitável. Nascemos, crescemos, amadurecemos, reproduzimos, envelhecemos e enfim, morremos. Por isso todos passamos ou ainda iremos passar. Bom, exceto Sirius, esse ainda está crescendo. Tiago, felizmente já está na fase do amadurecimento, com muito esforço e esporádicas crises de regressão junto a Sirius. Nada que um puxão de orelha não faça efeito.
Como eu estava dizendo, quando passamos da fase da escola, do crescimento, achamos que estamos prontos para a vida. Que tudo o que enfrentamos nos foi suficiente para caminhar a passos largos. Ledo engano. A maturidade nada se compara com a adolescência. Se ser adolescente não é fácil, ser adulto é menos ainda. E quando digo isso, não justifico com a guerra que enfrentamos, mas com pequenas coisas, simples fatos. Não é com essa luta do lado de fora que aprendemos, mas com as pequenas batalhas da vida. Além da diária disputa do bem contra o mal, também temos as nossas lutas particulares, pequenas, com o namorado, com a amiga, consigo mesma. E são as experiências extraídas delas que superamos crises maiores.
Lembra quando éramos crianças e nossa maior preocupação era se iríamos ganhar o que pedimos de aniversário, ou como iríamos convencer nossos pais a ficar acordado até tarde para assistir o filme de terror que iria passar na televisão? Essa era minha vida antes de Hogwarts. Antes de descobrir minha essência, sem saber quem eu realmente era. E quando recebi a carta de admissão e descobri o que eu realmente era, o que eu deveria ser, uma súbita e precoce onda de responsabilidade tomou conta de mim. Senti-me no dever de compensar os onze anos da minha vida. Sentia-me como se estivesse atrasada em relação a todos aqueles que tinham o privilégio de nascer e crescer sabendo o que os aguardava. Perfeccionista como sou, resolvi então que, a partir de então, jamais iria ficar para trás. Outra mudança drástica de vida não iria acontecer para essa Lílian Evans. Passei a viver cada dia compensando os anteriores e planejando os próximos. E assim passei meus sete anos em Hogwarts, pronta para qualquer coisa, qualquer situação, nada mais me pegaria de surpresa. Jamais iria me sentir como a garotinha de onze anos que, embora entusiasmada, não tinha idéia do que estava por vir. Por mais que seja uma sensação gostosa, não combina comigo.
E hoje, depois de dez anos desde o dia que recebi a carta de Hogwarts, me sinto novamente à mercê do desconhecido, sem ao menos saber o que está por vir. Planos eu fiz, e muitos, mas dependerá da sorte para que eu os concretize. Vontade não me falta, assim como não faltava aqueles que não terão mais seus planos concretizados, seus sonhos realizados.
Há uma semana foi a vez dos Prewett perderem a batalha contra o mal. Fábio e Gideão morreram. Perdemos não só dois grandes amigos, mas dois heróis. No dia seguinte ao acontecido, encontramos vazio o apartamento que Liza morava sozinha desde que os pais foram mortos. A morte de Gideão foi o limite para ela. Fugiu sem deixar pistas. Espero que esteja bem, que ao menos esteja segura. Ela deixou uma carta pedindo desculpas por ser tão covarde. Pobre Liza. Covarde? Por quê? Por querer viver? Então, no fundo, todos temos esse sentimento de covardia dentro de nós. A diferença é que alguns são corajosos de mostrá-los. Liza não é covarde e sim corajosa por fazer aquilo que todos temos vontade. Fugir... ir embora para bem longe... fazer valer nossos planos, nossos sonhos. Que você fique bem, minha amiga!
E então, no meio de toda a tristeza, insegurança e medo, enquanto muitos choram a perda, começam a surgir o sentimento de culpa dentro de nós. Culpa por ainda poder sorrir no meio de tormentos, ainda conseguir ter momentos de prazer e satisfação ao lado dos amigos que nos restam, enquanto outros perdem os seus. Sinto-me grata pelos momentos ainda felizes que tenho com uma freqüência admirável, mas ao mesmo tempo culpada. Céus, como é que alguém pode sentir-se culpada por ser feliz? Por sorrir, por amar, por estar viva? Eu tenho é que agradecer a cada dia que sou presenteada. E, principalmente, por ter Tiago aqui comigo, me proporcionando dias ainda felizes como o de hoje.
Livres de compromissos por todo o fim de semana, na noite de sexta-feira, Sirius, Tiago e Remo vieram para casa. Pedro não estava com eles. Disse ter compromissos.
"Será que Rabicho arranjou uma namorada?", Sirius sugeriu.
"Um hipogrifo?".
"Não seja maldoso Tiago".
"É brincadeira Lily".
Essas são as raras circunstâncias que deixamos de lado todos os problemas, voltamos à época em que nos reuníamos ao pé da lareira na Torre de Grifinória e ficávamos a conversar sem preocupações alguma. Mas infelizmente, não estávamos de volta a Hogwarts.
Assistimos filme, escutamos música, comemos e comemos, Sirius sugeriu que jogássemos Strip-pôquer. Não preciso comentar sua decepção por ter sido ignorado por completo. Já era bem tarde quando os rapazes foram embora e Tiago prometeu que voltaria cedo, hoje. Ignorando a bagunça exagerada do que se tornou uma festa privada aos moldes das que os marotos inventavam vez ou outra na Torre da Grifinória, Marlenne e eu fomos dormir, exaustas.
Essa manha acordei com um peso extra sobre o meu corpo. Tiago. Sonho de quem achar que meu namorado apareceu com um café da manhã, flores, e me despertou com um beijo apaixonado. Esse não é o meu Tiago. Tiago Potter, desmentindo os meus testemunhos de que ele tenha amadurecido, apareceu pulando em cima de mim, literalmente.
"Mas que droga Tiago!".
"Bom dia, minha ruiva!".
"Colocou pilhas novas hoje?".
"Acordei bem disposto para um dia inteirinho com o meu amor!".
"Sai pra lá", eu disse quando ele tentou me beijar.
"O que foi?", perguntou em entender.
"Eu acabei de acordar. Estou com hálito matutino", disse colocando às mãos à boca.
"Larga de ser besta Lily. Me dê um beijinho".
Eu balancei a cabeça negativamente. Sem demonstrar derrota, Tiago me beijou por cima de minha mão.
Assim que consegui expulsá-lo do quarto ("Porquê Lily? não há nada que eu não tenha visto!".) eu me troquei enquanto ele esperava do lado de fora do meu quarto. Quando entramos na cozinha, encontramos Sirius e Marlenne discutindo.
"Sirius, você se convidou para ir comigo, não reclama".
"Eu não me convidei Len, fui um cavalheiro em lhe oferecer minha companhia".
"Não seja besta, é a mesma coisa. Se você quer ir comigo no cinema, vai ter que assistir o que eu quero".
"Por quê?".
"Por que eu estou dizendo".
"Vocês vão sair?". Tiago perguntou carregando sua expressão marota no rosto.
"Vamos ao cinema", Sirius respondeu sem dar atenção.
"Oba, o quê acha, Tiago?", eu perguntei.
"Não seja boba Lily, você não vai querer estragar o encontro dos dois, não é mesmo?".
"Encontro?", Sirius e Marlenne repetiram juntos. "Não é um encontro", disseram novamente enquanto se olhavam paralisados, como se essa possibilidade não tivesse passado pela cabeça dos dois. O que não deixa de ser normal, eles são amigos. Tiago é um malicioso.
"Então podemos ir?", perguntei.
"Não!", Marlenne respondeu, tirando risadas de Tiago. "Não seja besta Tiago", ela logo disse ao mesmo tempo em que entregou uma carta para Tiago. "Aqui diz que alguém terá que aguardar notícias do Moody, logo, alguém tem que ficar aqui".
"E quem disse que nós teremos que ficar? Eu e Lily também temos planos para hoje". Tiago disse enquanto passava os olhos na carta que tinha a caligrafia de Dumbledore.
"Se tivessem não iriam querer sair com a gente. Nós sim já tínhamos programado o cinema", Marlenne disse.
Tiago me olhou com cara de "é tudo culpa sua" e eu resolvi argumentar.
"Pois eu e Tiago programamos um dia para gente. Não comemoramos nosso terceiro ano de namoro".
"Vocês fizeram três anos de namoro à dois meses atrás", Marlenne replicou.
"Por isso. E ainda não comemoramos!", eu disse com cara de piedade.
"Pois vocês podem comemorar aqui mesmo. Nós, por outro lado, temos que nos deslocar até o cinema se quisermos assistir o filme".
"Vocês estavam até agora discutindo sobre que filme assistir. O cinema vai continuar lá amanhã".
E assim desenrolou uma interminável discussão, Len e Sirius contra eu e Tiago. Nenhum argumento, porém, fazia com que o outro abrisse mão de seus planos.
"Chega! Isso requer decisões drásticas!", decidiu Sirius.
"Também acho. Vamos Almofadinhas, um duelo, eu e você". Tiago disse enquanto tirava a varinha da calça.
"Não sejam bestas vocês dois, aqui ninguém vai duelar", eu me interpus no meio das duas crianças que já estavam com as varinhas preparadas. "Da última vez vocês quase deixaram esse lugar no chão".
"Culpa do seu namorado Lily que precisa aumentar o grau dos óculos".
"Oras Almofadinhas, foi você quem...".
"CHEGA!", eu gritei. Marlenne ria por fora da discussão. "Vamos decidir isso de forma mais rápida".
"Como?", Sirius e Tiago perguntaram guardando as varinhas e Marlenne saiu por um momento voltando logo em seguida com o baralho que Sirius havia trazido na noite anterior para o strip-pôquer, mas que não foi utilizado.
"Simples", ela disse. "Quem tirar a carta maior, ganha", disse enquanto embaralhava as cartas.
"Que coisa mais sem graça", Sirius disse.
"Ok, Tiago, tire uma carta".
E assim ele fez.
"Quatro...", ele disse decepcionado.
Sirius sorriu satisfeito.
"Minha vez", disse tirando uma carta. "ÁS!"
Os quatro comemoramos.
"Por quê é que vocês estão comemorando?", Sirius perguntou.
"Vencemos", eu disse.
"Dãh, claro que não. Nós vencemos!", ele disse. "Deixa eu te ensinar Lily: valete... dama... reis... ÁS!".
"Claro que não", eu disse. "Ás... dois... três... QUATRO!"
Nos olhamos e Marlenne voltou a embaralhar as cartas para uma segunda tentativa.
"VALETE!", Tiago vibrou enquanto Sirius se concentrava para pegar a sua carta.
"REIS! Uhuuuu!"!.
"Tiago, você não faz nada certo", eu briguei.
Pouco depois Marlenne e Sirius já haviam sumido porta a fora, decidindo sair desde cedo, sem dar chance para que argumentássemos. Nos restou, então, um dia todo de televisão. Mofados! Jogados às traças, no apartamento.
"O que está pensando Lily?".
"Na Liza e no quanto sinto sua falta".
"Eu sei, também sinto falta dela". Tiago me abraçou
"Será que ela está bem?".
"Vamos torcer para que esteja Lily. Imagino que, se alguma coisa tivesse acontecido, já estaríamos sabendo".
"Também penso isso", concordei. "Mas me corta o coração saber que ela está sozinha".
"Ela não precisava fugir Lily. Poderíamos protegê-la".
"Tiago...".
"Sim Lily...?".
"Promete me proteger sempre?".
"Mesmo que precise por sacrificar minha própria vida Lily!", ele disse normalmente me beijando. "Você é o amor da minha vida, não vou deixar que nada aconteça com você".
"Tiago...", eu disse novamente, depois de um longo silêncio em que ficamos abraçados no chão da sala.
"Lily...?".
Outro silêncio
"Você quer casar comigo?".
Tiago tirou os olhos da televisão e olhou para mim esperando alguma reação minha... esperando que eu começasse a rir, ou que dissesse: "Te peguei!". Mas eu não ri, não disse nada, apenas esperei, esperei sua resposta, em silêncio.
Vi os olhos de Tiago me analisarem cuidadosamente e então ele sorriu. Exageradamente. Irritantemente. E me abraçou forte e eu pude sentir meu ombro úmido com suas lágrimas. Era a primeira vez que o via chorar de felicidade, no meio de tantas lágrimas derramadas de tristeza e sofrimento.
"Quero mais do que tudo Lily!", ele respondeu e tirou do bolso uma caixinha preta.
"Estou esperando para te dar isso a tanto tempo", ele disse deixando à mostra o aro dourado com uma pedra.
Retirou da caixa e colocou em meu dedo. E assim, oficialmente, noivamos. Felizmente! Finalmente! E eu não estou mais me sentindo tão culpada por estar tão feliz. Entre tantas coisas acontecendo, todos merecemos ser felizes e tenho sorte por ainda ser!N/A: Me desculpem pela demora, mas aqui estou eu de novo. Agora tudo fica complicado com a volta às aulas. Só tenho o fim de semana para escrever, e eu já mencionei meu bloqueio de inspiração depois que li Half Blood Prince, não é mesmo? Esse capítulo saiu por sorte pois hoje eu tinha tirado o dia para ler as fics do challenge R/H que eu estou mestrando, mas o fórum ficou fora do ar nesse fim de semana. Espero que tenham gostado. Estou esperando as reviews!
E obrigada a todos aqueles que deixam comentários!
Kaká Melo.
