Título: Abadon
Ficwriter: Kaline Bogard
Classificação: Lemon, sobrenatural, citações bíblicas, fic homenagem a Evil
Pares: YohjixKen, AyaxOmi
Resumo: De um lado estão os Weiss, de outro os cavaleiros do Apocalipse. Mas entre eles está aquele que pode aniquilar a humanidade...
Abadon
Kaline Bogard
CAPÍTULO VII
Omi encheu duas xícaras com o chá gelado e entregou uma para Aya. O ruivo observou o líquido de modo pensativo, depois voltou os olhos violetas para seu jovem amante. Finalmente o espadachim sentia-se mais calmo.
(Aya) Não confio muito naqueles padres.
(Omi surpreso) Porque?
Omi seguiu para a pequena mesa e sentou-se, sendo seguido por Aya. O chibi bebericou um pouco do chá, enquanto o ruivo olhava fixamente para a xícara, mas apesar de fitá-la tão profundamente, Aya não parecia vê-la.
(Aya) É uma intuição.
(Omi) Porque eles iriam nos enganar? Você acha que talvez eles estejam do lado de Amã?
(Aya pensativo) Não... eles parecem fieis a crença.
(Omi) Mas então não entendo. Você quer que eu procure algo sobre eles na internet?
(Aya) O que você acha?
Omi piscou um tanto surpreendido, enquanto tomava mais um golinho do chá. Era difícil Aya pedir um conselho seu, e ele não queria pisar na bola, mas também não queria falar nenhuma mentira apenas para tranqüilizá-lo.
Resolveu começar com calma, mas sendo firme e sincero.
(Omi) Concordo com você: não creio que eles tenham se aliado aos nicolaítas, porque se não eles já tinham te entregado a muito tempo, Aya.
(Aya) Hn.
(Omi) E eu não quero levantar suspeitas infundadas... depois do que houve com Shouji e os outros toda precaução é pouca. Não devemos tirar conclusões apressadas por que nem tudo é o que parece. Foi o que eu aprendi com aquela história.
(Aya)...
O chibi tinha razão. Haviam se enganado com Shouji e o real objetivo de tudo o que ele fazia... e poderia ser trágico repetir o mesmo erro dessa vez.
(Omi) Eu acredito que eles estejam dispostos a cometer sacrifícios em razão de seus objetivos. Os dois padres parecem querer evitar esse 'apocalipse' a todo custo... você não acha que eles fariam qualquer coisa para impedir o 'fim do mundo'?
Os olhos de Aya ficaram pensativos e distantes, enquanto ele analisava mais a fundo a questão exposta pelo jovem arqueiro.
De repente ele aprumou as costas, endireitando-se na cadeira.
(Aya) Omi, você acha que eles seriam capazes de tentar me matar?
(Omi)... mas porque esperar tanto tempo?
(Aya) Talvez pra ter certeza de que Amã realmente iria até a Koneko...
(Omi) Oh, Aya...
Mais uma vez o ruivo olhou para sua xícara. Observou o líquido escuro por alguns segundos e franziu as sobrancelhas de maneira desconfiada.
(Aya) Omi, foi você quem fez esse chá?
(Omi) Não. Padre Lucas disse que faria bem a você e que...
O loirinho interrompeu a frase.
(Aya) Pare de beber isso.
E o espadachim levou a xícara ao nariz, respirando profundamente, tentando descobrir se havia algum aroma estranho, mas não conseguiu decifrar se aquele chá continha mesmo apenas chá.
(Omi) Aya, você acha que eles... podem... ter envenenado...?
A voz falhou, e o chibi empalideceu muito. Se o chá estava mesmo envenenado, então Omi precisaria de algum tipo de antídoto... mas, qual?
(Aya) Calma. Não temos certeza de que os padres colocaram veneno na bebida.
E com isso o ruivo queria tranqüilizar o jovem arqueiro. Se bem que não podia tirar a suspeita de sua mente. Antes que continuassem com o debate, o sino da igreja começou a badalar, anunciando a meia-noite.
Aya teve uma leve impressão de que era chamado pra ir a algum lugar...
(Aya) Tem alguém chamando por mim...
(Omi)...
Levantou-se da cadeira e abandonou a cozinha, caminhando com passos apressados em direção a igreja. Omi esqueceu momentaneamente a preocupação com o possível envenenamento no chá, e seguiu seu amante.
(Omi) Ei, Aya!! Aonde você vai?
O líder da Weiss ignorou a pergunta de Omi, tomando a direção da catedral. No momento em que a última badalada soou, o ruivo abriu a pequena porta localizada atrás da sacristia, e adentrou a igreja, parando em frente ao bonito altar.
(Omi) Aya vo... cê... o... que...
O loirinho tentou alcançar seu amante, mas começou a se sentir tonto, enfraquecido... com certeza o chá continha mesmo algum tipo de veneno e Omi sentia os efeitos imediatos da intoxicação.
(Omi) Ay...a...
O jovem arqueiro perdeu os sentidos e desmaiou, caindo ao chão antes mesmo de chegar ao altar.
Os ouvidos apurados de Aya captaram aquele ruído provocado pela queda do companheiro, mas o ruivo não desviou a atenção. Seus olhos violeta estavam fixamente presos a entrada principal, sentindo que algo aconteceria.
A grande porta foi se abrindo aos poucos, dando passagem aos gêmeos, e a Amã. Logo atrás deles estava Guerra. Como sempre, Alfa carregava o livro dos Decretos Divinos apertado contra o tórax.
(Amã) Finalmente!
(Ômega) Este é o momento.
(Alfa) Está preparado, Ômega?
(Ômega)...
(Alfa) Ômega, você está preparado?
A jovem reforçou a pergunta, ao ver que seu irmão parecia vacilar de leve. Mas imediatamente os grandes olhos negros brilharam, e o garoto assumiu uma postura firme e decidida.
(Ômega) Sim. Este é o momento prometido pela Única Verdade, é hora esperada pelo Ser que habita o abismo.
(Alfa) A Mensagem será anunciada pelos filhos da destruição e promovida pela mão dos nicolaítas, antes do tempo garantido ao Filho do Homem.
(Ômega) A humanidade não está preparada e o Abadon será o herdeiro da Justiça.
Ouvindo isso Amã, sorriu e adiantou-se, saindo da frente dos gêmeos e permitindo que caminhassem em direção ao Weiss.
(Aya)...
Um filete de sangue escorreu entre os olhos de Aya, brotando em sua testa, provavelmente do local exato onde padre Hugo traçara o sinal da cruz com o óleo santificado.
Ignorando o incomodo causado pelo sangramento, o espadachim avançou parando no meio exato do altar, bem em frente ao grande crucifixo.
(Ômega) Ele é um dos meus soldados. Eu iniciarei o despertar.
(Alfa) Muito bem, meu irmão.
Eo jovem de cabelos negros aproximou-se de Aya, e tocou-lhe o peito com a mão direita.
(Ômega) Eis que surge o quarto cavaleiro. Nascido do quarto selo...
Os olhos de Aya mudaram de cor, ficando em um tom de verde muito claro e brilhante. Suas pernas fraquejaram, mas ele se agüentou firme, sem cair...
(Amã) Nada pode nos deter!! Agora é tarde demais!!
oOo
Yohji e padre Lucas desceram do carro e se dirigiram correndo à catedral. Foi então que avistaram Ken e padre Hugo chegando pelo outro lado.
(Yohji) Ken! Rápido...
(Ken) Tudo bem com você?
(Yohji) Sim!
Enquanto os Weiss travavam esse ligeiro diálogo, os padres trocavam um olhar de entendimento. Podiam sentir presenças malignas dentro da catedral, e com certeza Amã estava com eles.
Não era mais necessário matar o jovem ruivo, agora que tinham o líder dos nicolaítas ao alcance de suas mãos! A prioridade do caso havia mudado.
Os quatro invadiram a catedral, no momento em que Ômega iniciava o despertar do quarto cavaleiro do Apocalipse, ou seja, Morte.
(Ômega) É lhe dado o poder de comand...
BANG! BANG!!
Todos se voltaram surpresos para a entrada da igreja, onde padre Lucas segurava uma pistola automática em suas mãos.
(Amã) Quem são vocês?! Como ousam...
O que se passou a seguir foi muito rápido e confuso... Ômega foi alvejado em cheio pelos dois disparos, impedido de prosseguir com o despertar de Morte. O garoto caiu ao chão, mortalmente ferido e sangrando muito.
(Ômega) Ohhh...
Arregalou os olhos negros, sentindo uma dor queimada em suas costas, seguida por mais uma dor.
(Alfa) ÔMEGA!!
Pela primeira vez Alfa soltou o livro dos Decretos Divinos, derrubando-o no chão. Abaixou-se para socorrer o gêmeo, mas Ômega estava mal. Fora ferido gravemente pelos disparos de padre Lucas.
Livre das palavras de Ômega, os olhos de Aya voltaram a ficar no tom de ametistas, indicando que não era mais Morte, e sim o líder da Weiss. O espadachim caiu de joelhos no chão, levando as mãos a cabeça, sentindo a mente embaralhada. Sua testa recomeçou a sangrar.
Surpresos pela atitude de padre Lucas, Yohji e Ken pararam a investida por um segundo, tempo suficiente para que Guerra esticasse o braço e alcançasse o ombro do playboy, tocando-o com seus dedos frios.
(Guerra) Você tem um novo inimigo, rapaz...
Ken, que estava um passo a frente de Yohji, também ouviu a frase de Guerra, e voltou-se querendo saber o que acontecia.
(Ken)...
Foi graças aos reflexos invejáveis do moreninho que ele conseguiu se desviar do golpe que Yohji armara contra si.
(Ken) Yohji!! Que você tá fazendo?!
Mas o loiro não quis saber de conversa, continuou atacando Ken, que apenas se desviava dos golpes.
(Guerra) Eu usei meu poder. Sou aquele que pode lançar irmão contra irmão, e separar pessoas que se amam. Sou chamado de Guerra.
(Ken)...
O jogador entendeu que seu amante estava sob efeito de algum tipo de magia ou feitiço. Os olhos de jade ficaram sem brilho, e Yohji parecia hipnotizado. Sem alternativa, Ken somente se movia de maneira defensiva.
Enquanto isso, Amã recuperava-se do choque, e jogava-se sobre padre Lucas, conseguindo fazer com que o sacerdote derrubasse a arma, no momento em que apontava para Alfa.
Ambos se enroscaram em uma luta feroz.
Padre Hugo correu a socorrer Aya, que tentava fazer a mente confusa voltar ao normal, mas sem muito sucesso.
(Hugo) Tudo bem com você, Aya?
O ruivo fixou os olhos de ametista na face do sacerdote, e padre Hugo respirou fundo sentindo-se aliviado por ver que a catástrofe fora evitada: o mal não tocara aquele rapaz.
(Aya)...
Olhou o que estava acontecendo, e viu somente mais confusão: Yohji atacando Ken, padre Lucas engalfinhado em uma luta corpo a corpo contra um outro homem muito alto, e um garoto estranho com expressão entristecida parado próximo a entrada da catedral.
Um garoto...
Só então todos os acontecimentos voltaram a mente do líder da Weiss, e uma urgência tomou conta de seus movimentos.
(Aya) Omi... onde está Omi?!
(Hugo) Não sei. Quando chegamos aqui só vimos você, Amã e os gêmeos.
(Aya)...
Moveu os olhos por todo local, mas não visualizou seu jovem amante. Tentou levantar-se para ir atrás dele, mas suas pernas ainda estavam fracas, e ele não foi feliz em sua intenção.
Padre Hugo entendeu o que Aya planejava, e estendeu a mão para ajudá-lo a se levantar.
(Aya) O que tinha naquele chá?
(Hugo)...
Ia responder quando ouviram um lamento. Vinha do local onde os gêmeos estavam. Ômega morria nos braços de Alfa, e a garota lamentava não poder fazer nada para pelo menos amenizar a dor que o garoto estava sentindo.
(Alfa) Oh, Ômega... no fim não é possível mudar o destino... sinto muito...
oOo
Padre Lucas era mais forte que Amã, e começou a dominar o nicolaíta, prendendo-o em uma gravata bem apertada. O rapaz começou a fraquejar com a falta de ar.
A 'luta' entre Yohji e Ken continuava, para deleite de Guerra que assistia muito concentrado, querendo saber até que horas o moreninho agüentaria sem revidar aos golpes desferidos pelo outro Weiss.
Felizmente Ken era extremamente ágil, e não recebera nenhum dos ataques de Yohji, mas aquilo estava cansando e teria que ter um fim...
(Ken) Sinto muito, Yohji. Isso vai doer mais em mim do que em você... er, quer dizer... vai doer bastante em você também, mas depois eu me explico!
E dizendo isso armou um cruzado de direita, encaixando-o perfeitamente no rosto do ex-detetive. Com força suficiente para deixá-lo inconsciente.
(Ken) Maldição...
Amparou o amante antes que ele caísse ao solo, e depositou-o gentilmente sobre o chão, entre dois bancos de madeira. Depois voltou-se furioso contra aquele tal de Guerra, disposto a trocar uns tabefes contra o inimigo, quando a voz de padre Lucas o impediu.
(Lucas) Concentre-se na garota. Ela é a chave para terminarmos com isso.
(Ken) O que?
(Lucas) Mate-a!
(Ken) !!
(Guerra)...
(Aya)...
(Hugo) Isso já está acabando, padre Lucas. Ômega foi vencido.
(Lucas) Alfa é o único que pode segurar o livro dos Decretos Divinos, padre Hugo. Enquanto ela viver não estará acabado.
(Ken) Mas é só uma criança...
(Lucas) É o Mal. É o alvo de sua missão, garoto.
(Ken)...
Olhou para Alfa que chorava abraçada a Ômega. Não colocou sentido naquilo, não podia matar uma garotinha apenas porque a crença de padre Lucas assim ordenava.
Padre Hugo também esmoreceu. Se Ômega, aquele que podia abrir os Sete Selos estava morrendo, o Apocalipse não poderia acontecer...
Sem que ninguém pudesse prever ou esperar, Alfa abriu os olhos e olhou um por um dos presentes.
(Alfa) Mesmo a beira da morte, Ômega ainda pode abrir os selos. Enquanto houver um sopro de vida em nossos corpos, Abadon será proclamado. Nem sua prata nem seu ouro poderão salvá-los no dia da cólera do Senhor. Toda a terra será devorada pelo fogo de seu zelo, porque ele aniquilará de repente toda a população da terra. (1)
(Hugo) Garota tola!
(Amã) Arf...
Padre Lucas apertou ainda mais a gravata em volta do pescoço de Amã, quase tirando a consciência do nicolaíta e jogando-o ao chão. Depois correu até empunhar sua arma e apontá-la contra Alfa.
Ken ia correr também, e tentar arrancar a arma da mão do sacerdote, mas sentiu um toque gelado sobre seu ombro. Guerra caminhara silenciosamente até alcançá-lo e agora impedia Ken de salvar a vida de Alfa.
(Ken irritado) Afaste-se! Quer que aquela menininha seja assassinada?
Guerra balançou a cabeça e suspirou. Seus olhos ficaram tão tristes que quase assustou o moreninho.
(Guerra) Existe algo nessa vida chamado de 'destino'. Ninguém pode mudar o futuro, rapaz.
(Ken) Eu não vou permitir isso!
(Guerra) Você não tem escolha. Quer que eu use meu poder em você? Eu farei com que ataque seu... amigo...
(Ken)...
Guerra indicou Yohji com a cabeça.
Ken sacou que tinha que escolher entre seu amante e a vida daquela jovenzinha... maldita decisão!! O ex-detetive permanecia inconsciente e indefeso. Se aquele tal de Guerra o hipnotizasse e o obrigasse a atacar Yohji poderia ser fatal para o Weiss mais velho.
Por sorte Alfa precipitou os acontecimentos. Ela não pretendia continuar com tudo aquilo, mas seu destino era morrer ao lado de Ômega, sua metade perfeita, seu irmão gêmeo e companheiro.
Mal haviam tido afinidades, e tempo para se conhecer melhor e poder começar a se gostar como verdadeiros irmãos. Porém, mais antigo e profundo que a consciência humana estava a herança que haviam recebido: ambos herdaram o sopro de Abadon, carregavam o poder único e inigualável daquele que era o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim de todas as coisas.
Era um elo poderoso demais pra ser quebrado.
(Alfa baixinho) Ômega, nós nascemos com o poder de destruir o mundo, mas não pudemos mudar nossos destinos. Fomos apenas peças nesse jogo sobrenatural. Nascemos pra morrer aqui e agora... isso não te ajuda, não é? Mas não se preocupe, meu querido irmão, não vou abandoná-lo.
Assumindo sua missão até o fim, Alfa esticou a mãozinha em direção a Aya, e começou a proferir o despertar que fora iniciado por Ômega.
(Alfa baixinho) Isso é por você, Ogden...
Depois recitou em voz alta o bastante para que todos a escutassem.
(Alfa) Tu que és nascido do quarto selo, desperta-te agora, e recebe a tua Justiça. Verde é o seu caminho, e doloroso é o fardo que carrega em suas costas, pois Morte é o teu nome...
Os olhos de Aya começaram a mudar de cor, em resposta a prece calorosa da jovem garota.
(Hugo) Pare!!
Os que estavam na catedral sentiram que uma presença nefasta surgia entre eles, tão ameaçadora e fria como jamais vista antes, e tal manifestação vinha diretamente do corpo de Aya.
Se Alfa continuasse com aquilo... seria o apocalipse.
(Amã) Alfa... você... vai... isso é... suí... ci...dio...
O líder dos nicolaítas permanecia caído no chão, com o pescoço ardendo, e sem forças pra se erguer.
Padre Hugo não sabia se afastava-se de Aya ou continuava amparando-o, tamanha as sensações que dominaram seu corpo, ao manter contato com o corpo do líder da Weiss.
(Ken) Caralho!
Era a primeira vez que via os olhos do espadachim mudarem de cor daquela maneira. Naquele dia em que os padres entraram em contado, o sacerdote mais velho realmente despertara uma 'consciência' de Aya... mas é claro que não se comparava ao que acontecia nesse momento.
Ficou espantado ao sentir a presença indescritivelmente maléfica e funesta, uma ameaça de morte figurativa e ao mesmo tempo real, permeada de más intenções. Aquele era Aya.
O ruivo emanava ainda uma espécie de sensação, traduzida em força indescritível tão poderosa que obrigou os presentes a dar um passo para trás. Padre Hugo lutou contra a agonia que parecia apertar seu peito com dedos maldosos e invisíveis.
A sensação criada pelo corpo do espadachim continuava crescendo, se expandindo com realidade tal que fez as paredes da catedral tremerem e trincarem, rachando em diversos pontos.
O reboco branco caiu no chão mas não foi percebido pelos homens que ali estavam.
Um dos candelabros explodiu, lançando faíscas e fagulhas para todos os lados, enquanto a 'sensação' apenas aumentava, comprimindo agora o teto pintado com cenas de anjos e santos estufando-os para cima.
As luzes falharam, piscando em intermitência irritante e incomoda que não combinava com a cena.
Como se respondesse ao poder de Aya a terra tremeu num impacto descomunal, desequilibrando Ken e os outros. No entanto ninguém caiu.
(Alfa) Eis que ele avança como o comandante que é. Sua presença faz tremer o ímpio pois Morte é o seu nome e a legião de mortos o seu exército.
Ken perdeu a ação por instantes, instantes que foram o bastante para que padre Lucas recuperasse sua pistola e fizesse fogo, disparando a sangue-frio.
BANG!
Um único e certeiro tiro, que alvejou Alfa em plena testa, acertando-a entre os rebeldes fios de cabelo prateado.
Alfa arregalou os olhos e tombou pra frente, morrendo instantaneamente, caindo sobre o corpo de Ômega.
(Ômega) Ah...
Foi o débil lamento que o italianinho soltou, antes de morrer, no mesmo instante em que sua irmã gêmea. Ambos morreram ao mesmo tempo.
O livro dos Decretos Divinos levitou e brilhou muito forte, desaparecendo em seguida.
(Hugo) O livro retornou ao seu lugar de direito.
(Lucas) Para o cofre de Abadon, em Padova.
Antes que alguém dissesse alguma outra coisa, um segundo terremoto sacudiu a Terra, tendo início ali, naquela catedral e correu o mundo inteiro, num abalo que fez tremer os quatro cantos do planeta.
(Guerra) Oh...
O jovem caiu desajeitadamente no chão, e vomitou uma grande quantidade de sangue.
(Ken) Ei, você!!
Abaixou-se para ver como o garoto estava. Surpreendeu-se ao perceber que os olhos dele também mudaram de cor. Não eram mais vermelhos como sangue, e sim azuis, muito serenos e gentis.
(Hiroki) Eu... sinto...
(Ken) Não fale! Guarde suas forças.
(Hiroki) Sinto q...ue um... de nós... sobreviveu...
(Ken) Um de vocês?!
(Hiroki) Extrem...mo sul... de... Tokyo...
(Ken) Extremo sul?
(Hiroki)...
Estava morto.
(Ken) Ohhh.
Não podia fazer mais nada por aquela criança. O moreninho ergueu-se e foi até Yohji, preocupado com a situação do amante.
Então a porta da catedral se escancarou, e vários padres desconhecidos invadiram o local, portando armas e com expressões ameaçadoras em suas faces. Eles tomaram conta do perímetro e se espalharam pela igreja.
O que parecia ser o líder se aproximou de padre Hugo e esperou que ele depositasse Aya sentado sobre o chão para beijar-lhe o anel da mão direita.
(Hugo) Padre Antony, bem vindo.
(Lucas) Os reforços sempre chegam atrasados...
(Antony) Sinto muito, irmãos. O bispo não queria que cometêssemos erros.
(Lucas) Mais um pouco e ele não precisaria se preocupar mais... estaríamos todos mortos!
(Antony) Situação?
(Hugo suspirando) Sob controle. Alfa e Ômega estão mortos, assim como aquele garoto. Pela cor dos olhos dele creio que seja Guerra.
(Antony) Amã?
(Hugo) Está ali, e é todo seu.
(Antony) E... Morte?
Padre Hugo indicou Aya com a cabeça.
(Hugo) O garoto está bem. Não foi tocado pelo mal.
(Antony) O que faremos com eles? Quer que os mate? São testemunhas...
Indicou os Weiss com a cabeça.
(Padre) Ei, tem mais um aqui!!
Esse padre havia descoberto Omi caído próximo a entrada da sacristia.
Padre Lucas olhou para padre Hugo. Ambos eram responsáveis por aquele caso, mas a decisão final era exclusiva do sacerdote mais velho.
O homem balançou a cabeça e sorriu tristemente.
(Hugo) Não. Chega de mortes... Alfa e Ômega foram detidos, e temos Amã em nosso poder. É o suficiente.
Padre Antony concordou com um gesto de cabeça e virou as costas, dando um sinal aos seus comandados. Dois sacerdotes foram até o líder dos nicolaítas e o ergueram do chão de modo brusco e pouco gentil.
(Ken) O que vai acontecer com ele?
(Lucas) Você não precisa saber.
Ken piscou e silenciou. Não era bobo... o moreninho sabia muito bem o quanto a Igreja Católica podia ser cruel... havia toda a Idade Média e a inquisição para provar isto. Amã estava perdido...
Outros sacerdotes pegaram os corpos de Alfa, Ômega e Guerra e saíram silenciosamente de lá. Padre Lucas e padre Antony foram com eles.
(Hugo) Venha, Ken. Aya está precisando de assistência, assim como Omi e Yohji. Nós colocamos sonífero no chá, e desconfio que seu jovem amigo o bebeu no lugar de Aya.
(Ken)...
(Hugo) Sei como está se sentindo, porque me sinto da mesma maneira. Mas não sou um monstro sem coração. Por isso não permiti que aqueles homens matassem a você e seus companheiros, e eles vinham dispostos a...
(Ken) Não preciso ouvir isso.
Cortou o moreninho irritado com as explicações tardias.
(Hugo) Mas eu preciso dizer.
(Ken) Ah, aquele garoto, acho que Guerra, disse que um deles sobreviveu... e que estava no extremo sul.
(Hugo) Sim. Os cavaleiros seriam posicionados no extremo sul, norte, leste e oeste para o início do apocalipse. Nossos padres já foram enviados até lá.
(Ken suspirando) Então acabou?
(Hugo) Apesar disso não me sinto feliz. Não mesmo.
(Ken) É melhor cuidar desses caras...
(Hugo) Vou ajudá-lo. Logo Omi vai acordar, e Aya voltará ao normal.
(Ken) E Yohji vai levantar com uma bela marca roxa.
(Hugo) Você não teve culpa.
(Ken) E mais uma vez o mundo é salvo.
(Hugo) O mundo não foi salvo. Apenas um passo foi dado, mas a luta continua.
(Ken) Isso é problema seu.
E Ken virou as costas ao sacerdote.
Epílogo
(Yohji) Amanhã eu vou fazer uma visita a Teramae.
(Ken) Ainda bem que ele sobreviveu.
Ambos estavam na Koneko, era fim de tarde e não havia ninguém além dos dois. Aya e Omi saíram sem dizer pra onde iam.
(Yohji) Acho que foi um milagre. Um verdadeiro milagre.
(Ken) E quem diria que Masami também era um dos cavaleiros.
(Yohji) As rosas amarelas não vão ser vendidas como antes.
(Ken pensativo) É...
(Yohji) Já faz uma semana, e os padres não deram mais notícias, não é verdade?
(Ken) Padre Hugo disse que eles tinham outras coisas pra fazer, e que provavelmente não os veríamos mais. Ele assegurou que podemos ficar tranqüilos em relação a Aya e a Teramae. Sem Alfa e Ômega não há mais perigo.
(Yohji) Hum...
(Ken) Pelo menos a marca em seu rosto está melhorando...
(Yohji) É. Seu soco é tiro e queda! Não me lembro de nada depois que aquele moleque encostou em mim.
(Ken)...
(Yohji) Felizmente tudo terminou...
O moreninho tirou um caderninho do bolso de trás da calça jeans e pegou uma caneta que estava sobre o balcão, pondo-se a fazer anotações de maneira concentrada.
Yohji tentou espiar, mas não entendeu a caligrafia horrível do amante, e acabou perguntando do que se tratava aquele caderninho de capa vermelha.
(Yohji) O que está fazendo?
(Ken sorrindo) Oh, traçando um perfil.
(Yohji) Perfil?!
(Ken) Sim, veja os últimos casos que tivemos: eu enfrentei Koji, você enfrentou Shouji e Aya enfrentou o apocalipse.
(Yohji) E o que tem?
(Ken) Ora, ainda não entendi bem, mas parece que os casos seguem um padrão pré-determinado...
(Yohji)...
(Ken) Pela lógica o próximo da lista será Omi, e ele TEM que enfrentar alienígenas.
(Yohji) Ah, não acredito que você ainda está nessa!
(Ken) Mas Yohji, pensa comigo: os últimos grandes casos que tivemos fo...
Yohji não deu tempo do amante continuar falando. Tomou os lábios dele entre os seus, calando-o de maneira muito carinhosa.
Ken tentou resmungar algo, mas desistiu. Beijar Yohji era muito melhor! E que os alienígenas que mantivessem distância da atmosfera terrestre... pelo menos naquele instante.
oOo
Aya e Omi aproximaram-se do túmulo recém construído. Era ali onde estava enterrado o colega do jovem hacker, Hiroki, que não pudera ser salvo.
(Omi) Ele era jovem e inteligente. Poderia ter tido um futuro brilhante.
(Aya)...
(Hugo) Ele não está enterrado aí.
Os Weiss se surpreenderam com a aparição repentina do sacerdote. Depois de todo aquele acontecimento não tiveram mais notícias dos padres.
Aya recuperava-se muito bem: os estigmas em seu corpo desapareciam lentamente, mas não deixariam marcas, assim como a cruz traçada em óleo santo em sua testa e que sangrara durante a tentativa de despertar Morte.
(Omi) Oh, padre Hugo.
(Hugo) Desculpe não ter dado mais notícias. Estávamos envolvidos em questões burocráticas a respeito disso, só tive um tempo pra falar com vocês antes de retornar à Itália.
(Omi) O senhor vai embora?
(Hugo) Agora que tudo acabou não sou mais necessário aqui. Tenho outras obrigações.
(Aya) Que quis dizer com Hiroki não estar aqui?
(Hugo) Mandamos retirar o corpo dele sem que ninguém soubesse. Ele foi enterrado em solo sagrado ao lado de Alfa, Ômega e Peste.
(Omi) Oh!
(Hugo) Preferimos colocar seus corpos em um cemitério sagrado, onde suas almas terão descanso eterno.
(Aya) E Amã?
(Hugo)... está sob nossa guarda. Esqueçam que um dia o conheceram. Ainda não conseguimos que ele confessasse o local onde escondeu a segunda cópia do Evangelho de São Pedro, mas temos nossos métodos...
(Omi)...
Por um segundo o chibi sentiu pena do líder dos nicolaítas. No entanto a voz de Aya soou, fria e impaciente, afastando os pensamentos de Omi.
(Aya) Então tudo acaba assim?
(Hugo) E foi melhor do que eu esperava.
(Omi) Se Hiroki não está aqui, perdemos nosso tempo.
(Aya) Vocês roubaram os corpos. A família de Hiroki não era católica, era?
(Hugo)...
(Aya) Vamos embora, Omi.
Aya deu as costas ao túmulo falso e foi seguido por Omi. Mas mal os Weiss deram dois passos e a voz de padre Hugo chegou até eles.
(Hugo) Esperem. Eu sou um padre, e preciso falar com vocês sobre isso.
(Aya) "Isso"?
(Omi) Como assim?
(Hugo) A situação em que vivem. Filhos, Deus condena o homossexualismo, não pensem que não percebi. Mas sempre é tempo de se arrepender. Deixem de viver no pecado, abram seus corações para a Palavra de Deus.
(Aya)...
(Omi) !!
Os Weiss estavam surpresos pela declaração de padre Hugo. Claro que nenhum dos quatro fora discreto na catedral, mas os padres também não haviam feito referência ao fato de serem gays...
Pelo jeito não escapariam de um sermão.
(Hugo) Deus abomina o pecado, e a igreja também, mas acolhe o pecador, por isso estaremos sempre de braços abertos esperando que reneguem essa pecaminosidade.
(Aya) Hunf, que tipo de doutrina é essa, que condena o amor?
(Hugo) E que tipo de amor é esse que condena a alma?
(Omi)...
O líder da Weiss passou o braço pelo ombro do amante e depois de dar um apertão carinhoso, puxou-o para que voltassem a caminhar. Estava farto de tudo aquilo. Suportara a luta contra Amã e os gêmeos porque não tinha escolha, agora que tudo tivera um fim, ele não era obrigado a ouvir esses disparates por parte do religioso. Cada um com sua crença e o mínimo que o ruivo queria era respeito por suas decisões.
(Aya) Perder a minha alma? Esse é um preço pequeno, se eu puder ficar ao lado de quem amo.
(Omi) Oh, Aya.
Os dois foram embora sem olhar para trás.
Padre Hugo colocou as mãos no bolso e retirou um maço de cigarros, acendendo um e começando a fumá-lo.
(Hugo) No fim, talvez ninguém saiba da verdade. Mas não custava tentar.
E o padre também se foi, com destino ao aeroporto.
Fim
(1) Este trecho da bíblia em especial me chamou a atenção, quando o profeta Sofonias se refere ao julgamento de Judá e Jerusalém. Só quero que fique claro que o 'ele' é escrito em minúsculo mesmo porque a referencia é ao 'zelo' e não a Deus.
Essa fic é um presente de aniversário para uma pessoa que eu admiro e respeito muito: minha mestra Evil!! MUITAS FELICIDADES, E CONTINUE SENDO ESSA PESSOA MARAVILHOSA!! Te adoro, moça!! (desculpa o atraso do presente)
Gostei de trabalhar com esse tema... acho que vou investir mais em mais fics com fundo religioso... e os ET's que esperem um pouco mais... XD
Fevereiro/2005
