Samara Lupin
Sirius, o último da fila, não conseguiu conter a curiosidade:
- Quem é, Remo?
Mas Remo não respondeu.
- Vamos logo.
Chegaram ao quarto dele e, depois de largarem as malas, o garoto falou.
- Ela é minha irmã. Samara e eu somos gêmeos. Ela estuda em... Beuxbatons...
- Porque não está em Hogwarts?- perguntou Tiago, curioso
- Disse que não gosta. E meus pais não tinham dinheiro para... pagar Hogwarts para nós dois...
Ficaram os quatro em silêncio pôr algum tempo. Logo depois, porém, já estavam conversando animados e rindo, jogando snap explosivo. Já estavam ali a quase uma hora quando bateram na porta e abriram-na.
- O almoço está servido!
Sirius virou-se e encarou pela primeira vez na vida Samara Lupin. A garota era uma cópia idêntica de Remo, assim como (ele odiou a comparação que surgiu em sua mente) Anastácia Tamman era idêntica a Matt. Os cabelos dela eram cumpridos e estavam presos em duas tranças que caíam sobre seus ombros. Era pequena, menor que Remo, e tinha um corpo infantil, mas bonito. Usava uma saia parecida com a da mãe, porém, azul clara, e uma blusa de mangas 3/4 branca, além do avental amarelo claro.
- Oi Sirius, Tiago, Pedro! Vem, Remo!
Sirius levantou-se rapidamente, como os outros. Mas, diferente deles, não saiu correndo em direção à cozinha. Ficou para trás, caminhando ao lado de Samara.
- Você não foi para Hogwarts?- "ai, é lógico que ela não estuda", disse uma voz na mente de Sirius, fazendo-o sorrir maroto.
- Estudo em Beuxbatons- disse ela, calmamente.
- Mas não gostaria de ir para lá?
- Talvez, algum dia... mas meus pais jamais pagariam para mim...
Sirius disse, então:
- É uma pena... Hogwarts é a melhor escola de Magia que existe no mundo... só seria melhor se todos os malditos Blacks não estivessem na Sonserina...
Samara riu, e Sirius sentiu um calor estranho e seu estômago caindo. Desviou o olhar e comentou:
- Vamos logo, antes que o Tiago e o Pedrinho comam tudo! Estou faminto!
Sirius, Tiago, Remo e Pedrinho terminaram a quadragésima Sexta partida de Truco bruxo (onde ganhava quem roubasse melhor), e tocaram-se na cama. já era quase três horas da manhã e os quatro não sentiam-se dispostos a dormir.
Estavam na casa de Remo há duas semanas e, dali a três dias, estariam voltando para Hogwarts. Naquele momento, a porta abriu-se e o Sr. Lupin apareceu.
- Hey, está na hora de dormir! Todos vocês! Vou desligar a luz! Boa noite!
O pai de Remo desligou a luz e todos deitaram-se. Ainda ficaram quase meia hora rindo o mais baixo possível até que finalmente todos adormeceram.
Imediatamente Sirius mergulhou num sonho estranho e confuso que fez com que ele acordasse. Ainda era de noite e, pela janela aberta, ele podia ver as estrelas. Saiu do quarto em silêncio, pensando em ir tomar um copo da água.
Chegou na cozinha vazia e abriu a geladeira, que iluminou precariamente o ambiente. Mas o suficiente para, quando se virar, dar de cara com uma pessoa sentada sobre a bancada da pia. Os dois pularam de susto, mas conseguiram não gritar.
Sirius riu e serviu-se de água, logo indo em direção à ela, que comia uma barra de chocolate alucinadamente, com um copo de suco de laranja ao lado.
- Insônia?- perguntou ela, de boca cheia.
- Um sonho estranho- disse ele- Aliás, combina chocolate e suco de laranja?
- Passo quase a noite inteira em claro- disse ela- Aprendi a gostar de algumas coisas que outras pessoas não gostam- Samara sorriu.- Como pipoca com café com leite e quindim com chá de macela.
Apesar da semi escuridão, Sirius via que ela estava de camisola de alcinhas e curtas, que deixavam as pernas a mostra. Não conseguiu evitar a risada com as misturebas que ela comia.
- Quer experimentar?- perguntou ela.
Logo os dois estavam rindo e comendo chocolates.
- Mas me diga- disse ela, no meio do papo- Vocês aprontam muito em Hogwarts?
- Sim. Tirando seu irmão. Ele é muito estranho! E nunca tinha nos dito que tinha uma irmã...
- Nós não somos muito ligados. Tivemos um problema- confessou ela- Quando tínhamos sete anos. Daí eu fui viver com uma tia na França. É pôr isso que estudo lá. Ele está em Hogwarts e eu lá, até porque não acharam seguro ficarmos juntos.
- Pôr que?
- Ah... não tem importância...
- Sei... mas e você, apronta muito lá?
- Não.- confessou- Eu passo quase o tempo inteiro estudando.
- Ah, fala sério!- disse ele, desapontado- Perder seu tempo precioso estudando?
- Ah, pára com isso- disse ela, rindo- É útil...
Ficaram um momento em silêncio, até que ela corou e perguntou, a voz muito baixa...
- Sirius... você já... beijou... alguma menina?
Ele olhou-a surpreso pela pergunta. Corou e negou com a cabeça.
- Eu também não- sussurrou ela.
O que aconteceu a seguir foi um ato totalmente infantil e inconsequente. Ela fechou os olhos e ele aproximou-se, beijando-a de uma maneira infantil, só roçando os lábios. No instante seguinte, o beijo tornou-se mais intenso sem, no entanto, perder a inocência.
Quando eles se separaram, ela abriu os olhos e ele viu surpresa naquele olhar.
- Samara...
Ela levantou-se assustada, respirando nervosa, e acabou derrubando o copo.
- Samara... desculpa... eu...
Samara porém, virou-se apressada e subiu as escadas correndo. Sirius suspirou e apressou-se em secar o suco de laranja e sozinho, olhando as estrelas que ainda brilhavam, terminou de comer o chocolate.
Era véspera de voltarem a Hogwarts quando Sirius voltou à cozinha de madrugada e encontrou, mais uma vez, Samara comendo chocolate e tomando suco de laranja.
Boa noite- disse ele.
Ela levantou-se mas, antes que ela pudesse fugir de Sirius, como vinha fazendo desde a noite do beijo, o mesmo segurou-a pelo braço.
- Samara. Me desculpe!
- Sirius- interrompeu ela- Fui eu que...
- Não importa- ele disse- Vamos ser amigos?
Ela riu.
- Sim, vamos.
- Então, me diga, como são os professores de Beuxbatons?
No instante seguinte os dois estavam rindo descontroladamente sobre os comentários de Hannah sobre os professores de Beuxbatons, e logo depois Sirius começou a imitar Binns, fazendo-a chorar de rir. Já era quase cinco da manhã quando eles resolveram ir se deitar.
- Boa noite, Sirius.
- Samara...
- Que é?
- O que o Remo tem?- perguntou.
O rosto de Samara ficou indecifrávcel pôr um instante. Logo depois sorriu.
- Pergunte a ele... ou descubra... se ele não disse, não serei eu a dizer... esse direito só cabe a ele...
- Mas...
- Eu já disse não, Sirius...
Sirius não conseguiu perguntar mais nada. a garota entrou em seu quarto e ele não teve escolha a não ser entrar no de Remo também.
Samara deitou-se na cama e fechou os olhos. Imediatamente, ela sentiu as imagens daquela noite voltando, vivas e doloridas, como sempre que alguém tocava no assunto.
- Não, Remo, acho melhor voltarmos.
- Pára de ser medrosa, mana! o Rex deve estar logo ali adiante!
- É noite de lua cheia, Remo, mamãe sempre nos disse para...
- Você gosta ou não gosta do Rex?
- Gosto...- murmurou ela, num fio de voz.
- Então, pare de tremer de medo e me siga!
Naquele momento, porém, um uivo ecoou pela mata deserta e escura. Os dois irmão olharam-se, imóveis, o medo estampado em cada olhar.
- Vamos sair daqui!- pediu ela, chorando.
Saíram os dois correndo. Já podiam ver o fim da mata. Porém, alguma coisa saltou sobre Remo e caiu sobre Samara. A garota gritou com força, e Remo ergueu-se novamente.
Com uma força que não sabia possuir, tocou-se sobre o animal, forçando-o a sair de cima da irmã. O bicho correu assustado. Porém, deixou uma marca grande nele. Uma grande mordida sangrava alucinadamente em seu ombro direito.
Não quero ir, mamãe!!!
Mas é preciso, minha filha! Seu irmão não é mais o mesmo...
Mas eu não quero ficar longe de vocês!- a garotinha de sete anos chorava.
Nos veremos uma vez por mês, querida, eu prometo!- a Sra. Lupin já tinha lágrimas nos olhos, também.
Mamãe... por favor...
Naquele momento a Sra. Lupin, irmã do pai de Samara, aproximou-se.
E então, Sah? Pronta para viver as maiores aventuras de sua vida?
Samara olhou-a.
Mamãe vai ir me visitar?
Sempre que a convidarmos!
E o Remo?
Também! Desde que não seja lua cheia! E meus filhos vão adorar você, tenho certeza!
Samara deu a mão para a tia.
Tchau, mãe
Tchau, minha princesa!
Manda um beijo pro Remo. Diz que vou sentir falta das maluquices que fazíamos juntos!
Eu digo! Agora vá!
E diz pro pai que eu amo ele! E que vou morrer de saudades!
Vá logo!
Samara entrou com a tia em um trem. Depois de acenar alguns instantes para a filha da janela, a Sra. Lupin teve que virar-se para que Samara não visse as lágrimas grossas e quentes que escorriam por seu rosto.
A fazenda era incrivelmente linda, mas terrivelmente grande. Samara levou duas semanas para conhecer minuciosamente cada canto daquele lugar que, não tinha dúvidas, era lindo.
A tia tinha três filhos. Luck, de dezessete anos, Mark, de dezenove e August, de vinte. Os três adoravam Samara como se fosse uma irmã mais nova. Cuidavam e mimavam a prima ao exagero.
Ela também era a princesa dos sete peões que trabalhavam na fazendo. Em menos de cinco dias lá, já andava de cavalo como se o fizesse desde que nascera.
Jogava futebol com os primos, subia em árvore, era uma verdadeira moleca. mas todos a adoravam assim. Mas, em meio a tudo isso, ela via a tia cozinhando bolos, salgadinhos, doces, tortas, e tantas coisas.
Quando tinha oito anos, era uma expert na cozinha. Os primos amavam o bolo de chocolate dela, que geralmente era devorado uma hora após Ter sido feito.
Lentamente, porém, ela foi perdendo contato com Remo. De irmão inseparável e melhor amigo, ele passara apenas a mero conhecido. Os olhares antes tão significativos agora eram passageiros e às vezes nem se cruzavam. A primeira vez que haviam se reencontrado, haviam se olhado e dito "oi". Não se abraçaram, não correram pelo pátio, não falaram durante horas sobre as últimas novidades. Pareciam completos desconhecidos.
Quando voltou para casa, Samara chorou como não chorava há séculos.
Beuxbatons foi uma aventura. Veio para comprovar sua sede de conhecer o mundo e de viajar. Veio, porém, principalmente, para dar-lhe a certeza de que Remo e ela não passavam de meros conhecidos. Jamais voltariam a ser como eram antes dele tornar-se lobisomem.
E, enquanto crescia e amadurecia longe dele, culpava-se silenciosamente por não Ter sido ela própria a mordida, por não Ter evitado aquilo.
Quando completou doze anos, virou a melhor amiga inseparável de Alice. as duas tornaram-se, em menos de duas semanas, as "loucas" dse Beuxbatons.
Isso porque, depois de compartilharem suas histórias "semi-sofridas", haviam descido e jurado que, jamais, as faria deixar de aproveitar a vida. E era assim que elas viviam desde aquele momento. Rindo histericamente pelos corredores, aprontando com os mais novos e mais velhos, pregando peças nos populares, enfim, fazendo tudo o que uma pessoa normal não faria.
Assim, chegou aquelas férias, onde Samara Lupin conheceu Sirius Black...
Samara voltou à realidade quando o dia já estava nascendo. Não precisou de nenhum movimento para saber que havia chorado.
Ela queria pensar em alguma coisa, mas só conseguia pensar que eles iriam descobrir, e seriam mais três amigos que o irmão perderia... pôr sua culpa...
Lembrou-se da forma como a mãe a olhara quando Remo transformou-se em um monstro. E percebeu que precisava fazer alguma coisa, antes que deixasse de ser feliz por causa daquilo.
Limpou as lágrimas que haviam escorrido por seu rosto e, no instante seguinte, olhou para o livro que a tia lhe dera no último aniversário: "as belezas da América". Sorriu. "Eu ainda vou conhecer o mundo", prometeu a si mesmo, "e tentar dar a algumas pessoas a chance de ser um pouquinho que seja mais feliz..."
Sirius deitou-se na cama e observou Remo dormindo.
O que você esconde, amigo?
Pensou em Samara e a voz estranhamente fria dizendo "não serei eu a dizer...". Olhou para os três amigos que tanto gostava e admirava.
"Deve ser algo muito sério", pensou, "ou ele nos contaria... ele deve Ter medo de que não sejamos mais amigo dele... só pode ser isso..."
Logo depois pensou em Samara. Naquele jeito engraçado dela, comendo chocolate com suco de laranja. Gostava das besteiras que ela falava. Só não imaginava como a encararia no dia seguinte.
"Ou melhor", disse uma vozinha irônica em sua cabeça, "como você irá encarar o Remo!"
Então, perdido em pensamentos, Sirius adormeceu.
